domingo, 29 de janeiro de 2023

Drabble Grindhouse Part One (Décimo nono capítulo)

 Mais um drabble e desta vez dentro da contagem. Quem é bookstan, vai notar uma participação especial...


19- Return

 

1975

 Alana foi chamada às pressas no estúdio americano de Teddy Price. Ela estranhou aquele chamado, considerando que foi convidada várias vezes para ser musicista de apoio para uma banda ou outra ou quando era para gravar suas músicas. Desde que imigrou praticamente para os Estados Unidos, ela buscou seu lugar no mundo. Conheceu pessoas incríveis, fortaleceu amizades e se apaixonou muitas vezes, numa delas resultando em sua filha recém nascida. Mas também ela perdeu um grande amor para as drogas e outro amor que recomeçou.

 Quando entrou no estúdio encontrou duas pessoas. Aqueles dois são seus grandes amigos para toda vida, Edward Simmons e Harry Daniels.

 -- Olha quem está aqui! – Harry sorriu e abriu os braços para receber sua amiga. – Garota como estava com saudades.

 -- Vocês não me resgataram e achei que tivessem me esquecido. –Disse Alana.

-- Jamais! – Edward a abraçava por trás. – Mas confesso que eu devia ter ido atrás de você.

 -- Não perderam nada. – Comentou resignada. – Tem coisas que não quero compartilhar.

 Os dois perceberam do que se trata e entenderam o silêncio da amiga. No mesmo instante o empresário entrou na sala.

 -- Que bom que estão reunidos. Quero que conheçam uma pessoa.

 O trio se impressionou com a beldade que entrou. Uma bela ruiva de roupas despojadas e olhos brilhantes e desafiadores.

 -- Daisy, esses são a English Band, da Inglaterra. A banda de apoio que vai te ajudar a gravar seu disco.

 Edward e Harry olharam Daisy e não deixaram de escapar suspiros indiscretos. Alana adorou a garota, que não devia nem ter trinta anos.

 -- Sou Alana. – Se apresentou.

 -- Jones. Daisy Jones.

 Voltando as raízes uma banda e decolando a carreira de uma cantora que mais tarde ganhará fama com outra banda...

O Caminho para Vitória (Drabble de Match Point)

 Boa tarde pessoal! Hoje numa vibe tenista com a leitura de Carrie Soto Está de Volta, decidi escrever essa drabble mostrando quem é Rosie Donovan, a tenista implacável. Boa leitura!


O caminho da vitória__ Srta. Maya

 

Torneio de Roland Garros – 8h50 da manhã – intervalo

 Rosie abaixava a cabeça resignada em perder o primeiro set. Inicialmente começou ganhando dois games e depois com as insistentes fisgadas na panturrilha direita, ela diminuiu sua velocidade e mal conseguia rebater as bolas. Quando o juiz apitou o fim daquele set, as tenistas voltaram sua atenção para seus respectivos treinadores. A ruiva era treinada por sua mãe, Martha Donovan e seu padrasto Thomas Smith.

 -- Calma... – Martha secava o suor do rosto da filha e dava garrafa de água gelada. – Boyd teve sorte e agora respire e volte.

 -- Preciso ir ao banheiro. – Disse a ruiva, caminhando devagar.  Em seguida a irmã mais nova dela foi junto.

 Vivian entrou na cabine da irmã e ambas sacaram seus celulares. A conversa era digital, sem as vozes de ambas por medo de serem ouvidas.

 

- Vivian

A dor voltou na perna?

 - Rosie

Sim.

 - Vivian

Ah Deus! Eu trouxe seus remédios!

 

Ela tirou do bolso da bermuda um saquinho lacrado contendo um tipo especial de analgésico, que faz as dores musculares sumirem em segundos. Rosie passou a tomar aquelas drágeas faz dois anos quando a panturrilha deu problema. Ela foi submetida a cirurgias e sessões de fisioterapia. No entanto isso custou demais pois ficando fora dos jogos, facilmente as tenistas começaram uma guerra civil para superar seus recordes, algo que a ruiva de Liverpool não tolerava. Ela não tinha nenhuma empatia pelas adversárias e cada jogo mostrava sua crueldade em cada tacada, golpe de velocidade e saques agressivos. Mas, pela primeira vez... Ela não tomou.

 Ela guardou o celular.

