Olá pessoal!
Desejo-lhes uma boa noite e ficam agora com o extra com um único pov e quem comanda é Gerd "ursinho" Müller. Outro destaque neste pov será Franz Beckenbauer um pouco...diferente. Demorou e deu trabalho mas saiu. Boa leitura!
Capítulo 19.5: Der Bomber
Gerd POV (Seis
meses antes de conhecer Louise até a atualidade)
-- Eu te
odeio, desgraçado! Como pode fazer isso comigo?
E ela foi
embora, falando aos quatro ventos todos os nomes que se possam imaginar.
Terminei com Uschi de maneira que não visse outra opção ou resposta. A paixão desaparecia aos poucos e mesmo procurando
ignorar ou salvar nosso relacionamento, não se podia fazer nada.
E por incrível
que pareça, me senti um tanto indiferente. Talvez não processasse as
informações. Só depois de uma semana foi sentido os efeitos de um fim de
namoro.
Adquiri uma
perdição quase eterna. Não sabia bem o que fazer ou qual direção seguir. Por
mais que o treinamento me faz bem, estava completamente indeciso sobre minha
vida amorosa. Franz e Sepp, meus melhores amigos me ajudavam de tudo quanto é
forma.
-- Quer saber?
Depois deste jogo, vamos cair na farra! – Disse Sepp, se levantando depois do
treino. – Está na hora de diversão! E Franz está precisando também, depois que
a Brigitte o deixou.
-- Me deixa
fora disso. Quero ficar quieto. – Respondi.
-- Qual é?
Vamos lá! Precisamos nos divertir um pouco.
Vai ser depois do jogo da Liga contra o Real Madrid. Vamos, Gerd?
Não consegui
negar isso. Por vários dias fiquei
daquele jeito. Jurei a mim mesmo que em maio tudo mudaria. Não posso mais ficar
me lamentando por uma garota. Cansei de sofrimentos. Melhor dizendo: essa
diversão que Sepp anda prometendo espero que valha a pena.
Falta um dia
para o grande jogo. Não via grandes expectativas em relação a isso. O
treinamento rendeu bastante e estávamos todos mais que preparados em enfrentar
o time espanhol. Meu celular piscou avisando uma mensagem. Era Uschi.
Eu te amo. Me perdoa?
Não respondi.
Na verdade fiquei em dúvida se a perdoava ou não. Era sempre a mesma coisa.
Brigávamos e depois nos acertávamos. Só que agora o negocio foi sério. E também
para não iludir, era melhor falar a verdade e acabar com tudo. Guardei o
celular e fui dormir. Ok, um pouco de insônia me atacou. Primeiro a ansiedade
do jogo e finalizando minha ex-namorada me perturbando. Aos poucos fechei os
olhos e o sono tomou conta...
Caminhei num jardim escuro e lá uma
mansão estava em festa.
Parei um pouco para observar todo movimento e ouvi um choro.
Me virei de onde vinha. Uma moça vestida de branco se sentava no banco perto do
chafariz e chorava. Me aproximei dela.
-- Não chore...
Ela me olhou assustada e eu tentei ser
mais gentil. O que me deixou paralisado foram os olhos dela. Azuis como dois
diamantes brilhantes.
-- Me beija...
Ela me pediu o beijo e quando já estava
lá...
-- ACORDA!!!!
-- Franz gritava e ainda tirou o lençol
que me cobria. – Hora do café.
Na melhor
parte do sonho sou interrompido. Aquela
garota... será que ela existe? Me pareceu tão nova e delicada. Droga, eu e
minha queda por meninas delicadas e aparentando ser frágeis.
Por horas
estava com ela nos meus pensamentos, até mesmo na hora do jogo. O estádio não
estava tão lotado assim. Após a entrada vi algo nas telas um tanto curioso e
chamativo. Uma garota mostrando seu cartaz e declarando seu imenso amor por
Franz. Vi o restante do time, os reservas no banco e Guardiola rindo e meu
amigo um pouco envergonhado, mas aproveitou e lançou piscadela na tela.
-- Lá vai o
Kaiser, seduzindo as garotas de novo! – Comentou Sepp, sempre divertido.
Antes de seguir
um rápido aquecimento, avistei os torcedores. Encontrei a menina do cartaz,
acompanhada de dois rapazes e mais duas garotas. Espere! Uma delas... Possuía
os mesmos traços faciais da menina que vi no meu sonho. E agora por que meu
coração bateu tão ligeiro se nem fiz nada?
Primeiro tempo
não houve grandes novidades. Apenas levamos um gol do Real. Depois Uli foi
tentar chutar, mas Sergio Ramos cometeu a falta nele. Bretner, sempre bom no
pênalti, cobrou sem nenhum problema.
