sábado, 9 de maio de 2020

Angel Eyes (Oneshot - O Casamento - Segunda e última parte)

Tive que dividir a oneshot. Espero que seja a última. Boa leitura!


-- O almoço está servido! – Avisou Robb. – Tá na mesa, pessoal!

As crianças correram para o banheiro e formaram uma fila. Um por um lavava as mãos e depois para mesa. Alice e Robb os serviam as porções certas. Alice recebeu uma ligação de uma de suas amigas.

-- Quem era? – Perguntou Robb.

-- Dianna. – Respondeu. – Me contando que estão voltando para Londres. Querem que eu os visite.

-- É sempre bom visitar os amigos. – Comentou.

-- Você se importa se eu os convidar pra virem na fazenda?

-- Não. Gosto de visitas. Me senti solitário depois que a Fefe e o Johan saíram em lua de mel, o Ned envolvido com a ruiva sassenach e os meus filhos não param quietos em casa.

-- Não ficará mais sozinho porque eu ficarei com você. – Respondeu Alice e em seguida beijando o amado.

-- O soldado holandês perdoou a tia Ana? – Perguntou Mandy, com a boca cheia.

-- Mandy, não fale de boca cheia.

-- Tia Alice... conta!

-- Depois do almoço vamos contar. – Disse Robb, ainda comendo.

E então...


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Breitner estava cansado. Matou quase todos os lobos de Áquila e um pouco mais em Shangri-la. Parou um pouco as caçadas e procurou o cardeal. Explicou a situação. Em seguida Eric trouxe um cobertor de pele. O caçador farejou. O cheiro era diferente de tudo que seu olfato já sentiu.

-- Este é o lobo? – Perguntou.

-- Exato. – Confirmou o cardeal. – Para encontrá-lo, o verá acompanhado de uma moça. Alta, cabelos longos, ondulados e negros como a noite. Olhos obsidianas, pele alva e ela sai à noite. A lua é seu sol. O nome dela é Felicity. Achando a garota, acha o lobo e é aquele animal que deve matar e me trazer. O lobo a protege!

Breitner sorriu. Agora tinha chance de caçar.

Ele seguiu viagem de volta a Shangri-la e rastreou o cheiro. Contudo, parou ao ver um falcão voando perto. Se escondeu. Pensou que estivesse atrapalhando a caçada de algum guerreiro, algo que ele não queria. Ele viu que a ave pousou no braço de um cavaleiro. Reconheceu de imediato Cruyff. As outras garotas e mais dois rapazes seguiram junto. Breitner os vigiou por horas e quando anoiteceu, esperou e presenciou a transformação de Fefe.

-- Vista isso, Felicity. – Marie ajudava Fefe se vestir. Neeskens e Berti cortavam lenha para fazer uma fogueira.

A sorte conspirava a favor de Breitner. Felicity, a moça, era o falcão e provavelmente o lobo é Cruyff. Espalhou algumas armadilhas no chão e esperou o lobo chegar. Escondido nas árvores, ele acompanhou tudo. Avistou Fefe procurando certamente o lobo.

-- Johan... – Ela chamava o amado. – Johan!

Ela ouve estalos metálicos. A garota se assustou e continuou a procura. Breitner desceu da árvore sem ruído e continuou assustando a pobre moça. Jogou pedras no caminho. Desorientada e ainda mais sob os trovões e a chuva, Fefe se perdeu do grupo.

-- Quem está aí? – Se armou com um punhal. – Apareça!

O caçador se divertia com a situação, embora machucar moças não era parte de seu trabalho. De repente, um estalo grande ecoou. Breitner correu e um lobo ficou preso na armadilha. Ele abre a boca de metal e olhou bem para o animal.

-- Não é ele! – Disse. O lobo preso não era Johan.

Rapidamente viu outro lobo e Fefe correu até ele.

-- Johan!

-- Você! O lobo preto e a moça!

Fefe o empurrou e Breitner cai. Por ser um caçador experiente, ele rolou para o lado, evitando cair em sua própria armadilha. Pegou duas facas no bolso do casaco de pele e jogou, atingindo Fefe na perna. Ela gritou a todo pulmão.

-- SOCORRO! MENINAS! SOCORRO!

Ele a arrastou pelo cabelo e em seguida foi atacado por Louise.

-- Solta! – Lulu empunhou a espada e apontou para Breitner.

Não se deteve, golpeou Louise no abdômen e a chutou. E ao se virar, Breitner é três vezes acertado com socos no corpo, que o fizeram cair.

-- Louise! – Neeskens carregou Louise. – Está tudo bem?

-- A minha prima...