 -- Tem Dropanam?

 Vivian chorou e deu a ela um anti-inflamatório comum e se negou a tomar aquelas bombas. Elas saíram do banheiro, devidamente preparadas. Martha encarou a filha.

 -- O que aconteceu?

 Rosie derrama uma lágrima e não respondeu.

 -- Olha pra mim! –- A mãe segura o rosto da tenista. – Acontece com todos. É só um set. Desta vez você vacilou e agora não vai se repetir. Eu quero a minha filha, a destruidora de tenistas ousadas, minha Fênix enfurecida, minha Liverbird de volta! Vai lá e acabe com aquela loirinha!

 Rosie suspirou forte e voltou para quadra. Os olhos verdes se transformaram em outra cor, talvez um tom avermelhado e as mãos segurando firme a raquete. Ali a Liverbird de Mersey acordou. E meia hora depois o set era da ruiva. O resto era saques firmes e urros de uma loba ensandecida. Os fãs vibram com aquele jogo. Rosie Donovan tomou o caminho da vitória. Entretanto... Custou outra consequência. As dores no peito...

 

(Continua em Match Point, por Mariana Pereira)


domingo, 22 de janeiro de 2023

A Kiss from a Rose (Faerie Tale Grindhouse)

 Dobradinha de aniversário da Rosie. E hoje é adaptação reversa de A Bela e a Fera. Uma história de arrependimentos, aceitação e redenção. O título da fanfic é justamente a música do cantor Seal, que está presente no filme Batman Eternamente (aquele que tem o Val Kilmer). Boa leitura!



A Kiss From a Rose__ Maya Amamiya

 

Thomas Jones perdeu tudo. O navio que levava seus tesouros afundou no mar do norte da Inglaterra. Voltou para casa sem um centavo no bolso. Helen, sua esposa, adoeceu repentinamente e seus filhos cuidaram da mãe incansavelmente. Enquanto os mais novos estudavam em outra cidade, os mais velhos em casa ficaram nos afazeres para poupar o trabalho da mãe. Pena que não foi o suficiente. Três meses depois Helen veio a falecer de tuberculose. Olivia ajudava financeiramente, mesmo casada com um rico comerciante alemão. Edmund e Marianne eram os que ficaram.

O pai não tinha a menor vontade de voltar a caçar tesouros, mas Edmund, otimista, acreditava que há esperança de recuperar as riquezas.

-- Como é? – perguntou o velho pai, chocado.

-- É a única maneira, pai. – disse Edmund, arrumando sua bolsa e encilhando seu cavalo. – Vou recuperar nossa fortuna e nada do que me dizer vai mudar de ideia.

Era o fim da discussão e na hora da saída, Ed encontrou Marianne chorando.

-- E se você não voltar? – Marianne o abraçava.

-- Papai disse que você pode viver na casa dos Romanov. – Edmund se lembrou que seu pai é amigo íntimo de Alexei Romanov, cuja família vive ao leste europeu e a filha deles, Anastácia, é amiga de Mari.

Marianne não respondeu, mas se mostrou resignada.

-- Se conseguir algo, pode me trazer um presente?

-- Claro. O que seria?

-- Uma rosa.

Edmund sorriu. Tudo que ele gosta é presentear sua querida irmã.

-- Vou trazer a mais linda rosa pra você.

No outro dia o filho mais velho seguiu viagem. Sem ideia para qual direção, Edmund só tinha seus instintos para confiar. O que começou pela manhã, seguiu o resto da tarde e o anoitecer. Quando chegou a um certo ponto da viagem, percebeu uma névoa dificultando metade do caminho e ouvia uivos das feras.

-- Está ficando tarde... E não trouxe algo para dormir. – Temeu por sua vida e seu cavalo já andava cansado. – Aguente! Vamos seguir mais um pouco.

E contornando para outro caminho, encontrou um castelo, aberto e aparentemente vazio. Edmund seguiu com o cavalo e entrou no castelo. Deixou-o no estábulo cheio de feno e com água fresca. O animal bebeu sem medo e mesmo com sede e receios, Ed tomou um pouco daquele líquido. Alegrou-se. Se ofereciam água fresca, é porque os moradores do castelo são pessoas boas.

