quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Lembranças de uma fã (segundo e último capitulo)


O que eu previ, realmente aconteceu. Na vizinhança não falava em outra coisa. O assunto do momento era minha realização pessoal em conhecer pessoalmente os quatro rapazes de Liverpool. Para alguém que vive no bairro mais agitado de Merseyside, o Burttonwood, era de se esperar o tempo recorde em que meu relato corresse do bairro todo até na área central da cidade. As cidades vizinhas também ficaram sabendo. Algo engraçado nisso tudo foi que os professores da *LHS despejaram rios de agrados a mim e presentes eu ganhava. A lição de casa não recebia mais das piores professoras a quem considerava bruxas malvadas, especialistas no desmanche dos sonhos de adolescentes determinados. Resumindo: tornei-me a garota mais popular do colégio! Os garotos passaram a me paquerar com certa freqüência, seja cantando algumas músicas dos Beatles, seja presenteando-me com brincos, pulseiras e flores lindas das conhecidas floriculturas.
Coitados deles. Nenhum me agradava. Nenhum deles tinha o mesmo sorriso de Lennon. Nenhum deles possuía o humor verdadeiro dele. Para mim, John Lennon é o único. Ou ao menos pensava.
Foi em 1964, quando entrei no ensino médio. Conheci um rapaz chamado Henry Calahan, de dezesseis anos, moreno com seus um e setenta e três de altura e cabelos curtos claros e capitão do time de rugby. Os Red Kings são o nome do time. Não é preciso falar da popularidade dele, pois é muitíssimo conhecido. As meninas enviavam cartinhas amorosas a ele e, claro, me desagradava muito.
Nem mesmo “Eight Days a Week” ou “Rock’n’Roll Music” me fazia mover o corpo e esquecer-se das reclamações.  Durante o ano, executava muitas tentativas em conversar com Henry, mas a cada nova investida, surgia um obstáculo. Como odeio aquelas oferecidas aluninhas do primeiro e segundo ano. Com as táticas de conquista falhando mais e mais, decidi desencanar de tudo e me debruçar nos livros chatos.
Num dia qualquer de 1964, Vivian me acordou. Hiperativa do jeito que é, pulava como uma macaquinha e quase deu uma pirueta digna de medalha olímpica.
–-Mana veja. Os Beatles lançaram um filme nos cinemas. Convide suas amigas e eu convido as minhas. Vamos ao cinema!
Justo agora que fiquei gripada minha irmã mais nova faz um convite. Contudo, assistir meus amados nas telas cinematográficas era o sonho mais profundo de uma fã. Uma fã como eu. Esperei exatos dez dias para a cura e rapidamente comprei os ingressos. Comprei dois, um para mim e outro para Henry. Ele também gosta de Beatles e o irmão caçula dele é colega de minha irmã. Suzan e Jane já haviam assistido ao filme e por isso não as convidei. Vivian só chamou uma amiga, a Sanae Wakabayashi, aluna de intercâmbio japonesa.
Sexta-feira, sessão das 18h no Cine Mersey. Pelo que Suzan disse, todos os dias ficava lotado de gente para ver o filme. Já deduzia isso de praxe. Primeira fila. Cada qual com seu convidado. Henry e eu na direita e Vivi e Sanae na esquerda.
Ri pacas do filme. Os momentos engraçados dos quatro garantiram a alegria. Richard Lester fez um ótimo trabalho, filmando os Fab Four. De repente senti o braço de Calahan envolver meus ombros. Como não era boba nem nada, aproveitei em chegar um pouco mais perto dele. Era tão bom. Encarei os olhos dele e achei seu olhar semelhante com de Lennon. Mais tarde tudo foi meio rápido. Um beijo na boca. Henry me beijava com certa calma que, o mesmo calor antes sentido no Palladium, voltou com mais intensidade. Retribui o beijo com mais ternura. Quando paramos, estava na cena do show final e as gurias ainda com olhar fixo na telona. Tive mesmo sorte da Vivian não nos ver daquele jeito. Imagina se isso acontecer. Teria de preparar uma boa explicação a uma pirralha de oito anos recém descobrindo os segredos da vida.
Depois do filme, voltamos para casa e nos despedimos com beijos doces e carinho. Antes de entrar, Henry disse que nossa ação estava meio parecida com as músicas dos Beatles, cheias de relacionamentos amorosos, com direito a brigas, um fim, reconciliação e uns “felizes para sempre”. Também pensei assim. Muito antes do filme, sofri bem no inicio de 64, quando os garotos de Liverpool rumaram para os Estados Unidos. Saudade mata quem ama, sabia?
As noticias eram divinamente estupendas deles. A apresentação no Ed. Sullivan Show teve um grandioso ibope americano. Nunca na história televisiva uma banda de rock prendera a atenção de todos. Acredito que nem o Elvis faria uma repercussão assim.
Mas sabia como amenizar a saudade. Não foi com drogas, não. Foi mesmo o amor da música deles e a adoração do meu amado compositor. Na volta, estava lá no aeroporto, junto com toda aquela gente gritalhona.
Mudanças na minha vida, fatos marcantes e os estudos eram tudo que acontecia ao meu redor. O quarteto Fabuloso foi condecorado pela própria rainha da Inglaterra. Puxa, isso merece um destaque maior para toda Europa.
1965. Um acidente quase mata e arranca a cabeça de Paul McCartney. Noticias de sua suposta morte. Quase caí para trás disso. Meu futuro marido, morto. Vivian ficou rindo da situação e ainda disse que o melhor mesmo era firmar-se com um Rolling Stone. Pirralha impertinente. Talvez ela não tenha acreditado na maior noticia de todos os tempos. No lançamento de Rubber Soul, notei claro que não era o Paul. Decerto, o verdadeiro “Macca” recuperava-se dos ferimentos e deixou um sósia no seu lugar com certo limite de tempo.
Finalmente 1966. Conquistamos a Copa, fui chamada na Universidade de Oxford e.... John e Cynthia divorciam. Tristeza profunda. Alegria para mim. E raiva também. Alimentei fortes esperanças em poder conquistar Lennon, mas novamente naufragou igual ao Titanic. Tudo porque a japa Yoko Ono conquistou de modo diferente. Uma exposição de Arte e na parede minúsculas letras diziam ao serem vistas na lupa: “Yes!” Só por um Yes, meu beatle caiu de amores pela oriental.
Tempo voa, tempo passa. Os discos deles vendiam enxurradas. Seus discos mostravam mesmo que eles cresceram. Aposentaram aquela mesmice. Os terninhos, fora. O cabelinho, um pouco desarrumado. Meu irmão Nigel tinha seguido á risca o “Mod” da época. Mas não era bem isso. Junto a isso tudo, na Universidade todos possuíam cabeças voltadas para a paz mundial e o fim da guerra. Acabei participando dos protestos pacifistas. Mal parava na republica onde vivia com meus amigos, mandava cartas para a família e agitava todas.
O noticiário era somente guerra, política e baixarias. Nem os livros de Edgar Allan Poe me prendiam. Queria era estar num mundo sem as iminências bélicas. Um mundo de paz e alegria. Utopia, nothing real. Sou mesmo uma sonhadora.
Até mesmo os Beatles sofriam entre si os complicados problemas de banda. A morte de Brian Epstein foi uma delas. O guru Maharishi Mahesh Yogi bem que tentou. Só George seguiu sua doutrina. John saiu do retiro espiritual totalmente iludido. Ringo também caiu fora. Paul agüentou por um tempo. Mesmo assim, fora.
1967 e 1968 as brigas intensificaram mais e mais. Meus anos na faculdade renderam para o posto de aluna brilhante e assídua. Meu namoro continua forte e resistente e minha família unida.
As mudanças continuam e o destino pode reservar algo de bom para nós.