As garotas e Berti socorrem Fefe. Novamente a bruxa celta curou os ferimentos de sua amiga. Berti e Neeskens amarram Breitner no tronco da árvore.

-- Matem-no! – Pedia Fefe, furiosa.

-- Antes de fazer isso, vamos interrogá-lo. – Disse Louise, guardando a espada. – Neeskens retirou tudo dele. Vai ser impossível dele escapar.

No outro dia, o caçador acordou com as mãos amarradas no tronco e todos olhando para ele. Cruyff, enfurecido, socou o caçador.

-- Cardeal mandou você?

Breitner não respondeu e levou outro soco.

-- Pode me matar. – Disse o alemão. – Nunca vai saber.

Neeskens revistou a bolsa que o caçador carregava. Joias, moedas de ouro e facas.

-- Dobrões espanhóis... – Disse Cruyff ao tocar as moedas e jogar na cara. – Cardeal usando dinheiro do povo pra mandar caçadores como você atrás de mim.

-- E teria conseguido se não fosse aquela moça e a baixinha loura com espada.

-- A moça que você tentou matar... Era minha amada!

-- Sabe o motivo do cardeal querer caçar o lobo? – Indagou Marie.

-- Não e nem me interessei.

-- Foi o próprio cardeal que me transformou num lobo na noite e na luz do dia minha amada neste falcão.

Nem com essas revelações, Breitner não se comoveu. Ana o encarava tristemente. Ele não aparentava ser mau caráter. Apenas aceitou o serviço por dinheiro, sem saber da verdade. O grupo partiu, deixando o caçador amarrado ainda e uma faca entre suas pernas.

Durante a viagem, Nora lia os livros de quebra de feitiço e chegou numa conclusão.

-- Eureca! – Exclamou a bruxinha.

-- O que aconteceu? – Johan se assustou.

-- Descobri um meio de quebrar o feitiço de vocês. – Nora estava animada e muito emocionada com a descoberta.

-- Não precisa, Nora. Eu sei como fazer isso. Vou matar o cardeal.

-- SEU LOUCO! – Nora berrou e se pôs na frente dele. – Fazendo isso, obviamente o feitiço nunca se quebrará! Vai continuar sendo lobo noturno e a Fefe nesta ave diurna.

-- E qual é a solução?

-- Daqui a três dias, haverá um fenômeno climático e cósmico chamado eclipse. É onde a lua interpõe-se o sol. O dia que não é dia, a noite que não é noite. E quando isso acontecer, você e Felicity, como humanos, devem enfrentar cara a cara o cardeal e o feitiço será quebrado! Não é fantástico?

-- Três dias será o solstício. – Comentou Berti. – Minha nossa! Precisamos chegar em Áquila.

O pessoal seguiu viagem. Marie e Neeskens pareciam se acertar. Pelo menos um momento feliz nisso. Neeskens era casado com Annie, uma bela inglesa. Um ano de casamento depois ela faleceu devido a uma doença misteriosa. Desde então o melhor amigo de Cruyff se tornou um viajante, para aplacar a dor. Nora e Ana assistiam animadas. Louise estava triste. Mesmo com o objetivo em mente para ajudar Fefe e Johan, seu coração estava triste. Ela queria viver um amor tão emocionante quanto de sua prima.

Ao anoitecer, Johan se afastou de todos e o restante fez acampamento. Enquanto juntava lenha, Berti ouviu passos. Deduziu ser de Johan. Neeskens conhecia bem o amigo. Não eram dele. Devagar, caminhou até os arbustos e com a espada, fincou rapidamente e ouviu gritos. Saltaram 4 rapazes. Um loiro, um ruivo, um alto e o outro tinha altura um pouco mais que Louise e parecia um urso.

-- Amigos? – Berti os reconhece. – Pessoal, sou eu!

-- Berti! – O ruivo se levantou com dificuldade. – Franz, Uli, Gerd. Vejam! É O BERTI!

As garotas viram e Louise cutucou um deles com a espada.

-- O que fazem aqui? – Pergunta a princesa, brava.

-- Não me aponte essa espada, garota! – O que parece um urso se embraveceu e tentou tirar a arma da garota. Falhou miseravelmente.

-- Por favor, não o machuque, moça! – Um deles, possivelmente o líder, ficou na frente. – Eu sou Franz e este inconsequente é o Gerd.

-- Me chamo Sepp. – Se apresentou o ruivo.

-- Eu sou Uli.

-- Muito prazer em conhece-los e se preparem pra morrer. – Avisou Louise, se preparando pra batalha.

-- Nunca vi garotas com espadas. – Comentou Gerd na intenção de irritar Louise. Algo que ele conseguiu com sucesso... E em troca ganhou um soco na boca. – E ainda é boa de briga!