Abriu a grande porta e surpreendeu-se. Tudo lindo e resplandescente. A lareira acesa, uma mesa com um banquete pronto, o relógio, cristaleiras e castiçais belíssimos. E no mesmo instante mãos invisiveis o ajudavam a segurar seu casaco e o chapéu e ainda o serviram no banquete. Ed desfrutou da comida e do bom vinho e satisfeito, saiu da mesa e olhou para os belos castiçais. Pegou um deles e ouviu um uivo forte.

-- O que pensa que está fazendo? – berrou uma voz feminina, mas semelhante de uma fera.  – Ladrão!

-- Não sou! – ele largou o castiçal e olhou para os lados e não encontrou a dona da voz. – Eu não sou! Por favor acredite em mim!

-- Eu ofereci hospitalidade em meu castelo e tudo que recebo é você roubando meu castiçal? MERECE A MORTE!

-- NÃO! – Ed se ajoelhou e abaixou a cabeça. – Só estava vendo. Piedade, eu lhe imploro.

Ouviu um suspiro animal e Ed temeu por sua vida. Pensou em fugir, mas era capaz da dona, possivelmente uma bruxa, lhe enfeitiçar. Seus pensamentos foram interrompidos quando avistou uma figura feminina aparente, usando vestido e o rosto coberto com um capuz verde. Ela ajeitava o castiçal e notou as mãos dela um tanto peludas e com garras. Engoliu em seco. Olhou atentamente para os pêlos avermelhados e a delicadeza no olhar dela. Olhos verdes, porém, de um jeito diferente, mas o rosto era impossível de ver pela penumbra.

-- Você é uma bruxa? – perguntou o viajante chocado.

Não teve resposta, mas a figura caminhou ao redor dele e o cheirou como um cachorro farejando seu dono para reconhecê-lo. Afastou-se dele.

-- Durma. Amanhã é outro dia. – E desapareceu no mesmo instante entre a escuridão.

Ed tinha mais perguntas e para não irritar a possível bruxa com mãos peludas, seguiu a ordem dela e foi guiado até o quarto de hóspedes, que por sinal, era bem confortável. Dormiu com dificuldade por conta das preocupações, mas relaxou na cama quente. Acordou com os raios de sol iluminando seu quarto e se arrumou. Chamou pela bruxa.

-- Olá! Senhora?

Caminhou pela extensa sala e nada. Saiu para fora e a porta se fechou. Seguiu para o estábulo e encontrou seu cavalo, muito bem descansado, alimentado e encilhado. Antes de ir para o portão, parou para ver um jardim cheio de rosas brancas e vermelhas. Marianne havia pedido uma rosa. Quase tocou na flor quando ouviu um suspiro animalesco atrás de si. Olhou e viu uma fera. A mesma figura de capa verde, vestida e com mãos peludas se revelou uma fera, uma mulher-loba.

-- Oh minha nossa! – assustou com ela. – Você... Você...Não me devore.

Ela o ignorou e tocou as roseiras.

-- Não sou como aquela que fez isso comigo. – Disse, um pouco soturna.

-- Eu... – teve um pouco de medo.

-- Você quer levar esta flor? – perguntou a fera.

-- Bem...

-- VOCÊ QUER OU NÃO? – irritou-se.

-- Sim! – respondeu de imediato, sem se importar se a fera ia devorar ele e fechou os olhos.

A grande surpresa de Edmund foi ver que a fera lhe deu a rosa vermelha. Ele pega com receio. Depois a criatura seguiu para entrada do castelo.

-- Para quem ia presentear? – Ela pergunta se virando para o rapaz.

-- Minha irmã. – Respondeu Edmund, ansioso. – Marianne.

A fera o encarou e voltou sua atenção para a porta.

-- Eu o perdoo por isso. No entanto...

Edmund engoliu em seco e estava muito nervoso. Temia por sua vida.

-- Se você me trazer sua irmã em seu lugar dentro de sete dias, vou poupar sua vida.

-- Senhorita...

-- Fera! – Ela rugiu.

-- Senhorita fera, eu devolvo a flor, mas não... A Marianne é minha irmã! Um dos meus poucos parentes que me resta. Ao invés dela, posso vir?

-- Você? – Agora a fera se espantou.

-- Sim! A culpa é toda minha. Só me deixe voltar para minha família e eu volto... pra cá. Serei seu escravo!

A fera não gostou disso. Odiava a escravidão. Entretanto, o o belo rapaz se ofereceu.