No intervalo,
Guardiola prepara novas e rápidas estratégias e seguimos na pausa. Franz me
comenta algo.
-- Acha uma
boa idéia de conhecer aquela menina que fez o cartaz?
-- Não sei.
Quem recebeu a homenagem é você, não eu.
-- Poxa, só
fiz uma pergunta, Gerd. Me ajuda. Devo ou não devo conhecer ela e seus amigos?
Talvez ela te apresente uma amiga pra você.
Definitivamente
não estava num bom dia e para não deixar pior, aceitei de boas. Ela deve ser feia, pensei comigo mesmo,
na possibilidade de uma das acompanhantes da tal garota do cartaz não possui
certa beleza.
O pior momento
durante o segundo tempo foi Franz ter quebrado a clavícula. De tão furioso que
acertei um tapa na cara do Cristiano Ronaldo. Quase empurrei Sepp para longe e
além dele, outros tentaram me segurar. Contudo, meu amigo supreende todos. Ele vai
continuar a jogar, mesmo daquele jeito.
-- Faça-o
parar. – Comentou Uli, espantado. – Não há condições de prosseguir o jogo com o
osso quase atravessado.
Não podia pará-lo.
Era a decisão dele e tinha de respeitar. Quando fiz o gol, outra vez a raiva
tomou conta e no final foi tudo resolvido. Ou melhor, quase tudo. Abri vantagem
e outra vez o Real marca gol. Fim de jogo um empate. Imediantamente Franz foi
levado ao hospital e seguimos logo atrás.
-- Acho que
ele não terá condições de conhecer a fã especial. – Disse Sepp tirando as luvas
no carro.
Poucos minutos
estávamos ali na sala de espera, na expectativa de recuperação do Kaiser.
Guardiola aparece para um aviso para mim e Sepp.
-- Ouçam, um
grupo cinco pessoas vão estar aqui no hospital. São torcedores e um deles é uma
garota e justo a do cartaz. Portanto, tratem bem esse pessoal. Já avisei o
restante do time que estará aqui.
Aos poucos o
time adentrava aquela sala e avistei o tal grupo de torcedores. Era formado por
dois rapazes, um inglês e um russo e três meninas. Espere! Uma delas... Por um
momento lembrei-me da menina do meu sonho. Totalmente idêntica! Guardiola
aborda os torcedores e uma das meninas mostra o cartaz. Ok, ela tentou ser
criativa, mas Franz gostou disso.
-- Meu deus,
essa garota precisa aprender melhor alemão, não acha? – Bastian Schweinsteiger
foi quem comentou isso.
-- Até eu
faria melhor! – Dizia Mario Götze, debochado.
O que não esperava
era da tal garota ouvir o que estavam dizendo do cartaz e rebateu em outra língua.
-- Personne
n'a demandé vos opinion! (Ninguém pediu a opinião de vocês!)
Me afastei um
pouco da dupla e fui tentar tomar água até ouvir um grito quase estridente de
uma garota. Me engasguei ao ver que a adolescente loira correndo em minha
direção e me abraçando forte falando em inglês. E
agora?
-- Sepp, me
ajude! O que faço? – Pedia ao goleiro alguma solução enquanto tentava retribuir
aquele abraço.
-- Ora, fale
com ela.
Falar com ela?
Mal falo inglês e me pedem uma comunicação direta? Pois bem, lá vou eu.
-- Desculpa,
eu não falar em inglês. – Foi o que me limitei a dizer. Em seguida ela
desprendeu seus braços de mim e fixando aqueles diamantes azulados em mim.
O maior choque
para mim e para todos os presentes ali no hospital, para os médicos e
enfermeiras e até seus amigos foi ouvir essa afirmação dela.
-- Ich Liebe
Dich, Gerd Müller!
Ok, é a
primeira vez que uma garota que nem conheço fala esse tipo de coisa para mim.
Todos olharam para ela e os doutores que ali cruzavam, simplesmente pararam os
passos para ver de onde vinham aquelas palavras. Ao que parece ela se assustou
ou foi tomada pelo pânico e correu até a saída. Seus amigos a seguiram e vi
também a menina do cartaz saindo do quarto onde Franz estava para ajudar sua
colega. Não devia te-la condenado a isso. Resolvi ir atrás dela, mas Manuel
Neuer me impediu.
-- Aonde pensa
que vai?
-- Falar com
aquela garota. Pedir desculpas.
-- Desde
quando virou pedófilo? Eu vi como tava olhando para aquela menina e não era de
pena ou outra coisa. Era um olhar apaixonado.
-- Vai cuidar
da sua vida e me deixa!