-- Mais respeito, Gerd. – Repreendeu Berti, ajudando seu amigo. – Ela é a princesa de Shangri-la.

-- Pra mim ela é uma garota com uma espada. – Disse, de forma indiferente.

-- Posso acertar outro soco nele, Berti? – Louise queria lutar.

-- Pode vir, moça! – Gerd se encontrou em posição de luta, com os punhos cerrados. – Vem!

-- Sem conflitos! – Mandou Franz.

Quando a fogueira ficou alta, Berti conversou com seus amigos, explicou como foi preso em Áquila, sua salvação nas mãos de Johan Cruyff. Contou ainda da maldição que mantinha o cavaleiro e a amada Felicity sempre juntos, mas eternamente separados.

-- Vamos ver se entendi. – Sepp gesticulava meio nervoso, querendo entender a situação. – O cavaleiro holandês que foi dado como morto, é um lobo de noite. E o falcão que anda com ele, é aquela moça alta e bonita?

-- Exatamente. – Confirmou Fefe, se apresentando para eles.

-- Mas por que o cardeal faria isso? Compactuar com o diabo? – Quem indagou foi Uli.

-- O cardeal era apaixonado por ela. – Justificou Ana. – E a culpa foi minha. Eu traí minha amiga e o cavaleiro porque eu me confessei pro cardeal, achando que estava falando com um outro padre da paróquia.

Os alemães se calaram. Estavam divididos de opiniões. Antes de dormirem, chamaram Berti para uma conversa.

-- Isso tudo é invenção delas? Ou sua? – Franz ainda duvidava.

-- Se não acredita, passem a noite e vejam ao amanhecer.

-- E podemos roubar deles?

-- Não! E outra coisa: eu parei de roubar no exato momento que Johan salvou minha vida. E vou retribuir meu amigo, o levando para Áquila.

-- Não vão conseguir.

-- Por que?

-- O cardeal mandou dobrar a guarda e ficou mais rígido. Qualquer crime, vai para prisão de Áquila e dependendo da situação, a Inquisição é chamada.

Berti tremeu. Não podiam parar. Em três dias era o eclipse e a única oportunidade para Cruyff e Fefe se livrarem da maldição.

-- Então nos ajudem a entrar em Áquila sem despertar atenção. – Implorou Berti.

-- E em troca o que vamos ganhar? – Uli não queria se arriscar sem ter ganhos.

-- Posso falar com a princesa de Shangri-la. Ela tem muito ouro. E ela é gentil e recompensará vocês.

Franz revirou os olhos, Uli olhou pra baixo e Gerd balançou a cabeça. No final concordaram e decidiram mais tarde, sem a presença de Berti, se algo der errado, iriam fugir sem olhar pra trás.

O segundo dia todos se levantaram. Franz acordou cedo e confirmou o que todos lhe contaram sobre Johan.

-- Agora acredita? – O cavaleiro vestia a túnica negra e chamou o pássaro.

-- Sim...

O holandês deu um saco contendo moedas de ouro para Franz.

-- Divida entre seus amigos. E nos ajudem a entrar em Áquila.

Foi o início do segundo dia...



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No vilarejo de Falksworth, uma freira corria longe. Ela fugiu de seu convento e desejava voltar para casa. Se escondeu num celeiro abandonado e encontrou roupas de camponesa e botas de pele forradas. Por estar cansada, deitou-se no feno e dormiu...

Algumas horas depois a jovem se acorda com a chegada de cavalos no celeiro. Ela saiu de dentro do feno e levou um susto ao ver um homem.

-- Ah minha nossa! – Ela gritou, espantada e cobrindo os seios e o meio das pernas.

Franz estava envergonhado e rapidamente alcançou as roupas, evitando olhar para o corpo da desconhecida.

-- Com licença! – Ele disse e em seguida fugiu.

Franz avisou sobre uma intrusa no celeiro e imediatamente Odile foi vista e reconhecida.

-- Odile? É você?

-- Marie!?

-- Quem são vocês? – Um outro homem, meio baixinho, cabelos cacheados e negros e sotaque igualmente francês saiu da propriedade ao lado e armado com machado. – Se forem do cardeal, vão embora! Minhas terras, minhas regras.

-- Michel? – Johan desceu do cavalo. O homem que se dizia dono era alguém que no passado foi salvo pelo cavaleiro.

-- Sr. Cruyff? – Michel, emocionado, largou o machado e correu para abraçar seu salvador. – O senhor está vivo! Meu Deus, obrigado! Nunca acreditei nas palavras do cardeal quando disseram que tinha morrido.

-- Fico feliz em te reencontrar, Michel. Conheça meus amigos. Neeskens, Louise de Shangri-la, Berti Vogts e os amigos dele e estas garotas.