-- Em sete dias esteja aqui! – Ela caminhou para dentro do castelo.

Edmund fez o que ela pediu e pegou seu cavalo no estábulo e seguiu caminho. Chegando no lar da família, estava também os Romanovs. Ao que parece, a casa ganhou um novo brilho. Os filhos de Alexei e Tatiana fizeram toda faxina e arrumaram os quartos.

-- Meu filho! – Thomas o abraçou. – Tive medo que tivesse morrido. Alexei quase mandou Chris e Leon atrás de você.

Ed não falou nada. Apenas se limitou aceitar. No jantar, não comeu quase nada. Marianne e Anastacia reparavam que ele estava calado, se limitava a responder com pequenas palavras ou até grunhidos. Christopher o chamou para floresta e o beijou... E foi rejeitado.

-- O que foi?

-- Não quero.

-- Fiz algo errado.

-- Sim. Me beijou quando não quis. – Edmund se preparava para voltar para casa.

-- O que está havendo com você? – Perguntou Chris, preocupado. – Desde que voltou da sua caçada ao tesouro está diferente.

Não respondeu e entrou, deixando o mais velho dos Romanovs decepcionado.

No terceiro dia, Edmund sonhou com a fera. Um milhão de pensamentos e possibilidades sobre sua transformação e quem a enfeitiçou. Então lembrou do que ela falou antes: “Não sou como aquela que fez isso comigo”.

-- Quem é ela que fez isso com você, fera?

Ele voltou a dormir. No sexto dia, contou para Marianne sobre sua aventura, o castelo no fim da estrada, o acolhimento da moça que é uma fera e o trato feito com ela.

-- Não! – Marianne fechou a porta. – Você não voltará para lá!

-- Mari, eu preciso. Devo minha vida aquela fera.

-- Ela que se dane! Os Romanovs são bruxos e caçadores. Pedirei a eles que a matem!

-- Não faz isso! – Ed se pôs na frente da irmã. – Ela me deu a rosa de seu jardim porque eu disse que é presente para você. E foi concedido. Tenho que pagar minha dívida. E teria sido pior se ela quisesse você.

-- A mim? – Se espantou a jovem.

-- Sim. – Ele suspirou e chorou de costas para irmã. – Tentei roubar um simples castiçal. Estava desesperado e quase fui morto por ela. Prometi que em sete dias voltarei para ser o escravo dela. Amanhã cedo irei. E pelo amor de Deus, não fale para ninguém. Nem para os Romanovs.

Marianne não teve escolha.

No dia seguinte Ed partiu antes do amanhecer. Se despediu de Marianne. E Chris e Ana observam a partida de Jones. Eles sabiam o motivo.

-- Ele vai procurar a fera. – Comentou Ana, torcendo um lençol para controlar sua raiva.

-- Podemos matá-la e o Ed voltará para nós.

-- Não! A maldição a deixou muito poderosa. Mesmo para nós que temos vantagem, Rosie nos mataria num instante. Por hora, vamos ver quando Edmund voltará e seguiremos cuidando dos Jones.

E amanheceu. Edmund chegou ao castelo e entrou no hall.

-- Fera! Eu voltei.

Não ouviu nada. Aproveitou para tomar banho e notou que ganhou roupas novas colocadas na cama. E quando desceu as escadas, viu a mesa já pronta para o café da manhã e a fera.

-- Espero que goste. – Ela disse, numa voz triste.

-- Está tudo bem? – Ed queria se aproximar dela.

-- Não é nada. Todos os dias vivo triste nesta condição. Ninguém vem aqui. – Respondeu sem olhar para ele.

-- Não é verdade. – Disse uma voz de menina.

Ed olhou para os lados.

-- Quem disse?

-- Eu!

-- Eu quem?

-- Olha pra mesa e veja uma xícara.

Para a surpresa dele, viu a xícara se mexendo.

-- Você...

-- Calma! Meu nome é Vivian! – Se apresentou a menina enfeitiçada.

-- Vivian! Não assuste o rapaz. – O bule branco vinha atrás da xícara e representava com uma voz de uma mulher na casa dos quarenta anos. – Mil perdões. Sou Martha. A mãe da Vivian e da fera.

Ed se surpreendeu. Aqueles objetos falaram com ele e eram parentes da fera.

-- Os objetos falam, que intrigante. – Comentou Edmund, um tanto surpreso.

