terça-feira, 28 de abril de 2020

Drabbles Grindhouse Part One (Sétimo capítulo)


7 – Cinema

Outro dia como qualquer um. Seu primeiro emprego no cinema perto da Universidade de Cambridge. Não era exatamente o trabalho dos sonhos, mas compensava por experiência e o dinheiro para sair com suas amigas e as compras como toda consumista viciada em roupas, calçados e bolsas.

Nora fazia quase tudo: era bilheteria, vendedora de pipoca, limpava a sala e lanterninha por algumas vezes. E hoje era dia de vigiar quem desrespeitasse dentro da sala. De olho na sala pela lateral das cadeiras, de vez em quando lançava para a tela. Tão fantástico o jogo de cores, cenas, momentos, diálogos... Ela se imaginou criando isso. Ou melhor, reproduzindo cada coisa escrita no roteiro, criando cenários fantásticos e ser reconhecida por isso.

E a espera acabou. Se naquele ano de 1963, como lanterninha, usou sua imaginação e desejou ser diretora de cinema. Agora, 20 anos depois, subindo ao tablado coberto com tapete vermelho e diante de milhares de pessoas, em sua maioria atores, atrizes, equipe de filmagem e cenário e grandes diretores, para receber o prêmio máximo de seu trabalho feito. De jornalista formada para cineasta ganhadora do Oscar de Melhor Diretora.


Drabbles Grindhouse Part One (Sexto capítulo)


6 – Cut My Hair

Olhou o calendário. Era dia de lua crescente. Ana queria seguir os conselhos da mãe, quando fala que cortar o cabelo em dia de lua crescente, pode crescer rapidamente.  Decidiu por fim ignorar as prescrições lunares. Pegou a tesoura da mãe e ficou de frente para penteadeira. Mais uma vez olhou para a foto de Shirley MacLaine. O seu cabelo deveria ficar igual o dela. E começou o corte. As primeiras madeixas não ficaram legais. Uma estava maior que a outra. Entrou em pânico e outra vez agiu com a tesoura, consertando de forma correta o estrago.  

Ana poderia continuar se não fosse a chegada de Mickey.

-- Não faz isso. – Disse o estudante de Medicina, largando os livros e a bolsa na cama e pegando a tesoura das mãos dela.

-- Quero cortar meu cabelo. Como o dela. – Apontando a foto da artista.

-- Eu mesmo corto. E você fica calma.

Ana não fez nada. Apenas se limitou a ler um dos seus inúmeros livros enquanto Mickey trabalhava: fazendo o corte dos sonhos. Não demorou muito e cinco minutos depois, a jovem olhou no espelho por algum tempo e sorriu. Seu visual está completo e realizado.

Drabbles Grindhouse Part One (Quinto capítulo)

Olá, pessoal!

Hoje vamos continuar com os drabbles. Mais um trio a ser postado. Boa leitura!



5 – Le Premier Bonheur du Jour


Era seu primeiro dia na atuação. Uma música embalou e o mais interessante que é cantado por uma banda brasileira. Odile sonhou em conhecer o Brasil. Pensando em visitar um país tropical como as músicas dizem e o futebol e o carnaval é a maior alegria, lhe causava uma animação para acalmá-la em sua atuação. Olhou para sua colega. Elas são amigas agora. E pensar que um rapaz as tornou rivais num curto espaço de tempo. Talvez nem tanto. Foi um semestre inteiro de comentários ácidos, indiretas e, por que não, sabotagens por parte da baixinha loira?

Hoje é dia de sorrir.

-- Está pronta, Odile? – Perguntou Louise, já vestida como o personagem principal e masculino, Cyrano de Bergerac.

-- Com certeza.

Elas ficaram postas no palco. Cada uma usando métodos de concentração, para manter a mente focada. Se encararam.

-- “Merda” pra você. – Sorria Odile, dizendo a expressão teatral de “boa sorte”.

-- Quebre a perna, Odile! – Louise retribuiu o gesto, bem divertida e com outro jargão cênico.

E abriu-se as cortinas. A plateia curiosa e o elenco pronto. Ali, Odile começa sua saga ao lado de sua melhor amiga, Louise.


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Drabbles Grindhouse Part One (Quarto capítulo)

Quarto capítulo online!


