Capitulo 2-- The Coffee Song
Eric Clapton POV
-- Droga, Ginger! – A voz briguenta de Jack Bruce ressonava
naquele estúdio minúsculo que nosso empresário conseguiu. – Quantas vezes eu
disse que o solo de bateria em “Toad” será no meio da música e não de cara no
começo?
-- Não me lembro de você dizer isso, caro Bruce. – Agora
Ginger começa a irritá-lo com seu toque de ironia. – E olha que para te
agüentar, eu presto a atenção, mas desta vez não vi mesmo e pronto!
-- Não viu porquê não quis e...
-- Ok, pessoal. Já chega com essa infantilidade! – Ainda
bem que Danny Gillian* apareceu para botar ordem na casa, se isso pode se
chamar de “casa”.
O resto do dia segui tocando guitarra, fumando e pensando
sobre minha vida. Fiquei imaginando se
os Yardbirds estão se saindo bem, sem mim. Se ainda estão naquela coisa de
tocar rock ao invés de blues. Dava-me bem com todos, sem exceção. Mas depois
que os rumos musicais estavam mudando, cai fora o quanto antes. Por sorte
encontrei um amigo, John Mayall. Ele estava montando uma banda e precisava de
um guitarrista talentoso e que sabe bem do blues. Bingo, o emprego era meu!
Ficar na Bluesbreakers me fez bem. Uma pena que não durou muito.
Daí pensei em formar minha própria banda de blues. Primeiro
convidei Ginger Baker e ele aceitou na hora. Ginger é um ótimo baterista e
amante do blues. Depois chamei Jack Bruce e esse quase bateu o carro quando
soube quem era o baterista. Eu sabia da rixa dele com Baker, porém, convenci a
todos que se queremos fazer um ótimo som, misturando rock com blues, esse era o
momento. E nasceu esse trio entrosado na música...
-- Merda, Jack! Quer nos matar aumentando a porra do volume
no amplificador ao máximo? Você não é o Pete Townshend para fazer isso, droga!
... E desentrosado como pessoas.
Saí de tarde, sozinho, para conhecer mais Oxford, a cidade
universitária da Inglaterra. Por enquanto não sofri nada parecido com surto
histérico que os Beatles costumavam fazer no começo. Caminhei perto de um pub e fiquei olhando as pessoas em suas
mesas, tomando café. Numa das mesas avistei ela. A jovem ruiva que conheci na
reunião com agenciador Benson.
Juro que me encantei a primeira vista seus olhos e desde
então não os esqueci tão facilmente. Ela era muito bonita e doce. Mas tinha
medo em me aproximar das garotas e sofre rejeição. Já me aconteceu antes em
Ripley, onde nasci e morei.
Não suportei aquele medo e resolvi entrar. Discretamente
fui em direção a mesa onde ela se instalou. Estava lendo um livro e tomando um
café. Chamei a atenção com um pigarro educado, que acabou assustando a ruiva.
-- Nossa! Vo.. Você, por aqui!? – Pelo visto a deixei bem
surpresa com minha visita.
-- Eu... – Droga, outra vez gaguejando, Mr. Clapton? Precisava me livrar desse
gaguejo ou ficaria igual ao Roger Daltrey em “My Generation.” – Estava...
Passando por aqui e vi esse pub tão legal e acabei te vendo.
-- Legal. Por um momento, achei que me perseguia. – Ela riu
do próprio comentário e depois sorriu tão lindamente.
-- Jamais perseguiria uma mulher assim. Só considero uma
coincidência. – Me defendi, sorrindo para ela.
-- Eu sei. Falei
aquilo para te fazer sorrir com alguma piada. Sente-se, eu te pago um café
gostoso. O melhor café de Oxford.
Ela estava me convidando... Para tomar café em sua
companhia. Aceitei na hora. Pedi uma
torta de morango junto com o café. Enquanto o pedido não chegava até nossa
mesa, a garota olhava para os lados como se procurasse algo.
-- Aconteceu algo? – Perguntei na maior curiosidade.
-- Queria ver se mais alguém vai usar o jukebox. Quero ouvir blues.
Será que ela também adora blues, como eu?
Algo dentro de mim estava feliz por saber dessa revelação.
Então ela se levantou, foi até o jukebox e ficou selecionando uma música. Não
sei se ela fez de propósito ou por escolha, mas a música tocada era “The Coffee
Song”. Nossa música!
-- Gostou da minha escolha? – Perguntou assim que nossos
pedidos apareceram e se juntou a mim.
-- Seria um louco da cabeça para não gostar. Você... –
Minha timidez provocava esses meus gaguejos horrorosos. – Gosta de blues?
-- Ouço pouco esse tipo de música, mas aprecio uns
cantores, como Howlin’ Wolfe, John Lee Hooker e Sonny Boy Williamson.
-- Tem bom gosto, sabia? Também adoro esses cantores e mais
uns como Muddy Waters e Buddy Guy. O blues me fascina e me identifica.
-- Como assim? – Mesmo com pergunta, ela sorria de modo
encantador.
-- As músicas... Parece que o cantor está solitário e
frustrado. É isso que sinto em alguns momentos.
-- Sente-se assim agora com seus colegas na banda?
-- Ás vezes. O Ginger nunca se estressa comigo, a menos
quando está sob efeito de umas bolinhas azuis. O Jack é se deve ter cuidado. O Dr. Jekyll é meio nervoso.
-- Hahaha! Dr. Jekyll? Adorei o apelido!
Ficamos ali naquela animada conversa até umas seis da
tarde. Ela se deu conta do horário, guardou as pressas o livro na bolsa e
tentou pescar umas libras e penes para pagar.
-- Não precisa fazer isso. Eu já paguei a nossa conta.
-- O convite era meu e o correto era...
-- Um cavalheiro pagar a conta para uma dama tão linda
como... Você.
Tentei ser o mais gentil dos homens mesmo com essa
miserável falha na voz. O próximo passo que vi foi um beijo no rosto que ela me
deu. Agora senti as entranhas entrarem numa espécie de ebulição, como numa aula
de química.
-- Obrigada pela ótima tarde e a conversa. Eu adorei ficar
com você.
-- Eu digo o mesmo, Srta....?
-- Rosie Donovan ao seu dispor. Mas me chame de Rosie.
-- Foi um prazer em conhece – lá, Rosie. Alias, esse é o
nome da minha avó.
-- Puxa, que feliz coincidência!
Na saída, ela me deu seu número do telefone do trabalho e
do apartamento onde vive com seus colegas acadêmicos.
-- Bem, nos vemos por aí, Sr....?
-- Clapton. Eric Clapton, guitarrista do grupo Cream. Não
se esqueça, Rosie!
-- Não esquecerei, Sr. Clapton. Até outro dia
-- Até outro dia!
Voltei para o apartamento onde os rapazes estavam ouvindo
discos do John Lee Hooker e fumando maconha.
Deitei na cama e fechei os olhos, na esperança de encontrar
nos meus sonhos a adorável dama chamada Rosie.
Mal podia esperar para vê-la novamente!
Continua...