-- Prazer em conhecer todos. E sr. Cruyff, onde está sua namorada?

-- Bem aqui. – Mostrando o falcão sob seu braço.

-- Nossa! Então é verdade... A maldição...

-- Michel, por favor, não diga a ninguém sobre mim. Estou seguindo para Áquila e matar o cardeal por ter feito isso comigo!

-- Conte comigo! E vocês, por favor, entrem!

Apesar da casa de Michel ser aconchegante, todos estavam tensos, principalmente com a decisão mortal dele. Nora se culpava. Mesmo com a descoberta, Johan ainda desejava liquidar com o clérigo.

Johan contou tudo para Michel e Louise para Odile. Mas quem disse que a freira fujona francesa prestava atenção em toda explicação. Seus olhos se prenderam nos olhos cor de cobalto do alemão chamado Franz. Louise afiava sua espada com toda calma do mundo e não notou que era observada por Gerd. O alemão com cara de urso ainda tinha um pouco de raiva e ao mesmo tempo admirava a princesa. Ela é muito corajosa e arriscou tudo para ajudar a prima e o namorado.



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Algumas horas antes do anoitecer, Johan estava mais do que decidido a enfrentar o cardeal e matá-lo, ignorando o que Nora havia dito sobre a quebra. Michel não concordou e não disse nada. Seu amigo e salvador saiu da casa, rumando para as montanhas geladas de Falsworth.

De noite, Fefe conversa com suas amigas.

-- Johan disse que matará o cardeal com esta espada. – Mostrando a arma para elas.

-- Holandês teimoso. – Resmungou Nora. – Ele foi para as montanhas...

-- O que quer fazer, Fefe? – Perguntou Ana.

-- Johan “perderá” esta espada. Ele vai enfrentar o cardeal de qualquer jeito. Só que precisamos fazer de um jeito convincente.

O plano era simples. O grupo teria de ir ao lago congelado e chegar antes de Johan. A espada seria entregue apenas quando ele e Fefe confrontassem o cardeal e a maldição não existir mais. Neeskens e Michel testaram a espessura do gelo.

-- Não gostei deste plano. -- Nora estava com as mãos tremendo de frio. – Só na base da conversa, já convence o holandês.

-- Eu também não gostei. – Concordou Sepp, oferecendo um cobertor pra ela, que aceitou. – Mas é o único jeito.

Fefe e as garotas, mesmo sob os resmungos de Nora, tiveram de caminhar devagar no lago congelado. No entanto, Michel percebeu algo: surgiram mais rachaduras na estrutura após que ele e Neeskens verificarem.

-- Oh não... – Murmurou o fazendeiro francês.

Antes que pudesse avisar, as garotas viram o lobo chegar atrás delas e de repente, o gelo cede, fazendo com que Johan afunde.

-- JOHAN! – Fefe correu para ajudar e para seu descuido, ela também caiu na água.

Fefe tentava nadar e salvar o amado. Louise e Gerd se rastejaram com cuidado até o lago e puxaram Fefe. Neeskens e Berti resgaram o lobo, mesmo arranhados com as garras do mesmo.  Franz, Sepp e Uli puxaram pela corda que jogaram os resgatados. Afastados do lago, Fefe, ainda coberta, aquecia seu lobo com carinho e chorou.

-- Por que, Senhor? – Ela olhava para o céu, chorando. – Queremos viver como seres humanos. Nossas vidas estão em suas mãos. Nem isso o cardeal permitiu. Falcões e lobos são animais monogâmicos. Vivem com um parceiro para vida toda...

Depois de uma madrugada intensa e perigosa, Fefe se acorda com crepúsculo mesmo entre as nuvens nas montanhas. O grupo, já devidamente vestido e aquecido, estavam ansiosos. Está na hora de Fefe virar o falcão. Enquanto a prima de Louise acariciava o pelo do lobo, notou o sinal. Suas mãos ganhando um pouco a forma. Ela olhou para o horizonte. O sol começa a despontar aos poucos. E são nestes minutos torturantes que ela agradeceu a Deus por lhe dar esse privilégio: de ver, apenas pouquíssimo tempo, o seu amor na forma humana.

O grupo inteiro assistiu o momento. Louise não evitou as lágrimas. Sentiu exatamente a tortura e ânsia de estar com quem ama com a maldição.

Johan voltava a sua humanidade e pode ver sua amada ainda em carne e osso.

-- Felicity... – Ele queria tocar uma única vez e sua mão não conseguiu o intento.

-- Johan... – Fefe também queria tocar. Sua mão não obteve sucesso.

Era tarde demais. O sol apareceu em seu esplendor e os amantes em suas formas inversas. O falcão voou e Johan tentou alcançar.