Quando sai do
hospital, não a vi mais. Certamente foi embora. Droga! Perdi uma chance de
falar com ela. No hotel não consegui dormir pensando na menina de cabelos
dourados. No fundo desejava vê-la mais uma vez, só mais uma vez.
Dia seguinte
acordei um pouco tarde e resolvi sair um pouco pelas ruas de Madrid com Uli,
Paul e Sepp. Caminhei até um chafariz e em seguida fui abordado por alguém. Me
virei e levei um susto. O mesmo rapaz no hospital e a menina. Ela!
A própria.
Outra garota de cabelos claros, mas de traços sérvios apareceu junto à
dupla. A menina tinha um olhar pouco
assustado para ser mais exato e o acompanhante dela começou a dizer.
-- Sr. Müller
– Começou a falar o rapaz britânico. – Eu sou Michael McGold e esta é minha
irmã Louise!
O nome dela é
Louise? Só podia ser lindo. A garota de olhos de diamante azul com nome lindo.
A outra menina, a russa ou sérvia, traduzia o que haviam falado e eu resolvi
responder.
-- Eu... peço
desculpas pela minha falta de atitude e de quando me abraçou. E principalmente
quando falou aquelas palavras. E eu gostei da demonstração de afeto. Foi
sincera.
A jovem
continuou a traduzir as palavras e em seguida Louise tapou o rosto com as mãos, como se
quisesse se esconder. Compreendia aquela ação. Deve ter se lembrado de ontem no
hospital. Me aproximei dela e afastei
gentilmente as mãos do rosto dela. Meu deus, era como estar diante de um anjo
caído. Ouvi umas batidas aceleradas no
meu coração. Devagar fui aproximando meu rosto no dela e beijei a bochecha
rosada dela. Depois disso suspirei e continuei a ver seus lindos olhos até Uli
gritar para irmos ao hospital. Mal me despedi deles, mas rapidamente peguei a
mão de Louise, sentindo pela última vez sua maciez e delicadeza.
No caminho
ainda pensava nela e no beijo. Teria sido melhor experimentar aquela boca
vermelha. Culpei-me por tais pensamentos em breves momentos. Era tipo, como
posso estar gostando de uma garota que só a vi nos meus sonhos e depois num
golpe do destino a encontro ontem e hoje?
Chegando ao
hospital vejo alguns dos nossos amigos outra vez na sala de espera, mas com
cara de enjoados e outros irritados. Assim que me viu, Manuel e Götze
caminharam até nós e falaram.
-- Ainda bem
que apareceu, Gerd! -- Dizia o goleiro
reserva, desesperado.
-- Nós
tentamos conversar com ele hoje eu e todos do time, mas ele está... sei lá,
muito estranho. Falou algo do tipo “bateu uma onda forte”, afirmando ver
macacos em cima do poste. O que é isso?
Falei que vou
resolver isso. Franz sempre me ouve ou quem sabe ele não queria falar com
ninguém.
Entrei no
quarto e ouvi uma música um tanto estranha vindo do iPod dele, a televisão
ligada num desenho animado e os olhos fixados nela. Fiquei um pouco perto da
cama e o cumprimentei.
-- Bom dia,
Franz! Como está?
Ele não
respondeu, só ria sozinho
--Está me
ouvindo? Me reconhece?
-- Gerd, meu
amigo! Está vendo aquele uniconio nas nuvens? – No momento em que comemorava
por saber que ele está bem, veio agora um papo de unicórnios?
-- Do que está
falando? Unicórnios? E que música é essa? – Agora era eu a questionar.
-- É tão
linda... vou ouvir mais um repeat!
Sepp entra
também no quarto.
-- O que
perdi? Franz! Como está?
-- Sepp...
estou tão leve...
Puxei meu
amigo pelo braço e comentando baixo para Franz não nos ouvir.
-- Ele está
doido! Não me pergunte como, só sei disso! – Falei.
Em seguida o
goleiro deu risada e falou o motivo.
-- Cara, ele
está dopado! Acho que deram morfina para ele.
O próximo
momento que vi foi Franz pegar o celular, procurar na lista de contatos e
iniciar uma chamada.
-- Para quem
está ligando? – Questionei.
-- Shhhh... é
para ela!
-- Quem?
-- A menina...
Do cartaz. A que tem um nome difícil.
-- Não vai
ligar para ninguém! Agora fica aí com sua música esquisita, depois venho te
ver!
Sai do quarto
com Sepp um pouco bravo. Por várias horas ficamos do lado de fora do quarto,
ouvindo no volume máximo aquele som do iPod. Paul não conseguia ler por conta disso.
-- Ah não!
Alguém tem que tirar aquele maldito iPod dele. Não agüento mais ouvir essa
música!
Não adiantava
reclamar. À noite Sepp voltou ao quarto do nosso amigo e saiu de lá rápido.
