Olá pessoal!
Uma boa noite e fiquem agora com a nova oneshot ao estilo filme francês do casal Michael McGold e Odile Greyhound (agora é oficial na Grindhouse). Muitas cenas quentes desses dois. Boa leitura!
Maybe I Love You__ Maya Amamiya
Fazia poucas horas que
chegou a Paris e se hospedou. E nada lhe deixava impressionado. As lembranças
do enterro de sua irmã, a culpa recaída sobre ele por parte da família Stone
que também perdeu seus filhos e o genro, pesavam na consciência. Por ele,
poderia muito bem chorar. Em vez disso, apenas ficou deitado na cama,
assistindo pela segunda vez O Último
Tango em Paris e deixou-se levar pelo tempo.
Odile estava no outro
quarto, revendo as fotos de seu noivo. O tempo que Bastian havia pedido a ela
estava claro. E mesmo assim, acreditou que uma viagem a Paris poderia resolver
as coisas. E o segundo motivo é o mais grave. Sua mente não era mais criativa e
não redigia seus roteiros. E mais ainda não sentia mais prazer com o noivo. E
agora ela estava deitada na cama, olhando para a janela e pensando em como
recuperar sua imaginação e o tesão pela vida.
No outro dia o jovem tomou
seu café da manhã e decidido, resolveu sair do hotel para conhecer um pouco a
cidade. Caminhou por vários minutos nas avenidas. Resolveu conhecer um famoso
cemitério visto nos banners, chamado Cemitério de Montmartre. Pegou um táxi e seguiu para a Avenida Samson nº 18º. Ao chegar lá, relembrou novamente o enterro...
FLASHBACK ON
A mãe chorava copiosamente e o pai se encontrava impassível A família
Stone o encarava friamente, embora Lilian era que mais chorava e resmungava.
-- Levaram meus filhos, meu genro e minha nora. – Ela em seguida gritou.
– LEVARAM TODOS OS MEUS FILHOS!
Mickey também chorava e era consolado por sua prima Felicity, talvez a
única da família que via o primo como vitima também das circunstancias. Após o enterro,
Fefe havia sugerido para viajar para algum lugar que não remete as lembranças e
Mickey optou por Paris. Ele viajou sem ao menos comunicar seus pais.
FLASHBACK OFF
Voltando para a realidade, ele caminha ali,
observando cada túmulo. Ali também se encontravam celebridades parisienses e
não-parisienses. Ouviu-se então uma voz feminina e seguindo, encontrou uma moça
de cabelos lisos e castanhos claros, usando um vestido azul e um cardigã cinza.
Ela rezava e depositava flores. Aproximou-se dela e viu que o túmulo pertence a
François Truffaut, o famoso diretor francês.
-- Por favor, me
ajude! Alguma idéia não cairá mal! – Dizia a moça, de
modo suplicante. – Eu só peço um sinal!
Mickey não sabia se ria ou simplesmente fugia
dali. Onde já se viu, uma garota rezando no túmulo de um diretor francês, por
idéias e sinais?
Ao dar um passo para voltar ao ponto inicial,
pisou num galho seco, despertando atenção da moça. Mickey encarou a jovem e viu
seus traços delicados, um rosto redondo e bonito, os olhos castanhos que
transmitiam algo de doçura e um pouco de sensualidade e os lábios perfeitos
para o beijo.
-- Errr... Tudo bem? – Perguntou Mickey,
tentando ser cordial. – Quer dizer... Bien?
Odile segurava um cesto de flores e olhando
para os lados, resolveu seguir para o próximo túmulo, o de Oscar Wilde. Achando que a tratou mal, Mickey a segue,
falando francês.
-- Mademoiselle, s'il vous plaît, ça va? (Senhorita, por favor, está tudo bem?) –
Insistia o jovem.
Odile por fim parou o passo e encarou o rapaz.
--Posso falar em inglês tranquilamente. –
Suspirou pesadamente. -- Algum problema? Parece
que nunca viu alguém sem inspiração.
-- Sem inspiração? E reza pra um diretor? –
Ainda indagava Mickey, curioso.
De alguma maneira, Odile não conseguia odiar o
rapaz a sua frente. E não o culpava pela sua curiosidade. Ainda seguiu com o
mesmo ritual e ainda visitou outras lápides famosas.
E isso seguiu por mais de uma hora e meia até
resolverem se apresentar.
-- Odile Greyhound. – Cumprimentou a moça, com o
sotaque francês que atiçou um pouco o rapaz.
-- Eu sou Michael McGold. – Retribuía com um
aperto de mão e sentindo a maciez da pele dela.
-- Sabe, seu nome me lembra o Al Pacino em O Poderoso Chefão.
– Comentou, sorrindo para Mickey.
-- Talvez seja aí que meu pai resolveu batizar
meu nome. – Ele também ria e observava Odile depositando flores no túmulo de
Serge Gainsbourg. – Ele foi um ótimo cantor.
-- Quem?
-- Serge Gainsbourg. – Respondeu.
-- Tem razão. Ele foi mesmo. – No final Odile
encerrou colocando mais uma flor no túmulo que para ela, é bastante conhecido. Mickey
leu e ali estava escrito “Adrien Villeneuve”.
-- Ele foi escritor? – Apontando para o túmulo.
