Tenham uma boa noite e fiquem com capítulo tenso de Laços. E tá mesmo tenso!
Capítulo 11: Layla
Rosie POV
Uma descarga de 10 mil voltz me atingiu quando o vi pela primeira vez.
Ele era tão diferente. Forte, alto, de cabelos pretos, ele era uma perfeita mistura
de Clark Kent com uma escultura de Michelangelo. O que não sabia, ou talvez
soubesse, era que Edmund faria parte da minha vida.
Parece estranho o que vou dizer, mas não consigo parar de pensar no
meu namorado. Mesmo ter comunicado minha ida para Shefield com Marianne, ele
nem sequer fez objeção ou demonstrou ciúme. Acho que ele desconfie que eu
esteja com John Lennon ou ele tenha arranjado uma groupie por aí. Sendo a
segunda opção está bom, eu perdoaria. A verdade... É que tudo estava mudando.
Enviei uma carta para ele no meu terceiro dia na casa dos Jones.
Conversei com todos ali, me senti bem. De fato a família é bem
tradicional. A única parte é que fico trancada no quarto de Marianne, seja
lendo ou ouvindo música na vitrola dela. As vezes eu escrevia meus ensaios e
meus pensamentos, já que Marianne saia com a mãe e os irmãos. Tecnicamente eu
me sentia e ficava sozinha. Meu único consolo eram as noites. Mari e eu
dormíamos mas não fazíamos sexo. Talvez por medo dos pais ouvirem contudo ela
não me representou isso. Notei que Mari andava se comunicando com uma tal de
Anastacia via carta. Até aí não me importei.
Quando chegou sábado, a sra. Jones me chamou para costurar. Isso
mesmo. Costurar. Ela me ensinou a costurar na máquina. Adorei isso.
-- Rosie, eu já volto. – Disse Helen, se retirando. – Vou pegar mais
tecidos no sótão.
Ajeitava ali as roupas costuradas e aí vi Marianne se arrumando.
-- Onde você vai? – Perguntei.
-- Errr... – Mari parecia um pouco constrangida. – Eu vou encontrar
uma pessoa.
Ela saiu porta fora. Deduzi que fosse Ginger. Pelo menos ele era
decente. Gosta de verdade dela a ponto de vir até aqui pra vê-la. Ou melhor,
foi o que tinha pensando.
A mãe de Mari demorava e aproveitei disso para sair um pouco. Segui
Marianne e vi que ela entrou numa lancheria e encontrou uma mulher, a
considerar pelos traços russos, para mim era desconhecida. Entrei junto e
fiquei numa mesa meio perto delas.
-- Saudades de você, Anastacia! – Mari cumprimentava ela e... a
beijava???
Não pode ser. Ela beijou aquela mulher. E o nome dela é Anastacia? A
mesma da carta? E aquele papo que me ama? Que nunca ficou com nenhuma garota na
faculdade? Me retirei dali o quanto antes, bem consternada. Quando entrei na
casa dos Jones, trombei com Edmund.
-- Olá, Rosie! – Ele sorriu, tão gentilmente e me segurou. – Perdão,
eu não vi você. Mamãe ficou preocupada e eu disse que você pode ter ido
caminhar por aí.
Meus olhos estavam cheios de lágrimas.
-- Rosie, está tudo bem?
-- Eu quero ir pro quarto!
Entrei no quarto de Marianne, guardei minhas coisas e fiquei na cama
de beliche, engolindo o choro e me acalmando. Só consegui tal coisa quando
pensei que no domingo eu ia pegar o trem e partir para Liverpool. Ao menos uma
coisa boa. Ouvi batidas na porta. Abri e era Edmund, trazendo uma bandeja
contendo um suco de laranja e sanduíche.
-- Eu fiquei preocupado. – Ele disse, entrando e colocando na mesa a
bandeja. – Aconteceu algo?
-- Saudade da minha mãe. – Menti. Odiaria contar ao Ed sobre eu e Mari
e principalmente por ser enganada por ela. – Não há de ser nada. Amanhã vou
pegar o trem pra Liverpool.
-- Você não gostou de ficar aqui?
-- Não é isso. – Tentei contornar e sorri. – Sou eu. Adorei conhecer
todos vocês. De verdade. Mas combinei que ficaria aqui uma semana.
-- Então por que não fica mais uma semana? – Ele também sorria. – Ou
melhor, um mês. As férias das universidades duram dois meses. No mês que vem,
aí você volta para Liverpool. Por favor, fica, Rosie.
Odiava essa insistência e falei:
-- Ok, eu fico.
Comi um pouco do sanduíche e bebi o suco. Agora só restava esperar a
noite de dormir. Fiquei lendo o livro infanto juvenil da minha amiga, Suzan
Hardison, chamado As Aventuras de Johnny
Finn. Enquanto lia, Marianne apareceu no quarto, sorridente e retirando a
roupa.
-- Oi, cabelos de fogo. – Ela tentou me beijar e eu recusei. – O que
foi?
-- Nada! – Respondi secamente. – Estou lendo.
Mari tirou meu livro das minhas mãos e eu fiquei de braços cruzados,
séria.
-- Quem é essa tal de Anastacia? – Questionei.
-- Errr...
-- Você disse que nunca conheceu alguém. – Comecei a chorar. --Você
está mentindo pra mim e eu fui mesmo uma burra em acreditar em você. Acabei dizendo
pro seu irmão que ficaria 1 mês aqui. Mas acho que vou embora amanhã.
