quarta-feira, 5 de junho de 2019

Rush - No Limite da Paixão (12º Capítulo)

Olá, pessoal!

Retomando aos poucos minhas fics. E fiquem com novo capítulo da clássica Rush. Boa leitura.




Capítulo 12: Europeus no país tropical

2013 - Gravações da cinebiografia de Louise e Odile - 10 da manhã
Melody’s POV
Hoje é um daqueles dias que acordei e não queria trabalhar. Mas fazer o quê? Por que a Josephine resolveu filmar a autobiografia da mamãe e da tia Odile? Existem coisas que naquele livro ela não quis contar. Nos dias que vou trabalhar (faço parte da equipe da Josy, sou a maquiadora dos “artistas”), carrego um dos diários da mamãe e leio no exato momento que a gravação começa, assim evito de assistir cenas como Heinrich beijando a Annabel, Lorie com Giovanni Maldini ou com Anton Beckenbauer. Aliás, Anton, está substituindo Noel, que deveria ser o Franz, mas por causa do “teste de química” entre ele e a Lorie, não deu certo e Josy colocou Anton como Franz. Opinião sincera: deu certo em parte. Pra atuar com a Lorie, a química deu certo mas pra parecer o Franz… é outra história.
-- O que vou fazer? -- dizia Josy, andando pra lá e pra cá.
-- O que foi? -- eu disse.
-- Estou confusa. Anton atua bem, sabe andar como o pai, mas não é tão parecido com ele. Noel só tem os olhos da mamãe em outra cor.
-- Deixa ele atuar conforme permite. -- respondi, sem olhar pra ela. -- E faça-o melhorar.
-- E se não der?
Agora perdi a paciência. Isso é raro porque sou o tipo boazinha. E hoje não.
-- Quer saber, Josy? Traga o Noel de volta. Mesmo que o teste de química entre ele e a Lorie não tenha dado certo, pelo menos você tem alguém super parecido com Franz.
-- Merci, Melody.
Voltei para o livro e nem prestei atenção nas cenas. Noel foi trazido de volta, a Lorie se incomodou, Heinrich e Bells mais envolvidos, Jon Nesmith incomodado e o restante tudo numa boa. Eu fiquei numa boa… Até sentir um forte cheiro de perfume da Dolce Gabanna e alguém sentar ao meu lado.
-- Oi, Mel.
A voz… Esta voz…
-- Natalie Dormer vai te ver, Florian.
Ele terminou com a Mandy Moon e namora agora a atriz de Game of Thrones, que faz a moça cujo marido é gay e se envolve com irmão dela.
-- Nat está bem longe daqui… Em algum lugar… em Hollywood. -- Florian Hoeness vestia o uniforme antigo da mannschaft . -- Na verdade trago notícias: também terminei.
-- Mas eu estou firme com Damon. -- respondi.
-- Ah sim… Sabe, a Josy vai precisar de uma Marie…
Entendi perfeitamente onde ele quer chegar.
-- Josy sabe achar.
-- Ela encontrou. -- ele tirou o livro de perto de mim. -- Você.
-- O CARALHO! -- berrei e peguei o diário de volta. -- ENTREI NESSA PRA SER MAQUIADORA, NÃO ATRIZ!
Os gritos chamaram atenção e pude ver Nesmith debochando de mim.
-- Por favor, Melody. -- Florian tem um jeito fofo de pedir as coisas. Deve ser por isso que Joey gosta dele. -- Você é a melhor sendo atriz do que maquiadora.
-- Já disse que não. Nem falo francês e vai ter cena que atuarei com a Clarice.
Clarice Wilson será a Felicity McGold. Disforme isso. Clarice tem 1, 72 e quanto a Fefe tem 1,76. E Clarice mal consegue andar de botas.
-- É só puxar o sotaque e fazer o teste.
-- Não quero e pronto! -- insisti. -- Outra coisa: não sei se você sabe, querido, mas o Martin vai ser o Jon McGold. Deve imaginar o quanto isto é… incestuoso?
Agora Florian se calou e me afastei dele. Voltei a ler e de novo Florian me seguiu.
-- Tudo bem, não precisa ser a Marie. -- se ajoelhou. -- Me dê uma chance? Deixei meu cabelo crescer. Até meus pelos.
Florian fez questão de erguer a camisa. Meu Deus, não resisto vendo aquele tanquinho. Ignora Mel, ignora….
-- Tenho namorado, Florian. Desculpa.
E voltei para o ponto inicial. E novamente não consegui ler o parágrafo porque a diretora me chamou para maquiar o Heinrich.
-- Oi, bobão. -- cheguei e nem olhei pra ele. O visual é mantido. -- Vai atuar com a modelo?
-- A Bells vai gravar com Nesmith. E eu com a aquela atriz que nem sei o nome. Ela fará a Alexia.
-- Tô rezando que venha a cena da mamãe jogar o copo de chope em vocês e a treta. -- imaginei o teor disto. Engraçado e forte. -- Vou rir litros…
-- E o que tá pegando entre você e o “Thor”?
-- Florian já era. Me arrependo de ter ficado com ele enquanto namorava a Mandy. Pelo menos foi antes do namoro com Damon. E me fala o que está pegando entre você e a Bells?
-- Só amizade.
-- A quem tá querendo enganar? -- bati nele. -- Eu vi as cenas de beijo na boca. Aquilo não era beijo técnico. Era pra valer!
-- Dá pra falar baixo? -- Heinrich me acalmava. -- As paredes têm ouvidos.
-- Desculpa, “Gerd Müller”. Não quero que haja tretas entre você e o “James Hunt” lá fora. Que adianta? Vocês se pegaram no pau mesmo. O livro e o diário confirmam.
Era divertido falar com Heinrich assim. Depois da maquiagem, voltei a ler o livro, na parte onde chegaram no Brasil…