4 – O medo de viagem de barco

Quando criança, Marie tinha medo de barcos e mar. Entretanto, gostava de olhar o mar ou por vezes caminhar no píer. Seu avô, James, dizia que uma antepassada dela, vindo da Áustria, esperou por anos seu amado, um nobre que virou pirata e seguiu com o irmão. Marie era exatamente assim.

Seu medo foi superado quando ela, sua irmã Odile e seus pais seguiram viagem a Inglaterra pegando o Canal da Mancha. O trajeto todo ficou abraçada a mãe e a irmã. Jacques entendeu esse medo. E no final chamou a filha.

-- Você tem medo de viajar de barco?

-- Sim.

Jacques sorriu. E caminharam juntos até o píer.

-- Seu avô deve ter dito da princesa austríaca que esperou o amado voltar, não é?

-- Falou.

-- Mas ele não disse algo. – Respondeu Jacques, meio enigmático. – Ela venceu o mar e navegou até o Caribe e resgatou seu amor.

Os olhos de Marie brilharam.

-- Porquê ela venceu esse medo. As barreiras que lhe impuseram. E você pode fazer isso.

Anos depois ela faz essa mesma viagem de barco, já amadurecida. O medo foi vencido. 

Drabbles Grindhouse Part One (Terceiro Capítulo)

Terceiro capítulo online!



3 – Georgy Girl


O vocal de Judith Durham denota alegria espontânea cantando a música em questão. E a caloura de Artes Cênicas olhava para o teto, ouvia a canção e se imaginava como a protagonista. Por um tempo ela era assim. Apaixonada e não era notada. E quando queria ser notada, se utilizava de artifícios para chamar atenção do sexo oposto. Não estava sendo assim na Sorbonne.

O único rapaz por quem nutria uma paixonite nunca a olhou. E só tinha atenção para a outra, um tipo “foxy lady” da França. Naquelas horas, Louise se perguntava por que Jimi Hendrix não levou essa garota embora. E certo dia, o belo rapaz abordou a caloura. Por três dias estavam quase engatando um relacionamento. Até ele revelar a verdade.

Não foi preciso brigar com ele ou com a colega de quarto rival. Simplesmente se calou. E ainda Judith Durham continuava a cantar. A francesa chegou perto da mocinha e segurou sua mão:

-- Somos mulheres. Devemos ficar unidas, não separadas e rivais.

Louise sorriu e apertou a mão suave da outra. Uma dupla dinâmica surge...


Drabbles Grindhouse Part One (Segundo capítulo)

E vamos para o segundo!


2 – Cambridge me espera


-- Eu vou para Cambridge e pronto!

Essas foram as palavras finais de Felicity para o pai. Robb queria que a filha fosse alguém importante: uma médica, advogada, professora, coordenadora. Ou até mesmo política. Na verdade, ele queria que a filha virasse dona de casa. O pai se enganou profundamente.

E Fefe não é uma garota qualquer. Dezessete anos, uma outra cabeça, empoderada numa época onde meninas obedeciam a seus pais e as mulheres eram devotadas aos maridos. Ela quebrou essa regra. Amava o pai. Mas a ideia que ele tinha não combinava com ela.

Arrumou as malas e surgiu na porta, avistando sua amiga, Nora.

-- Cambridge me espera!

O curso de jornalismo em Cambridge espera por essas garotas.



Drabbles Grindhouse Part One (Primeiro capítulo)

Boa noite, pessoal!

Hoje vou dar início um novo projeto no qual me senti motivada. Pela primeira vez em anos de escrita, vou estrear com "drabbles". Drabbles são microfics ou estórias escritas com 100 palavras ou mais. Em outras palavras, uma fic curtinha. Pode ser qualquer coisa e pode ou não ter um final ou moral. Nesta primeira parte, será as personagens do universo Grindhouse e pode ou não ter os jogadores, bandas e celebridades. Espero que gostem. Boa leitura!




1 – Musa

Era 1963. Quatro caras da cidade de Liverpool conquistaram o país, o mundo. E só de saber que você mora no mesmo município que eles e seu bairro fica até próximo de um dos integrantes, te causa ansiedade. Ela fecha os olhos e se imagina diante do ídolo. Não se considerava humilde, apenas tímida. Mas virava uma fera se outra pessoa além dela estivesse apaixonada por ele.