-- Quando viajei pra Londres no verão passado, conheci Anastácia e
suas amigas, fiquei na casa dela e do irmão, acabei ficando com ambos. –
Marianne justificava e chorava. -- Mantivemos
contato por carta, mas hoje conheci sua nova amada. Aquele beijo que você viu
foi o último que dei nela. Se quiser ver as cartas eu te mostro. Não tenho mais
nada com ela, é sério, hoje foi só um adeus e sobre não ter conhecido ninguém
na faculdade que me encantasse é verdade. Você foi a única Rosie por favor, me
perdoe e fique comigo.
-- Amanhã de manhã pegarei o primeiro trem para Liverpool. – Me
levantei para ir para a porta mas Marianne me parou e trancou. – Saia!
-- Não! -- Ela me prensou.
-- Saia de cima de mim!
-- Você vai me escutar! Eu sei que eu errei, eu sei que eu sou uma
filha da puta, uma desgraçada, mas, por favor, me perdoe e fique. Pelo o que
tivermos e o que vamos ter. Você é o meu hoje, meu passado, meu futuro, o meu
mundo eu amo você.
Não respondi nada e fui dormir. Não a toquei e rejeitei seus toques.
Mas a noite eu não resisti. E isso foi meu pior erro. Quem me garante que ela
não esteja sofrendo por essa tal de Ana e agora faz amor comigo pensando que eu
sou ela?
Quando amanheceu, me soltei dos braços de Marianne e peguei a chave
que ela deixou na mesa. Abri com cuidado a porta e peguei minha mala. Por
sorte, ninguém me viu e a porta estava aberta. E o universo conspira ao meu
favor. Embarquei num táxi e cheguei rápido na estação. Embarquei no trem rumo a
Liverpool. E só esperei.
Peguei um livro na mochila e comecei a ler. Ouvi umas risadas na outra
cabine. Sai um pouco e advinha o que vejo? Estavam ali ao lado as jornalistas
da revista Rolling Stone e uma delas é... Anastacia! Então a russa é da equipe
delas?
Voltei para minha cabine, indignada. Liguei o rádio e aumentei o
volume, para não ouvir aquelas risadas. Faltava poucos minutos para o trem sair
da estação e alguém entrou na minha cabine.
-- Você! – Era Edmund, usando um abrigo, tênis e um blusão da Adidas.
-- Enquanto corria te vi indo embora e entrei em casa peguei meu carro
e minha carteira. E te segui.
-- Vai embora. Eu preciso voltar para Liverpool. Minha mãe precisa de
mim! – Enrolei Edmund, mas não adiantou.
-- Eu sei o que aconteceu. Marianne me contou, ela me contou tudo e
está no carro, me esperando inclusive.
-- Odeio esses comunistas. – Suspirei pesadamente e lancei um olhar
para a cabine ao lado, com as garotas e “Ana”. -- Olha, não me interessa mais. Eu já paguei
minha passagem, eu dei para o bilheteiro e agora quero ficar na cabine em paz,
esperando parar na estação de Mersey e se Marianne tem ainda amor por mim, ela
deve respeitar minha decisão.
Ed me mostrou o bilhete.
-- Vou com você pra Liverpool. Teremos bastante tempo para conversar.
-- Tudo bem. – Dei de ombros e me ajeitei. – Mas não quero ouvir mais
nada sobre Marianne e aquela mulher, que inclusive está no vagão ao lado do
meu.
-- Quero ficar com você e além do mais o The Who está na outra cabine
com elas. – Ed apontou o vagão e vi quatro rapazes entrando. Era mesmo o grupo.
-- Que pena! – Ironizei e ainda armei uma mentira.-- Achei que quisesse
já que a Mari me falou que você pegou a Ana num menage a trois.
-- Já fiz um menage com ela e com irmão dela na faculdade mas isso já
faz um tempo.
O que é pior? Ver sua amada beijando outra e dias antes dizer que te
amava ou saber que a pegadinha que inventou pra enganar Edmund é verdade?
-- Eu tava jogando verde. – Admiti. --E agora eu quero que saia do meu
vagão!
-- Não! Sério, eu fiquei com irmão dela e fica difícil porque eu
bilhete é dessa cabine. – Ele mostrou o bilhete.
-- FORA BASTARDO! – Peguei Edmund pelo colarinho mas ele é forte
demais.
-- Não vai me tirar daqui eu vou ficar! Me conta o que aconteceu.
Quero saber o seu lado da história e sei que você viu ela beijando a Anastácia.
Mari me contou e que está querendo matá-la. Acredite, ela apanhou hoje de manhã.
-- Por que? – Me espantei. Será que ele soube da bissexualidade da
Mari?
-- Papai bateu na Mari porque ele soube que ela beijou o Christopher o
comunista. Se isso te serve de consolo ela está com dois olhos roxos mas queria
te dizer,ela te ama de verdade.
Já vi muitos pais baterem nos filhos por conta de mal criação e
assuntos mais relevantes mas isso? Por conta de política? Minha mãe nunca seria
capaz disso e nem com a Vivian.
-- Seu pai bateu nela por que ela beijou um...comunista? – Ainda não
acredito nisso.
-- Sim, assim...ele não é comunista,o pai dele é e meu pai não gosta
dos russos. Mari falou que havia beijado o Chris e aí ele socou os dois olhos
dela. Talvez ela apanhe mais quando chegar em casa, hoje não vou poder defender
ela.
