domingo, 20 de fevereiro de 2022

We Belong Together - Wildest Dreams (Parte 17)

 Boa tarde gente! 

Após quase um ano sem atualizar, vamos para mais uma parte de We Belong Together. Muita tensão para reta final! Boa leitura!

Parte 17 

Quando criança, Moses Smith gostava de brincar. Sozinho ou acompanhado de sua irmã Felicity, ele se sentia bem. Rosamund, uma bela mulher escocesa, criava seu filho com todo amor e proteção. O ensinou muitas coisas, desde o básico como ler, escrever e calcular, como também a arte mágica. Aprendeu alquimia, poções, encantamentos e feitiços. Ao mesmo tempo desenvolveu sua capacidade empata e profética. Moses também via espíritos e conversava com eles. Rosa sabia disso e permitia. 

Entretanto, Moses voltou pra casa depois de ficar uma temporada na casa de seus tios escoceses. E lá  flagrou sua mãe, sendo agredida e humilhada por Robert McGold.

 -- Você exige que eu seja presente na vida do Moses. E me afasta dele! – Reclamava Robb. 

-- Eu...

Robb não a deixou falar e acertou um soco no rosto dela. Rosa ia usar um feitiço, mas o galês foi rápido. 

-- Faça isso! E será pior! Direi para todos que você é uma bruxa! 

-- E quem vai acreditar em você? 

-- O prefeito, o dono do antiquário, Lord e Lady Gibbons. Todo mundo! 

Rosa recuou. 

-- Se for embora e levar o Moses, eu vou atrás de você e te mato! 

Moses permanecia escondido embaixo da mesa, assustado. Ele sabia que Robb era seu pai e nunca o assumia para a família. Na visão de Robert, Moses era o reflexo de seu erro da juventude e terá de carregar até o fim. 

Rosa refugiou-se para Inverness com o filho e nem na cidade do interior ela conseguiu escapar. Os moradores da região a viam como bruxa e após reclamações intermináveis, o prefeito tomou uma decisão: condenou a fogueira. Moses chorou, gritou e tentava salvar a mãe. Robb ia reivindicar o filho, mas os Smiths não permitiram.  Com o tempo Moses controlou seus poderes e seu dom. Entretanto o medo de a qualquer momento perdesse o controle era enorme, ainda mais que ouviu dos tios um comentário verdadeiro.

 “Ele pode ter essa aparência dócil e angelical. Basta um golpe forte para abalar sua mente e liberar as sombras que carrega dentro de si”

 FLASHBACK OFF


Não demorou para se ter o velório de Mary McGlory. Apenas Moses, Serguei e Fefe estavam presentes e o padre recitando. As palavras do religioso passaram longe de sua mente e ele fechou os olhos. A visão daquela que amou. Não a loba e sim a outra moça, cujo coração sabia que lhe pertencia. Ele não sabia onde se encontrava aquela garota e se culpava pois previu a desgraça que se abateu na família da moça. A visão, no entanto, o mostrou em outro lugar, numa floresta e Marianne vivendo com um homem que se transforma em lobo. Será verdade ou delírio? 

Contudo, seus pensamentos foram interrompidos com a voz de Felicity. 

-- Vamos, Moses! 

Ele aceitou e seguiu com a irmã e o melhor amigo.


Miesbach, sul da Baviera... 

Em um asilo para pessoas carentes e desprovidas de alguma capacidade mental, os pacientes se espalhavam pelos cantos e outros permaneciam nos quartos. E poucos ficavam em um só canto. Entre esses pacientes, um homem aparentando seus 58 anos, os cabelos grisalhos, usando um pijama e um cobertor nas pernas, olhava para a pulseira de ouro que contém um nome: Romanov. 

Ele não lembra de absolutamente nada. Sequer lembra seu nome ou de onde veio. 

-- É a sua vez, Romanov. – Disse o outro paciente. Os dois jogavam xadrez.

“Romanov” moveu um dos peões da segunda coluna da direita para trás e voltou sua atenção para a pulseira. Apesar da amnésia, havia uma imagem povoando sua mente: de uma mulher escocesa, muito bela, que sempre usava um vestido azul. O nome dela era Catelyn. 

-- Catelyn... – Murmurou “Romanov”, sorrindo.


FLASHBACK ON 

Londres, 20 anos atrás... 

Tony é um homem apaixonado e romântico. E também um Casanova. Flertava com várias mulheres, independente se eram solteiras ou casadas. E era rejeitado seja de forma bruta ou educada. E numa dessas conheceu a belíssima Catelyn Gibbons, uma aristocrata escocesa que veio com o pai a procura de um casamento e um dote. Tony apaixonou-se por ela imediatamente. E no baile promovido da família da moça, Tony, acompanhado do irmão mais novo, Robert, compareceram. 

O galês mais velho se aproximou da jovem. 

-- Você é uma dama de cor turquesa mais belo que já vi. – Disse e ofereceu uma rosa. 

Cat aceitou e o ignorou. Tony ainda insistiu. 

-- Senhorita Gibbons, aceita dançar comigo? 

-- Você não desiste, né? 

-- Não mesmo. 

Os dois dançaram e Catelyn não deixou de notar o quanto Tony era encantador. Dono de uma voz rouca misturada com veludo e uma simpatia natural. No banquete era impossível de evitar o flerte. Poucos dias depois o galês recebeu um convite para tomar chá. Foi o primeiro de muitos, nos quais ocasionou em passeios ao ar livre ou a cavalo pelo campo. E após semanas de convites, se beijaram intensamente e depois... em sua primeira noite nos aposentos dos Gibbons. 

-- Casa comigo, Catelyn! 

-- Sim! 

A principio estava tudo certo para noivarem. Até que um dia Tony visitou Catelyn e o pai dela o recebeu, um pouco indiferente. 

-- Sr. Gibbons... -- Tony cumprimentou. – Posso ter uma audiência privada com sua filha? 

-- Receio que não será possível, Anthony. 

Tony estranhou. 

-- E posso saber o motivo? 

-- Minha filha firmou noivado com Eddard Smith. 