Naquele dia do Palladium ela pôde realizar este sonho. Comparada as outras meninas que se esperneava, choravam, gritavam e diziam um milhão de declarações de amor exageradas, ela se segurou o máximo possível para não surtar perto dele. E outro feito extraordinário foi sua surpreende capacidade de passar por todas as pessoas, vencer as barreiras só para ganhar o autógrafo dele.

O guitarrista escreveu e sorriu para ela, fascinado pelos olhos verdes da moça.

E ele... Tinha certeza que ela é sua musa. 

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Rush 2: Amor a toda prova (1º Capítulo)

E vamos para mais um capítulo!



Capítulo 1: Off To The Races


Freddie POV

Não consegui dormi. Era pra ser uma corrida como qualquer outra. E de alguma forma, eu senti que era mais. Não tinha vontade de fazer nada. Até eu ouvi Superstar, a versão dos Carpenters no repeat do computador. A ansiedade me atacava. Fui ao banheiro e vomitei. Fiquei uns 10 minutos lá. Alguém bateu na porta.

-- Freddie! Freddie! – Era o Oskar.

-- Que é?

-- Está tudo bem?

-- Estou. Vai embora!

Não ouvi mais. Quando senti que todo sentimento de peso e angústia foi embora, tomei um banho, escovei os dentes e fui para o quarto. Oskar me esperava, de roupão.

-- Vamos conversar. – Ele sentou na cadeira da minha escrivaninha. – Você tá bem? De verdade?

-- Não. – Queria ter mentido. – Não consigo dormir. Convidei o Tommy, os amigos dele, Noel e até o pai dele. Garanti que ia ganhar. E agora sinto que vai ser de novo como no mês passado. Eu perdi. Ou melhor, desclassificado.

-- Foram falhas mecânicas.

-- Quer saber? Foda-se se vou perder. Quero parar com essa ansiedade.
-- Talvez seja bom isso. Se está ansioso, significa que vai ganhar. Freddie, você pode não ter ganhado nestas últimas corridas. No entanto, tem boa pontuação. E isso te ajuda também a dar mais um passo para Fórmula 1.

-- Você disse a mesma coisa quando eu estava na Indy.

-- E depois você saiu, não é?

Não argumentei mais com meu irmão. Sei que dormi lá pelas 5 horas da manhã e acordei atrasado pra variar. Compareci no autódromo aos trancos e barrancos.

-- Desculpa! – Disse para a equipe. – Me atrasei e não dormi nada a noite toda.

-- Tá! Agora vista-se e venha logo. Precisamos acertar umas coisas. – Avisou Oskar.

Enquanto me vestia no trailer, avistei ela. Mia Lauda. Minha rival nas pistas. Ela é cinco anos mais velha do que eu e está na Fórmula 3. Sendo filha de quem é poderia muito bem sair desta categoria e competir com Michael Schumacher e a galera grande da Fórmula 1.

Quando saí do trailer encontrei o pessoal.

-- Oi Freddie. – Tommy me cumprimentou.

-- Tommy? O que faz aqui?

-- O babaca até esqueceu. – O comentário veio do Florian.

-- Cala a boca, Flo!

-- Viemos porque nos convidou. – Disse Ned.

-- Eu? Eu convidei? – Isso que dá convidar as pessoas na emoção e quando acha que não vão comparecer, elas comparecem. E você até esquece. – Ah é... Eu convidei.

-- Superstar! – Oskar me chamava. – Está quase na hora.

-- Já vou! – Respondi e em seguida me virei para o Tommy e os alemães. – Obrigado pela presença de vocês. Fiquem à vontade e eu já volto!

De novo desviei para meu irmã0 e vomitei.

-- Outra vez, Freddie?

-- Ansiedade.

Antes da largada, Mia e eu nos encaramos. Ela fez sinal de boa sorte. E eu retribuiu. O sinal foi dado e a largada iniciada. Acelerei o quanto pude e ganhei a pole position. Mia está na minha cola. Apesar de ser rápido a pista pude ouvir um pouco que Tommy e a sua turma não torciam por mim. Nesta hora me arrependo de convida-lo. E esses pensamentos que fizeram com que Mia me ultrapassasse. Faltando uma volta para terminar as três completadas, coloquei toda minha alma, esforço sobre humano e vontade para acelerar. Estou bem perto de Mia Lauda.