--E porque está perdendo tempo comigo? Faltam cinco minutos pra esse
trem sair. Vai lá e proteja sua irmã! – Incentivei Ed.
-- Já disse que vou com você serei seu companheiro de viagem.
-- E vai deixar sua irmã sendo esfolada viva por seu pai
intolerante? Se fosse por conta da
sexualidade eu entenderia.
Ed se calou. Algo me diz que ele também está jogando verde.
A vontade que tinha era de entrar naquela outra cabine e jogar na cara
da tal Ana que ela é uma comunista enganadora e sem coração e que por causa
dela e do irmão Marianne vai ser espancada até dizer chega pelo pai.
Definitivamente, eu fui enganada por ela e agora... está pagando por isso.
Faltavam poucos minutos para o trem sair e eu peguei minha mochila e minha mala
e disse:
-- Vamos pra sua casa. Mas ficarei até terça-feira!
Edmund e eu saímos da cabine mas antes eu cruzei ali onde estavam as
garotas da Rolling Stone. Abri a portinha e encarei todas. Felicity McGold, uma
das garotas que me dou bem, sorriu para
mim.
-- Oi, Rosie!
-- Oi, Felicity. – Eu a detive.
– Por favor, não saia da sua cadeira. Meu assunto aqui é com a “Anastacia”!.
Os olhares se voltaram para ela e instaurou um silencio.
-- Estou aqui para dizer que estou saindo do trem e agradecer você por
me separar da Marianne Jones. Eu vi vocês ontem no café. Mari contou toda a
verdade mas não acredito nela. Então, agradeço por isso. Vocês podem ficar
juntas. E grito para todos o quanto o comunismo vai dominar graças a você, sua
comunista maldita!
E saí do trem, sem que alguém me mandasse. O que não contava era que
os passageiros reagissem negativamente.
Nora POV
Já vi Rosie sendo negativa com Marie e desta vez a atenção voltou para
Ana. Ela se calou e quando Fefe ia fechar a porta da cabine, um passageiro nos
abordou:
-- Com licença, moça, você é comunista?
-- Eu não sou. – Respondeu Felicity.
-- Eu perguntei para aquela ali. – Apontando para Ana.
-- Bem... Eu.. – Ana não terminou de responder, pois o tal individuo
pegou o livro das mãos dela, chamado Ganhando
meu pão de Maximo Gorki.
-- Comunista! Sua stalinista! vou chamar o policial daqui pra te tirar
daqui e te mandar pra cadeia que é o seu lugar! – Berrou o passageiro.
E pra piorar, Rosie gritou para todo trem.
-- TEM UMA COMUNISTA NESTE TREM, NA CABINE 32!
E todos nos hostilizaram, mesmo sabendo que isso tudo é pra Ana.
-- Não estamos mais seguros com esses comunas! – Disse uma senhora,
abraçando o filho.
-- Porque não cuidam de suas vidas? Nos deixem em paz! – Fefe defendeu
Ana e expulsou o passageiro da nossa cabine.
-- Esses comunistas vão dominar o mundo e comer nossas crianças no
café da manhã! – Disse um senhor de idade, segurando a bengala e jogando contra
Fefe, atingindo no braço.
-- Senhorita, deve se retirar desse trem agora! – Ordenou o
bilheteiro, aparecendo na nossa cabine e contendo a multidão revoltada.
-- Por favor senhor, estou viajando a trabalho, sou jornalista. – Ana
mostrou as credenciais e mesmo assim não deu em nada. Pelo contrário,
por um detalhe tolo, ela usava um vestido cor de vinho, o que contribuiu para a
revolta.
-- Essa desvirtuada está querendo fazer uma revolução no trem! –
Gritou um passageiro.
-- Ela vai aliciar nossas filhas!
-- Deve ser uma prostituta mandada para nos espionar!
Ana tentava argumentar mas era impossível. Fefe e eu falamos.
-- Escuta, senhor. Não vejo motivo algum para Anastacia ser expulsa.
-- Ela é uma jornalista, não política ou espiã. – Eu disse.
-- E outra coisa. Se expulsar nossa amiga, nos expulse também! – Disse
Marie.
Foi uma péssima fala, Marie, eu pensei.
-- Fora daqui! – O bilheteiro agora nos xingava e nos expulsava. --Fora
todas vocês!
-- Comunistas! – Berravam todos os passageiros. --Suas putas! Vão pra
Cuba!
Felicity socou o bilheteiro e mais dois guardas nos tiraram a força do
trem, juntamente com nossas malas. Alguns passageiros até cuspiram na cara de
Ana e Felicity e continuaram a nos ofender, mesmo estando na estação.
-- ESTÃO TERMINANTEMENTE PROIBIDAS DE EMBARCAR NESTA ESTAÇÃO!
Assim que o trem foi embora, fomos para um café. Ana chorava e era
consolada por Marie. Nora e eu fomos ao banheiro. Me lavei e voltei junto com
ela para a mesa.
-- Eu juro, Nora. Se não fosse o trabalho de cobrir o show, eu não colocaria mais os pés aqui. Nesta
cidade imunda infernal! – Fefe bateu a mão na mesa, despertando atenção.
-- Tenha calma Fefe, eles que são muito conservadoras. – Falei,
abraçando minha tigresa.
-- Ligou para os seus pais, Ana? Ou pro Enty? – Perguntou Marie.