-- Não se surpreenda. – Avisou Vivian. – Verá que outros também falam.

-- Melhor não assustar o rapaz. – Pediu Martha e pronta para servir o chã. – Bebida, querido?

Edmund aceitou e olhava para a fera. Ela olhava para baixo e não o encarava. O desjejum dos dois foi assim. Silêncio total. O resto do dia não teve nada de especial. Ed conhecia o castelo, a fera o evitava e depois conheceu os outros objetos falantes. O relógio Derek, as estátuas femininas chamadas Suzan e Jane, o busto masculino Micky, o candelabro alemão de nome Dieter.

Quando anoiteceu, jantaram juntos e finalmente a fera indagou:

-- Gostou da comida?

-- Sim. – Respondeu assustado.

-- E do meu castelo?

-- Muito bonito. – Edmund sorria forçado ainda com medo.

-- Tem medo de mim?

Desta vez não respondeu. Ele escolhia as palavras com cuidado e dependendo do que fosse respondido, teria um destino nada apropriado.

-- Tem medo de mim Edmund? – A fera insistiu na pergunta, desta vez irritada.

-- Honestamente, sim. – Engoliu em seco.

A fera se acalmou pela honestidade do hóspede e seguiu comendo.

-- Por mais que eu seja comportada, eu sou assustadora. – Disse a fera e servindo um copo de vinho. – Mereci esse castigo.

-- Talvez... Fosse necessário pedir desculpas.

-- Se eu fizer isso, aí sim os Romanovs me executam. – Sorriu e em seguida mudou de assunto. – Sua irmã gostou da rosa?

-- Sim. Ela adorou.

-- E certamente não gostou da ideia do irmão vir de novo aqui.

-- Nem ela e nem minha família.

Quando enfim terminaram, seguiram para a sala de estar, um olhando para o outro. Desta vez Edmund viu a aparência do monstro. Uma cabeleira ruiva, os olhos esverdeados enormes, o focinho escuro e a boca mostrando belos e enormes caninos. O vestido era azul pomposo e com pulseiras e brincos perolados.

Em seguida a fera suspirou e se retirou.

-- Até amanhã Edmund.

-- E qual é seu nome?

-- Rosie. – Ela respondeu sem olhar para ele.

Ele não conseguiu dormir e saiu da cama. Ed caminhou pelos corredores e encontrou uma porta. Abriu, julgando ser outro quarto. A sala estava vazia, exceto por um objeto. Um espelho longo. O espelho em seguida revelou a imagem da família de Edmund. O pai adoeceu, os irmãos tentando manter a casa e Marianne chorando e... com olho roxo. O jovem temeu por eles e antes que pudesse fazer algo, ele ouve um urro.

-- ONDE ELE ESTÁ? – Era a fera.

Correu para o quarto e encontrou Rosie.

-- O que está fazendo?

-- Minha mãe me aconselhou a dar um presente pra você. – Ela entrega o presente. Ed não deixou de reparar nas mãos. Peludas e as unhas grandes do tamanho de garras.

-- Obrigado.

E quando se virou, o bule estava na mesa do quarto.

-- Perdoe minha filha. – Se desculpava Martha, a mãe. – Ela anda muito nervosa.

Edmund aceitou e adormeceu um pouco calmo com o chã. No outro dia vestiu a roupa nova que Rosie lhe presenteou. Um tecido gostoso e com cheiro de novo.

-- Está ótimo senhor.

-- Quem disse isso?

-- Permita-me apresentar. Sou Ulrich, um dos candelabros. Você conheceu meu irmão.

-- Ah... Oi Ulrich.

-- A fera já está chegando. – Avisou Dieter.

Rosie abriu a porta com agressividade e caminhava devagar. Ela sangrava no peito.

-- Fera! – Ed a socorreu. – Fera calma.

-- Fecha as cortinas. Por favor.

Ele obedeceu e com a ajuda do pessoal, cuidou de Rosie. Carregou a fera para o quarto.

-- Mal tenho palavras para agradecer. O que posso fazer para recompensar-te? – Disse Rosie.

-- Leve-me até minha família. – Ele pediu. – Meu pai está doente e minha família precisa de mim.

Rosie suspirou e em seguida deu um anel para Edmund.