Não gosto de fazer uma finta pois a probabilidade de eu ganhar a dianteira é mínima. Acelerei mais e na última curva batemos levemente, o que fez os carros girarem um pouco e Mia sair da pista. Ponto para mim. Voltei para corrida e lá está a linha de chegada. A minha equipe, Laurersdale Power, me parabenizaram. Oskar vibrava de emoção. Corri para abraçar o Tommy e o Noel.

-- VOCÊS VIRAM? – Estava animado e mostrei para os outros rapazes, até para o velho Franz. – EU CONSEGUI!

-- Parabéns Freddie! – Noel não parecia animado.

Tommy abraçava fraco e os outros sorriam forçado.

No pódio comemorei ao lado meu irmão e da equipe. Aliás, esta equipe é formada por amigos do Oskar. Todos mecânicos formados. E playboys. Sério. Lembra que falei sobre estar arrependido de convidar o Tommy e os amigos dele? E estava claro hoje que eles não deram a mínima pra mim e foram consolar Mia.

-- Veja o lado bom, Mia. – Disse. – Segundo lugar é sempre bom.

-- E veja o lado bom, Alfred. – Ela disse. – Sua capacidade de ultrapassagem é boa, mas será que é tão eficiente numa pista de Fórmula 1?

Os alemães se espantaram e claramente eles queriam ver o circo pegar fogo. Ia responder, mas optei em me calar. Se falasse o negócio ia mesmo pegar fogo. Ou melhor... Pegou fogo se não fosse o Florian.

-- Que covarde!

Eu ouvi bem. Florian me chamando de covarde. Peguei a garrafa de champanhe de um dos mecânicos e joguei na cabeça do filho de Uli Hoeness.

-- Quem é covarde aqui, meu chapa?

O resto... Bem, foi uma treta daquelas. Levei três socos e um chute e o Florian um golpe na cabeça com a garrafa e chutei o traseiro gordo chucrute. Chegamos em casa no maior silêncio. Oskar e eu combinamos de não contar por enquanto para mamãe.

-- Alfred!

-- Que é mãe? – Já imaginando o xingamento.

-- Venha no meu escritório agora!

Esconder os olhos roxos e o lábio cortado era impossível.

-- Você contou pra ela? – Perguntei ao Oskar.

-- Não.

-- Então quem foi?

-- Certamente o Tommy ou ela soube pelo Franz.

-- Aquele velho gaga! Odeio aquele cara!

-- Para de reclamar e fale a verdade pra ela.

Quando entrei no escritório, ela estava lá, na cadeira e bem furiosa.

-- Mãe... – Já tinha uma mentira pronta e prossegui. – Me meti numa briga de bar e...

-- Eu sei de toda história. Você voltou a correr. Te proibi desta atividade. E mesmo assim seguiu. E como se não bastasse, briga na rua. Quase matou o Florian.

-- Eu o odeio e todos os amigos do Tommy.

-- Incluindo Noel?

-- Estou incluindo depois do que presenciei. Eu convido aquele bando de mal agradecidos, prometi vencer, venci e eles foram lá dar os parabéns para Mia. Ela pode ser filha do Niki, o pai dela ter ganhado vários prêmios, mas eu sou o melhor piloto da Fórmula 3 e vou correr na Fórmula 1.

-- Enquanto você viver na minha casa, sob o meu teto, não vai correr mais.

-- Você nunca me apoiou.

-- Freddie... Eu vou apoiar você sempre. No entanto suas atitudes nestes anos todos está me machucando.

-- Eu não fiz nada.

-- Se você acha isso, agora que decreto que não vai mais competir nas corridas.

-- Ótimo. Era isso que queria. E sabe por que? Assim vou morar com meus tios. Eles são mais toleráveis do que você!

Lembro da data. Dois de abril de 2003. Eu saí de casa e nunca mais voltei a morar com minha mãe. Eu a amo de todo coração. E não me arrependo de minha decisão. Já fazia anos que não me sentia bem naquela casa.

Morei com meu irmão. No início parecíamos os protagonistas de Two And Half Men, com Oskar querendo que eu saia de sua casa. E depois que soube o que aconteceu, ele permitiu. Preciso arranjar logo um apartamento só meu. Tio Peter me deu toda força do mundo e me deu de presente um dos seus apartamentos. Passava o dia malhando, cuidando da minha tartaruga, jogando vídeo game e vendo filme. Oskar me visitou.

-- Então, Superstar? Já arranjou um emprego?

-- Não. – Disse enquanto alimentava o Janus, minha tartaruga de estimação no viveiro.