Abismado.
-- NÃO PODE
SER! CINQUENTA VEZES NO REPEAT AQUELA MÚSICA?! NÃOOOOO!
A outra
atitude que vi foi de Paul, jogando o livro na parede e indo embora. Só a meia noite que tudo parou e Franz
conseguiu dormir. No quarto do hotel, outra vez sonhei com Louise. No outro dia
treinei com o time e perto do meio dia fui visitar meu amigo junto com Sepp,
Uli e Paul. Assim que chegamos notamos uma pequena agitação e algumas
enfermeiras gritando.
-- SOCORRO! O
PACIENTE! – Gritou uma delas.
A principio
achamos que fosse sinal de perigo, um grande engano. A cena que vimos foi Franz
correndo pelo corredor, decerto procurando uma saída e falando algo que não
entendia bem. Ele nos viu e veio até nós, com os olhos bem abertos.
-- ESTAMOS
ATRASADOS, GERD! PRECISAMOS IR AO ESTADIO, HOJE TEM JOGO!
-- Franz, hoje
não tem jogo! Estamos de folga! – Disse tranquilamente e isso só ficou pior.
Ele insistia para os quatro cantos do hospital que está atrasado e precisa
jogar.
-- OUÇA, SEU
KAISER DOIDO! HOJE NÃO TEM JOGO! OUVIU? NÃO TEM JOGO!! – Gritou Paul, cheio de
raiva
-- TEM JOGO
SIM! – A insistência de Franz é muito grande. Paul se irritou demais e para
acabar com aquela loucura, aplicou um soco nele, deixando-o desacordado e Sepp
em pânico.
-- Você... Você
o matou! VOCÊ O MATOU!
-- Eu não
matei ninguém. Ele mereceu isso. Agora vamos levá-lo ao quarto.
Os médicos e
enfermeiras viram tudo e nos encheram de perguntas. Paul respondeu com calma e
não fomos reeprendidos por isso. Ainda bem!
Alguns dias
depois ele ganha alta. O doutor ainda disse que ele sentiria mais dores e para
amenizar era preciso tomar alguns remédios. Ao menos a morfina acabou. Quer
dizer... Pensamos assim. A loucura do Kaiser continuou até numa madrugada onde
colocou outra vez a música estranha (descobri mais tarde que é do Tame Impala – Feels Like We Only Go
Backwards) e ainda ligou para a menina que ele conheceu no jogo da Liga.
-- Gerd,
acorda! Me ajude com Franz. Ele ficou louco demais! -- Sepp me acordou pedindo ajuda. Entramos no
quarto de Franz e pegamos o jogador fazendo uma ligação. Nem preciso perguntar
para quem é. Apenas observei até onde ia
aquilo tudo.
-- Alô...
menina do cartaz? – Perguntava ele, com a voz meio enrolada, como se estivesse
bêbado.
-- Oi? Quem é?
Não acredito.
Ele deixou no modo viva voz? Agora sim, ele pirou de vez em fazer isso em plena
madrugada.
-- Sou...
eu... Lembra no jogo da Liga?
-- Franz?
-- Yah. Agora... esqueci sua nome. Qual é...
mesmo?
Não sabia se
me escondia pela vergonha de presenciar uma coisa dessas ou ficava rindo como
Sepp está fazendo neste momento. O goleiro se rolava de risos e eu tapei a boca
contendo tudo isso.
-- Ora. É Odile. Agora se lembrou?
-- É, Odi...
Odi... Pode repetir?
Literalmente,
a gota d’agua aconteceu ali. A menina desligou na cara dele.
-- Desligou? –
Franz olhava para o celular um pouco triste. – Como... ela ousa...
-- Já chega! –
Tirei o telefone de perto dele e falei. – Agora vá dormir que já acordou todo
mundo, inclusive o Sepp.
Depois disso
ele adormeceu e Sepp escondeu o celular dele, evitando mais supresas noturnas e
só iria entregá-lo quando essa loucura passasse. Sai do quarto e vi Paul
Breitner com a cabeça na porta e me perguntando.
-- Franz já
parou de dar ataques?
-- Sim. Amanhã
veremos o que fazer.
Em seguida ele
voltou ao quarto e eu deitei na cama, muito cansado. Adormeci pensando
novamente na minha querida Louise.
Quase fechando
um mês, voltamos para Berlim e Franz se recuperava muito bem. Desta vez não
tomava os remédios para dor. Ainda bem. Agora estava lúcido. Resolvi contar a
ele sobre o que aconteceu enquanto estava “louco”. Ele não acreditou muito e
pedi para Paul, Uli e Sepp confirmarem.