 Continua...

 Epilogo: O futuro nos reserva...

Terminei os estudos naquele começo de 1969. Eu e meu clã nos mudamos para Londres, morando num apartamento normal e posteriormente, perto da Apple Corps.
30 de janeiro. Vivian estava lendo uma revista de música quando ouviu do outro lado da rua, uma verdadeira apresentação de banda.
–-Mana, olha no teto da Apple. São os Beatles!—gritava Vivian, escorada na janela do seu quarto.
Mesmo na sala, meus olhos encheram de lágrimas ao ver aquela histórica apresentação. Aquela imagem jamais sairia da minha mente.
–-Obrigado pessoal. Esperamos ter passado no teste. – disse Lennon ao desconectar sua guitarra na caixa de som.
Se eu fosse empresária ou produtora deles, com certeza teriam minha aprovação.


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Dias atuais
É incrível que nos meus sessenta e um anos, ainda lembre as minhas aventuras no mundo da música. Hoje vi muitas bandas serem influenciadas pelos Beatles. Mesmo ter chorado rios por Lennon em 1980 e quase sofrer de enfarto fulminante quando soube que George morreu naquele ano de 2001, ainda permaneci em pé.
Uma vez li num jornal o que George falou sobre os fãs do Fab Four: “Espero que os fãs dos Beatles tenham se casado e com filhos e netos no mundo. Mas que ainda tenham um cantinho especial para nós em seus corações.” No meu coração, eles sempre estarão. E a nova geração, também.

Fim


Lista de personagens:

Roselyn Anne Donovan (Rosie): A protagonista. Adolescente dos anos 60 e senhora de idade nos dias atuais. Ela é irmã de Vivian
Danielle Donovan e tia de Marie Anne Hemingway, a detetive Maya nas outras fics.

Vivian Danielle Donovan: Irmã mais jovem de Rosie. Criança nos anos 60 e uma jovem senhora, mãe de Marie Anne Hemingway até sua trágica morte em 2005.

Suzan Hardison e Jane Berkley: Amigas e colegas de Rosie. Elas que convidaram a jovem para ir num show dos Beatles.

Sanae Wakabayashi: Amiga de Vivian. No futuro, ela se casa com Toshiro Hayashi e acabam tendo uma filha, a Shizune, que se torna a melhor amiga de Marie.

Henry Calahan: Namorado de Rosie desde os tempos do colégio. Começa a gostar de Rosie, mesmo sabendo que ela é obcecada por John Lennon. Henry também possui uma obecessão e é por Jane Fonda.

E no final, O amor que voce recebe, É igual ao que voce faz.
(The Beatles__The End)


FIM


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