-- Uma hora ou outra tio Peter vai vir e te cobrar.

-- E o que quer que eu faça? Quero muito ir para Fórmula 1. Há meses estou na F3 e estou farto. Tudo bem, vou me dedicar mais.

-- Freddie...

-- Que é?

-- A mamãe está chateada com você.

-- Ela disse muito bem que não quer me ver correndo.

-- Ela não queria porque temia que você virasse o papai. E sinceramente, acho que ela está certa.

-- Não tô nem aí.

-- Outra coisa. Você ganhou uma proposta. De uma equipe de corrida.

-- Da Ferrari? – Meu sonho era correr pela melhor, a Ferrari.

-- Não. – Ele sentou no sofá e continuou. – Benetton.

Esperava propostas boas vindas da Ferrari e McLaren, as melhores scuderias na minha opinião. Estava aceitando até da Williams. E agora vem uma que não se ouve falar desde o final dos anos 80 e não teve colocação boa desde então.

-- Eu passo. – Respondi, voltando a jogar.

-- Tem certeza? É uma boa oportunidade.

-- É uma scuderia pequena. Assim não vou ganhar nada. Dispenso!

Oskar bufou e saiu do quarto.

-- Você não pensa como estrategista. Quer coisas grandes, Freddie. Por isso vai ficar na F3 e a Mia vai decolar na 1.

Quando ele disse isso, outra vez pausei o jogo e puxei o braço do meu irmão.

-- Como é que é?

-- Achei que o Tommy ou os amigos dele te contaram. Mia Lauda saiu da Fórmula 3 porque vai para Fórmula 1. O pai dela conseguiu vaga na Ferrari. Ou seja, ela vai correr ao lado de Michael Schumacher.

Tamanho choque que recebi. Não tinha ideia no que pensar. Ao mesmo tempo lembrei do Tommy e os rapazes. Por isso que eles saudavam Mia mesmo na derrota.

-- Aquela filha da mãe vai correr... Pela Ferrari? – Ainda estava chocado.

-- Vai. – Respondeu friamente.

-- Por isso que... Eles...

Sai do quarto e fui para o jardim. Tentava me acalmar. Oskar me seguiu.

-- E como você não quer ir para F1...

Explodi. Como uma bomba relógio. Gritei tão alto que provavelmente acordei algum vizinho. E depois me virei para meu irmão.

-- Eu aceito. – Disse, mais calmo. – Vou correr pela Benetton.



Continua...

Rush 2: Amor a toda prova (Prólogo)

Boa noite, pessoas!

Não sei como dizer, hoje vou postar Rush 2: amor a toda prova, a continuação direta de Rush 1 (que ainda nem está na reta final e não saiu da primeira fase). A fic fala da rivalidade e relação amorosa de Freddie Hunt e Mia Lauda e conheceremos mais esses personagens e mais alguns da Grind. Haverá momentos que ligarão Rush 1. Boa leitura!




Prólogo

Freddie POV

2019

Olhei para meu dedo cheio de cicatrizes. Estava calado algum tempo e meu psiquiatra não era chato. Contudo, exigia que falasse mais. Eu travei. Travei exatamente onde justificava o meu ser. Um nó na garganta se formou. Lágrimas teimavam em cair e fungava o nariz. Me ofereceu a caixa com lenços descartáveis e aceitei. Ele disse que não tinha pressa e era seu único paciente do dia.

-- No fim das contas... – Comecei a dizer. – Eu não sei o que fiz naqueles anos todos que fui piloto. Eu não sei.

-- Talvez você saiba e sua mente esteja confusa. Cheia de lembranças e confundindo tudo. Te fazendo acreditar em algo que não é verdade. Isso acontece, Alfred.

-- Mas por que agora, doutor?  Por que me atacou isso?

-- Você discutiu com alguém?

-- Minha esposa. Foi por bobagem.

-- Mesmo?

-- Sim.

-- O que discutiram?

-- Algo faltando em mim. Desde que me aposentei em 2014, o tempo parou pra mim. Quando eu corria, o tempo se movimentava. Eu devia estar feliz por ficar com minha esposa e meus filhos. Contente com meu trabalho na scuderia, mas tem algo que me cutuca. Me incomodando. Antes que desconfie, não traí Meredith.

-- Não cometeu infidelidade?

-- Jamais. E nem com Noel falei sobre isso.