-- Não. Meu avô. – Respondeu e na saída, resolveu
fazer um convite. – Quer tomar um café comigo?
-- Aceito.
Saindo do cemitério, os dois rumaram para
Champs-Élysées, a avenida mais conhecida e linda de Paris. Ali tomaram café e
descobriram mais sobre si mesmos.
-- Você despertou minha curiosidade. O que fazia
ali no túmulo do Truffaut? – Indagou Mickey ainda abismado
-- Sou uma grande
fã de Truffaut, sempre que me sinto triste ou preciso de idéias, deixo flores
para ele pedindo uma ajudinha.
-- Então você é escritora ou diretora de
cinema?
-- Roteirista, mas sonho em ser cineasta. –
Odile exibia um lindo sorriso, ainda causando um êxtase interno em Mickey. – E
você o que faz?
-- Psiquiatra e desenhista nas horas vagas.
Atualmente não estou atendendo os pacientes por motivos pessoais.
-- Minha irmã ficou com um psicólogo uma vez,
usei a relação dos dois num roteiro e hoje o consultório dele é cheio de pacientes.
– Dizia enquanto ria da lembrança.
-- Imagino. Se estiver com dificuldade em
escrever, pode redigir algo sobre mim. Sobre nós e nosso encontro. – Disse o
jovem psiquiatra.
-- Tem certeza? – Odile abria um sorriso
enorme. Era a primeira vez que alguém lhe dava uma autorização de utilizar uma
pessoa real num personagem.
-- Sim. Não me importo com isso, mas confesso
que acho interessante. – Piscou para Odile, deixando-a corada e recebendo um sorriso dela.
Ainda na belíssima avenida, os dois continuaram
seu passeio, admirando o cenário parisiense. Pararam numa livraria conhecida
por Odile e ela comprou dois livros, sendo que um deles ela presenteou seu novo
amigo.
-- Pra mim?
-- Uma lembrança da França. – Disse a
roteirista, ainda fascinada pelo inglês e esperando sua reação.
Mickey surpreendeu-se demais. O livro em
questão é Paris É Uma Festa, de Ernest Hemingway.
-- Vai te ajudar a conhecer mais sobre a
cidade.
-- Obrigado! Muito obrigado! – Agradeceu. – Se
eu dissesse que na cidade queria conhecer algo, você compreenderia?
-- Acho que sim. – Sorriu. – E seria a Torre
Eiffel?
-- Você!
Apesar de a resposta ter causado certo impacto,
Odile se sentiu muito melhor. De todos os homens que conheceu, um inglês de
olhar penetrante, cabelos esvoaçantes e traços nobres, foi capaz de transmitir
todas as sensações. Despertar um encanto nada igual.
-- Eu também quero conhecer você... melhor, Sr.
Michael!
-- Mickey, por favor.
-- Está bem, Mickey. – Ela se preparava para ir
embora. – Vou pra casa. Se algum dia te encontrar novamente, prometo que terá o
melhor encontro parisiense de sua vida.
-- Estou no Hotel Chevalier. Ficarei uma semana
aqui.
-- Então posso te ver amanhã às 19h?
-- Aceito! – Mickey depositou um beijo na
bochecha dela, mesmo com súbito ímpeto de sentir os lábios dela. – Até amanhã, miss Odile e muito obrigado
pelo livro.
-- Até amanhã, Mr. Mickey!
E cada um seguiu seu caminho, desejando que o
dia seguinte seja melhor ainda e poder vivenciar mais experiências.
Em casa, Odile caminhou até o quarto,
encontrando seu noivo, o jogador alemão Bastian Schweinsteiger,
sentado na cama, furioso.
-- Você foi ao
cemitério fazer aquela loucura de inspiração de novo não é?
-- Sim. Tem algum problema nisso?
-- Sim! Por que não podemos fazer coisas de
noivos?Como escolher o lugar onde vamos casar ou os convidados? – Ele segurava
o braço dela, fazendo-a encarar seus olhos.
-- Sempre que
fazemos isso, você muda as coisas conforme sua vontade, não minha. Decida tudo
por nós daqui por diante. Menos o vestido que já escolhi! – Respondeu Odile,
mais impaciente e saindo do quarto de casal e indo dormir no outro quarto.
Sozinha ela escreveu umas frases para o roteiro,
não o bastante para poder preencher com um texto. Pegou o celular e digitou uma
mensagem para a irmã, falando sobre seu novo amigo. De madrugada pensou em
Mickey, seus olhos negros, a boca dele, seu jeito único e a voz. Por um momento
quando adormeceu, pensou que o inglês estivesse ali na cama.
Amanhece em Paris e Basti resolveu sair mais
cedo de casa, deixando Odile dormindo mais um pouco. Ele não a procurou a noite
toda. E a própria roteirista começava achar que o noivado não vai levar a lugar
nenhum. Até porquê não desejava casar e aconteceu tudo rápido demais. E quando
finalmente encontrou alguém que lhe causasse impacto em sua alma, se encontra
naquele impasse.
Mickey não dormiu na noite anterior pensando em Odile. A francesa
conseguiu obter sua atenção. Comparado com a tenista Ana, por quem desenvolveu
um sentimento especial e foi abandonado por um escritor, a roteirista possui
algo diferente, único. Algo que só o psiquiatra sabe. E agora ele esperava
longamente que o dia passe e o horário combinado soassem no sino da igreja como
nos filmes.