--
Praticamente nos deixou enfurecidos e amendrontados com suas atitudes fora de
série. Ah, Gerd, falou da música no repeat? – Perguntou Sepp, ainda se
lembrando do iPod com a música estranha.
-- Falei e
também do surto pelo corredor, gritando como um lunático como se quisesse nos
avisar de um apocalipse.
-- Eu... não
posso ter feito isso... vocês estão mentindo.
-- Ah e tem
mais, Franz: você ligou para a menina do cartaz às 3 da madrugada. – Comentei para ver a reação explosiva dele,
gritando neste momento “não”.
-- Seus filhos
da mãe! – Ele saiu correndo, mas lançou um olhar para trás ainda xingando. –
Não irei perdoá-los!
Mais risos por
nossa parte e ainda imitamos os trejeitos absurdos dele enquanto a morfina
permitia essas coisas alucinadas. Segui para o vestiário e o encontrei, com o
celular em mãos, discando o número. Certamente o da garota. Foi aí que me
lembrei de um detalhe importante: a menina Louise, é amiga da menina do cartaz, se Franz
conseguisse o número dela...
-- Franz,
posso falar rápido com você?
Ignorou minha
pergunta e focando apenas no celular, resmungando que não é atendido ou pela
rede que não estava boa.
-- Franz—
Insisti – Posso falar com você?
-- Dá pra
calar a boca? Estou fazendo uma ligação!
-- Por favor,
só quero pedir uma coisa.
-- Depois do
que me contou e ainda zombou de mim? Te avisei que não o perdoaria!
--Ok, então
peço perdão! Agora me ajuda?
Ele pensou um
pouco, olhou para os lados e respondeu.
-- Bombardeiro
chato, está aceito. O que deseja?
-- Me consiga
o número da amiga da menina do cartaz?
-- E qual o
nome dela?
-- Louise.
-- Verei o que
posso fazer. Não alimente esperanças.
Ao fim da
tarde, após o treinamento e voltando ao hotel,
ganhei um papel escrito o nome
dela e o número.
-- Obrigado,
Franz! Conseguiu se desculpar com a menina do cartaz?
-- Sim, na
verdade perdi a conta de quantas vezes pedi desculpas pela minha atitude
esquisita de ligar para ela no meio da noite.
E agora prometi a mim mesmo que assim que estiver em Londres, mandarei
um presente a ela.
-- É muito
bom... – Mal terminei de falar e já tratei de salvar aquele conjunto de números
no celular e mandar uma mensagem a ela.
Mais um
problema a ser enfretado: o medo. Ou
seria timidez? Droga! Mande logo essa
mensagem, pensei comigo mesmo. E me limitei a escrever um simples “olá”.
Sem nenhuma
resposta. Ah sim, como esperar a resposta da garota se ela nem sabe de onde é
aquele número e quem possa ser?
Serei mais
direto.
Lembra de eu? Gerd
Müller. No hospital me abraçou, pedi desculpas e beijei você.
Agora acredito
que ela vai me responder. Ou serei repreendido? Em poucos segundos o celular
apitou com nova mensagem.
Lembro sim.
Como pegou meu número?
Respondi com
essa mensagem.
Franz conseguiu para mim,
através do amiga dele. E se pudesse, gostaria de beijar você, não como fiz naquele momento. E sim de outro
jeito.
Acho que
exagerei um pouco nesta quase declaração a ela. Em principio queria esperar o
próximo jogo da Liga em Londres ou quem sabe convidar ela e seus amigos para o
campeonato alemão. Acho pouco provável nesta última opção. Mais pensamentos
invadiam minha mente até receber mais mensagens dela.
Puxa, fico lisonjeada. E
me desculpa mais uma vez pela minha atitude um tanto esquisita. Sou assim
mesmo, mas sou normal hehehe. E como você está?
Então, ela gostou? Mais três pontos na tabela. Vamos devagar, quero ganhar essa menina aos
poucos.
Eu estar bem. Teve treino
e Franz estar bem, sem medicamentos a tomar. E você?
Foi ali que
tudo começou. E isso se repetiu por horas, dias, semanas e meses. Até depois
dos jogos a primeira coisa que faço é pegar o celular e mandar uma mensagem a
ela, perguntando se assistiu ao jogo, se ela está bem ou que faz neste momento.
Todos os dias converso com ela. Tem
vezes que ela pede para enviar mensagens em determinados horários por estar
estudando, em aula ou até mesmo dias de provas. Aí não podia mesmo falar com
ela. Houve um momento que sem querer mandei mensagem e ela não me respondeu.
Fiquei muito preocupado. Quatro horas no vácuo numa tarde de folga. Sai com
meus amigos e nenhuma resposta.