Ele piscou os olhos, tentando entender o que realmente aconteceu. 

-- Senhor, por favor, me deixe falar com ela. 

Cat apareceu e pediu permissão pro pai para falar com Tony no jardim. 

-- Cat, o que está acontecendo? – Perguntou um tanto consternado. 

-- Meu pai arranjou um casamento com um escocês. Ele já pagou meu dote. 

-- Mas... 

-- Eu sinto muito, Anthony. 

-- Eu te amo, Catelyn! – O galês a abraçava e chorava. – Não vou suportar isso. 

-- Eu também não... Mas não posso. 

A pior parte para Tony é que descobriu que o noivo de Cat é o melhor amigo do seu irmão. Ele nunca mais flertou ou saiu com outras mulheres. Preocupado, Rickon arranjou uma pretendente para o filho. Tony não estava nem um pouco disposto e decidiu conhecer. A mulher em questão era uma norte-irlandesa mimada chamada Mary Black, filha de William Black, dono das indústrias de motores. O motivo do noivado às pressas era que Mary teve um caso com Thiberius Raskolnikov, um homem casado e consequentemente, engravidou. Sabendo que pode gerar um escândalo na família e manchar a reputação dos Black, Rickon propôs ao velho Bill o noivado do casal. Tony viu que sua noiva era um tanto insuportável. Ele satisfazia suas vontades toda hora. Ele concordou em se casar com ela por três motivos: primeiro para ajudar a moça, segundo para esquecer Catelyn e terceiro o galês acreditava que um dia talvez amaria Mary. 

FLASHBACK OFF


E foram 20 anos de tortura emocional e angústia. Tiveram dois filhos e acolheu muito bem seu enteado Serguei. Entretanto, não era fácil ter que continuar naquele casamento infeliz. E tudo mudou quando Louise desapareceu misteriosamente dois dias após o desastroso baile no castelo Beckenbauer. Daquele dia em diante as coisas decaíram para Tony até o momento que houve o incêndio... 

Ele perdeu a memória e acordou naquele asilo. Com uma pulseira de prata e um nome que acredita ser seu. E a lembrança dela.


Whitechapel 

Já fazia dois dias desde que Bran acordou naquele corpo. Completa estranheza. Ele acreditava que acordasse numa cama confortável de uma mansão e ser filho de nobre e não no corpo de um policial suicida e certamente bêbado. Sentado dentro da banheira e abraçando seus joelhos, mesmo banhado em água quente. 

Bran chorava. A memória da noite de sua morte, a voz grave e o cheiro forte de enxofre e corpo cadavérico daquele homem. Barão Lauda. Neste momento, os meninos traziam uma bandeja com uma xícara de café e bolachas e uma toalha. 

-- Não se atrase. – Avisou Chris. – Combinamos que íamos a estação. 

Não respondeu e continuou chorando. Nikolai passava a mão no cabelo do jovem. 

-- Não chore. Pense que está começando de novo. 

-- O que vai acontecer comigo depois que estiverem com sua mãe? – Perguntava Bran, um tanto temeroso com seu futuro. 

-- Papai não nos contou. – Respondia Chris, estendendo a toalha. 

-- Não queria voltar num corpo como este. – Ele se olhava e ao redor. – O que ele era antes? 

-- Um policial. – Nikolai mostrava o jornal no qual mostra a manchete sobre mais uma morte em Whitechapel. – Ele tentava capturar o Jack o Estripador. 

-- E como direi a polícia sobre minha saída? Aposentadoria precoce? 

Enquanto pensava numa desculpa, Bran se arrumava e ouviu-se batidas na porta. 

-- Quem é? – Bran se assustou. 

Os meninos se afastaram e ficaram no quarto. Por fim abriu a porta. 

-- Sr. Greene! – Chamou o homem a sua frente. Um policial de chapéu e roupas paisana. 

-- Eh... – Bran não sabia o que dizer e sequer conhecia a criatura. – Quem é você? 

-- Ué? Ficou dois dias sem comunicação e não se lembra mais de mim? Mas direi. Sou Bennet Drake, sargento da Divisão H. 

-- Ah sim. – Disfarçou e riu. – Bennet. Que irônico! 

-- Como é? 

-- Nada! – Se preparando em fechar a porta. – Te vejo mais tarde, Drake.-

- Sr. Reid quer falar com você! 

-- Claro e também preciso falar algo muito importante.

 Após a saída de Drake, o jovem ressuscitado terminou de se arrumar e seguiu com os meninos segurando uma mala para a delegacia. Os oficiais se espantaram vendo o policial. Decerto ele era conhecido, pensou Bran. Os gêmeos esperaram na sala e seguiu para o escritório de Reid. 

-- Ah! Valentin Greene! – Saudou o oficial. – Ainda bem que voltou. 

Os dois homens apertaram as mãos e sentaram na cadeira. 

-- Como você está? – Perguntou o chefe. 

-- Relativamente bem. – Bran respondeu com tamanha naturalidade que o espantou.

-- Ficamos preocupados. Depois da falha captura do Estripador, você nunca mais apareceu na Divisão H. 

-- Estive enrolado. – Bran disfarçava com um riso. 

-- Me disseram que estava se injetando e usando ópio. 

-- Mentiras deslavadas, senhor. 

-- Então podemos contar com seus serviços? 

-- Justamente isso que desejo falar. 

Bran entrega uma carta ao superior. 

-- Minha demissão. 

-- Mas por que? 

-- Decidi... – Pausou um pouco e olhou para os gêmeos. – Dar um tempo em minha carreira. E prometi ao meu... irmão, pai dos meus sobrinhos que os levaria até a mãe deles que mora em algum lugar de Munique. 

-- Munique? Você é louco? Soube dos casos de desaparecimento e por vezes de gente que foi estraçalhada ou teve o sangue drenado? 

-- Deve ser uma gangue ou seita que faz isso. Eu vou me cuidar. Só peço que aceitem formalmente. 

O chefe não tinha palavras para dizer. Apenas aceitar. Novamente conversam e terminaram com um simples abraço. Ao sair da sala, os meninos sorriram pra ele. 