E assim o relógio registrou sete horas. Mickey
já estava devidamente arrumado, com uma camisa cinza e calça e sapatos sociais.
Ficou no hall de entrada esperando pela convidada, que surgia diante dele,
usando um vestido florido e sapatilhas rosa.
-- Me desculpe. – Odile ofegava por conta da
corrida. – Me atrasei por causa...
-- Esquece! – Ele colocou o dedo nos lábios
dela, silenciando qualquer palavra. – Só de saber que está aqui, é o bastante.
Eles voltaram para a Avenida Champs-Élysées,
onde mais uma vez apreciaram tudo de bom ali. Aquela noite prometia a eles.
Mickey olhou para o céu. Não viu as estrelas.
-- Acho que vai chover. – Comentou.
-- Por que?
-- Primeiro: hoje está muito calor e estamos na
primavera e segundo: as estrelas sumiram.
Odile também observou o céu.
-- Isso é normal. – Disse um tanto cética
quanto a previsão do tempo do inglês. – E se é verdade o que disse, neste
momento quero que caia uma chuva bem torrencial agora!
De repente ouviram-se pequenos estrondos e
viram rápidas aparições luminosas no céu e depois um ruído maior. O trovão e
aos poucos pingos começaram a molhar discretamente as ruas.
-- Corre! – Gritou Odile, puxando seu amigo
inglês na corrida em se proteger da chuva, que aumentou seus pingos e mais
trovões.
No meio do caminho e se molhando demais, Mickey
dava risadas e encarando Odile, parou a corrida.
-- Viu só? Eu acertei! – Gritou o inglês sob a
chuva.
Odile admitiu ali que seu amigo é muito
observador sobre as coisas. Nem mesmo os franceses conseguiam adivinhar sobre a
chuva nas estações do ano, era sempre imprevisível. Tomada por uma imensa
alegria, ela o beija ali mesmo, na chuva de primavera, sem se importar se
estavam ensopados demais.
Mickey a levou para o hotel Chevalier. Pegaram
o elevador e se mantiveram abraçados e se beijando calmamente, esquecendo do
frio. No quarto, ele pede seu jantar para duas pessoas e bebidas e em seguida
tirou a roupa e a de Odile.
-- Quer tomar banho comigo?
A francesa cobria os seios com as mãos e olhava
pro chão, demonstrando timidez e medo sobre seu segredo.
-- Acho que não devíamos fazer isso...
-- Existe algo que a impede? – Tocando os dedos
da jovem e ainda vendo seus olhos.
-- Eu... não... – Odile não conseguia mais
falar. Seu medo foi silenciado e as palavras não saíram por conta do beijo
intenso de Mickey.
Caminharam juntos até o chuveiro e tomaram um
delicioso banho quente, ao mesmo tempo se beijavam, trocavam carinhos
apaixonados e se entregaram aos prazeres carnais. Após isso permaneceram
deitados, abraçados na banheira com a água morna aquecendo seus corpos.
-- Eu tenho um segredo a ser compartilhado. –
Disse.
-- O que? Me conte!
-- Estou noiva!
Por questão de segundos, Mickey não compreendeu
e sua mente então ecoou a revelação de Odile. E ai a tristeza abateu-se. Era
bom demais para ser verdade. Uma moça linda, com mente aberta para a cultura
e... ainda noiva.
-- Entendi por que hesitava. – Ele olhava para
as toalhas. – É errado sim o que estamos fazendo...
-- Mas é gostoso. – Ela segurava o rosto do
inglês e ainda mirando os olhos dele. – Eu sei que errei. Eu... não consigo
resistir a você.
-- Sabe, nossa vida é como um filme francês. –
Ele sorriu. – Existe o amor e ainda o conflito existencial. No nosso caso, você
tem um noivo e eu... minha tristeza.
--- É uma garota? – Achando que Mickey esteja
com a típica dor de cotovelo.
Ele não respondeu e em seguida se levantou e
saiu da banheira, pegando sua toalha e entregando uma para Odile.
-- Algum dia saberá...
Quando se secaram, Mickey a tomou em seus
braços e a levou para a cama, executando mais uma vez os movimentos prazerosos,
arrancando gemidos da francesa e causando prazer elevado para ambos. No jantar,
ela comunicou que vai dormir na casa da irmã e depois se vestiu, com a roupa
quase seca.
-- Odile... – Ele a segurou pelo braço. – Se
ainda... quer me ver, estou aqui.
-- Amo estar com você, Michael! Estamos cientes
do erro. E quero também te ajudar.
Novamente se beijaram e combinaram de se verem
na parte da manhã. Na saída, a chuva havia parado e Odile ligou para Bastian.
-- Alô?
-- Oi, sou eu. Eu saí com minha irmã e vou
passar a noite na casa dela.
-- Vem pra cá. Sei que fui estúpido, mas... dorme aqui
comigo, Odile.
Por mais que o pedido soasse um desespero,
Odile teve vontade de ficar com o noivo. A simples lembrança da noite com
Mickey a fez reconsiderar.