À noite quando
assistia pela enésima vez Sexta-Feira 13 na TV, o celular apitou. Era ela.
Pedindo desculpas.
Oi, Gerd. Me desculpe por
não te responder. Estava numa maratona nerd.
Maratona nerd?
Não entendi o que ela quis dizer apenas a justificativa me deixou um pouco mais
traquilo.
Tudo bem. O que ser
maratona nerd?
E ela:
Fiquei assistindo no
notebook meus desenhos, os animes que gosto.
É verdade.
Houve um dia que Louise praticamente passou a tarde inteira me falando e
explicando sobre seus gostos e hábitos. O que descobri sobre ela? Gosta de séries
e aqueles desenhos vindos do Japão. Ela também sabe e ama desenhar. Outro fato
sobre ela é que cursa Artes Cênicas com a amiga dela, Odile, na Universidade de
Londres.
Entendi. Se houver jogo
da Liga em Londres, você me ver jogar?
Desta vez ela
demorou um pouco em
responder. Talvez não queira me ver. Pensei errado.
Se Odile for ao jogo, vou
com ela.
Ótimo, mais
alguns pontos para mim na tabela. E para as coisas ficarem ainda melhores,
descobri que a próxima rodada será com Manchester United e só no fim de
outubro. E como faltava bem pouco para acabar setembro (um mês de tédio) e
permitir a entrada de outubro. Vai ser um pouco difícil de agüentar essa espera
toda.
Naqueles dias
que se passaram, percebi mais coisas ao meu redor. Primeiro Paul Breitner
conversa com alguém na internet todos os dias e Franz e Odile eram agora
inseparáveis. Além das mensagens no celular, falam pelo Skype. Quanto a mim,
segui conversando com Louise. Um dia Franz resolveu sair e questionei.
-- Aonde você
vai?
-- Comprar ou
tentar comprar um presente para a menina do cartaz. – Respondeu ele, ainda se
arrumando.
Como o jogo de
sexta nos deixou um pouco mais tranqüilos, então poderíamos sair e fazer o que
quiser. Resolvi perguntar para Louise
qual seria o presente ideal para ela. Para minha surpresa, ela me enviou uma
foto com um monte de bichos estranhos de pelúcia e escreveu na legenda.
Amo esses puffs. Queria
tanto um Tailmon...
O que? O que
era isso? Pensei até mesmo em perguntar a ela e outra mensagem veio em poucos
segundos.
Acho que não deve saber
não é? Tailmon é um Digimon, veja nesta foto.
Ela mostrou a
foto de um gato branco, usando umas luvas de garras nas patas e possui um
pequeno anel dourado na cauda. E agora tenho outro problema: o que é essa
palavra que Louise disse? Sinceramente não entendo esses ingleses.
Ou melhor, as
inglesas.
Resolvi
procurar a única pessoa com inteligência suprema e esse é Paul Breitner. Bati
na porta e não teve resposta.
-- Paul!
Geralmente
quando não é ele quem abre a porta, é o Uli. Só que ninguém abriu.
-- Paul, sou
eu. Gerhard. – Chamei.
Por
impaciência, entrei no quarto dele e o vi deitado, segurando o notebook e
conversando com alguém.
--... Ainda
não tive a honra de ler algo sobre Albert Camus. Sempre que tento ler, algo me
atrapalha. Prometo ler e escrever quem sabe uma resenha, Ana.
-- Paul! –
Novamente o chamei e Paul se assustou a ponto de fechar o note.
-- Droga,
Gerd! O que está fazendo aqui? Sabe que deve bater na porta e onde está Uli?
-- Eu não sei
onde está Uli e você não me ouviu te chamar. Preciso de ajuda.
-- Agora não.
Estou ocupado!
-- Por
favor...
Minha
insistência é tão irritante para alguns colegas que chego a ser xingado. E Paul
queria me socar naquele momento. E não aconteceu.
-- Cara chato!
Ok, o que você quer?
Expliquei para
ele desde o inicio. O jogo da Liga, a menina do hospital, o beijo, o contato
com ela via celular e o lado esquisito dela. Até mesmo dos gostos dela e o fato
de querer presentea-lá com um desses bichinhos.
Paul olhou
para o teto e respirou fundo. Acho que ele procurava a resposta para isso e
novamente me encarou.
-- Duas
coisas. Primeiro: Você é um papa anjo que pega garotinhas inglesas. E segundo:
Digimon significa “monstros digitais”, pelo menos segundo a explicação de minha
amiga Anastacia. E essa sua “criança” quer um Tailmon? Há uma loja no shopping
Harrods que tem essas coisas nerds.
-- Você me
ajuda a comprar?
-- Nem pensar.
A garotinha é sua!
-- Compro um
livro pra você!
