Olá pessoal!
Feliz Páscoa, uma boa noite e fiquem com mais um episódio da comédia dos ursos. Boa leitura!
Episódio 3: A operadora 20-01
Nash foi o
primeiro a se levantar e acordou Bond. Na vez de Gerd, apenas abriu a porta e
viu seu colega sem roupa e com a vizinha bissexual Alice. Ela também está nua e
apenas um lençol cobria da cintura pra baixo. Se retirou logo, meio chocado e
rindo.
-- Gerd tirou
o atraso e você ainda não, Graham. – avisando Bond sobre sua condição.
-- Só
lembrando que não sou mais virgem. – disse o gordo fanático por misticismo e
terminando de servir o café. – Pelo menos eu beijei a mulher que tenho
interesse e você que nem pega resfriado.
Quando os
dois desviaram o olhar para a janela, avistaram Louise parada no portão do
condomínio. Estava bem arrumada, o cabelo solto, usando calça jeans e sapatos
rosa e uma blusa branca com listras. Bond pegou o celular e tirou várias fotos
dela até que um carro de modelo novo e preto estacionou em frente ao prédio.
-- Acho que
a vizinha chamou o Uber. – disse Bond.
-- Pelo
menos ela pode. – comentou o técnico de informática, também vendo tudo. – Aqui
são poucos os que usam esse recurso.
No entanto
o motorista do suposto Uber desembarcou do carro e agarrou forte Louise,
enchendo-a de beijos e apertando o bumbum dela. Os vizinhos barbudos estavam
boquiabertos.
-- E você
ainda insiste em dizer que é Uber? – ironizou Nash, chocado.
Neste
momento Alice saiu do quarto de Gerd e usando o vestido obtido no bingo, com
cabelo quase bagunçado e limpando a boca.
-- Bom dia,
rapazes. – saudou os dois, muito alegre. – Adorei o bingo.
-- Espera,
Alice! – Nash por ser mais direto, decidiu coletar a informação. – Queremos
saber de algo.
-- O quê?
-- Você
conhece o motorista de Uber que a Louise embarca? – perguntou sem cerimônia.
-- Uber?
Mas Louise não usa e nem eu.
-- Tem
certeza?
-- Tenho.
Bond mostra
as fotos e o vídeo de dez segundos gravado com a loirinha e o homem de terno
preto agarrando forte e a beijando bem sensual.
-- Ah, é o
italiano. – confirmou Alice.
--
Italiano? – se espantaram os dois.
Gerd que
havia se acordado, tomou o celular de Bond e viu as fotos.
-- É meu
iPhone, porra!
-- Quem é
ele, Alice? – o alemão se enervou vendo sua amada com outro.
-- O nome
dele é Facchetti. – Alice percebeu o leve interesse de Gerd em Louise e disse
mais coisas sobre o concorrente. – Ele é rico e sei pouco dele. Os dois têm um
rolê mas não é nada sério.
Nash e Bond
riram maliciosos.
-- A
vizinha lésbica já arrumou boas companhias.
-- O cara
deve enchê-la de presentes. – deduziu Bond.
-- Na
verdade ela recusa os presentes dele. Só quer sair com ele e sei o motivo.
Louise não sai com rapazes há tempos.
A reação de
Gerd foi positiva. Sempre pensou que Louise fosse o tipo de garota que não
namora e trepa com homem já bastante tempo. Na verdade ele a desejava mais do
que Alice.
-- Então
tenho chances!
-- Bem...
Pode ser. – pegando a bolsa e dando um beijo na bochecha de Gerd. – Me liga,
McDreamy.
Com a saída
de Alice, os dois lançaram um olhar reprovador em Gerd.
-- Você
transa a noite toda com a vizinha morena mas deseja a loira. – disse Bond.
-- É melhor
se decidir, alemão. Ou então vai perder a menina pro falso Uber.
-- Eu vou
me decidir. – respondeu Gerd, mesmo sem a menor ideia de como fará isso.
Nash olhou
para o relógio. Faltava uma hora e meia para ir pro trabalho.