-- Até amanhã, Basti. – E desligou, pegando um
táxi para ir à casa de Marie, sua irmã.
Chegando lá, ouviu de cara alguns gritos vindos
do quarto e Odile pegou rápido o taco de cricket da irmã e caminhou
sorrateiramente até a porta e contando até três, abriu rápido e se envergonhou
por ver sua irmã e o namorado alemão, numa posição bastante íntima.
-- AI MON DIEU! MARIE! – Odile fechou os olhos
e se retirou do quarto, correndo para a sala.
-- DROGA, ODILE! DE NOVO? SAI DAQUI!
Alguns segundos depois, apareceu um rapaz de
cabelos louros um pouco bagunçados, a camisa branca amassada e a calça preta
quase caindo. Ele olha para a irmã de Marie, constrangido.
-- Me desculpe... – E se retira da casa dela.
Marie surgiu na sala, apenas de roupão e cara
indignada.
-- Quando namorava o Roger, você me interrompia
por sacanagem. Agora que estou com Uli, é também sacanagem?
-- Apenas com Roger te sacaneava. – Ria da
situação. – E quem é Uli?
-- Um cara que conheci no pub. Faz um mês estou
saindo com ele. – E depois servindo um copo de vinho para a irmã. – E outra vez
brigou com Basti?
-- Pra variar... – Respondeu ao beber um pouco.
– Conheci um rapaz incrível faz dois dias.
-- Quem é ele?
-- Inglês, nome que lembra o mafioso do
Coppola, mas carrega um olhar triste, porém sabe dizer verdades, é observador
da vida, é sensível.
-- Ok e o nome dele? – Marie estava bastante
curiosa.
-- Michael McGold. É o nome dele.
-- Hum... esse Michael deve ser incrível mesmo,
pra te causar tudo isso. E seu bloqueio ainda continua? Não visitou o
cemitério?
-- Visitei e foi lá que o conheci. E falando
nisso... – Odile sentiu uma vontade imensa de escrever. – Acho que vou dormir.
Boa noite Marie.
-- Boa noite, Odile. – Seguiu para o seu
quarto. – E boa escrita noturna!
Ao fechar a porta, Odile pegou um dos cadernos
que Marie sempre deixa na gaveta da escrivaninha para ajudar a irmã e com a
caneta que guardou na bolsa, começou a escrever uma página, duas páginas, três
páginas... no final foram doze páginas escritas e Odile adormeceu na cama, com
mais folhas.
Ao acordar, Odile reorganizou suas folhas
escritas e ao sair do quarto, novamente encontra o rapaz chamado Uli na
cozinha, apenas de calça.
-- Ah me desculpe mais uma vez... Acho que sua
irmã...—Ele tentou dizer algo mas Odile o interrompeu.
-- Deixa pra lá. Eu sei sobre você e minha
irmã. – E caminhando até a porta, avisa. – Diga a Marie que vou tomar café em
outro lugar.
Por uma incrível coincidência, Odile avistou
seu amigo Mickey, desfrutando de uma manhã maravilhosa na confeitaria. Decidiu
ir até lá e se aproximou dele.
-- Bonjour, Mickey! – Se sentou na mesa,
sorrindo para o amigo.
-- Olá, Odile... – Mickey não estava bem.
Odile compreendeu que talvez fosse revelação de ontem a noite e o remorso começasse
a pesar na consciência.
-- Se é sobre ontem à noite...
-- Nem é por isso. – Replicou, ainda triste. –
Eu sei que é errado. Na verdade... Ainda sofro...
-- De quê?
Mickey começou a chorar baixinho e Odile ficou
ao seu lado, abraçando-o.
-- Aconteceu há seis meses...
FLASHBACK ON
A casa de Christopher se encontrava cheia por conta da
festa de noivado de Ana e Paul Breitner. Mickey foi convidado e não guardava
ressentimentos para com a ex-namorada tenista e desejava tudo de bom para ela. Ele avistou a
irmã e Jim Stone dançando, Felicity bebendo sozinha, as amigas dela todas
acompanhadas e sua melhor amiga, Alice aos beijos com Gerd, o ex-namorado de
Louise.
Num dado momento da madrugada, Louise havia pedido ao irmão
que a levasse para o apartamento e junto com Jim, Alice e o namorado. O
inglês era o único que não consumiu
bebida alcoólica e dirigiu por alguns minutos.
-- Mickey... hic up.. quero muito minha cama... – berrava
Louise, completamente bêbada e o restante dormindo no banco de trás.
-- Pára de me incomodar que te levo. – Disse Mickey,
parando na faixa por conta da sinaleira indicar a cor vermelha.
Ao abrir o sinal, o carro seguiu calmamente seu caminho...
até um caminhão desgovernado colidir violentamente, deixando todos feridos....
FLASHBACK OFF
-- Não é difícil saber... – Ele dizia enquanto
acendia um cigarro. – Que depois do acidente, minha mãe passou a me odiar, meu
pai me despreza. A família McGold quase me excluiu, a família da Alice e Jim me
odeia. As únicas pessoas que não me vêem com ódio nem nada são meus amigos,
Chris, George e Giles e minha prima Felicity. O resto...
-- Acho que está precisando disso. – Odile
tirou o cigarro dos dedos dele e deixou no cinzeiro.