Louise POV
Brasil, 1971
Não me lembro o que fiz durante o resto da viagem antes de adormecer. Apenas sei que Odile me acordou aos tapas e gritos e eu, meio acordada, mal conseguia sair do banco. A primeira coisa que noto… é a temperatura. Céus! Quente! E eu com aquele casaco de pele! E cadê a visão das praias?
-- Odile, esse lugar não tem praia! -- reclamei.
-- Tem sim. -- respondeu. -- O Brasil tem praia no país inteiro.
-- Depois vamos a praia meu amor. -- Hunt me beijou. -- Agora pro hotel.
Imaginem uma atriz surtando de leve e reclamando que o lugar onde chegaram, não tem praia. Só prédios.
-- Só tem prédios e carros de montão.
Nunca tinha visto algo daquele jeito. Tem certeza que este país é o Brasil? O país tropical?
Quando a aeromoça passou, abordei.
-- Com licença. Onde fica a praia mais próxima?
-- Desculpa, senhorita, mas a praia mais próxima é 70km da cidade.
O avião pousou e saímos com nossas malas. Estava furiosa. Saí do velho continente para vir aqui? Num local que não tem praia?
-- Eu quero praia! -- berrei no carro. -- Não comprei biquínis pra mofar no concreto.
-- Sua menina mimada! -- Odile me xingou. -- Só reclama. Ok, devíamos estar no Rio de Janeiro, mas estamos em São Paulo.
-- O que tem nesse tal de “São Paulo”?
-- Tem muitas coisas. -- disse o taxista em inglês. -- Prédios.
Desisti da discussão. No hotel não fiz nada. Só tomei banho, vesti uma roupa confortável e deitei. Hunt tentou me agradar.
-- Agora não, James.
-- Tem certeza?
-- Tenho.
O resto da tarde passei sozinha. Sozinha mesmo. Odile e Niki se encontraram com a equipe de corrida e James se reuniu com Hesketh para definições do carro. De repente senti enjoos. É o que chamam de jetlag?  
Antes mesmo de uma resposta, corri para o banheiro e botei pra fora. Não sei quantas golfadas, mas foram doloridas. Odile entrou no quarto e me encontrou ali, babando, chorando de dor e mal conseguindo me manter em pé.
-- Calma, querida. -- disse, limpando minha boca. -- Vou cuidar de você.
-- Não tô me sentindo bem. Isso é o jetlag?
-- Um pouco. Pode ser algo que você comeu também.
O resto do tempo ficamos juntas e ainda estava mal. Na mente, veio a imagem dele. Do ursinho alemão chamado Gerd Müller. Não, não! Ele…. Não posso pensar. Tomei um chá qualquer preparado pela Odile e ainda não acalmou. De novo ele na cabeça. E mais uma vez os enjoos. Passei a noite toda enjoada, até James notou. E principalmente passou a me tratar estranho.
Nos dias que tentei sair do quarto, foram um sofrimento. Primeiro do calor e segundo as dores de cabeça e os embrulhos do estômago. Nem mesmo o cheiro da comida, por mais deliciosa que seja, estava suportando. E aqueles perfumes que o Niki e o James usam, nossa! Tampava as narinas pra não sentir e o enjoo voltar. Eles treinavam muito no autódromo. Não pude acompanhar. Naqueles dias trancada pensei muito em ligar para meu pai. E nesta reflexão, me veio uma teoria: será que estava....? Não! Não estou preparada para ter um bebê! Não agora! Contudo, se eu for pensar mais um pouco, estou com a menstruação atrasada e os enjoos estão bem frequentes. E antes da viagem, James e eu ficamos mais na cama do que saindo.