-- Agora podemos ir. 

-- Eba! – Comemoraram os meninos. 

Juntos seguiram para a estação próxima... Sem saber que um trio de homens loiros os seguiam...


Berlim 

Em um castelo escuro, um bando de vampiros se recuperava dos ferimentos da última batalha que tiveram contra Louise McGold, Alice Stone, Gerd Müller e os caçadores de vampiros. E lembravam que Joanna os traiu. Niki Lauda se acordou após quase um mês desacordado com o poderoso soco no rosto dado por Louise. 

Os outros sanguessugas também se levantaram. A condessa sangrenta Brigitte, que teve seus braços e uma das pernas quebrada, reestruturava seus ossos no lugar. Sharon Tate teve o pescoço curado e recuperado das forças. Aproveitou para curar as pernas de seu namorado Roman.  Clay Regazzoni e Barry Sheene foram enforcados pelas correntes e libertados por Brigitte. James Hunt escapou. Por ser imortal sem ser vampiro ou lobisomem ou bruxo, retirou com facilidade as espadas e socava uma parede com raiva. 

-- Maldita Louise! Maldita Suzie! – Se enfureceu e golpeava mais. – Fiz tudo que estava ao meu alcance para tirar do marido chucrute pra depois terminar assim. 

-- Eu avisei desde o início que ela não era confiável. – Replicava Brigitte enquanto auxiliava o barão Lauda.

-- Calma. – Avisou Niki, de pé e ereto. Encarou cada um dos seguidores. – Ainda não perdemos. 

-- E quanto ao resgate? – Questiona Clay. 

-- Eu tenho um outro plano. 

Enquanto isso duas pessoas encapuzadas seguiram para o casarão escuro. O homem chutou a porta de mármore e a mulher num movimento com as mãos, acendeu as velas e o enorme candelabro do salão. 

Os asseclas de Niki se assustaram as luzes iluminando o castelo tão subitamente e se dirigiram para o salão onde os visitantes revelam seus rostos. O homem era loiro, forte e usava roupas empoeiradas e ostenta uma barba por fazer. A mulher, de cabelo ondulado e castanho, com vestido preto e botas e as mãos cobertas com luvas pretas cheias de furos. 

-- Bem vindos ao meu castelo! Mark Grey e Bettina Donner.


Centro de Operações da Ordem – Berna, Suíça 

Noite estrelada e fria e a bela visão do Palácio Federal de Berna completa o cenário noturno. Embora todos estejam dormindo, ninguém percebeu a chegada de estranhos homens seguindo rumo ao Palácio. Nenhum deles trabalha para o governo. Na realidade o local servia de engodo para os curiosos. De dia é o local do governo suíço. E a noite, no subsolo é a poderosa sede da Ordem dos Hospitalários de Coronado. O grupo tem por objetivo proteger a Europa de toda ameaça sobrenatural existente, desde vampiros e lobisomens até contra bruxos, necromantes, alquimistas e criaturas da noite. 

A Ordem existe desde a Oitava Cruzada. Entretanto esteve envolvida nos principais eventos históricos da humanidade, como a mais notória na Inglaterra quando Elias Cromwell, descendente direto do Lorde Protetor, Oliver Cromwell, impediu que o rei Henrique VIII fosse morto num ritual macabro feito pela família Bolena. E depois o então kaiser Guilherme I foi coroado Imperador enquanto se encontrava na França. Durante a viagem, sua comitiva foi atacada por seguidores da oposição. Eliminaram todos, exceto o kaiser. No ritual, pretendiam usar o sangue de um jovem adulto virgem e sabendo que o recém escolhido Imperador não tinha ainda se casado, era a oportunidade perfeita.

Ainda liderando os caçadores, Elias e seu amigo Satoru Yamada, um shinobi experiente, rastrearam até um velho castelo em Berlim o sequestro do kaiser. Felizmente, o plano de trazer Napoleão Bonaparte de volta a vida não deu certo. Os guerreiros lutaram e resgataram Guilherme I e ao mesmo tempo recuperaram objetos altamente valiosos que serviram para o ritual, como a Caixa de Pandora, para aprisionar entidades ou retirar determinados dons e o Cálice Sagrado, que muitos o conhecem por Santo Graal, cálice este que foi usado por Jesus Cristo em sua Última Ceia. 

Atualmente, a Ordem se manteve ativa, embora os casos sobrenaturais não eram frequentes. Isso até o momento. A sede abriga diversas pessoas com habilidades extraordinárias e treina os que desejam se unir ao time. E uma dessas pessoas interessadas, está Moses Smith.

 -- Diga-me, por que deseja se unir a Ordem, senhor Smith? – Questionou Bob Paisley, o abade. Ele é um dos comandantes dos caçadores.

 -- Moses Smith. – Respondeu o jovem.

 -- Moses... – Repetiu. – Por que?

 -- Presenciei coisas que ninguém compreendia. Vi muito além deste plano. E posso sentir a presença de seres extraordinários.

 -- Que tipo de seres?

 -- Paisley! – Serguei Hobbes tinha chegado após o treino e foi o responsável em levar Moses até a Ordem. – Ele conseguiu matar uma súcubo dentro da dimensão do pesadelo. Já é mais do que suficiente.

 Ele pensou um pouco. Para ser aceito na organização não é fácil. E mais ainda sobreviver um árduo treinamento. E alguém que conseguiu derrotar uma vampira em outra dimensão, não era comum entre eles. Então chamou alguém:

 -- Soujiro!

 Um homem de yukata cinza, portando uma espada de madeira descia as escadas. Moses notou a aura do rapaz. Carregada de ódio, mas não era má pessoa.

 -- Senhor Smith, assim como os caçadores, eles têm um tutor para os treinos. Soujiro Tsubasa veio de Edo. Ele é um Satsuma. 

Ele abriu os olhos. Acreditava que Satsuma era o nome de algum título importante ou código.

 -- Satsuma é meu clã. – Explicou o guerreiro. – Éramos respeitados até o xogum tomar nossas terras. Nossos domínios.