-- O que preciso?
-- De um abraço, de alguém que escute você e
entenda seu lado da história. – Novamente eles se abraçam e Mickey se entrega
as lágrimas. Odile também chora com ele.
-- Cita um lugar para eu conhecer. – Mickey
limpava as lágrimas e voltou a sorrir.
-- Museu do Louvre e depois a casa de Victor
Hugo!
Chegando ao museu, Mickey praticamente admirou
o lugar. Desde criança sonhava conhecer aquele lugar e ainda havia prometido a
Louise que a levaria junto. E agora esse sonho se tornou realidade... em
partes.
De maneira engraçada, os dois resolveram impor
um desafio. Observar correndo todo o museu em menos tempo. Na verdade eles
desejavam reproduzir a famosa cena do filme Bande
à apart.
-- Se eu ganhar, posso chamar seu personagem de
“John”?
-- Sem problemas. Se eu ganhar, você vai fazer
algo pra mim. – Disse Mickey, se preparando pra correr igual a um atleta.
-- E o que farei?
-- Vamos dizer que... envolve poemas escritos
por mim, desenhos e... uma cena muito conhecida do meu filme favorito, O Último Tango em Paris.
-- É meu filme favorito também! Agora fiquei
curiosa...
Ficaram em silêncio e três segundos depois
correram no museu, como duas crianças alegres. Quando alcançou Odile, ele pega a mão dela e
os dois param, ainda rindo.
-- Trapaceiro! – Ela respirava com dificuldade.
– Pegou minha mão pra me vencer, não valeu!
-- Peguei sua mão para um empate! – Ele riu. –
Pelo menos nós dois saímos ganhando!
-- Tem razão! Então posso usar você para a
concepção de “John”. O personagem do meu
novo roteiro.
-- Estou louco pra ler!
Ao saírem do Louvre, seguiram para La Place
des Voges, a lendária casa de Victor Hugo. Em meio à visão da sala de estar, a
sala de jantar de inspiração medieval (idéia de Victor Hugo), a sala chinesa
concebida pelo escritor, e o seu quarto, ele não percebeu que era observado.
Notou minutos depois de quem se tratava quando a moça se aproximou dele.
-- Michael! É você?
-- Você é... Anastacia Rosely! – Mickey abraçou sua ex-namorada. – O que faz aqui?
-- Lua de mel com meu marido! – Neste momento, o marido de Ana surge,
colocando o braço ao redor do ombro. – Paul, este é o Michael.
-- Como vai, Michael? – Paul se mostrou bastante simpático e Mickey
mesmo retribuindo, não conseguia deixar de sentir uma ponta de ciúme.
-- Um pouco melhor... – Neste momento, Odile se aproximou do amigo e
segurou sua mão. – Errr... pessoal, quero que conheçam Odile. Minha... Ami...
ami...
-- Sou a namorada dele! – Apresentou-se a francesa, sorrindo e tentando
não mostrar a fração de ciúme sentida.
-- Nossa, meus parabéns! – Ana demonstrava felicidade e ainda abraçou
mais uma vez Odile. – Tentei fazer com que ele parasse de
fumar, mas não deu certo e ele é muito introvertido.
-- Vi como ele é. – Respondia a francesa ainda
com um sorriso.
-- Ele é durão, mas por dentro se derrete com
as pequenas coisas e ah ele gosta de bolo... – Ana mal terminou de falar por
ser interrompida pelo marido, que se encontrava um tanto sem jeito com as
revelações.
-- Ana, melhor voltarmos pro hotel! Já está
ficando tarde!
-- Tem razão, amor. – Em seguida olhou pro
casal. – Michael, adorei te reencontrar e ainda mais com sua namorada francesa.
Venham nos visitar em Munique! Até mais!
-- Até mais, Ana e Paul! – Despediu-se Mickey.
Ainda andando pelo corredor dos quadros, Odile
questiona.
-- Ela sabe de tudo que aconteceu com você?
-- Sim. Permaneceu ao meu lado no dia do acidente.
Porém, ela me confessou que se apaixonou por outro antes. E ai quando ganhei
alta, terminamos amigavelmente e ela assumiu o noivado. Inclusive fui o
padrinho.
-- Ela te conhece bem... – Odile fechara a
cara, mostrando seu ciúme.
-- Hey! – Ele a encarou e tocou o queixo dela.
– A única pessoa que sinto coisas especiais é você.
Mickey a beija ali mesmo, sentindo também as
mãos dela tocando a nuca e com isso o ósculo foi se tornando mais intenso.
-- Mickey... eu...
-- Não posso viver sem você...Odile...
Ela chorou abraçada fortemente nele. Nunca
ouviu algo do tipo em seus antigos amores. Com Mickey surgiu uma sinceridade
nas palavras. E mais ainda comprovar o que Anastacia havia dito.
Voltando para o hotel, ficaram aos beijos por
vários minutos até ele resolver criar algo.
-- Vou trazer algo. Já volto. – Disse ele
saindo do hotel
Odile aproveitou ali para ver tudo do quarto
dele. Encontrou na mesa muitos desenhos dele, alguns textos do trabalho dele e
encontrou ali manuscritos. Logo deduziu serem os poemas dele. Enquanto lia as
primeiras estrofes, logo veio as idéias para o roteiro.