-- NÃO!!!!! – Ele gritou. – Não...

Neeskens correu até seu amigo e o abraçou por trás, colocando o cobertor para aquece-lo.

-- Eu estava tão perto... – Disse o capitão. – Tão... Perto...

-- Eu sei, meu amigo.

Longe do grupo, Breitner assistiu tudo que aconteceu e compadeceu. Se arrependeu amargamente do que fez para Felicity e Johan e abominou as atitudes do cardeal. Decidiu então ajuda-los...

Johan arrumava suas coisas quando deu por falta a sua espada.

-- Onde está minha espada? – Perguntava para Berti.

-- Caiu no lago congelado. – Ele respondeu, calmamente.

-- O QUÊ? – Johan se enfureceu e quase foi pra cima do ladrão. – Eu precisava daquela espada para matar o cardeal e você a perde?

-- Cruyff, pare! – Neeskens apartou a briga.

-- Com ou sem espada, eu vou acabar com aquele cardeal.

-- Faça isso e significará que não se importa com minha prima. – Berrou Louise, ficam na frente de Cruyff. – Mate a si mesmo e mate ela também. Só se importa consigo mesmo.

Johan quase partiu para ignorância se não fosse um detalhe: ele viu arranhões no peito de Berti e nos braços de Neeskens.

-- Que marcas são essas em vocês? – Johan não fazia ideia que foi ele mesmo que causou os ferimentos.

-- Foi você. – Disse Neeskens. – Ontem quando caminhou no lago congelado, salvamos você.

O cavaleiro caiu em si. Frustrado, socou o escudo.

-- Me desculpem.

-- Está tudo bem.

-- Sr. Johan...

A princesa de Shangri-la e Neeskens se armaram. O caçador Breitner estava ali diante deles, sem armas.

-- Pelo visto se soltou das cordas... – Johan ia atacar.

-- Por favor, eu sei que machuquei todos vocês, especialmente a moça falcão e a princesa. Eu vi o que aconteceu de madrugada no lago. Eu entendi o que o cardeal fez com vocês. Achei que fossem rebeldes ou coisa assim.

-- E o que vai fazer depois? – Questionou Louise.

O próximo ato do caçador foi mostrar o saco de moedas de ouro, pagamento do cardeal. Ele joga as moedas para longe, caindo no lago e afundando.

-- Quero ajudar também. E sei como podem entrar em Áquila.

O receio era grande, mas Breitner foi convincente e a viagem prosseguiu. No final da tarde, chegaram em Áquila. O caçador e Berti conseguiram uma carroça para levar o lobo. O restante, disfarçados de cidadãos comuns, caminhavam na cidade.

-- Nora, chegamos em Áquila. – Disse Fefe, conduzindo o transporte. – E agora?

-- É amanhã.

Passaram a noite nos estábulos.

E finalmente chegou o dia. O solstício. E o eclipse.

Berti fez o mesmo caminho de quando escapou da prisão de Áquila. Passando pelos esgotos e chegando até uma passagem que dá entrada a igreja St. Rommulus Northanger. Nora olhou para o céu. As nuvens ainda cobriam o sol e já apresentam sinais de dispersão.

-- Falta pouco, Johan. – Garantiu a bruxa celta.

Neste momento, o cardeal e seus seguidores caminham rumo a igreja sob louvores. Berti consegue entrar na igreja e se esconde num dos confessionários, assistindo à chegada do inimigo de Johan. A porta é fechada por dois guardas.

-- Não dá mais pra esperar. – Johan entrega o falcão para Marie. – Berti já deve ter feito sua parte. Ouçam, garotas. Se mesmo após o eclipse e eu não voltar... Matem Felicity.

-- Johan! – Nenhuma delas queria fazer isso.

-- Não posso condenar Fefe numa vida assim. Façam isso. Por ela.

-- Você vai conseguir.

Ele as abraçou cada uma e na vez de Ana, deu um beijo na boca.

-- Eu te perdoo, Anastacia.

Ana chorou, emocionada. E rezou que seu amado e sua amiga vivessem esse amor e quebrem a maldição.

-- Ele vai voltar. – Disse o caçador, confiante.

Johan, Neeskens e Louise, já montados em seus cavalos, foram até a praça na ala leste onde se encontra a igreja.

-- Tem certeza que vai fazer isso? – Questionou Louise.

-- Tenho e devo.

Na igreja, Berti usava um graveto qualquer para abrir o cadeado que trancava a porta. No entanto, ele não notou que um dos guardas percebeu isso e caminhou devagar em sua direção. Neste momento Johan cavalgou até a entrada da igreja e bem na hora exata que Berti conseguiu abrir a porta. Os três entraram juntos. Louise e Neeskens enfrentaram o restante dos guardas, derrotando-os em instantes.