 -- Uma nova era vai chegar, Soujiro. – Comentou o abade, fechando a Bíblia no qual lia. – A partir de hoje será o mestre para senhor Smith.

 -- O quê? Um gaijin?

 -- Logo verá que ele não é um mero gaijin.

 Ele se retirou, deixando o escocês e o japonês sozinhos para se conhecerem. Ali começava uma nova vida para o bruxo. 


Zella-Mehlis -  Alemanha

A região remota do estado da Turíngia era quase abandonada. As poucas pessoas que moravam no distrito desapareceram. O que era sem repostas aparente, na verdade a causa era uma mansão encoberta pelas árvores ao redor. Embora o pátio e o jardim eram bem cuidados e a grama aparada, dentro do local há um mistério.  O hall de entrada estava com alguns empregados limpando o chão e lavando o livro e outros encerando a prataria. De repente se ouve gritos causando um eco. Os empregados agiam indiferentes e seguiam seu trabalho. 

O subsolo da mansão possui um laboratório completo. Cientistas injetavam líquido vermelho nas cobaias. Os que receberam gemiam as dores do inferno e demonstram os sinais claros do vampirismo. Olhos vermelhos, a pupila dilatada e o surgimento dos caninos. Para controla-los, os cientistas acorrentavam estes seres e aplicavam mais injeções. Desta vez para sossegar seu ímpetos sanguinários. 

Na lateral direita, mais cobaias recebiam outro líquido vermelho. Se o primeiro transformava os humanos em vampiros artificiais, estes eram da licantropia. Comparado com a velocidade em converter um humano no vampiro, os lobisomens são um pouco demorados, levando de duas a três horas. Entretanto levaria menos tempo se o transformado sofresse uma mordida ou arranhão de outro lupino. 

-- Na próxima lua cheia estará completa a fase de vocês. – Disse o chefe dos cientistas de nome Hansi Flick. 

Os pacientes agradeciam o homem e ele seguiu para o centro do laboratório, onde se encontravam outras pessoas aprisionadas em câmaras individuais e apenas com a cabeça a descoberto. Hansi ordenou que os outros médicos trazessem mangueiras e os líquidos. Era chegada a hora da tortura. 

-- Vocês sabem por que estão aqui? 

Nenhum respondeu. O medo lhes tomou conta de fazer qualquer ato. Aquelas pessoas eram infiltrados da Ordem, se mesclando com a criadagem da Iscariotes. Entretanto a sorte deles acabou ao subestimar a capacidade de Flick, que estava com dois passos a frente da Ordem e os capturou para serem torturados. Sabendo provalmente que nenhum deles falará, será muito bom. Hansi era o membro da Iscariotes a ser temido. Psicopata e sádico. 

A sessão de tortura era semelhante aos ladrões e bandidos da rua Ripper em Londres. Eles colocavam mangueira na boca da vítima, enfiando até o esôfago e com um funil, derrubavam altas quantidades de bebida alcólica para assim a morte ser por afogamento ou estômago explodido. Hansi pretendia mais. O líquido em si era verde e nele continha pequenas enguias. 

-- Se querem ser salvos, então cooperem comigo. Por que vieram pra cá? 

Mais uma vez os prisioneiros não responderam.

 -- Comecem!

 Cada ajudante colocava as mangueiras nas bocas deles e preparavam o funil. Flick observou atentamente suas feições e sorria. O sofrimento daqueles homens era sua satisfação. Com um sinal das mãos, os ajudantes despejam a água verde aos poucos no funil e descia na mangueira até as gargantas dos homens. Gemiam, choraram e tentaram falar, mas não conseguiuam. Outro cientista, um turco chamado Hasan interrompeu a sessão.

 -- Herr Flick!

 -- O que foi desta vez?

 -- Não conseguimos capturar aquele rapaz.

 -- Que pena. –Se virou para o turco. – Depois destes homens, você será o próximo.

 -- Mas... – Hasan gaguejou um pouco e finalmente falou. – Mandei três homens ingleses atrás dele. A última mensagem dizia que foi encontrado no distrito de Whitechapel, na cidade de Londres.

 -- Traga-me o Karl até aqui!

 -- Sim! 

Hasan se retirou de imediato e Flick novamente ordenou a sessão. Em breve seu exército de vampiros e lobisomens feitos sob encomenda agirão sob seu comando para derrotar as criaturas e também destruir a Ordem. E Hansi sabia que logo chegará esse dia. 


A 100 metros de Nuremberg 

Mike Nesmith e seus amigos estavam cansados. Quase dois dias de viagem e parando apenas para dormir durante o dia, estavam poucos metros de Nuremberg conforme o rastro farejado pelo lobo texano. 

-- Vamos parar por aqui. – Disse Mike. 

Em seguida todos montaram acampamento. Peter fez uma fogueira com um estalo de dedos, Renée transmitava folhagens das árvores em lençóis pra cada um e com os galhos fez um caixão para Davy dormir e uma sombra para os raios de sol não atrapalhar o grupo. Uma hora antes de amanhecer, Johan pegava algumas pedras e as examinava e guardava nos bolsos. Davy achou estranho e focou seus pensamentos em Dianna e nas filhas. E depois em Louise. Ainda não acreditava que sua amiga mais querida tinha morrido na batalha da retomada. Contudo, conhecia a vampirinha o suficiente pra saber que ela era teimosa e destemida. Não desistiria de lutar e fez aquele ato de sacríficio.  Mas também Louise lhe deu uma outra responsabilidade: de cuidar do filho dela o pequeno Freddie. Em seguida uma lágrima caiu de seus olhos.

 -- Pensando na Dianna? – Questionou Mike, ainda acordado.

 -- Sim. – Davy suspirou e outra lágrima caiu. – Sinto falta da Louise. Não estou aceitando a morte dela. 

Mike consolou o amigo e em seguida Peter e Micky. Renée e Cruyff observavam os amigos e não deixavam de sentir pena e empatia naquele instante. E depois todos dormiram, exceto Johan. Mesmo acordado para proteger seus novos amigos, ele realmente não tinha sono e desde que virou nosferatu, não dormia pra nada e mesmo assim ainda tinha disposição e força como um humano. E enquanto isso Johan olhava o sol. Sua meta era criar um elixir no qual os vampiros pudessem caminhar na luz do dia sem se queimar. 