-- Como queria escrever neste momento... –
Lamentou-se por não carregar ao menos um bloco de notas e ainda se lembrou de
Marie. Precisava mandar uma mensagem a ela pra avisar que passará a noite com
Mickey.
Se Basti ligar, diga que não quero falar com
ele e estou na sua casa.
Vou ficar aqui com Mickey.
Odile
Odile sabia que Bastian não iria à casa de
Marie nem sob decreto depois do incidente que ocorreu cerca de dois meses
atrás, quando o jogador alemão foi procurar pela namorada e gritou para toda
vizinhança, causando incomodo a todos. Mas também sabe que mesmo com suas
atitudes um tanto possessivas, Basti tem sentimentos por ela. A amava
profundamente. Porém, Odile não conseguia mais sentir algo por ele. Ou ao menos
achava isso. Decidiu por fim ainda passar a noite com Mickey e no outro dia
ficaria o tempo todo com o noivo e dormir com ele, para ver se há chances de
salvar seu noivado.
Mickey retornou ao quarto, um pouco frustrado,
contudo, trazendo umas sacolas contendo caixas. Curiosa, Odile saiu da cama e
foi ver como estava seu amigo inglês.
-- Aconteceu algo?
-- Eu recebi uma ligação dos meus amigos. Um
deles ficou noivo. E me convidou pra ser o padrinho. – Comentou Michael,
retirando as caixas da sacola.
-- Uau, meus parabéns “padrinho”. E por que
essa cara? Deve sorrir!
-- O problema é... que recebo as ligações de
todos, menos dos meus pais. Prova que ainda não se importam comigo.
-- Não deve ficar assim. – Ela puxou de leve o
rosto dele, sentindo a maciez da pele dele. Decerto o inglês fez a barba. E
também o abraçou. – Ao menos tem amigos
de verdade, que se comunicam com você, se importam com você, sabem de tudo e
ficam do seu lado. São raros esses tipos de amizades.
-- É verdade. Uma má noticia: hoje não iremos
fazer aquilo baseado numa cena do meu filme favorito. Boa noticia é que tenho
um presente pra você.
Ele entrega a caixa personalizada para ela.
Odile pegou com cuidado e ao abrir, viu se tratar de uma câmera Polaroid nova,
um álbum e uma folha de caderno escrito um poema. Odile leu e ficou
extremamente feliz, ao mesmo tempo lançou um olhar curioso para Mickey.
-- Uau, Mickey. – Impressionou-se. – Esses
presentes e o poema são lindos. Eu adorei demais! E o poema... você mesmo
escreveu?
-- Retirei tudo da minha alma e as sensações da
minha imaginação.
Odile novamente se emocionou e tomada pela
paixão, beijou Mickey e ainda pediu algo.
-- Posso usar esses poemas no meu filme?
-- Claro. “John” Dedicará para “Ann” essas
palavras tão... apaixonadas e pessoais.
No mesmo momento se amaram mais intenso, a
ponto de ambos gritarem pelo prazer sentido. De madrugada, Odile tentou pegar
um dos cadernos de Mickey e verificando as páginas vazias, rapidamente viu a
caneta do hotel na mesa e começou a escrever mais sobre o roteiro, até ouvir o
amante chamar.
-- Odile! – Mickey estava quase sonolento. –
Vem pra cama!
-- Já vou, mon amour!
No final ele se levantou e viu a amada
escrevendo apenas de roupão e ainda num dos cadernos dele.
-- Você está escrevendo num dos meus cadernos.
– Disse, surpreso.
-- Desculpa, mon amour. Esqueci de trazer meu
bloco de notas. Fiquei com uma necessidade de escrever e furtei um dos seus
cadernos, se importa?
-- Fica a vontade! Alias, ele é seu! Mais um
presente de um inglês para uma francesa. – Mickey a acariciava nas costas e em
seguida sussurrou. – Quero te amar mais um pouco.
E se entregaram aos prazeres carnais mais uma
vez na cama, resultando numa ótima noite para eles. No dia seguinte Mickey
outra vez acorda sem Odile ao seu lado. Ela também levara o caderno como
presente. No celular havia uma mensagem dela.
Irei te ver à tarde.
À noite vou ficar com meu noivo. Por favor, não
pense mal de mim.
Ainda adoro você e agradeço mais uma vez pelos
presentes.
PS: quando for passar a noite com você,
mostrarei meu roteiro (uma parte dele).
Com amor, Odile.
Ainda na casa da irmã, Odile formulava o que
dizer para o noivo sobre sua ausência, sem jamais mencionar seu envolvimento
amoroso com Mickey. Quando fechou duas horas da tarde ela se encontrou com seu
amigo, ou seria amante, pelo fato de ter dormido com ele? Foram juntos para os Jardins
de Monet, onde conversavam sobre o local e a francesa ainda dizia sobre seu
roteiro. Quando enfim encerrar seu passeio, foram tomar café na mesma
confeitaria, onde a roteirista resolveu tentar algo. Ela retirou seu sapato e
um dos pés ela encostou de leve na perna do inglês.