-- Use quando for dormir hoje e quando acordar, estará na casa do seu pai. Entretanto, ficará com eles por cinco dias e depois voltará aqui. – Falou a fera com a voz enfraquecida.

-- Muito obrigado. Cumprirei minha parte!

E então ele o fez. Deitou na cama ainda vestido e colocou o anel no dedo.

-- Estou chegando... – Disse antes de dormir.

Como uma lufada suave dos ventos da primavera, Ed foi transportado para a casa e em seguida acordou em seu quarto. Correu para o quarto do pai.

-- Papai!

O velho Thomas Jones abriu os olhos e sorriu ao rever seu filho mais velho.

-- Edmund! Você está vivo!

-- Estou aqui papai!

-- Como veio parar aqui?

-- A fera... – Ele sorriu. – Ela permitiu vir aqui.

Em seguida ele foi até a sala e abraçou todos os parentes. Os Romanovs estava completamente chocados. Juraram que Ed estivesse morto. Marianne abraçou forte o irmão.

-- Graças a Deus que está vivo! – Marianne chorava e Ed pôde ver mais atentamente o olho roxo.

-- Quem fez isso com você?

-- Christopher... Mas porque eu não quis me casar com ele.

-- Ótimo!

Edmund socou Christopher na frente da família que berrava para cessar as agressões.

-- FORA DA MINHA CASA!

-- Edmund sinto muito. – Lamentava Chris.

-- Ao agredir minha irmã, está me agredindo também. – Em seguida acertou uma cabeçada no filho mais velho. – Saia das nossas vidas antes que eu mate todos vocês!

No castelo Rosie gemia de dor e todos os seus amigos ficaram ao redor dela.

-- Mãe, precisamos chamar o Edmund. – Disse Vivian a xícara.

-- E como faremos? Não temos mensageiros.

No céu um casal de gaivotas sobrevoava no mar e avistaram o castelo.

-- Viu o castelo Elena?

-- Sim. Quem mora lá?

-- Veremos.

Dieter e Uli chamaram as aves.

-- Oh por favor pelo bom Deus nos ajudem! –Implorou Uli.

Elena e o marido pousaram na janela e se impressionaram com os objetos mágicos falantes.

-- O que aconteceu com vocês? – Questionou a gaivota fêmea.

-- Fomos enfeitiçados por uma família de bruxos por uma falta cometida de nossa lady.

Uli explicou tudo para eles e Geoff, o marido de Elena até chorou.

-- Sabe, voamos há pouco para o campo e vimos esse tal de Edmund. – Afirmou Elena apontando em qual direção.

-- Por favor, avisem ele pra vir em nome da Rosie. Ele saberá.

-- Faremos esse favor. – Prometeu Geoff.

Depois que as gaivotas voaram, todos voltaram a sua atenção para Rosie.

 

 

Aqueles quatro dias foram perfeitos para Edmund e sua família. O pai se recuperou, Marianne se livrou da relação tóxica com Christopher Romanov e depois firmou noivado com Moses Smith, um fazendeiro escocês. O pai, intrigado, questionou novamente como o filho veio até eles.

-- Você quis dizer que fugiu da fera?

-- O nome dela é Rosie. – Corrigiu Edmund. – Ela é uma fera gentil e delicada. Apenas foi uma lástima o que ela fez pra merecer isso.

-- E o que ela fez?

-- Foi amaldiçoada pelos Romanovs.

-- Os mesmos Romanovs que eram nossos amigos?

-- Sim. E amanhã voltarei para o castelo.

-- Não Edmund. Não voltará para esse monstro.

-- Pai pelo amor de Deus. – Implorou. – Ela foi muito boa comigo e fiz minha promessa. Se eu não voltar a tempo, ela sofrerá e morrerá.

-- Melhor assim. Um monstro a menos nesse mundo!

Edmund se irritou e se retirou do jantar. No outro dia Edmund procurou o anel que a fera lhe deu. Vasculhou o quarto e as roupas. Em seguida questionou os irmãos.

-- Cadê meu anel?

Todos se calaram.

-- CADÊ MEU ANEL? – Ele perguntou bravo e bateu na mesa.

-- Não sei que anel é esse. – Disse Olívia bem tranquila.

-- O anel que a fera me deu.

-- Papai pegou. – Marianne aponta para ele.

E Então Edmund abordou o pai.

-- Me devolva esse anel.