-- Cardeal Burdon! – Bradou Johan. – Vai pagar por ter me condenado e a Felicity!

Antes que se avançasse, mais quatro cavaleiros chegaram para proteger o religioso. Era uma desvantagem. Três contra quatro.

-- Ainda insiste em me enfrentar? – Burdon ria. – Não salvou a si mesmo e nem aquela pecadora e tem coragem pra vir aqui.

Louise não se deteve e partiu para atacar. Chas Chandler, o maior dos cavaleiros, impediu a princesa como uma muralha. Hilton Valentine encarou Cruyff e não perdeu tempo. John Steel e Neeskens lutavam como dois gladiadores, fazendo com que os fiéis fugissem para fora da igreja. Quanto ao cardeal, conseguiu escapar pela saída dos fundos. Só não contava com a presença do caçador.

-- Você! – Burdon ficou aliviado. – Sei que falhou, mas eu o perdoo se me ajudar a liquidar com Johan Cruyff e...

-- Cala a boca! – Breitner acertou um soco na cara dele. – Eu sei que o fez. Amaldiçoando uma moça e o cavaleiro e logo você, um ser que renunciou a vida para servir a Deus, cobiçando uma mulher?

Enfurecido, Burdon sacou uma adaga que levava na manga da roupa e perfurou o ombro do caçador, desequilibrando-o. Ainda fugindo, o cardeal viu o pânico na população e seguiu para uma estalagem. Ele a encontrou.

-- Felicity? – Ele não acreditava que o objeto de sua obsessão estava ali, na forma esbelta lindamente e não como um pássaro. – Venha aqui.

Fefe tenta se afastar das mãos do homem a sua frente, mas suas amigas a defenderam.

-- Me deixem!

-- Não chegue perto da Felicity! – Berrava Nora, batendo com um pedaço de madeira.

-- Canalha! Desgraçado! – Ana era mais brava por conta da confissão no passado, que fez ele perseguir e torturar sua amiga e o amado.

Burdon se defende jogando terra nos olhos das garotas e em Felicity e arrasta a jovem galesa.

Os ladrões, amigos de Berti tiveram trabalho de contornar o caminho passando pelas catacumbas e para sorte deles, encontraram o cardeal espancando Fefe e a mesma gritando por ajuda.

-- Me solta, seu monstro asqueroso! – Fefe gritava e se debatia contra o agressor.

-- Nunca mais você e aquele holandês serão felizes. – Dizia Eric, desferindo outro tapa no rosto de Fefe. – Ele não vai sobreviver. O eclipse vai acontecer e vocês continuarão com a meia vida.

Fefe chorava e não tinha forças para confrontar alguém como ele. Franz apareceu e golpeou o cardeal, desacordando-o.

-- Franz, me leve a igreja e carreguem o cardeal. Johan e eu precisamos quebrar a maldição.

-- Sim.

As garotas, já recuperadas, ajudaram sua amiga e junto com trio ladino, seguiram para igreja. Completamente vazia, exceto por três guerreiros cansados, três cadáveres e um rendido, que era Alan Price. O cardeal acordou e viu que seu pequeno exército não foi páreo o bastante contra os invasores.

-- Johan! – Nora apontou para janela. O eclipse iniciou. – Está na hora!

O cavaleiro olhou. A lua se interpondo sobre o sol. Sorriu.

-- O dia que não é dia. A noite... Que não é noite.

Neste momento, Alan se desfez dos laços que o amarravam e empurrou Johan para o meio da igreja. Rapidamente ele pegou uma espada qualquer e encarou adversário.

-- Herr Johan! – Berti, que escondia a espada do holandês sob suas vestes, jogou para ele.

Johan agarra a espada e ataca Alan. Espadas chocavam-se uma contra a outra. Metal contra metal. Alan se encontrou na vantagem pois conseguiu desarmar Johan. E na hora de aplicar o golpe final, Johan o empurrou, jogando para um pilar e pegando a espada do inimigo, golpeou no peito, dando um fim a Alan Price.

Exausto, porém com forças suficientes para se manter em pé, Johan encarou o cardeal e mirando a arma no peito.

-- Me mate! – Eric sorria maldosamente e sendo segurado por Franz. – Vai! Me mate! E assim continuará a maldição pra vocês. É isso que você quer? E pra Felicity?

Antes de responder, eis que surge Felicity. O cavaleiro estava chocado. Sua amada ali, inteira.

-- Meu amor!

Fefe não respondeu e segurando a espada do cavaleiro, obrigou o cardeal a encara-los. Burdon estava furioso e incrédulo.