Ele quase se assusta e tentando disfarçar sua
surpresa e êxtase, olhou para Odile e a mão dele descia para o pé dela,
massageando, tornando numa caricia erótica para provocar a francesa. Quase ela
reconsiderou, mas resistiu.
-- Hoje não, Mickey! – Ela calçou o sapato
Prada novamente. – Eu vou...
-- Eu sei, minha Didi. Você tem uma vida lá
fora... e eu não faço parte dela.
-- Michael... – Ela o beijou forte e quando
parou o beijo, correu até a rua e pegou um táxi, seguindo para sua casa,
deixando o inglês desolado.
Chegando em casa, Odile abre a porta e encontra
a sala cheia de rosas e uma trilha feita de pétalas. Ela seguiu o caminho até o
quarto e encontrou o noivo, sentado na cama, olhando as fotos no celular.
-- Bastian...—Ela o chamou.
-- Me perdoa pela minha estupidez. – Ele correu
até a amada e a abraçou. – Eu sou assim mesmo.
-- Bastian, estamos sofrendo demais. Vamos
tentar mais uma vez viver felizes, sim?
Trocaram um olhar significativo e Bastian
começou a despir a noiva aos poucos. Ela fez o mesmo com ele e houve momento
quando retirou a camisa dele, visualizou o rosto de Mickey em vez de Bastian.
Se amaram sob as luzes das velas de modo romântico, mesmo que a francesa ainda
pense no inglês a todo momento.
Atingiram o clímax juntos e minutos depois, já
recuperados, Bastian se levanta e pegando a mão de Odile, refaz o pedido.
-- Odile Greyhound, quer casar comigo?
Mil pensamentos e decisões. E todas incluíam
Mickey. Ele ficaria pouco tempo em Paris e ai nunca mais o veria. E com o
pedido feito pelo amado, resolveu aceitar. Comemoraram tomando um vinho tinto
na cama.
-- Nosso casamento vai ser lindo, meu amor. –
Ele dizia enquanto servia mais um pouco de vinho no copo. – E desta vez vai ter
tudo que você deseja.
-- Temática de cinema francês?
-- Tudo, meine liebe!
Adormeceu abraçada no peito dele, ainda com a
dor no coração, por pensar em Mickey e possivelmente sua separação dele.
Naquela noite Mickey continuou digitando sobre
sua tese psiquiátrica ao mesmo tempo pensava em Odile e o quanto ela lhe fez
bem. Sem dúvida a francesa lhe dava otimismo, esperança para sobreviver. De
repente seu celular toca.
-- Alô?
-- Oi primo, é a Felicity! Sua voz está ótima. O que
aconteceu nesta viagem?
-- Vamos dizer que conheci uma francesa. Ela me
mostrou a cidade... e o amor.
-- Eu
sabia! – Ela gritou no telefone. – Você
está apaixonado!
-- Hey, não totalmente. – Agora adquiriu um tom
um pouco triste. – Ela é noiva de um cara, um alemão. E mais: é roteirista.
-- Você conheceu
uma francesa, que é roteirista e ela é noiva de outro? Você está tendo um caso
com uma mulher comprometida, seu vida louca? – Felicity ria do primo.
-- É sim. Acho que desta vez vai acabar. Vou
embora no domingo e ela vai voltar pra ele.
-- Ainda gosta dela?
-- Não. Eu amo Odile. – Suspirou e voltou a
indagar. – E meus pais não querem saber de mim?
-- Tio Tony nem fala nada. Tia Mary esses dias se
perguntava o que você anda fazendo em Paris e depois se calou.
Novamente um silêncio se instalou nos primos e
Fefe quebrou o gelo.
-- Olha, comprei um apartamento legal perto do centro de
Londres e quero te convidar a morar comigo. Convidei a Nora, mas ela já está
noiva.
-- Até aceito, mas e você tem namorado?
-- O único que tinha era um holandês filho da puta! Voltou
pra esposa.
-- Bem chato isso! Olha Fefe, eu vou desligar.
Estou com sono. Até mais.
-- Até mais, primo amado e se encontrar a tal Odile, não
deixe escapar de suas mãos e mostre que você é o cara pra ela! Beijos!
Desligando o telefone, voltou a sua tese até
hora de dormir. Paris amanheceu com chuva e Mickey não saiu para a rua. Em vez
disso optou pedir seu café da manhã, permanecendo no quarto apenas para
assistir filmes e escrever.
Bastian mesmo na chuva, havia partido para o aeroporto.
Precisava retornar a Munique para resolver alguns assuntos relacionados ao time
e principalmente as partidas de futebol pelo Bayern de Munique. Odile só ficou
escrevendo durante a parte da manhã. Na verdade ela sentia saudade imensa de
Mickey, de seus braços, seu corpo, sua boca ávida e as licenças poéticas que
ele sempre recitava enquanto faziam amor. Para tornar aquela quinta-feira um
pouco melhor, ela aproveitou que a chuva diminuiu seu ritmo de pingos e correu
até a uma confeitaria mais próxima e comprou um bolo. No começo da tarde seguiu
para o Hotel Chevalier.
Enquanto isso o psiquiatra terminava sua tese e
enviava por email para seu chefe quando ouviu batida na porta. Achando se
tratar da camareira, abriu a porta e viu Odile, a roupa quase molhada e
sorrindo.