-- Acho bem viável ligar pra Chel
ou pro Floyd. Ele deve estar aqui. – Felicity acreditava que Chel ou
Floyd O’Malley estivessem em Liverpool.
-- Meus pais estão longe daqui, Chelsea e Floyd estão na França. Enty
está no país de Gales pros shows a única pessoa que está mais próxima é o Eric.
-- Mas Ana... o Clapton é namorado da Rosie. E convenhamos, ela não
vai gostar de saber disso. – Fiquei seriamente com medo da ruiva outra vez
cismar com ela.
-- Ou ele ou Brian Jones os Stones estão em Manchester.
-- Ok, liga pro Clapton. Depois a gente pensa sobre o que fazer com a
Rosie. – Resignou-se Fefe.
Cerca de uma hora depois, Eric Clapton aparece. Explicamos tudo o que
aconteceu e mesmo assim nos prestou ajuda. No carro, Ana pediu:
-- Não conte para Rosie sobre estar nos ajudando.
-- Por que? Ela está brava por nossa causa?
-- Ela sabe sobre nós?
-- Sim. – Ele confirmou. – Ela aceita isso.
-- Mas, é sobre outra coisa.
Ana explicou ao Clapton sobre seu romance com Marianne e o fato de
Rosie ter descoberto tudo.
-- Bom, então, isso significa uma coisa. – Ele suspirou e disse. – Ela
vai me odiar também, principalmente por que vou terminar com ela mas não por
esse motivo. E sim... Porque conheci outra.
Fiquei chocada. Prevejo muitas coisas ali...
Rosie POV
Quando vi Marianne daquele jeito parecia que acertaram-me com uma
pedra no peito. Chegamos na casa dos Jones em pouco tempo e lá encontramos
Marianne, com os olhos roxos mesmo, os dois olhos, o maxilar com hematomas,
lacrimejando e segurando bolsas de pedras de gelo.
-- Oi, Rosie. – Ela tentou sorrir mas doía o rosto. – Que bom que voltou.
-- Minha nossa! – Ajudei-a nos curativos. – O que houve?
Neste momento, o pai de Mari chegou em casa, trazendo várias sacolas
com compras e encarou Mari.
-- Isso que dá se meter com comunistas, menina. – Ele me olhava, bem
ameaçador. -- Eu aviso sempre Edmund pra não manter contato com aquelas pessoas
mas ele não me escuta!
-- Marianne nos contou que saiu ontem pra ver aquele rapaz,
Christopher Romanov. – Justificou Helen, a mãe. -- E bem,Thomas descobriu e
Marianne acabou apanhando.
Notei que Edmund ficou quieto e obviamente não gostou do que o pai
falou. Ele seguiu para a cozinha e serviu um copo d’água pra mim e pra Mari.
Questionei baixinho.
-- Você contou sobre nós?
-- Não. – Ela responde com dificuldade. --Disse que você abomina meu
beijo com Christopher por ele ser filho de um russo que papai odeia e por isso
você foi embora
mas se falasse sobre nós duas, eu claramente estaria a sete palmos do
chão.
-- Papai tem que se entender com Alexei Romanov ou essa guerra irá
piorar. – Disse Edmund, preocupado.
-- Eu não aprovo por querer me proteger. Mas quem deveria ter apanhado
era a Ana e não você eu...—Por dentro espumava de raiva daquela russa. --A
chamei de comunista hoje no trem.
-- Você fez o que? – Mari abriu os olhos.
-- Eu gritei pra todos os
passageiros que Anastacia é comuna!
-- Ela foi presa? Bateram nela?
-- Não sabemos,telefonarei a Londres pra saber. – Edmund se
prontificou na hora.
-- Espero que ela morra! – Expressei minha raiva.
-- Estou com tanta dor que não consigo ter reação. Achou que vou me
deitar. Ed se você quiser ficar com o meu quarto fique a vontade, vou estar no
quarto da Olívia e
Rosie, minha mãe preparou o quarto do Ed pra você se não se importar
de dormir perto da bandeira do West Ham é claro.
Mari saiu caminhando no corredor, quase mancando.
-- Está vendo? – Me irritei para Edmund e ele me olhava -- Onde está o
tal amor que ela tem por mim, se ela se importa com aquela coisa esquisita
comunista? Edmund, Marianne me enganou legal. E eu cai feito patinha nesta
história.
O que não sabia era que Mari voltou pra sala, trazendo um cesto cheio
de margaridas e ela sabe que além das rosas, gosto de margaridas.
-- Eu as colhi depois que papai me bateu por favor me desculpe.
Aí notei que o nariz de Marianne sangrou e rapidamente Edmund e eu a
socorremos, deixamos sentada na cadeira e com a cabeça inclinada pra trás, numa
forma de estancar a hemorragia nasal.
-- Obrigada, meus amores... – Ela segurou minha mão e a de Edmund. –
Está ficando tudo escuro... Acho que vou...
Ela desmaiou e Edmund a levou pro quarto de Olivia. Cuidei durante
todo tempo. Mari adormeceu mesmo e eu fui pro quarto de Edmund. Não achei justo
que ele fique na sala e então esperei os pais irem pro quarto e eu fui pra
sala.
-- Edmund! – Chamei-o. Ed lia um livro de Albert Camus. – Edmund.
-- Ah, Rosie. – Ele guardou o livro. – Aconteceu algo?