-- Não pode ser... – Murmurou o religioso.

-- Olhe pra ele! – Fefe queria perfurar o peito do cardeal. – OLHE PRA ELE!

Burdon obedeceu e encarou Cruyff.

-- Olhe pra mim! – Fefe seguia ordenando.

Eric a olhava.

-- E olhe pra gente! – Pediu Johan.

E finalmente o ciclo terminou.

-- Conseguimos! – Louise retirou o elmo e comemorava e sem querer, abraçou Gerd. – A maldição...

-- Sim... – Ele concordava.

O casal se afastou do cardeal e de repente uma nuvem negra surge diante dele. Era Jenna! Muito furiosa, berrando.

-- Pode ter quebrado a maldição, Felicity, mas tanto eu quanto Eric queremos vê-la morta!

A bruxa maligna fez surgir uma lança nas mãos e arremessou contra os dois. O casal se desviou e Louise lançou sua espada, acertando em cheio Jenna e Eric, que morreram na hora.

Todos saíram da igreja e não havia mais pânico em Áquila. Do lado de fora, Odile e Michel esperavam o grupo.

-- Ainda bem! – Odile abraçava a irmã e sua amiga, Louise. – Achei que não iam conseguir.

-- Desta vez acabou. – Marie estava feliz e beijou Neeskens.

Johan e Fefe se abraçaram e olhavam o sol voltando ao normal. Se beijaram pela primeira vez em três anos.

-- Senti sua falta, tulipa!

-- Eu também... – Fefe o enchia de beijos no rosto e apertava a mão dele. – Não me deixe mais.

-- Jamais!

Ana viu Breitner saindo do alojamento, ferido e fraco.

-- Meu Deus... – Ela disse, indo em direção dele.

-- E o cardeal? – Indagou o caçador.

-- Morto. – Ana deu o braço para ele. – Vamos! Eu cuidarei de você.

Ele sorriu e aceitou o convite. Todos deixaram Áquila e voltaram para Shangri-la, onde o rei Michael e a princesa Louise deram uma festa para celebrar a união matrimonial de Johan e Fefe. Marie e Neeskens seguiram viagem para França, Franz e Odile também mas prometeram ficar mais uns dias na cidade. Nora e Sepp se acertaram, apesar do ladrão ruivo ficar com um pouco de medo da bruxinha celta. Berti e Uli decidiram ficar no vilarejo de Falsworth, se tornando vizinhos e amigos de Michel.  Berti se tornou um grande amigo de Johan no fim.

E quanto ao casal... Não viveram felizes para sempre. Foi por toda eternidade.



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-- É isso aí, criançada! – Robb se levantou do sofá e se espreguiçou.

-- O avô de vocês prometeu uma história emocionante. E cumpriu a promessa. – Disse Alice.

Era o final da tarde e a galesa preparou biscoitos e suco para os pequenos. Embora contentes, havia algo que estava errado.

-- Não gostaram dos biscoitos? – Alice desconfiava disso.

-- A gente gostou. – Respondeu Joey. – Só que...

-- Só que o quê? – Era vez de Robb.

-- O que aconteceu?

-- A história ficou incompleta. – Respondeu Mandy, emburrada e olhando para o avô galês.

-- Incompleta? Nós contamos tudo.

-- Faltou a princesa de Shangri-la. – Disse James. – E a amiga bruxa? E o caçador morreu?

-- Opa! – Robb suspirava calmamente. – Uma pergunta de cada vez. A bruxa celta viveu ao lado do ladrão ruivo.

-- E o caçador não morreu. – Alice bebia o chá. – Ele foi cuidado por Ana.

-- E a princesa de Shangri-la? – Lily era mais curiosa.

Robb se preparava para contar, mas Alice deu a mão, em sinal que vai contar o que restou...


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Naqueles dias de festa e alegria, havia algo que faltava em Louise. A princesa se esforçou e ajudou sua prima a romper a maldição. Não havia dúvidas que Fefe e Johan eram feitos um para o outro. Até Odile conseguiu alguém. E ela não.

Por outro lado, ela se acostumava com a presença de outro ladrão. Gerd. No começo, ele não entendia ideia de ver uma garota, logo uma princesa, lutando como um guerreiro e manejando uma espada. Com a viagem, ele passou a ver que Louise era tão comum quanto ele. Não ligava para nobreza. Ela só queria mostrar sua força e determinação. E à medida que a jornada se aproximava do fim, ambos temiam duas coisas: a morte e a separação. E isso foi provado no dia que Johan e Fefe decidiram ir embora de Shangri-la, Gerd seguiu com eles.

-- Ainda não acredito que vai embora. – A princesa estava linda em seu vestido de cetim azul. – Você pode ficar.

