terça-feira, 18 de setembro de 2012

As Crônicas de Mersey (Parte 3)

Último capítulo!

Capítulo 2-- Na moral

-- Se apaixonar por ele?! Totalmente impossível, minha irmã.
-- Para mim é preocupante. Desse jeito vou me tornar uma vadia por músicos. Já não me basta o John...
-- Então seja direta com Chad: diz que não tá afim dele e pronto. Afinal, você o odeia por ter quase te matado, né?
-- Bem, isso é verdade mas...
-- Mas nada! Vai lá e seja bem desagradável com ele. Nem que tenha de apelar para outros modos.
-- Que outros modos você diz?
-- De maltratá-lo, falar muito palavrão e por aí.
-- Vou tentar.
E lá se foi minha irmã na luta em ser terrivelmente desagradável para o pobre diabo que toca baixo numa banda que é considerada por muitos a "rival dos Beatles".
O show terminou cedo por causa da incessante chuva. E para nosso azar, nenhuma de nós trouxe guarda-chuva.
Eram possíveis duas alternativas.

      Pedir uma carona a alguém
      Ou enfrentar a tempestade mesmo.
Nenhuma das alternativas serviu. Ou apenas uma em parte. Ficamos por uns cinco minutos na porta do Cavern esperando a chuva diminuir o fluxo quando a banda Pacemakers surgiu na saída e apenas Chad se aproximando de Rosie.
-- Vai demorar passar essa chuva, moça. Quer uma carona?
Numa situação daquelas é preciso aceitar.
-- Olha, eu agradeço no entanto...
-- Aceitamos de bom grado. Quero logo voltar pra casa, Rosie. Vamos!
Até Jane e Suzan não aguentavam mais se encharcando no lodo das ruas. O carro é grande mas pequeno para abrigar 4 meninas no banco de trás. Chad ficou no banco de carona e Maguire no volante.
-- Gerry e Fred estão no outro carro com nossos instrumentos. E meninas não se preocupem. Terei cuidado ao dirigir. -- disse Maguire, na tentativa em ser agradável. É impressão minha, ou os olhos de Sue brilharam de encontro com os dele? Seja o que for, só quero ir para casa.
Peguei no sono durante o trajeto pelo bairro. Primeiro foram deixadas Jane e Suzan , que moram umas cinco ou seis quadras depois da Rosie. Enfim chegamos em casa e eu fui carregada pelo Chad (segundo Rosie). O papo deles até que foi rápido. Veja a seguir:
(Chad)"-- Sua irmã dormiu como uma pedra."
(Rosie)"-- É Cansaço mesmo. Obrigada pela ajuda. Eu o acompanho na saída."
(Chad)"-- Senhorita eu..."
(Rosie)"-- Muito obrigada!"
Deu para ver o quão fria ela foi, né?
E os dias se passaram normais. Agora vem o fato engraçado. Cada vez que minha irmã ia para o armazém, Chad estava lá, como uma verdadeira coincidência absurda. Sorte dele que não a viu. Roselyn teve de usar todos os truques de desdobre e camuflagem para o baixista não notá-la. Até no mesmo mercado onde o acidente aconteceu, ele a seguiu. Rosie teve vontade de chamar um guarda para prendê-lo.
Em casa, ela não falou disso para mãe e nem para tia Julia. Só para mim que contava.
-- Não aguento mais esse Chadwick me seguindo. Que droga, pareço o Magneto dos X-Men. Atraíndo só os músicos.
Tive de rir dessa teoria um tanto infâme.
-- Na moral mana, acho que ele se apaixonou à primeira vista por você.
-- Sem ironias, pirralha. É serio. E tem mais uma coisa.
-- Se tá receando gostar dele, esquece. John Lennon é que está dominando seu coração e sem broncas.
-- Concordo plenamente no entanto.... o Chad... mana não me chame de doida varrida. Eu sinto algo por ele.
-- Ahh não, Rosie!
-- Ele é diferente. Sei lá. Não é amor mesmo como sinto pelo John. É amor inocente e sem aviso. Para seu alívio, não quero nada com ele.
-- Eu espero.
O último dia da maluquice só terminou no dia em que ela foi para a farmácia comprar remédios contra a gripe que contraí na chuva. Ela literalmente voou até lá e sem aquele cuidado diário em não se esbarrar com baixista dos Pacemakers. E essa fatalidade resultou nisso.
-- São 15 libras.
-- 15 libras por alguns comprimidos e um xarope ruim de doer? Que roubo! É por isso que esse país nunca vai pra frente na economia.