Paul me
expulsou do quarto e quando já pensava em sair, ele abre a porta, já arrumado e
me dizendo.
-- Quero um
livro do Camus. E caso encontrar outro livro interessante, também compra para
mim!
Trato feito.
Não só consegui comprar aquele puff como levei Paul a uma livraria e ele
escolheu por um bom tempo. No outro dia,
Franz e eu providenciamos o envio daqueles presentes e segundo a companhia de
entregas, levaria uma semana no máximo a se chegar ao destino. No hotel,
comentamos sobre isso.
-- Uma
semana... – Disse enquanto observava Manuel vendo algo no iPad. – Estou ansioso
em saber se Louise recebeu o presente.
-- Calma. Vai
dar certo. O que comprou?
-- Um bichinho
de pelúcia.
-- Que fofo!
Essa sua menina deve ser do tipo “fru-fru”.
-- Não. Ela é
mais... mais... sei lá!
Continuamos
com a conversa até Manuel aparecer, animado e levando o iPad. Vi que ele
acessava o Facebook.
-- Vejam o que
Uli conseguiu! – Mostrando fotos de muitas meninas. Lindas por sinal e entre
elas está Louise.
-- São lindas
essas universitárias. – Comentou Franz.
-- Mais linda
é esta aqui! – Manuel apontou para uma garota alta, cabelo negro e usando um
vestido vermelho. – A prima da sua menininha, Gerd. Essa sim merece ser chamada
de fraulein! Oh minha fraulein... Felicity!
-- Espera!
Onde encontrou essas fotos? – Perguntei.
-- Já disse.
Uli estava vasculhando o perfil do Paul no Facebook e veja a coincidência. Ele
é amigo desta menina. Por isso as fotos delas.
Hum... Agora faz
sentido quando Paul naquele dia ficou tão assustado. E mais ainda quando
perguntei sobre a menina para ele.
-- Não. Está
vendo coisas, Gerd!
-- A rede
social não mente. – Mostrei a ele o perfil dele e as amizades, incluindo a
garota sérvia.
-- Ok... E
devia ficar contente. Ela é amiga da “menor
de idade.”
-- Pára de
dizer que ela é menor de idade. Eu sei disso.
-- Você gosta
dela. Todos do time, até quem não estava envolvido nesta história sabem dessa
sua paixão estranha por ela.
Se soubesse o
quanto isso ganharia força, não teria contado nem ao Franz ou Sepp. Guardaria
comigo esse sentimento.
As semanas
passaram depressa e nem percebi que chegamos a segunda semana de outubro e ai
recebo uma mensagem de Louise;
Oi, Gerd. Eu adorei o
presente de verdade! Muito obrigada. Gostaria de poder retribuir essa
gentileza.
Queria
responder algo melhor. Deixei para depois e comemorando internamente a
felicidade dela. Num dia qualquer enquanto saia do banho, vi Franz no notebook,
conversando com a menina do cartaz. Vesti uma bermuda e uma camiseta azul e
enquanto penteava o cabelo, ouvi meu amigo gritando.
-- Gerd venha
aqui, por favor!
Me aproximei
dele, sem saber do que me aguardava.
-- O que
houve?
-- Fica aqui e
converse com ela. – Respondeu.
-- Com a
garota do cartaz?
-- A amiga
dela. Louise.
-- Está
brincando? Estou péssimo!
-- Chega de
frescura e olha pra tela. Diga oi e converse. Vai lá!
Olhei mesmo
para a tela e não a vi. Embora a webcam registrasse uma garota arrastando a
outra para a lente e ser focada. Segndos
depois enxerguei um par de jóias azuis. Os olhos mais lindos que já vi e o
rosto dela parecia susto. Talvez impacto. Franz dizia baixinho para falar com
ela e eu ali petrificado.
-- Olá. – A voz de Louise tão agradável... Aos
poucos perdia a resistência.
-- Hallo! –
Respondi e confesso não ter gostado. Mais pelo modo como a saudei.
-- Err... Bem...Como vai você?
-- Um pouco
bem... quer dizer... bem. Yah, eu estar bem!
A conversa não
durou muito, não pela timidez e sim por causa de Sepp que apareceu num momento não
apropriado. Tive de desligar rápido a webcam e Franz e eu disfarçamos.
-- Não
precisam esconder. Sei que estavam falando com aquelas meninas. – Disse o
goleiro enquanto pegava a toalha. – Manda um beijo pra elas.
Quando ele se
retirou, ficamos muito aliviados e liguei o aparelho. Pude ver Louise chorando.
Não... o que pode ter acontecido?
-- ... Ele nem sequer saberá de mim e muito
menos gostou de mim, Odile. Deve me achar uma louca, isso sim. Embora... ele é
tão fofo como um ursinho.