Sete horas da noite e Nez foi o primeiro a despertar. Se espantou ao ver que o doutor ainda estava em pé e os olhos bem abertos.

 -- Doutor Cruyff?

 -- Boa noite Sr. Nesmith. – Saudou Johan e entregando um cantil de água. – Está com sede?

 Mike confirmou e bebeu um pouco.

 -- Você não dorme?

 -- Não. E estou muito bem. Normalmente quem não dorme fica fraco. No meu caso não.

 -- Incrível. – Concordou o lobo.

 Enquanto os outros não acordam, ele pensava em Alana. Até hoje não estava entendendo o que o levou tal ato carnal com Alberta. Sequer sentia algo por ela. Seus pensamentos eram povoados por Alice, Alana e ocasionalmente, Louise.

 -- Você ama a loba? – Questionou o médico.

 -- Sim. --- Mike sorria. – Ela é a única coisa que me importa.

 -- Eu a vi na luta. – Johan colhia mais pedras estranhas. – Se ela realmente não te quisesse, não viria salva-lo assim.

 -- Acha que tenho chance?

 -- Eu tenho certeza. E também quero que todos sejam felizes.

-- Obrigado doutor.

 E antes de falarem mais, um chamado de socorro foi ouvido na floresta. Os outros acordaram para ouvirem os gritos. Micky caminhou até um ponto e indicou a direção do grito. Uma loba de pelagem preta corria e atropelou Micky. Peter e Davy socorreram o amigo e Renée e Johan a loba. Ela voltou a sua forma humana e parecia machucada.

 -- Obrigada! Muito obrigada.

 Mike reconheceu a roupa dela. Um casaco que ele havia dado para Alana no aniversário dela.

 -- Onde conseguiu esta roupa? – Perguntou o lobo.

 -- Eu estava numa alcateia em Nuremberg. Fugi de lá por causa do líder. Ele é... ah meu Deus! A loba que será desposada por ele vai sofrer. Aconteceu com uma... e depois comigo e fugi.

 -- Moça, se acalme.  – Renée a ajudava e acolhia a jovem. – Qual é seu nome?

 -- Linda Ronstadt.

 -- Certo. Linda, nos conte quem é seu líder?

 -- Um lobo americano. O nome dele é Elvis.

 -- Você disse que ele casou com uma loba. E você escapou. – Comentou Peter. – Ele vai casar com outra?

 -- Uma recém chegada com dois caras por ter vencido Kathy Giordano.

 O coração de Nesmith batia rápido. Em sua dedução pediu que não fosse sua amada.

 -- Qual.... o nome.... – Ele gaguejava. – O nome da loba?

 -- Alana Watson!

 O lobo uivou desesperado e socou forte uma das árvores. Davy o segurou.

 -- Mike...

 --Eu preciso impedir isso! Vamos para este lugar!

 -- Mas Mike, não temos um plano. – Peter temia pelos amigos.

 -- Não ouviu o que esta moça disse? – Micky reforçava. – Ela sofrerá algo pior.

 -- E o que faremos? – Chorava. – Deixa-la morrer e voltar para Ilha?

 Johan se pronunciou, indignado.

 -- Nós chegamos até aqui e agora quer desistir? Ainda temos chance! 

Os outros concordaram com sua determinação.

 -- Ele tem razão. – Disse Peter. – Não podemos deixa-la aqui.

 -- E qual é o plano? 

Renée sorriu e tirou seu xalé, dando para Linda. A cena que todos presenciaram era uma transformação. Ela não era apenas uma alquimista. Renée era uma doppelganger.

 -- Nós vamos impedir o casamento de um outro jeito. Eu, travestida de Alana, é que vou casar. 


Alcatéia de Nuremberg 

O povo preparava tudo para o casamento a seguir. Elvis conversa com todo mundo e Alana se encontra na barraca. Ela chorava. Desde que despertou, foi acolhida pelo líder e no começo foi tranquilo. Entretando a saudade do marido aumentou e quando decidiu ir embora, Elvis revelou sua faceta, transformando a vida da loba e do filhote num inferno.

 Gram Parsons pela primeira vez se arrependeu do que fez. Quando Alana resolveu ir embora, Elvis a impediu e a atacou covardemente. Chris Hillman a defendeu e teve o pior fim. Decapitado e colocado a cabeça empalada na entrada, como aviso tanto para os estrangeiros como para o próprio bando. Para compensar seu erro, Parsons decide ajudar Alana.

 -- Parsons! – Allie o abraçou.

 -- Vem comigo Allie!

 -- Mas ele vai nos matar. E não sou párea pra ele.

 -- Shh.! Olha, eu ajudei a Linda a escapar e coloquei seu casaco nela. Conhecendo seu marido, acho que ele virá atrás de você. Só precisamos ser cautelosos...

 Continua...

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Rush 2: Amor a toda prova (3º Capítulo)

 E vamos pra mais um capítulo!

Capítulo 3: Train in Vain

 

Freddie POV

 

Após a comemoração no pódio, fui ao box e encontrei a equipe, meu irmão e... a família Müller. Beckenbauer e a família Maier em peso.

 

-- Freddie! – O velho Sepp, sem animado, abria os braços e me recebia daquele jeito. – Meus parabéns! Desde a Fórmula Indy sou seu fã!

 

-- Sepp não perde uma corrida sua. – Nora completava e também me parabenizava. – Mereceu essa vitória.

 

Os gêmeos Fred e Joj também se encontravam alegres. Diziam que eu era invencível.

 

-- Cadê a Flick? – Perguntou um deles.

 

-- Flick? – Achei estranho o nome.

 

-- Felicity. – Disse Nora. – É o nome da minha filhinha mais nova. Porém, para não confundir com minha amiga, digo ex-amiga, chamo de Flick.

 

Atrás do Ned saia uma menina gordinha de cabelo ruivo, muito ruivo e sardas no rosto. Ela parecia um anjinho.