-- Preciso
fazer uma ligação. – já tirando o telefone do gancho e falando direcionado a
Bond. – Porque uma certa pessoa pegou meu cartão de crédito e fez compras de
objetos de ocultismo na internet.
Bond sabia
que a indireta é pra ele.
-- É para
nosso benefício. – se defendeu. – Para nos proteger de energias negativas.
Nenhum
deles deu importância e Nash discou o número da central de atendimento do
London Bank, o banco nacional britânico onde tem conta corrente.
-- Você ligou
para Central de Atendimento Ao Cliente do London Bank. Digite o ramal
para ser atendido ou aguarde até que um dos nossos operadores lhe atenda.
Ele digitou
os números e escutou uma musiquinha irritante de espera.
-- Maldita
ura! – reclamou.
Mais alguns
segundos depois a música parou e uma voz linda e suave o atendeu.
-- London
Bank, bom dia! Sou a Operadora 20-01. Em que posso lhe ajudar?
Nash já
havia ligado outras vezes mas desta vez se apaixonou pela voz maravilhosa do
outro lado da linha.
-- Senhor?
-- Ah sim.
– acordando do sonho. – O meu nome.... É Graham Nash. Sou cliente de vocês.
Quero quitar minha fatura do cartão.
-- Diga seu
nome completo para procurar sua ficha no sistema.
-- Graham
William Nash.
Tudo que
ele ouviu foi vozes de outros operadores e o barulho do teclado de computador.
-- Sr.
Nash, verifiquei no sistema que sua conta está bloqueada. Sua dívida está em
torno de 250 libras. Com desconto, posso enviar um boleto de 145 libras com
vencimento para hoje. O senhor consegue efetuar o pagamento?
-- Claro.
Pode mandar.
-- O seu
email é graham.nash@yahoo.com ?
-- Correto.
Mais alguns
segundos depois a resposta.
-- Sr.
Nash, foi enviado a fatura do seu cartão por email em forma de pdf. Caso não
constar na caixa de entrada, verifique se não está no lixo eletrônico ou Spam.
Muitas vezes dependendo do email, reconhecem o endereço eletrônico do banco
como ameaça de vírus.
-- Sem
problemas e... – o mesmo segurava animação por estar conversando com a
atendente. – Sabia que escutar sua voz me alegra?
-- Como é?
-- É a
melhor hora do dia. Aliás... Vou começar a ligar pra você todos os dias,
operadora 20-01.
A jovem
segurou o riso e cortou a conversa.
-- Sr.
Nash, estou em período de trabalho. É proíbido manter conversa paralela com o
cliente.
-- É só
coisa rapidinho.
-- Sr.
Nash, como havia dito, sua fatura já foi enviada para seu email. Alguma dúvida?
-- Por
enquanto não. – respondeu resignado. – Mas se tiver eu ligo pra você e digito
seu ramal.
-- London
Bank agradece sua ligação e tenha um bom dia.
Com o fim
da ligação, Nash não pensou em outra coisa a não ser na voz da operadora 20-01.
Imaginou como é a aparência dela e usou todas as possibilidades. Durante o
trabalho, conseguiu pagar a fatura e ainda conversou com Elinor Fitzwilliam.
-- Você o
quê? – indagou Elinor, não acreditando que Nash fosse capaz disso.
Elinor
trabalha na livraria da cidade e ela e Graham sempre almoçam juntos. Graham é
técnico de informática na empresa Help Desk, destinada para manutenções em
computadores e outros produtos eletrônicos.
-- Poxa,
ela tem uma voz linda. – confirmou Nash, brilhando os olhos só de pensar na
aparência da atendente. – Aposto que ela é bonita.
-- Só se
for por dentro. – ironizou para provocá-lo. – Já parou pra pensar que ela seja
feia mas dotada de uma voz linda e angelical?
-- Já
cogitei nisso mas não adianta. Eu tenho certeza que ela é bonita.
-- Bem, se
você diz...