-- Quer dormir no quarto? – Convidei-o. – É que me sinto insegura e
desconfortável pelo fato de você ter cedido seu quarto pra mim. Por favor?
-- Aceito se não houver objeções.
Então deitamos na cama de solteiro, de conchinha. E o braço forte e
musculoso de Edmund transmitia uma proteção sem igual. Quando chegou
segunda-feira ficamos normais. Marianne se recuperava aos poucos. Mas nossa
relação não era a mesma. Conversava com ela aos poucos contudo logo parávamos
de falar. Posso jurar que se não fosse os hematomas, ela me xingaria por ter
feito isso. E apesar da culpa, não me arrependi de ter feito isso. Recebi uma
ligação de Ginger Baker, avisando que em pouco tempo a turnê vai acabar e irá
cruzar em Shefield.
E na terça eu esperei o trem para Liverpool. Antes disso, eu deixei
uma coroa de margaridas que Marianne havia colhido pra mim no quarto dela e um
bilhete escrito “Me desculpe”. Edmund me
levou lá.
-- Por que você já vai? – Perguntou. – Nós nem saímos.
-- Provoquei muitos problemas. Eu quero ficar um pouco quieta. Preciso
definir sobre minha vida, meu namorado, estudos e o trabalho. – Respondi.
Percebi o quanto Edmund ficou decepcionado mas depois...
-- Tudo bem,mas antes de você ir queria lhe dar isso...
Ele me beijou, de uma forma que nunca fui beijada. Era quente,
delicioso e tudo de bom. A língua dele, tão atrevida ao mesmo tempo me seduzia
e eu adorava mais aquele beijo. Tanto que me fez derrubar a mala, o que me fez
desmanchar o ósculo.
-- Me passe seu endereço...quero escrever pra você, ruiva, que me faz
lembrar o Hemingway.
Peguei na mochila meu bloco de anotações e a caneta, escrevi meu
endereço e telefone da casa da minha mãe.
-- Aqui! – Entreguei o pedaço anotado de papel. – Me dê noticias da
Marianne também.
Neste momento meu trem apareceu e embarquei. Horas depois pisei em
solo liverpooliano e bateu aquela nostalgia. Os tempos da beatlemania, a
amizade longa data com Jane e Suzan, as loucuras. E também a saudade de minha
mãe e minha irmã. Estar em casa é maravilhoso. Passei o resto do mês em Liverpool
e foi na sexta que recebi a visita de Eric Clapton.
-- Eric! – Me surpreendi quando o vi na minha porta e o abracei. –
Saudades, meu amor.
-- Rosie, nesses anos que ficamos juntos,te amei muito. – Ele parecia
nervoso. -- Mas ultimamente tenho te dizer que não nos amamos mais. Não temos
aquele tesão mais
somos como amigos e estou apaixonado por outra pessoa.
-- Está terminando comigo porque maltratei a Ana em pleno trem? – Eu
chorei e me senti destruída. -- E quem é ela?
-- Ela é uma japonesa. O nome dela é Nami.
Vou me lembrar desse
nome pra quando eu a encontrar, vou matá-la como farei com Ana, pensei comigo mesma.
-- E sim, fiquei chateado com o que você fez com a Ana. Está certo que
ela também errou com você, mas no tempos que vivemos ela podia ser presa.
-- E qual o problema nisso? – Falei, de raiva. – Ela merece ser presa.
Comunistas degenerados que só vieram pra contaminar o país. E vou te falar,
Eric, eu não me arrependo nem um pouco e se pudesse, eu faria de novo e dez
vezes pior! Mas afinal, por que estou chorando agora? Eu devia ficar feliz
porque terminou comigo. E agora neste momento, me sinto bem em me livrar de
você e ainda pra dizer umas coisas. Que primeiro eu te traí com o jogador do
Manchester United chamado George Best e devo confessar que ele é bom de cama.
Ele me satisfaz, muito melhor que você, babaca! Você vai se arrepender de ter
me trocado por uma japinha qualquer, Clapton e quando esse dia chegar, eu vou
jogar tudo isso que disse na sua cara suja! Agora saia daqui! FORA, BASTARDO!
Ele foi embora, chocado. E eu parei de chorar no mesmo instante. Me
senti estranhamente feliz. Telefonei para Jane e falei as fofocas. Rimos
juntas. Contudo, ficou um vazio. Nada era como antes. E eu sentia falta de
Marianne e estava preocupada com ela. Mamãe continuava a mesma e Vivian curtia
suas férias escolares ao mesmo tempo planejava ir ao acampamento da escola com
Sanae em Dover.
Quando entrou o segundo mês de férias retornei para Oxford a pedido de
Benson. Neste retorno apenas Mike estava na república e ajudei na limpeza do
apartamento e dos quartos.
-- Ei, eu fiquei sabendo que na estação de trem de Shefield uma
jornalista da Rolling Stone foi acusada de ser comunista. – Comentou Mike
enquanto lavava o banheiro e eu limpava o chão.
-- Mesmo? – Embora eu já saiba quem seja. – E quem era?
-- Anastacia Rosely.
Disfarcei o sorriso de satisfação e depois Mike disse.
-- Também soube que o reitor vai colocar policiais na entrada da
universidade.
-- Mas por que isso? Está havendo muitos assaltos?
-- Ele andou recebendo denúncias que há alunos que são... sodomitas e
lésbicas. E também bissexuais.