 

-- Oi, pequena. – Me tornando amável e estendendo a mão. – Não tenha medo.

 

A garota pegou minha mão e ergueu a cabeça. Os olhos e o nariz vermelho.

 

-- Ei, por que chorou?

 

-- Porque tive medo... – Ela soluçava e após um longo suspiro, finalizou. – Eu gosto de você, Freddie.

 

-- Eu também gosto de você, pequena.

 

Dei o melhor abraço naquela menina.

 

-- Freddie, esta é a pequena Flick.

 

Adorei aquela menina. Absurdamente, imaginei tendo uma filha ruivinha como ela... Isso se eu tivesse uma esposa ruiva como Sofia Baker...

 

Aproveitei o frenesi e a conversa para provocar Ned.

 

-- Ned! – Bati no ombro dele. – Você e sua família são meus fãs. Quanta gentileza sua. E nunca me passou na cabeça que você me admirava.

 

-- Minha família adora você. Incluindo minha esposa e meus filhos. Eu não!

 

Ned se afastava e eu o seguia.


-- Não precisa ficar bravo. Fico feliz que seja meu fã.

-- Vai se foder, Freddie! A minha torcida é pra Mia.

 

-- E é por isso que você continua sendo esse frango no gol. Bayern precisa trazer o Kahn de volta ou vocês vão perder a Salva de Prata.

 

Enfurecer Ned Maier: missão concluída!

 

Provocar seus desafetos pode dar uma sensação de vitória. Entretanto, pode ser um problema quando se dá conta que outras pessoas que te admiram e você quer evita-las. As meninas Müllers, Nicole e Meredith se agarravam em mim e me dando beijos.

 

-- Meninas! Calma!

 

-- Ah Freddie, estou tão feliz. – Nicole era que mais demonstrava. – A Meredith ficava nervosa, mas torcia pra você.

 

-- É...

 

Meredith parecia a menina Flick. Abaixava a cabeça e vez ou outra levantava e sorria. Percebi que ela é tímida. Meus irmãos mais novos também saudavam. Heinrich desejava correr em kart e avisava que não era tipo o vídeo game. Lorie e Arthur tinham planos de aprender. O problema era que o velho Müller não deixava.

 

Segui para cumprimentar meus amigos da scuderia e de repente Noel e o pai dele aparecem.

 

-- Parabéns Freddie. – Disse o velho. – Você melhorou.

 

-- Obrigado. – Falei de forma fria.

 

Noel me puxou para uma sala e fechou a porta.

 

-- Por que não retornou minhas ligações?

 

Não respondi. Só mudei o olhar para os lados.

 

-- Freddie me responda! – Exigiu Noel, nervoso.

 

-- O que vai fazer se eu não responder? – Puxei pelo colarinho. – Você nunca me apoiou!

 

-- Como não? – Noel pegava minha mão e seu rosto ficava vermelho como tomate. – Sempre assisti suas corridas. Fui a vários testes com você. Eu torci por você!

 

-- Nunca Noel. Às vezes penso que você me dava azar. Tudo que contava pra você, dava errado.

 

Soltei o colarinho e o vi chorando.

 

-- Sai daqui!  Você, o Tommy e seus amigos me odeiam. Tudo isso porquê preguei aquela peça no Max.

 

-- Você não mede as consequências. E não se importa com que o outro pense. Naquele dia, fechou a décima vez que a tia Ana comprava os materiais do Max. Tudo porque você pegava e dava sumiço ou destruía.

 

-- FORA DAQUI! – Gritei.

 

Noel foi embora e eu surtei, chutando as paredes e jogando o capacete longe.

 

 

2019

 

-- Por isso que achava que o Noel nunca o ajudou? Por causa do bullying que fez no passado? – Perguntou o psiquiatra enquanto anotava.

 

Tinha vontade de fumar. E respondi.

 

-- Sim.

 

-- Sabe que magoou o Noel ao agir assim.

 

-- Na hora não percebi. Só fiquei com raiva.

 

Jacques caminhou até a janela e abriu a persiana.

 

-- Pode fumar cara.

 

-- Como sabe disso?

 

-- Sua mão tá brincando o tempo todo com o isqueiro.

 

Então sai do divã e acendi um cigarro. Uma tragada ilumina suas ideias. E naquele instante eu percebi o quão escroto fui com Noel.

 

-- Talvez seja um mal de família. – Comentei. – Meu pai e meu irmão são esquentados.

 

-- Mas tem ideia do que causou? – Ele insistiu. – Falando como seu psiquiatra, causou um trauma no Max e marcou seus amigos como persona non grata. Entretanto, Noel ficou do seu lado. Só que não você não viu isso.

 

É, definitivamente não vi...

 

2003

 

Durante a festa da minha vitória, Mia entrou na minha sala, bem furiosa.

 

-- Agora tá tratando meu irmão assim?

 

-- O assunto do Noel é meu! Não se meta!

 

Mia jogou a mesa de plástico em mim.

 

-- Você é louca!

 

-- E você é um lixo! Um escroto invejoso!

 

-- Se sou invejoso, por que ganho de você?

 

-- Desgraçado! – Ela me empurrava. – Noel é meu irmão mais novo e me abraçou chorando. Eu posso brigar com ele, mas ninguém o faz chorar.

 

-- Me deixa em paz! O que vai fazer comigo? Me matar? Faça na pista, assim ninguém te prende por homicídio.

 

Quando fiquei de costas, Mia se socou nas costas e seguiu a porrada em mim. Segurei o pulso dela e recebi um chute entre as pernas. Derrubei Mia no chão e fiquei por cima.

 

-- Filho da puta! – Ela xingava e me acertava mais socos.

 

Segurei seus braços e nos encaramos. Não sei o motivo daquilo. Só sei que paramos a agressão e nos olhamos por um bom tempo. A próxima coisa foi... um beijo. Os dois tiveram iniciativa. E por fim ela ficou por cima e a abracei. Paramos o beijo.

 

-- Vou pedir desculpas pro Noel. – Falei com certo medo.

 

Mia se levantou e foi embora. E sinceramente não sei ainda o que levou essas atitudes...