Thomas não respondeu.

-- ME DEVOLVA!

-- Não está entendendo filho. Essa fera vai amaldiçoá-lo também!

-- Aquele anel é a garantia da fera para mim! Para voltar para ela! Eu prometi! Eu quero ficar com ela.

-- Por que Edmund? Por que se importa com aquele ser repugnante?

-- PORQUE A AMO! – Disse em voz alta.

A determinação de Edmund chocou todos. Aqueles dias de convivência no castelo com a fera mudou completamente a cabeça dele. As poucas conversas e o silêncio deles mostrou que a fera estava arrependida e estava disposta a perdoar. E o velho Thomas reconheceu que o filho estava amando.

-- Me perdoe filho. Se é tão importante, vá falar com os Romanovs. Dei o anel para Alexei.

Ed abraçou o pai, pegou o cavalo e cavalgou até a colina próxima onde moram a família Romanov. Alexei estava preparando a caldeira para derreter o anel mágico.

-- Destruindo esse anel Edmund nunca mais vai procurar aquela monstrenga. – Alexei estava com raiva. Ele que lançou a maldição em Rosie e em todos do castelo.

No passado os Romanovs conheciam o clã Donovan vindo da Irlanda. A filha mais velha Rosie era arrogante e detestava Ana por ser esperta. E no baile que teve no castelo, Rosie humilhou Ana e a mesma retribuiu da maneira cruel. Ao invocar a magia das trevas, Ana e o pai transformaram Rosie num animal antropomórfico e deformado. A família dela e os empregados do castelo em objetos falantes.

-- Sr. Romanov!

Alexei avistou Edmund chegando.

-- Me dê esse anel antes que eu cometa um crime contra vocês.

Chris e Leon entregaram a bijuteria.

-- Antes que eu parta, me respondam uma coisa. O que a fera fez para vocês?

-- Aquela ruiva irlandesa sem alma ofendeu profundamente minha filha e a todos nós.

-- Nunca fiz algo contra a Rosie. – Admitiu Ana, chorando. – E ela mereceu por isso.

-- Eu passei uma semana com Rosie e mostrou arrependimento, embora ela nunca me dissesse o motivo da maldição recebida.

Ele encerrou a conversa, colocou o anel no dedo e fechou os olhos, sumindo diante dos filhos de Alexei Romanov.

 

Edmund se perdeu na floresta e as gaivotas o guiaram até o castelo. E observaram tudo que ia acontecendo. Ele correu para dentro do castelo e chamou por Rosie. Até que ele a encontrou no jardim, caída em meio as rosas. Martha chorava e abraçava Vivian. Dieter, Uli, Derek, Micky e Jane e Suzan permeceram ao redor dela.

-- Você demorou. – Disse Derek.

-- Ela chorava de dor todos os dias. – Comentou Micky.

-- Por favor pessoal! Eu sei que demorei, mas cheguei até aqui.

Ele a pegou em seus braços e afastou o cabelo longo para contemplar o rosto animalesco dela.

-- Fera... Sinto muito por demorar para chegar. Use o anel. – Colocando o anel no dedo dela. -- Precisa viver.

-- Não consigo Edmund... – Rosie falava devagar. – Se eu fosse uma mulher, nada... estaria acontecendo.

-- Independente se é uma fera ou não... Eu te amo. – Ele se aproximava para beijá-la. – Quero me casar com você.

As nuvens foram afastadas e o sol apontou seus raios para a fera. A energia mágica solar desmanchando a aparência da fera. O vestido voltou a ser bonito. A pele e o corpo não era mais de um animal. Era humano. O rosto voltou ao normal e para espanto de Edmund, estava diante da mais bela mulher que seus olhos viram. Ela despertou e olhou para o homem que ficou com ela nesse tempo todo.

-- Edmund...

-- Rosie?

Eles se abraçam e ao mesmo tempo a mãe e a irmã voltaram a serem humanos. Os empregados também. Uli e Dieter dançavam, Jane e Suzan correram para abraçar e beijar seus maridos. Martha chorava emocionada e ela e Vivian se uniram no abraço familiar.

-- Muito obrigada Edmund! – Rosie o beijou ardentemente e foi correspondida.

No entanto a felicidade do casal durou pouco com a chegada dos Romanovs no castelo. Todos fecharam a cara diante da família.