Agora isso tirou meu sorriso. Fiquei pensando: e se descobrirem sobre
eu e Marianne? Não quero que ela seja presa e eu menos ainda. Fiquei em silencio
depois desta conversa. Dias depois eu fui na agência e encontrei o Sr. Benson
conversando uma moça loira, alta e bem vestida. Gostei muito dela.
-- Ah, graças a Deus que está aqui, Rosie. – Ele me puxou para a sala
e fez as apresentações. – Rosie, esta é Chelsea O’Malley, estilista que
precisará dos nossos serviços.
-- Olá, miss O’Malley! – Apertei a mão dela tão suave.
-- Olá, Rosie. – Ela retribuiu e confesso que gostei do sorriso dela.
O plano de Benson era simples. O desfile de moda aconteceria no sábado
e as roupas de Chelsea estavam metade prontas e a outra parte em andamento. Além de
ajudar nas preparações, meu chefe sugeriu para ela me colocar na staff. Ou
seja, eu ia costurar. E até vai ser bom pra mim, vou poder por em prática tudo
aquilo que dona Helen Jones me ensinou.
Comecei no outro dia a trabalhar e foi incansável. Me virava de tudo
quanto é jeito. A própria Chelsea as vezes me pedia para descansar mas não
parava. Uma noite eu fiquei costurando umas roupas defeituosas e ela apareceu,
me trazendo uma xícara de café.
-- Tome! – Me oferecendo. – Vai precisar de energia.
-- Obrigada. – Bebi um pouco e voltei a costurar na máquina.
-- Sabe, nunca paramos para conversar sobre coisas amenas...
-- Esse desfile tem tomado bastante do nosso tempo. – Eu comentei.
-- Sim...e você é daqui? Você faz faculdade?
-- Liverpool. Eu estudo História em Oxford. Ao mesmo tempo
trabalho na agência, eu gosto do que faço.
-- Eu me formei em história da arte antes de ir estudar moda em Paris.
Entre uma conversa e outra, não vimos o tempo passar e rolou um beijo.
Apenas um beijo.
-- Desculpa, Miss O’Malley. Acho melhor eu ir embora.
Sai dali tão rápido que chega a me doer. E quando entrei na república,
encontrei Marianne, na sala. Chorando.
-- Ah, Marianne... – Não reagi mais que isso. – Você veio. Seu pai não
te bateu de novo, é?
Marianne saiu do sofá e me abraçou. Como ela chorava, meu deus!
-- Hoje quando cheguei no apartamento, eu fui levar o lixo pra rua e
encontrei algo. Um cadáver de um menino. Ele... é nosso vizinho ao lado. Foi
horrível!
Imaginei o quão foi traumático para Marianne. Eu a consolei, fiz um
chá e conversamos. Mari contou que seu pai andava furioso demais, aparente sem
motivo. Ela acreditava que estivesse cismado com que ela havia dito sobre Chris
e o falso beijo para me proteger. Durante a semana toda fiquei trabalhando
bastante, seja na agência, seja no desfile de Chelsea. Só rolava uns beijos e
nada mais. Mas ainda quero conquistá-la. No penúltimo dia, fui pegar umas roupas
para bordar rapidamente e encontrei Chelsea conversando com uma pessoa. Me
aproximei mas não conseguia ver quem era por conta da altura dela. Decidi ir
até lá.
-- Chelsea, me diz qual destas roupas eu devo bordar? – Mal terminei
de perguntar e vi claramente quem é. Anastacia. – Você?
-- Rosie, esta é... – Chelsea apresentou-me Ana mas não deixei.
-- Eu sei quem é. A jornalista Anastacia. – Segurei muito a vontade de
gritar pra todos que ela é comunista e outros adjetivos.
Ana me olhava num misto de medo e pena. E esse olhar... Ainda lembro
quando vi naquele dia no café em Shefield.
-- Por que vocês, russos não se contentaram com o leste europeu? China
e com Cuba? Por que querem roubar tudo de nós? Por que são tão horríveis? –
Expressei minha raiva entalada.
-- Foi você que chamou a Ana de comunista no trem? – Perguntou
Chelsea, abismada.
-- Fui eu e ela merecia. Depois do que ela me fez, ela mereceu tudo o
que passou. – Solucei e chorei mais ainda. --
Desculpa, Chelsea... Desculpa...
Me retirei dali e me entreguei a tudo. Minutos depois vi Ana saindo,
muito triste. Chelsea se aproximou de mim.
-- Calma. – Ela me deu um lenço. – Eu não vou te repreender. Mas bem
que queria. Ana me contou tudo. Agora me conte sua versão.
-- Estava em Shefield mês passado na casa dos pais de Marianne Jones.
Fiquei uma semana lá. No sábado eu vi Mari saindo de casa e indo se encontrar
no café com alguém. Eu a segui e a vi beijando a Ana. Antes disso tudo, eu já
ouvi falar dela através de Eric Clapton, o guitarrista. Ele é agora meu
ex-namorado. Não chamei Ana de comunista pra culpá-la pelo fim do namoro com
Clapton. Eu a culpo por tirar a Marianne de mim. Contudo, ela também tem culpa
por ter mentido pra mim e me enganado, dizendo aquela ladainha de que eu a impressionei
na faculdade e não ficou com ninguém desde então. Perdoe-me, Chelsea.