 

 

Continua... 

Rush 2: Amor a toda prova (2º Capítulo)

 Boa noite pessoal! Vamos pra mais atualizações de fanfic.



Capítulo 2: Fox On The Run

Freddie POV

 

Já fazia 1 mês que fui contratado pela Benetton. E 1 mês que não conquistei um GP. Estou me perdoando por ser meu início numa scuderia verdadeira e correr numa pista de Fórmula 1. Teve momentos que pensei em abandonar os carros e ingressar na Moto GP. Meu padrinho, Barry Sheene, me garantiu que há uma vaga para mim. E realmente adoro motos. Entretanto, o que me incomodava de fato, era Mia prosperando pela Ferrari. No último GP em São Petersburgo, fiquei em terceiro lugar muito sofrível. Depois das comemorações no pódio, fui até meu irmão e cobrei a promessa:

 

-- Oskar, você me prometeu a Ferrari. Com um carro melhor, eu poderia ser o novo Senna.

 

-- Não é tão fácil assim. – Oskar bebia água tônica e limpava a teste suada com uma toalha. – A recém está começando. Precisa adquirir experiência...

 

-- Eu sou experiente!

 

-- Em pistas e regras da Fórmula 3 e Indy. Na Fórmula 1, é diferente. São regras exigentes e pistas de curvas muito perigosas. Velocidade e habilidade andam juntas. – Oskar me encarava meio bravo e continuava. – Agora que você está abandonando aquele conhecimento de antes e agregando de forma melhor aqui. Mas precisa ser mais do que isso, Freddie. Precisa se empenhar mais.

 

E passei a fazer isso. E nestas outras corridas nem me preocupei em saber dos outros. Os outros que digo são os meus amigos. Oskar convenceu o dono da Benetton a contratar os nossos antigos colaboradores da Laurersdale Power. Certo dia no apartamento, enquanto dava a ração para Janus, meu irmão veio falar comigo.

 

-- Noel quer falar com você.

 

-- Diz que não estou.

 

-- Freddie... – Oskar suspirou cansado. – Ele insiste.

 

-- JÁ DISSE QUE NÃO!

 

Depois disso voltei aos treinos físicos de levantamento de peso e um pouco de esgrima. Meu celular tocou. Na tela, registrava ser do Noel. Ignorei e coloquei no mudo.

 

Na pausa entre um GP e outro, costumava sair. Me recusava a visitar minha mãe depois daquele dia. Entretanto, visitei o túmulo de meu pai no cemitério Putney Vale. Foi neste dia que extrapolei nas emoções. Sentei no chão, deixei as flores na pedra e falei:

 

-- Tá sabendo que sai de casa, né? – Eu ri de nervoso e olhava pro chão e um pouco para a lápide. – Não tenho falado mais com a mamãe. Nem com meus irmãos. E muito menos com Noel. Depois da minha última vitória na Fórmula 3, estava evidente que não estavam nem aí pra mim. Eu concluo... Que não tenho amigos. Nunca tive. Ou sou eu que mudei. Ou os outros. Não importa mais. Sou piloto profissional. Vou me esforçar na Benetton. Vai se orgulhar de mim, pai! Sinto sua falta!

 

-- Ele tem orgulho de você.

 

A voz atrás de mim era da minha mãe. Ela chegara com mais flores e se ajoelhou ao meu lado.

 

-- Que faz aqui? – Perguntei.

 

-- Todo mês no dia 29 venho aqui e deixo flores no túmulo dele. Tenho feito isso desde que ele se foi.

 

Ela ajeitava a lápide e limpava. Ajudei também e em seguida fizemos uma oração juntos. Saímos do cemitério. Finalmente minha mãe disse:

 

-- Noel gosta de você.

 

Me calei.

 

-- Você tem amigos. Eles se importam com você. Eu me importo com você.

 

-- Se realmente se importa comigo, por que me proíbe de correr? – Encarei minha mãe, bravo.

 

Ela também se calou. Secou os olhos porque chorou na homenagem. Já mais calma, respondeu.

 

-- Eu devia entender. – Ela me olhou e continuou séria. – Você é de maior de idade e sabe o que faz. Se quiser voltar para casa, as portas estão abertas pra te receber. Se não quiser, a gente entende. Mas sinto sua falta.

 

Ela pegou um táxi e seguiu pra casa. Quanto a mim, segui a pé.

 

E finalmente chegou o novo GP. Para meu dissabor, é na Alemanha. Desta vez, não avisei o Thomas e nem o Noel. E não vai demorar que saibam, seja na televisão ou pela Mia. Aliás, fazia tempo que não tinha notícias dela. Os treinos se intensificaram e vejo que estou veloz.

 

No dia do GP, cheguei animado e pronto. Vesti o macacão da equipe e peguei o capacete com as cores que meu pai usa e as faixas. Entretanto quando fui papear com um concorrente, avistei quem? A família Müller em peso. Sim, Thomas estava lá. E pior ainda: Franz Beckenbauer e o pai do Ned, Sepp Maier e tia Nora.

 

-- PUTA QUE PARIU! – Escapou minha exclamação.

 

O piloto adversário dava risada. Corri até o Oskar e o puxei para o canto.

 

-- Que foi?

 

-- Tommy e a miserável família do pai dele estão aqui. Até mesmo o velho capeta do Beckenbauer e o amigo tiracolo. Você convidou o Tommy?

 

-- Não. E certamente foi a Mia ou o colega dela, Schumacher.

 

-- Fala sério!

 

-- Schumacher é amigo do Beckenbauer e não esqueça que o velho Niki também.

 

Soquei a parede e voltei para o box, desanimado. Para mim, era regra que a família do Thomas me dava um azar danado. E hoje não será diferente.

 

 

Mia POV

 

Grande Prêmio da Alemanha – 15 minutos para largada

 

-- Mia, falta pouco.

 

-- Ok.