-- Existem causas que podem ocasionar isso. Ou como chamamos de gatilhos, que nos levam a esta situação. Essa discussão com sua mulher deve ser a razão. No entanto, pra saber o motivo desta angústia, me conte como você era na época de piloto.

-- Posso contar como eu era antes de ser piloto?

-- Pode. – Ele se ajeitou na cadeira, tomou água e me encarou enquanto eu continuava deitado no divã. – Quem é você, Alfred Hunt?



Anos antes...

Eu queria ter uma máquina do tempo. Pra poder ver meu pai pela última vez. Eu não sei o que sou. No dia que minha mãe contou do falecimento dele, Oskar chorou pra caramba. Eu... Não chorei naquela hora. Não chorei no velório, não chorei na despedida. Me limitei apenas num adeus. Uma semana depois a ficha caiu. E me tranquei no quarto. Tinha 16 ou 17 anos. Adolescente. E depois... Transformei a minha vida num parque de diversões.  Eu sou Alfred Hunt. Meu pai, James Hunt, era piloto de Fórmula 1 e foi campeão. Minha mãe, Louise McGold, premiada atriz mundialmente. Meus pais não eram casados, mas chegaram perto se não fosse o pai de um dos meus irmãos. Depois de tudo, Gerd me acolheu como um de seus filhos. Coitado...

Na escola não me queixava. Tirava boas notas, estudava, curtia com meus colegas. Na faculdade também. Após a formatura, resolvi mudar. Se vocês acham que ia me tornar um contador ou advogado, lamento dizer que decepcionei todos. E tudo começou quando encontrei o capacete de corrida do meu pai e seu macacão vermelho e um emblema no braço dizendo “Sexo. Café da manhã dos campeões”. Quando criança meu pai me levava pra correr kart e vencia todas as corridas. Ele dizia que era o único que realmente tem talento e seria um campeão. Diante da reminiscência, encontrei meu meio de vida. E foi em 2003 quando ingressei na Fórmula 3, a categoria mais baixa. Apesar de ser o início, queria mais. Admito que sou um pouco ambicioso. Mas também como meu pai, arrumava confusão com os outros pilotos, como a vez que um deles me bateu com chave inglesa e um canivete, arranhando meu braço, machucando minha testa e hematomas no abdômen.

As enfermeiras me olharam chocadas quando apareci no hospital bem de boa, com lenços na testa e um torniquete no braço. E claro minha roupa de piloto manchada de sangue e óleo.

-- Com licença! – Disse eu, aparentemente calmo. – Acho que o autódromo ligou avisando que eu ia chegar. Sou Freddie Hunt.

Até os pacientes que ali esperavam me olhavam espantados. A enfermeira, novinha por sinal, perguntou:

-- Está tudo bem com senhor?

-- Sim!

A enfermeira novinha me levou para a sala de enfermagem e me deixou sentado na maca. Retirou com força os curativos e cuidou deles.

-- Achei que fosse um acidente. – Ela comentou.

-- Se você chama uma discussão amistosa com seu colega piloto de acidente.

Enquanto ela dava os pontos no corte da testa e finalizava no abdômen e no braço, ela foi mais curiosa.

-- E sobre o que discutiam?

-- A mulher dele.

-- E o que fez? – Ela examinava minha pressão e os olhos.

-- Nada demais. Só o que me pediu.

-- Que foi...?

Tirei o estetoscópio das mãos dela.

-- Eu te mostro se quiser.

A velha cantada de meu pai em levar garotas para cama realmente funcionava. No entanto, nos diários de minha mãe ela não conta que foi desta maneira e sim algo natural. Ou quem sabe ela foi orgulhosa demais para admitir. Lembro quando tinha 10 anos que meu pai disse que as mulheres gostam de pilotos porque é desta maneira que ficamos cara a cara com a morte. Se fosse por dar voltas e voltas, seria ridículo. E concordo. Entretanto, ainda digo que não foi desta maneira que minha mãe ficou atraída por ele. Ela estava ciente de tudo, da profissão dele. E mesmo assim... Ela preteriu meu pai por Gerd Müller. Afinal de contas, o que aquele cara tinha pra tê-la conquistado?