-- Entendi agora... – Ela disse, impressionada. -- Ana está indo pra
casa dos meus pais em
Cambrigde. Férias
compulsórias. Reviraram a casa dela e aí ela terá de se esconder. Os
conservadores querem o couro dela.
-- Por que ajuda ela, Chelsea? Eu
te amo, mas acho que depois disso... você nem quer olhar na minha cara.
-- Rosie, eu gosto de você, te acho uma pessoa incrível e maravilhosa!
Mas não acho que você me ame, você gosta de mim. Quem você ama mesmo é a
Marianne. Ela te completa, ela é a sua alma gêmea. Amo Ana porque ela me
completa, ela me entende e me compreende.
-- Você não entendeu o que contei? – Me exaltei mais por ciúme. -- Marianne
me enganou. Mentiu pra mim. Eu não a amo mais. Eu tentei te conquistar, te
impressionar. Ana é uma sonsa! Ela não sabe de nada. Eu sim. Me dá uma
chance... Por favor... Eu posso ser melhor que a Ana. Por favor...
Chelsea se calou mas me olhava por pena. E esse silêncio era a
resposta. Fui embora sem me despedir e voltei pro apartamento e me tranquei no
quarto. Surtei de raiva, jogava as coisas contra a parede e exclamava mil
palavrões contra Ana.
-- COMUNISTA MALDITA! PUTA! SONSA IMUNDA! – Arremessei o caderno de
poesias eróticas de John Lennon e o livro A
Spaniard In The Works.
Soquei a parede repetidas vezes a ponto de sangrar os punhos. Ouvi
batidas na porta. Eram o pessoal da república e até mesmo Marianne. Não recebi
ninguém. No outro dia sai do quarto mas para pegar o kit primeiros socorros e
cuidar das minhas mãos. Tive muitas dificuldades em cuidar dos ferimentos. Foi
aí que Marianne apareceu e cuidou disso em mim. Não falei nada.
-- Pronto! – Ela terminou de enfaixar meus punhos e sorriu. – O que
aconteceu ontem? Todos ficaram assustados.
-- A minha vontade é socar esse lindo rostinho que você tem e depois
te encher de beijo. – Respondi.
-- A primeira opção você não tem condições com essas mãos. Mas a
segunda... eu aceito.
Nos olhamos por um tempo e agarrei Marianne e a beijei. Bejiei muito
forte. Chelsea tinha razão. Eu amo Marianne e ela me completa. Fizemos amor no
quarto dela.
-- Eu a odeio mas também te amo. Por que isso, Marianne?
-- Eu realmente não sei, meu bem. Mas amo você mais do que tudo.
Passei o resto das férias em Oxford. Não conversei com Chelsea e acho que ela
tenha me esquecido. Não me importei. Na volta às aulas todos ficaram na porta
de entrada, esperando se abrirem. Percebi que duas viaturas da polícia pararam
em frente a faculdade e desembarcaram os oficiais. O reitor os recebeu bem e
depois de uma rápida conversa, apontaram em minha direção. O oficial e o
restante o seguiu e realmente na minha direção.
-- Roselyn Anne Donovan?
-- Sou eu.
-- Sou Andrew Marks, chefe de polícia. Você está presa!
De repente dois policias agarraram meus braços e deixaram atrás, me
algemando.
-- EU NÃO FIZ NADA! – Gritei para todos. – ME SOLTEM! BASTARDOS!
MALDITOS! ME SOLTEM!
Marianne correu até mim, socando um dos guardas mas foi empurrada. Os
outros alunos tentaram me salvar e outros brigavam com o reitor. Embarquei na
viatura, chorando desesperada. Pensei por um momento que tenha sido Chelsea,
pra se vingar de mim por ter causado estrago na vida de Anastacia. Se for ela,
nunca a perdoarei e muito menos aquela russa.
Marianne POV
Ainda não acredito que Rosie foi presa. Por um momento achei que fosse
por conta do problema com Ana, pois só assim para ela ter sido denunciada e
acusada. Contudo descartei a idéia de que ela tenha feito isso mas a amante,
Chelsea O’Malley pode ter feito em vingança. Chorei tanto naquele dia e liguei para
Ana.
-- Alô?
-- Ana, sou eu. – solucei demais por conta das lágrimas. – Aconteceu algo
horrível. É a Rosie... Ela... Ela...
-- Marianne, calma. Ela bateu em você? Te xingou? O que ela fez?
-- ELA FOI PRESA! – berrei em alto em bom som sem me importar se meus
colegas de quarto ouvissem. – Ana, seja sincera comigo. Pelo amor que tivemos
no passado. Você ou a Chelsea denunciaram Rosie?
-- Não! – Ana se horrorizou tanto quanto eu. -- Jamais faríamos tal
atrocidade, mesmo ela me odiando. Passei o dia com Chelsea. Entenda não fomos
nós.
Meu desespero que era grande, agora ficou pior. Embora tranqüila por
saber que Ana e Chelsea não terem sido as responsáveis, eu descobri quem foi e
da pior maneira possível. Aconteceu quinze dias depois após a prisão de Rosie.
Nestes dias a universidade protestou contra o reitor e decretou greve. Usamos a
imprensa para divulgar nosso manifesto para libertar Rosie.
Num sábado a tarde, telefonei para meus pais e Edmund atendeu. Ele
contou tudo.
-- Eu não acredito... EU NÃO ACREDITO! – Ele se irritou. – Mari, ouça
o que tenho a dizer. Foi o papai. Ele encontrou seus cadernos contendo...