Quando ela me
elogiou, o medo sumiu e resolvi falar como num impulso emocional.
-- Eu gostar
muito de você, Louise!
A próxima cena
a ser presenciada foi de susto e depois risos dela. Normal, após lágrimas,
deveria vir um pouco de alegria. Continuamos a conversa por umas duas ou três
horas.
Mais alguns
dias se passaram e chegamos a Londres para o jogo da Liga. Tudo pareceu tão rápido.
A chegada na capital inglesa, o hotel, uma entrevista e a sorte. Sorte por
saber que a menina que veio junto do jornalista é na verdade uma estudante da
Universidade de Londres. Melhor, ela é a prima da Louise. Três vezes melhor.
Paul arrastou não só eu, mas também Franz, Manuel (que tombou no chão ao ver de
perto a fraulein), Sepp e Uli.
Quatro vezes
melhor, foi contar com nossos colegas de time para a fuga. Falamos com Dante,
Rafinha e Bastian e pedimos para dar uma embromada no técnico e evitar pontas
soltas. Aquele espanhol do Guardiola é muito esperto.
Quando a prima
de Louise apareceu, primeiramente nos levou a casa de uma garota chamada
Marianne, a irmã do jornalista. Ela inclusive ajudou todos nós nas roupas.
Escolhi ser o Drácula. Os outros não tiveram dificuldades nas escolhas. Paul
teve trabalho em usar a máscara do Homem Aranha e Franz... Foi um caso difícil,
tirou a paciência de todos, até mesmo de Felicia. No fim ele se tornou o Jack O’Lantern,
o símbolo do Halloween. Mordi a língua em não rir dele com a cabeça de abóbora
nele. E mais difícil na entrada do salão de festas. Franz não enxergava direito
e vez ou outra atropelava alguém que dançava ou um casal. E às vezes era
reeprendido por alguém.
Ficamos por um
bom tempo naquele sofá, só olhando o pessoal dançando, bebendo e outras coisas.
Odeio festas, odeio lugares fechados. Estava nervoso demais e mal conseguia
falar com aquela música alta e as pessoas falando ao mesmo tempo. Foi aí que
algo aconteceu.
A garota
recebeu três pessoas. Um rapaz vestido de Michael Jackson e duas garotas,
parecendo noivas do vampiro. A menina
loira... os olhos azulados, sim! Era ela, Louise.
Ela se sentou
ao lado da prima enquanto as outras duas pessoas só diziam oi para nós. Teve um
momento que Louise me encarou e pelo rosto dela, não me reconheceu. Desapontado
por isso? Sim. Voltei minha atenção ao celular quando ouvi a conversa delas.
Era mais ou menos assim.
-- Devia ter
me contado, Louise. Quem sabe eu te ajudasse...
-- Não teria
como. Ele... eu... ele é só um amigo. Um amigo, Fefe. Não tenho chances com
alguém como Gerd Müller.
-- Pois acho
que tem mais chances com ele do que as outras.
Não sabia se
ficava feliz em ouvir isso ou mais desapontado. Minutos depois Felícia sumiu e
Louise também. Manuel me alertou dizendo que a viu saindo do salão, prestes a
chorar. Foi aí que mais coisas aconteceram. Troquei mais mensagens com ela no
celular até a música acabar. E ai nos encontramos ali no muro. A luz forte
acendida mostrou bem minha amada ali diante de mim. Lembram do beijo que disse
antes?
Eu a beijei
ali, na frente de um pequeno grupo de alunos fantasiados e ainda recebemos
aplausos. Após isso, minha amada parou o beijo, recuperando o fôlego e falando.
-- Oh meu
deus... Como... veio aqui? – Louise estava um tanto surpresa.
-- Seu prima
trouxe eu e os rapazes aqui. Vim por você. – E em seguida a abracei.
Ela chorou um pouco e novamente a beijei mais aindaa, até a megera
chamada Felícia nos pegar e ainda ficar furiosa com que viu. Não me importei com isso, apenas Louise me
importava.
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Mais um mês sem minha ursinha, porém consegui agüentar. Tirando a revelação,
o churrasco, o enterro emocionante (sem ironias) do gato de Nora e também ser
apresentado à família dela (admito: o pai dela é mesmo assustador), ansiava
demais rever aquela universitária doida. E a oportunidade veio na semana do
natal. O irmão de Anastacia,
Christopher, organizou uma festa natalina na casa dele e nos convidou. E também
é a chance mais esperada para Paul, apaixonado pela jovem russa.
No carro, Uli dirigia até a casa dos Romanov. E quanto a mim, a
ansiedade em saber se minha ursinha chamada Louise iria gostar do mais novo
presente...
Continua...