-- Vieram tripudiar nossa senhora? – Jane pegava a vassoura pronta para surrar todos.

-- Viemos em paz. – Avisou Alexei.

Ana e Rosie ficaram diante uma da outra.

-- Aprendi a lição Anastacia. – Disse a ruiva. – E nesses anos todos percebi que jamais devemos julgar por algo externo.

Ana confirmou o arrependimento de Rosie e aceitou o perdão da irlandesa e de todos. Christopher corteja Vivian...

-- Oi Vivian. – Ele sorria de forma charmosa. – Agora que não é mais uma xícara, estou disposto a dar uma chance.

-- Oh Chris... -- Disse Vivian, brilhando os olhos. – Você não me esqueceu e continua sendo esse homem incrível.

-- Casa comigo?

-- Não! – Respondeu em tom blasé e soltando as mãos dele. – Te perdoei, mas não. Continua o mesmo panaca de sempre.

Ela deu as costas e caminhou de mãos dadas com Dieter, que antes de virar o candelabro, era o cocheiro das irmãs Donovan e se apaixonou por Vivian.

-- Que tristeza. – Entristeceu Chris. – Desse jeito vou virar padre.

No jardim Ed e Rosie ainda se beijavam e pararam.

-- Naquela hora que falou que se casava comigo, era verdade?

-- Sim! – Confirmou Ed e mostrou o anel que pertencia sua falecida mãe. – Casa comigo?

Rosie sorriu.

-- Aceito! Aceito! Aceito!

Uma semana depois realizou-se o casamento. Os Romanovs foram perdoados e Chris também foi perdoado, entretando não poderá chegar perto de Marianne. Inclusive a irmã de Edmundo conheceu Rosie e entendia perfeitamente o amor dele pela jovem que era uma criatura horrenda.

Um ano depois Rosie deu a luz um filho chamado Dorian. Edmund não poderia estar mais feliz. Amar sem julgar a aparência nos ensina a conhecer melhor as pessoas e desse jeito se tem a redenção.

 

FIM

 

*Cena pós crédito da Marvel*

Geoff e Elena voaram seguindo o bando e se despediram de seus amigos. Perto do Canal da Mancha avistam um homem no mar nadando e observando a torre de um castelo. Ele olhava encantado para a mulher loira da janela. E ele é um tritão.

-- Ela parece a princesa Dianna. Mas não é ela. – Comentou consigo mesmo.

As gaivotas atentaram-se a todos os detalhes daquela peripécia, para mais tarde fazerem parte daquela que será em breve outra história de amor...

Lady in the Island (drabble para Social Spirit)

 Boa noite pessoal!

Hoje é aniversário da minha personagem Rosie Donovan e hoje escrevi um drabble respondendo um desafio no site Social Spirit, com tema recomeço. Espero que gostem!


Rosie acordou naquela manhã fria de janeiro. Virou-se para o lado e não encontrou seu namorado. Antes que pudesse fazer algo, ela reviveu tudo o que aconteceu em sua vida. Amizades, traição, um mandato de prisão e um filho. Ela assumiu que talvez algumas escolhas feitas não eram para ser e outras ela avaliava. Uma delas era reencontrar Graham Nash.

 Foi então que ela ouviu alguns acordes de violão. Se levantou com dificuldade e vestiu um robe. Caminhou até a sala e ouviu o músico tocando e cantando alguns versos.

 -- Holding you close undisturbed before a fire. The pressure in my chest when you breathe in my ear. We both knew this would happen when you first appeared. My lady of the island.

 Em seguida ouviu os aplausos dela. Nash sorriu, largou o violão e a beijou. Das decisões que tomou, uma foi recomeçar a vida ao lado dele. E Nash também pensava assim. Sua saída no grupo The Hollies impactou em sua vida e ao conhecer Stephen Stills e David Crosby, algo mudou em sua personalidade e pensamento. E mesmo incentivando seus ex-colegas na época para mudar o estilo musical para um som psicodélico, não dava certo. Então ele escolheu sair da banda e recomeçar na forma do folk. Nash namorou a cantora Joni Mitchell e foi feliz com ela, até sem mais nem menos o namoro acabar.

 E depois veio ela. A garota de Liverpool. E Rosie mais do que nunca recomeça essa nova vida no outro lado do Atlântico como a “senhora da ilha” descrita por Willie.

FIM