Enquanto perguntava sobre isso lembrei que daqui 3 dias seria o Grande Prêmio no Crystal Palace. Nos dois primeiros dias treinei arduamente. No último dia, passei no estádio Stamford Bridge. Era lá que o Bayern de Munique treinava para o jogo da Liga dos Campeões. Vão confrontar o Arsenal. Assisti o treino do time. Tommy, meu irmão por parte de mãe e filho do Gerd, cumprimentou de longe. E meia hora depois veio em minha direção.

-- Não pode vir aqui. – Ele disse, ofegante.

-- Tô de boa, cara. Mais tarde vou treinar. E seus amigos sentem minha falta.

-- Eles te odeiam, Freddie. Ou espera que o Florian te perdoe por transar com a Freya? E o Ivan te acusar por bolinar a Audrey?

-- Seus amigos são neuróticos. Nunca na minha vida bolinei uma garota. Ivan está inventando.

Foi nesta hora que a turma do Bayern me avistou.

-- Ora se não é o inglês safado do Freddie!

-- Oi, Flo! Você tá uma beleza asgardiana. E os parentes?

Florian se aproximou de mim e me acertou um soco. Me levantei com dificuldade.

-- Quer apanhar mais?

-- Posso fazer isso o dia todo, doçura! – Finalizei mandando um beijo e rindo.

Tommy se atravessou na frente.

-- Para Florian!

-- Vou acabar com ele!

Florian, Ivan e o Ned me olhavam torto. Mandei beijinhos pra eles.

-- Amo vocês, queridos! – Depois olhei pro Tommy e toquei o machucado. – Ai! Florian é forte. O pai dele não é fortão assim. Eu acho que o Uli não é pai dele.

-- Foi muita sorte em te defender.

-- Ah veja! Noel chegou!

Noel Beckenbauer é meu melhor amigo. Honesto e nunca escondeu algo de mim.

-- Noel meu amigo! – Coloquei o braço envolta do pescoço dele e dei um beijinho no rosto. – Diga pro Tommy o que aconteceu com a Audrey.

-- Freddie não bolinou a Audrey.

-- Viu só?

-- Ele cantou a Audrey e ela jogou cerveja e uma torta na cara dele.

Todos riram. Florian, Ned e Ivan voltaram para nossa rodinha e deram risadas como hienas.

-- É, mas no final eu a peguei.

-- Freddie, vai embora! – Pediu Tommy.

-- Que há com você? Costumava me receber tão bem e agora tá careta, Thomas?

-- Estamos sendo vigiados. – Respondeu Noel. – Pelo meu pai.

-- Ah não sabia que estamos em 1984 e o herr Beckenbauer é o “Grande Irmão”. George Orwell vai mandar vocês pro inferno!

-- Vai embora, Freddie!

-- Tá, mas antes quero convidar vocês amanhã para o Grande Prêmio no Crystal Palace.

O pessoal deu um tipo de mugido bem desanimado. Ouvi Ned comentar, mesmo baixinho, que vou fracassar de novo. Odeio admitir, mas a verdade é que nas últimas corridas pela Fórmula 3 não tive a mesma sorte que nas primeiras.

-- Vai ser complicado de irmos...

Foi neste momento que tremi quando ouvi a voz do pai do Noel.

-- Ora ora, se não é Freddie Hunt?

-- E lá vem o satanás em pessoa! – Eu disse.

-- Não devia estar treinando em sua próxima corrida?

-- E não devia estar trabalhando, velhote?

Quando era criança, eu tinha medo de Franz Beckenbauer. Ele não gostava de mim pelo fato quem era meu pai. E tampouco gostava da minha amizade com Noel. Teve um dia que bati em Stefan, o filho mais velho dele. Franz puxou minha orelha. Para mim, ele é o Satã em pessoa.

-- Eu só não te dou uma resposta indecente porque estamos num treinamento. Agora vai embora e deixe os rapazes em paz.

Novamente insisti no convide.

-- Ok, monsieur, herr, sir.... Senhor Beckenbauer, deixa o pessoal comparecer na corrida. Estou convidando todos vocês. Inclusive o senhor. Por favor!

Eu odeio me rebaixar desta maneira.

-- Por favor, pai. – Pediu Noel. – Minha irmã também vai correr. Seria bom prestigia-la.

-- Quando será a corrida? – Perguntou Franz, ainda sério.

-- Amanhã! A largada será às 10h.

-- Vou tentar comparecer.

-- Obrigado pessoal!

Talvez Franz não vá, mas tenho certeza que meus amigos irão. Eu senti que desta vez vou ganhar...