Ela pagou as 15 libras à contragosto e de novo veio a chuva. E de novo ela esquece o guarda-chuva.
-- Só me faltava essa.
-- Te ajudo se quiser.-- disse Les Chadwick ao abrir o guarda-chuva.
-- Como soube da minha localização?
-- Coincidências à parte. Vamos, madame?
Não deu nem 3 minutos quando chegaram em casa e abrir em seguida o portão quando um carro em alta velocidade cruzou na poça grande e banhou o "pseudo-casal" mais estranho de Mersey.
-- SEU FILHO DA PUTA! NÃO TEM CONSIDERAÇÃO????
-- Calma, não foi culpa dele.
-- Como não? Estou molhada, você está pior que eu. Oh me desculpa pelo linguajar sujo. Estou muito nervosa. Quer entrar?Antes de questionar, é a mais pura verdade: ela o convidou para entrar.
Rosie acendeu a lareira da sala e depois foi para quarto, trocou de roupa, preparou os remédios e depois fez companhia ao músico.
Ele por sua vez estava tremendo de frio.
-- Tome.-- ela ofereceu uma xícara do nosso chá favorito, o de maçã. -- Ajuda a se aquecer dessa chuva fria.
-- Obrigado.-- Em seguida sorvendo num só gole o chá tão aquecedor.-- Hum... é gostoso.
-- É sim. Que bom que gostou. Deixa a xícara na mesinha e continue se aquecendo.-- ela disse um tanto envergonhada.
-- Senhorita eu queria... queria...
-- Agora eu vou ser bem sincera: eu gosto de você como amigo, mesmo que não te conheça direito. E aceito do fundo do coração suas desculpas, desde que não ande de moto naquela travessa e...
Aí veio o fim da "epopéia". Como? Foi do beijo roubado e demorado dado por Chad. Rosie só ficou de olhos aberto por uns instantes e depois correspondeu. Acabei vendo os dois se beijando sentandos no tapete da sala e perto da lareira. É romântica a cena para muitos mas engraçada quem acompanhou o rolo todo. Voltei para o quarto e liguei para Sanae, minha melhor amiga.
-- Menina, você não sabe o que aconteceu de novo.
De volta para sala, a chuva parou ainda com nuvens no céu em pleno verão. Os dois pararam por ordem de Rosie.
-- Oh nossa...
-- Antes que continue, prometo mesmo não cruzar mais ali no mercado. E quanto esse beijo... desde que te vi, venho desejando beija-lá. Tenho que confessar: beija muito bem.
O comentário deixou minha irmã ainda mais vermelha que uma pimenta. Será que o John também reconheceria minha irmã como uma beijadora fenomenal?
Meia hora depois Rosie entrou no quarto para me dar o xarope e com uma expressão distraída e rindo. Perguntei.
-- O que o Chad te disse?
-- Que beijo muito bem. E ainda desejava me dar esse beijo a algum tempo.
-- Retiro o que disse antes sobre isso ser impossível e assino embaixo: parece mesmo com Magneto em atrair os músicos de Mersey. Primeiro o John, depois Chadwick e quem será o próximo?
-- Nem fala mais disso, pirralha. Esse será nosso segredo, ouviu? Não fala disso pra ninguém! E se por ventura descobrir que contou para alguém, te rogo uma praga. Ok?
-- Minha boca é um túmulo.
Só muito anos mais tarde contei isso para Paul Hemingway e ele não perdeu tempo: passou tirando sarro de Rosie até ela gritar com ele e inclusive bater nele com a vassoura. Precisei eu parar com a palhaçada toda.

2004

-- E foi isso, filha. Sua tia viveu uma saga e tanto com os músicos da época.
-- Caramba, mamãe. E eu achando que a tia só inventava, exceto os fatos com John Lennon.
-- Ela é uma enciclopédia viva.
Antes das últimas recomendações, Rosie chega com duas sacolas de compras.
-- Opa, interrompi o papo de família?
-- Tia, o Les Chadwick tinha mesmo uma excelente capacidade de sucção?
Oh-oh! Ela não devia ter perguntado.
-- Vivian, o que Marie disse mesmo?
-- Nada, minha irmã. Só brincadeiras.
Embromar uma irmã mais velha e fechar a boca de uma filha curiosa e sem papas na língua, é mais um desafio que enfrento nessa vida.

FIM

Inspirado no fime "Ferry Cross the Mersey."

E para encerrar, deixo a música tema do filme "Ferry Cross the Mersey".



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