Na manhã de quinta-feira, James acordou cedo e eu o vi saindo do quarto. Nem me incomodei. Voltei a dormir por breves 5 segundos pois Odile entrou no meu quarto, abriu a porta do banheiro e dá-lhe vômitos. Socorri ela e chorava.
-- Não aguento mais vomitar. – ela disse, limpando o rosto. – Já saiu tudo que devia sair.
Então comentei sem cerimônia.
-- Odile, o que tá acontecendo conosco? Desde que chegamos, me sinto estranha e meio inchada.
Minha amiga lançou um olhar intrigante.
-- Talvez... Estejamos... Grávidas!
-- NÃO! – berrei. – Odile, eu não quero ter bebês! Não estou pronta! Não... Não....
Depois daquele dia, entrei em pânico e não consegui dormir até sábado, o treino final. De tarde, sai um pouco do hotel e comprei testes de gravidez. E a noite fiz o teste... E... Não acreditei. Positivo. Chorei a noite toda e no começo da manhã seguinte. Decidi contar para ele após a corrida. Minha amiga me abraçou.
-- Estou grávida, Odile.
-- Ainda não contou pra ele?
-- Não... Odile... – respirei fundo. – Não quero ter esse bebê.
Mal pude aproveitar minha ida no Brasil. Nada. E principalmente porque a cidade onde ficamos, era só prédios, carros, vias e só! Soube por Niki que um dos pilotos, Ronnie Peterson, gostou da cidade. E foi numa situação engraçada: num engarrafamento. Suecos doidos!
Odile e eu nos mantemos juntas, mesmo naquele calor escaldante brasileiro. Me espantei quando vi umas mulheres usando tangas e roupas cobertas de plumas e paetês, dançando alegremente e rebolando. E elas eram bem mais vistosas do que eu.
-- Você viu o que eu vi? – perguntei para Odile.
-- Sim. E não dá pra acreditar.
Os brasileiros devem ser as pessoas mais animadas. Como dançavam e cantavam naquele calor. Não deu muita coisa. Hunt teve pane no carro e o Niki ganhou a corrida. Tentei conversar com James mas me evitava. E a noite Odile fez o teste e estava junto dela. O resultado? Positivo também.
-- Não pode ser... – Odile chorou.
No fim nós duas choramos. Tanto eu quanto ela não queríamos ter filhos.
-- O que vamos fazer?
-- Daremos um jeito. – disse Odile, parando de chorar. – Juntas.
Mais alguns dias depois voltamos para Londres. Odile tentará contar ao Niki. E eu e Hunt... cada vez mais distantes. Foi no retorno pra casa que soube de algo: a empresa de Lord Hesketh não tinha dinheiro suficiente para bancar mais o carro de James e ficaria mais impossível dele competir na Fórmula 1. Aquilo derrubou meu loirão. Ele adorava correr. Fazia de tudo pra consolar, ficar ao lado dele. Nada adiantava. Até que um dia... Eu contei.
-- James...
-- Agora não, Suzie. Estou falando com meu irmão... Peter? Alô?
-- James...
-- Que é, porra?
Engoli em seco para não chorar. Impossível.
-- Estou grávida!