 

Fumei um pouco para me acalmar. Deveria estar segura, para quem começou pouco tempo na Fórmula 1 e ganhar dois GP, já tenho uma pontuação boa. O que me preocupava era um piloto que se tornou indiretamente, meu rival: Freddie Hunt.  Ele não estava numa scuderia grande e possuía poucos recursos. Entretanto, ele se saía melhor nestes últimos dias. Na última competição, ele poderia ter ganhado se não fosse uma leve falha no motor.

 

Essa rivalidade não vem na Fórmula 3 onde competíamos. Vem desde pequenos. Freddie era bom aluno e era um capeta nas horas impróprias. Nunca vou esquecer do dia que ele sumiu com a mochila do Max Breitner e jogou na fiação do poste e molhando os cadernos. Me perdi nos pensamentos e nem ouvi a porta se abrindo.

 

-- Mia!

 

Me engasguei com a fumaça do cigarro por causa do susto. Meu pai, Niki Lauda, campeão da Fórmula 1, me abraçava.

 

-- Fica calma, filha. Vai vencer de novo.

 

-- Não tenho tanta certeza. – Larguei o cigarro no cinzeiro e peguei meu capacete e a balaclava.

-- São seus colegas ou o Freddie? – Meu pai franzia a sobrancelha por desconfiança demonstrada.

 

-- Driblar as ofensas dos próprios colegas da scuderia não é nenhum problema. Mas a evolução do Freddie. Sinto que ele vai ganhar. Ele começa ruim e depois melhora.

 

-- Entendo. E não pense nos seus adversários. Concentre-se na pista. As curvas aqui são complicadas. Tenha cuidado.

 

-- Obrigada, pai!

 

Sai do box e antes de entrar no carro, respirei fundo e fui lá. Os mecânicos revisavam tudo do carro e sugeri uma rápida troca dos pneus. Avisei a esquerda da arquibancada minha mãe, meu padrasto e meus irmãos. Josephine era demais. Minha fiel fã. No entanto, pude ouvir mais gritos na direita. Era a família Müller. Metade dos meios irmãos do Freddie apenas os mais jovens e os por parte da Alice. Não sei por que me incomodou o fato de Nicole e Meredith Müller serem as tietes do Freddie?

 

Passei esses pensamentos pro lado e os pilotos estavam postos aos seus lugares. Freddie estava em sétimo lugar de acordo com o treino. Foi razoável.

 

Quando deu sinal da largada, acelerei com tudo e facilmente ultrapassei uns e outros me ultrapassaram. Acredito que tenho deixado Freddie bem atrás e olha que saí em quinto lugar. Alonzo me bloqueava, um tremendo cuzão. Ele nunca deixa os outros passar. Pra deixar esse espanhol comendo poeira, é necessária uma finta ou acelerar mais. Optei pela primeira alternativa e bati nele na primeira curva.

 

O piloto espanhol ainda seguia, mas atrás de mim. Agora meu medo era o Raikkonen. Ele é muito oportunista e por vezes traiçoeiro. Aproveitava toda brecha e raramente dava pane o seu carro. Um detalhe que notei que quando estou correndo, não vejo o tempo passar e nem quantas voltas dei. Na primeira parada ao pitstop, trocaram os pneus, o óleo e abasteceram o carro. A minha surpresa é que após 30 voltas, finalmente eu enxerguei o Freddie. E pior ainda: ele me ultrapassou.

 

-- Filho da... – Quase exclamo um palavrão.

 

-- Olha a boca, Mia e volta lá! – Repreendeu meu pai.

 

E travei uma batalha por ultrapassar Freddie e mais quatro pilotos, incluindo o traiçoeiro Raikkonen e meu colega de equipe, Schumacher, que está na pole position.

 

A nova surpresa foi na 45ª volta que Freddie bateu forte no Raikkonen, jogando para longe da pista. E no fim teve que se retirar. A batida causou um superaquecimento do motor e quase explodiu. Mais sorte na próxima, finlandês.

 

 

A oportunidade surgiu na quarta parada ao pitstop e o Freddie perdeu o segundo lugar pra mim. A gasolina daria pra aguentar até a 71ª pelos meus cálculos. Agora era eu e Schumacher. Me contento em ganhar o segundo lugar. E estava chegando na 68ª volta quando o motor deu falha. Não! Não! O carro parava. E estava poucos metros chegando pro pitstop. Sorte que consegui chegar e de novo Freddie Hunt chegou e voltou me ultrapassar. E ele estava mais veloz.

 

-- Arrumem logo, seus merdas! – Berrei! – Andem!

 

Às vezes, penso que a equipe trabalha em ritmo vagaroso comigo e a rapidez com Schumacher. Mal deixei um dos mecânicos ajustar os pneus e apenas abasteci e voltei a correr. Outra vez me surpreendi que meu colega perdeu a pole position para o Hunt. E ironicamente, eu ultrapassei o Schumacher. As últimas voltas eram eu e ele. Eu acelerava, Freddie também. Houve um momento que fizemos finta em algumas curvas e na última volta, o problema voltou desacelerar meu carro e Freddie avançou para a linha de chegada. Parei no meio do caminho, sai do carro e caminhei para o box da equipe. Ouvi xingamentos dos membros e meu pai novamente me abraçou.

 

-- Tudo bem, filha. Você deu seu melhor.

 

Me afastei de todos e joguei fora o capacete. Parei. Não estava com raiva do Freddie ter ganhado. Estava com raiva que a equipe não fez seu trabalho como deveria. Estava claro que ninguém naquela bosta se importava comigo e acredito que o próprio Schumacher e os outros pilotos de outras scuderias me odeiam e podem até conspirar contra mim. Um esporte que amo e desejei tanto participar, é claro alvo de preconceito as mulheres.

 

-- Mia... – Dizia meu pai.

 

-- Tudo bem, pai. – Me virei pra ele. – Só quero ir pra casa.

 

Sequer dei atenção para os jornalistas e os fãs. Apenas acenei e embarquei na limusine. Na cabeça só tinha a corrida e o Freddie. Poderia ter feito mais, conversado com a equipe para fazer melhorias, decidir estratégias e falar com o presidente. E o Freddie... era o Freddie. Reconhecia sua mudança brusca numa equipe pequena. Este ano vai ser movimentado...