-- E fazer o quê? – Perguntou Gerd.

Um silêncio entre os dois. Nenhum deles queria dizer mais e mostrar seus sentimentos.

-- Talvez... – Louise falhava e olhava para o chão e cerrava os punhos. – Alguém aqui... se importe...Deixa pra lá.

E no dia que partiram, mesmo no meio do caminho e se distanciando do castelo, o casal percebeu e chamaram atenção de Gerd.

-- Quer mesmo ir embora? – Fefe ficou de frente para o alemão.

-- Nada me prende aqui.

-- Fala isso por que não falou com a princesa? – Johan desceu do cavalo e com as mãos no ombro de Gerd, continuou a dizer. – Fala pra ela.

-- Não sou um príncipe ou cavaleiro.

-- Mas soube lutar como um. – Respondeu Fefe e pegando a espada de Johan, fez com que Gerd se ajoelhasse e iniciou o ritual de nomeação. – Eu, Felicity, rainha de Amsterdã, declaro Gerhard como cavaleiro do império de Shangri-la.

Batendo nos ombros com cuidado na lâmina, Gerd se levantou.

-- Agora vá atrás dela! – Incentivou o holandês.

Neste momento, Louise tocava alaúde quando ouviu o tropel de um cavalo. Olhou para janela e era ele. Ordenou os guardas a levantarem os portões para recebe-lo.

-- Louise o que está acontecendo? – Michael não entendeu o motivo daquela ordem dada.

-- Vou saber.

Ela recebeu o alemão. Gerd desce do cavalo.

-- Me desculpa, alteza... Eu... Me esqueci de algo. – Ele ofegava.

-- O quê?

-- Isso!

O maior choque dos guardas, soldados e dos moradores do castelo, incluindo o rei, era o beijo deles. Louise correspondeu com mais paixão. Gerd percebeu no final que não era o título que faltava. Era o amor de uma pessoa maravilhosa como ela.

-- Vossa alteza, Louise... – Ele se ajoelhou e mostra a aliança improvisada, feita de um laço rosa. – Quer se casar comigo?

-- Sim... – Louise se emocionava e o abraçou. – SIM!

O coração de Michael de aqueceu. A irmã finalmente encontrou sua felicidade.



-----A-----N----G----E-----L----E---Y---E----S----


Quando Alice terminou de contar, os pais das crianças chegaram ao mesmo tempo. Fefe abraçou o filho Joey por trás.

-- Meu filhotinho!

-- Mamãe! – Joey abraçou forte a mãe e chorava. – Por favor, não se transforme em falcão.

-- O quê?

-- E nem ele vire um lobo. – Apontando para o padrasto.

Johan não entendeu o que o garoto dizia.  As outras crianças também fizeram o mesmo para os pais. Robb e Alice se olhavam, um tanto assustados.

-- Mãe, não traía a tia Fefe e o tio Johan. – Pediram os gêmeos.

-- Não vire uma águia, mãe. – Dizia Mandy.

-- Calma, fofinha. Isso não vai me acontecer. – Em seguida, para brincar, Nora respondeu. – Talvez uma gata quem sabe?

-- Ok, gente. – Disse Robb, tentando acalmar os ânimos e abraçando Fefe. – Que saudades, minha filha. Nossa!

-- Que foi, pai?

-- Está mais... cheinha! Andou engordando?

Fefe corou. Johan também.

-- Deve ser impressão...

As garotas perceberam e não disseram nada. Neste momento, outra pessoa surgiu na entrada: Jon McGold e abrindo os braços.

-- Ranhentinhos!

-- TIO JON!

A criançada se ajuntou num abraço grupal. Sentiam a falta do adulto mais legal da casa.

-- Tio Jon, me ensina sobre o vodu? – Pediu Chris.

-- Como?

Ele olhou para o pai. Robb mostrava que já sabia de tudo. É, ele tinha de contar e logo...





---- Cenas pós créditos da Marvel ---


No dia seguinte, Fefe preparava o café e Nora e Ana se levantaram.

-- Por que não contou pro seu pai que está grávida? – Nora não entendeu a atitude da amiga.

-- Quero fazer uma surpresa.

De repente, ouve-se barulho num dos quartos e com estilhaços de cerâmica sendo quebradas.

-- Que merda é essa? – Ana entrou em pânico.

-- Eu te mato, judeu desgraçado! – Era voz de Marie.

-- Eu sinto muito. Tive raiva dele. – Dizia Jon.

Uli saiu de fininho do quarto, só de roupão e com medo. As garotas o viram. E entenderam depois o motivo...



Uli Hoeness vai voltar.

Jonathan McGold vai voltar.



FIM