Eles não
falaram mais e seguiram seu almoço tranquilamente.
E enquanto
isso Bond seguia sua rotina, dando aulas de música na escola presbiteriana no
centro da cidade. Por entender muito de música, conseguiu ganhar a confiaça dos
baixinhos e ainda ensiná-los da maneira correta. Numa tarde quando já estava
preparando-se para ir embora, ele avistou uma moça linda, parada na praça e
duas crianças a abraçaram. Rapidamente viu de quem se trata.
-- A minha
crush francesa! – confirmou Bond, feliz.
Apesar do
beijo dado no domingo das vovós, ele ainda não se sentia seguro e temia que a
garota não gostasse mais dele e até mesmo não aparecesse mais no bar do Gerd.
Esperou que ela fosse embora e seguiu seu caminho, triste por não saber se sua
garota o corresponde.
E no call
center do London Bank, os operadores atendiam os clientes tranquilamente até
que um dos supervisores bradou para a operação.
-- ATENÇÃO,
PESSOAL! NESTE MOMENTO A PRÓXIMA LIGAÇÃO VOCÊS VÃO AVISAR O CLIENTE QUE O
SISTEMA ESTÁ EM MANUTENÇÃO E RETORNAM AMANHÃ.
Uma parte
se calou, a outra praticamente comemorou. Essa minoria que se alegrou era
composta por uma liverpooliana ruiva e mais três operadoras.
-- Ainda
bem que isso aconteceu. – vibrou Rosie Donovan, mais a vontade em seu ponto de
atendimento. – E ainda faltam vinte minutos para encerrar a jornada.
-- Graças a
Deus. – concordou Jane Berkley, uma loira, ajeitando o headset.
-- Assim
posso estudar com mais calma. – Elena Valdez, uma colombiana é estudante do
curso de Enfermagem e trabalha no atendimento para pagar seus estudos. Ela
atendia os clientes e estudava na p.a. sem ser vista pelos supervisores.
-- Ai
meninas, preciso contar algo. – Suzan Hardison, também liverpooliana e morena,
confessou algo. – Lembram daquele meu vizinho? O poetinha atrapalhado?
-- O que
aconteceu com ele? – perguntou Rosie.
-- Meninas,
rápido! – Elena guardou o livro e fingiu atender os clientes.
Na verdade
alertou suas amigas sobre a chegada de Victoria Coxon, uma das coordenadoras do
call center. Depois elas voltaram em suas conversas paralelas...
Graham Bond
se saiu bem como professor de música na escola presbiteriana. O único problema
eram as regras do lugar. Beiravam ao extremo e horários para quase tudo. No
entanto a música salvava o dia dele e dos alunos. Carismático, ganhou a
confiança dos baixinhos. Num dos dias que ia embora, Bond notou que um grupo de sete crianças esperavam
no banco. Eram quatro garotas e três garotos.
-- Hey! –
saudou Bond. – Quem estão esperando?
-- Nosso
pai. – respondeu a mais alta e magra das meninas.
Neste
momento um carro estacionou em frente ao portão e de dentro saiu uma linda moça
de cabelo preto liso e bem penteado, vestido longo e... braços musculosos. As
crianças correram pra abraçar.
-- Papai!
Você demorou.
Bond não
acreditava no que ouvia. As crianças chamavam aquela bela mulher de pai? E pra
completar, percebeu que o indíviduo possui... Um pomo de Adão muito proeminente
no pescoço.
-- Devo
estar louco. – comentou para si mesmo e embarcou no ônibus.
Louise
voltou para casa, carregando duas sacolas de compras. Abriu a porta e ouviu uma
série de gemidos femininos. Pensou ser de Alice e Belle. Sua lua gostava de
levar a melhor amiga para o apartamento das duas e vez ou outra rolar um
momento delas.
-- Alice,
eu cheguei! – avisou Lulu, alegre e guardando os alimentos no armário da
cozinha.
Ligou a tv
da sala e de forma desleixada foi tirando os sapatos. Caminhou até o quarto e
levou um grande susto. Alice cavalgava no vizinho alemão.