Coisas que você e Rosie fazem. Depois disso ligou para o reitor, pedindo que
ela fosse presa. Você podia ter ido para a cadeia, se papai não pedisse para
ele não te envolver e colocar Rosie como a ré disso tudo. Cara, como estou furioso!
-- Edmund... Eu sou a culpada.
-- Mari, o papai desta vez é o culpado. Ele te bateu por conta da
mentira que você inventou para proteger Rosie, agora ele sabe sobre o romance
de vocês. E pra piorar, Olivia contou também que dormia com garotas por muitos
anos e bateu nela. Ela ficou tão furiosa que jurou nunca mais pisar aqui em
casa, nem quando tiver filhos. Mamãe está chocada, os gêmeos estão assustados e
eu... dei um soco no papai.
Fiquei mais espantada por ouvir esta última parte.
-- Ed...você...
-- Ele me mandou ir embora de casa. Mamãe só chora e eu estou indo aí
pra Oxford. Quero ficar perto de você e da Rosie.
-- Tudo bem. Edmund me ajuda. Rosie... Ela está lá, naquele lugar,
sabe Deus o que acontece mas... Eu... Tenho medo.
-- Fica calma. Eu falei disso pro tio Oscar. Ele vai para Oxford e
defender Rosie. Vai dar tudo certo.
-- Sim. Obrigada, meu irmão.
Quando desliguei o telefone, bateram na porta do meu quarto. Era Mike.
-- Oi, Mike.
-- Marianne, podemos conversar?
A conversa não era tecnicamente com Mike e sim... com todos da república.
E me olhavam torto e ódio.
-- Marianne, é meio tenso o que temos para falar. Mas o real motivo é
sobre Rosie.
Continuei ouvir o que o pessoal dizia.
-- Estamos bem zangados com que esse reitor preconceituoso e fascista
fez. Olha, todos nós entendemos o que se passava entre você e a Rosie e nunca
fizemos nada, até porque há pessoas como vocês, que amam também pessoas do
mesmo sexo. Nunca aprovamos essa lei idiota.
-- Mike! – Cortei. – Seja mais direto!
-- QUER QUE SEJAMOS DIRETOS, ENTÃO VAMOS FALAR, VADIA! – Xingou Maggie,
a intercambista. – O REITOR NOS FALOU QUE FOI SEU PAI QUEM DENUNCIOU ROSIE!
-- Você deveria ter ido presa mas o papai te livrou dessa mas fodeu
legal a ruiva! – Peter expressou seu ódio.
-- Então nós votamos aqui, para que você saia deste apartamento! –
Mary foi a última que disse.
-- Hey! – Mike se defendeu. – EU NÃO VOTEI PARA MARIANNE SAIR. ELA NÃO
MERECE ISSO!
--Mas se esqueceu que aqui funciona na democracia? – Debochou Jane. –
Ou seja, o maior número de votos ganha e a aprovação da Marianne sair ganhou.
Não pode ser verdade. Eu, expulsa do apartamento? Por causa do que meu
pai fez?
-- Ah, Marianne, mais um motivo pra você sair daqui. – Completou Peter.
– Nós sabemos que você teve um caso com a jornalista russa Anastacia Rosely.
-- Que baixeza! Acho que no fundo nunca amou Rosie. Só usou ela
enquanto você preferia se deitar com uma piranha comunista!
-- CALEM A BOCA, BABACAS! – Exclamei de raiva. – TROUXAS, IDIOTAS E
TAPADOS! VOCÊS, QUE TANTO JULGAM LUTAR PELA LIBERDADE, AGORA AGEM COMO IDIOTAS
QUE SOFRERAM LAVAGEM CEREBRAL! NÃO APRENDERAM NADA! SIM, EU ADMITO QUE TRAÍ
ROSIE MAS FUI PERDOADA E NÃO ESTOU MAIS COM ANA!
-- Mas isso não é o bastante! SAIA DAQUI, MARIANNE VERONICA JONES OU
ENTÃO VAMOS CHAMAR A POLICIA E TE DENUNCIAR TAMBÉM!
Todos ficaram contra mim, menos Mike. Arrumei minhas coisas com a
ajuda dele. Mike não foi expulso contudo ele também aprontou suas malas.
-- Você pode ficar, Mike. Só essa vagabunda comunista deve ir embora!
-- Não fico num lugar onde todos são intolerantes! – Ele pegou minha
mala. – Vamos, Marianne. Eu te ajudo.
-- Boa sorte pra vocês, perdedores!
Mike e eu seguimos para a casa de um professor chamado Berthold
Dameron, do curso de Filosofia. Ele é um professor muito legal e gentil e
conhecido por manter um apartamento duplex, onde ele utiliza pra acolher alunos
que não tem para onde ir. Bati na porta e ele nos atendeu.
-- Marianne, Mike! O que aconteceu?
-- Professor, fomos expulsos do apartamento. – Justificou Mike. – O pessoal
acusou Marianne por ter sido a responsável por Rosie Donovan ter ido presa.
-- E foi você mesmo? – Indagou o professor, espantado.
-- Foi meu pai. Mas eu juro que não tive nada a ver com isso. Meu
pai... abomina minha relação com Rosie.
Mike e eu fomos acolhidos e telefonei para Edmund. Agora era só
aguardar meu irmão aparecer e resolvermos a situação de Rosie o quanto antes...
Continua...