Um silêncio surgiu e por fim o copo de uísque voando na parede. Os estilhaços poderiam atingir a gaiola de passarinhos de estimação dele.
-- Tá de brincadeira comigo?
-- Não. Por que está dizendo isso?
-- Só uma estranha me convidaria para esquiar ou dizer que espera um filho meu, quando soubesse que perdi o carro.
-- Eu sei disso mas...
-- Deixa te dizer uma coisa, garota. – James parecia muito bravo. – Não procure normalidade em caras que gostam de correr em círculos, tentando se matar.
-- Mas quem disse que buscava normalidade? – desta vez eu o encarei. – Eu sabia como você é e embarquei de cabeça muito consciente. Eu vi em você um homem bom e impressionante por dentro do que por fora.
-- Só agora percebeu o erro?
Me calei. Foi ali que percebi o erro.
-- Você nunca me amou...
E não disse mais nada. Fui para o quarto, arrumei minhas coisas e sai da casa de James, indo para o meu apartamento. Odile deveria estar aqui. Ao menos ela deixou uma carta, avisando que estará na casa dos pais.  Fiquei no apartamento por mais uns 10 dias. Ninguém da minha família sabia. Ninguém até eu ligar para o Mickey.
-- Alô?
-- O dr. McGold se encontra? – fiz uma imitação fanha da Betty Boop.
-- Louise... – ele suspirou. – Como está indo no país tropical?
-- Estou em Londres. Voltei faz uns 15 dias. Eu vou visitar vocês em Ripley.
-- Legal. Vou avisar o papai e a mamãe. Eles comentaram hoje o quanto estavam com saudades de você.
-- Agora já tem um assunto. Te vejo amanhã, maninho!
-- Até amanhã, maninha!
Acordei cedo e arrumei minhas coisas. Enquanto esperava o trem, pensei numa forma de contar para meus pais que seriam avós dentro de 9 meses. Conhecendo minha família, meu pai arrancaria os cabelos e mataria o desgraçado que fez isso comigo. Minha mãe ia chorar. Quanto ao Serguei, Natasha e o Mickey talvez iriam me julgar. Não. A Dasha não faria isso comigo. Estive do lado dela até quando levou um fora daquele goleiro russo estranho.
Embarquei no trem. A viagem foi longa, deu para descansar, dormir, ler, ouvir música e escrever umas ideias. Meu pai sempre dizia pra escrever o que vem na mente. O brainstorm pode nos iluminar com boas ideias pra tudo. Nesta espera, uma angústia pegou em mim. Era mesma sensação que tive antes de viajar para o Brasil. Procurei esquecer. Seis horas de viagem depois, desembarco na estação de Ripley. Tento manter a calma, esquecer essa angústia e seguir em frente.
Embarquei no táxi e sorria. Em meus pensamentos, tudo tinha que dar certo. Tudo mesmo. Cheguei rápido na casa dos meus pais. Paguei o taxista, ele gentilmente retirou minhas malas e se despediu de mim. Mickey estava sentado num dos degraus de entrada da casa e parecia abatido. Abri o portão e ele me recebeu com olhar bem soturno e vermelho.
-- E aí? – sorria e abraçava ele. – Não vai me dizer nada?
Ele olhava para baixo e ouvi no fundo alguém chorando.
-- Aconteceu... Aconteceu algo com nosso pai...


Continua...