-- MINHA
NOSSA! – gritou Louise, constrangida e fechando a porta.
Apesar do
choque, o casal seguiu. Lulu se escondeu na cozinha, envergonhada e decepcionada.
Ali mesmo viu que não tinha mais chances com o vizinho maravilhoso e decidiu
esquecer de vez. Alice surgia na cozinha, de calcinha e usando a camisa de
Gerd. Deu um beijo selinho na amada.
-- Meu sol!
– abraçando mas sentindo que ela se afastava. – Voltou cedo pra casa.
-- Edmund
me deu pouca tarefa e deu problema na central de atendimento. – respondeu,
disfarçando seu mal estar.
-- Meu sol,
quero te propor algo. – sugeriu, muito alegre. – O vizinho crush alemão está
aqui. Desde o bingo... Nós dois estamos...
-- Já
entendi.
-- Então
você quer participar de um ménage com a gente?
Louise
refletiu um pouco. Com certeza aceitaria na hora... Se não fosse a pequena
parcela de sentimento por ele.
-- Não dá! –
recusou, séria. – Eu vou sair com Facchetti!
Alice
estranhou. A principio sabia que o lance da amada com o agiota italiano não era
sério. Mas agora o jogo virou e a garota não sabe o tipo de perigo que está
correndo ao se envolver com alguém como Giacinto Facchetti.
-- Tudo
bem. – forçou um sorriso.
-- Vou
tomar um banho. – saindo da cozinha e vendo o vizinho se vestindo. – E por
favor, Alice. Não me siga.
Rapidamente
se trancou, ligou o chuveiro e chorou um pouco. Depois discou o número dele...
Alice
cozinhava um pouco e Gerd, já vestido, questionou:
-- O que
houve com ela? – preocupado com Louise por conta do flagra.
-- Está
tudo bem.
-- Não
quero estragar nada. – avisou. – Vou trabalhar. Você vai aparecer mais tarde?
-- Mesmo
horário!
E ele saiu
do apartamento. No hall de entrada encontrou dois sujeitos maiores e um
terceiro. Todos bem vestidos. Um deles encarou feio o alemão e esperava o outro
elevador. Quando se abriu revelou ser Louise. Ela abraçava forte um deles.
-- Oh
Facchetti! Estou feliz que tenha aparecido.
--
Principessa, por você farei tudo. Até mesmo afastar quem te faz mal...
Gerd
engoliu em seco. O tal falso Uber que Bond e Nash viram, o italiano que Alice
falou também estava ali, bem perto dele e aos beijos e apalpando o corpo
esbelto da pequena amada. E pelo modo como ele dizia, era capaz de fazer
qualquer coisa, tudo pela felicidade de Louise...
-- Tem
certeza que a viu com o tal Facchetti? – indagou Bond, tomando outro gole de
uísque.
-- Eu a vi.
– respondeu, bebendo aguardente e servindo mais para outros clientes. –
Protegido por dois caras armados. E ainda disse que afastará quem a fizer mal.
Nash também
chegou no bar e eles explicaram toda situação.
-- Bem...
Neste caso, eu digo: desista! – disse. – É melhor assim, Gerhard. Veja bem, o
homem aparece no condomínio, com dois guarda-costas armados até os dentes e se
você inventa de se aproximar dela, é capaz de dormir com os peixes.
-- Vendo
por esse lado, concordo com Nash. Cara, é melhor continuar com a Alice. É zona
de conforto e você não estará em encrenca.
Gerd não
tinha palavras certas para rebater e tudo que pensou foi:
-- Preciso
pensar a respeito disso.
Nash cuspiu
o refrigerante.
-- Pensar?
Meu Deus! Vocês, alemães, são muito lerdos hein? Você mesmo viu tudo e ainda
diz que vai pensar?
-- A
situação tende a piorar se não fizermos algo. – alertou Bond.
Os três
beberam juntos e e suspiraram pesadamente, afastando o pessimismo de tudo.
Continua....