-- Mon Amour! – Ela o beijou e entrou no
quarto. – Sentiu saudades de mim?
-- Até demais! – Ele sorria e conduzia a amada
para uma parte do quarto, a do lazer, onde está uma mesa e uma cômoda. – Como
está seu roteiro?
-- Hoje escrevi mais e passei a limpo a parte
escrita no seu caderno. Logo devolverei.
-- Já disse que ele é seu! Pode ficar com ele.
Tenho outros onde posso escrever.
Ambos comeram um pedaço de bolo, ao mesmo tempo
assistiam deitados a cinebiografia de Serge Gainsbourg.
-- Minha irmã ama esse cara. – Comentou Odile.
-- Ela tem vários discos dele.
-- Eu também gosto das músicas dele.
Principalmente esta aqui. – Ele pegou seu iPod e tocou Je t'aime Moi Non Plus. – Ele cantou ao lado de Jane Birkin.
-- Isso mesmo... – Ainda mirando os olhos do
amado, ela pegou os pratos e deixou na mesa. Em seguida voltou para a cama,
onde se amaram com mais vontade e com a música embalando os amantes.
Mickey desligou a TV e ofegante, abraçou sua
amada e pegou outra vez o iPod e selecionou a música La
Javanaise.
-- Adoro esta também... – Odile beijava o amado
e o enchia de carinho.
-- Vai fazer “Ann” e “John” ouvirem Serge
Gainsbourg?
-- Certamente... – Ela respondeu, baixinho e de
repente chorando.
-- Odile...
-- Mickey, eu vou me casar!
A noticia foi como uma bomba para o inglês. Ao
que parece, perderia sua amada francesa para sempre e continuava naquela
infidelidade. Tentou de tudo pra parar e se convencer que Odile não lhe
pertenceria em seu mundo. Ambos eram como galáxias. Ela é a Via Láctea e ele é
Andrômeda. Distantes por anos-luz e diferentes. E são essas diferenças que
Mickey ficava atraído por Odile. Notando
que o amante estava calado demais, resolveu quebrar o gelo.
-- Mon Amour...
-- Acho que não serei mais seu “amour”. –
Disse, soturno.
-- Enquanto o grande dia não chega ou minhas
chances de salvar minha relação com Basti se esgotar, ainda ficarei ao seu
lado. Eu preciso de você e você precisa de mim!
As palavras eram simples e verdadeiras. Mickey
afagou o rosto dela e a beijou de forma ardente e apaixonada, saboreando a boca
dela em cada momento. À medida que o tempo passava, os beijos ficavam mais
provocativos e cheios de paixão.
Passaram a noite juntos e outra vez Odile
retornou a sua escrita. Naquele momento ela entendeu algo. O sinal, o pedido
que havia feito no cemitério, está dando certo. Só que de maneira estranha.
Desde que começou o relacionamento clandestino com Mickey, suas idéias
borbulhavam numa incrível velocidade e para não deixar as idéias fugirem,
escrevia de algum modo, a ponto de pegar o caderno do amado. E agora precisava
agradecer.
-- Mon Amour... – Odile acordava Mickey. –
Vamos sair hoje?
-- Para onde?
-- O cemitério de Montmatre. – Ela sorria. –
Quero agradecer ao Truffaut.
Tomaram banho juntos e ali mesmo fizeram amor.
Aparentemente esqueceram-se do que falaram na noite passada sobre o noivado. Na
verdade Mickey procurava não demonstrar isso evitando sofrimento para ambos.
Tomaram café e saíram do hotel, pegando um táxi que os levou ao cemitério. Ao
encontrar o túmulo do famoso cineasta francês, encontraram um filhote de gato,
cuja pelagem era negra e olhos cinzentos. O filhote miava quase
incessantemente.
-- Didi, venha ver! – Mickey e Odile correram
até o túmulo e pegaram o bichinho com cuidado. – Coitadinho, abandonaram ele
aqui.
-- Ou se perdeu da mãe. – Odile segurou o
filhote e fez carinho nele. Imediatamente afeiçoou com ele. – Vou cuidar dele,
mon amour!
-- Esse filhote foi protegido pelo Truffaut. –
Comentou Mickey, olhando para a lápide. – Merece ser cuidado por alguém como
você.
Ambos sorriram e encerram uma parte do dia com
Mickey voltando para o hotel e Odile seguindo para a casa, levando o gatinho,
agora batizado de Meia Noite. Bastian chegou quase oito da noite e encontrou a
noiva cuidando do novo mascote.
-- O que significa isso? – Questionou Basti,
estranhando tudo
-- Encontrei esse filhote no cemitério. Adotei.
– Ela disse, sorrindo.
-- Só você pra adotar um gato que encontra no
cemitério.
Bastian observou mais um pouco e entrou no
banheiro, deixando sua noiva entretida com “novo morador”. Ela não conseguiu dormir mais uma vez
pensando em Mickey.
Desta vez o motivo era a partida dele. A semana se passou tão
rápido que ela quase esqueceu que seu amigo voltaria para a Inglaterra.
E veio o sábado...
Odile aproveitou que Bastian retornou para a
Alemanha e seguiu para o hotel. Bateu na porta do quarto de Mickey e ele abriu,
recebendo a moça com um olhar diferente.
-- O que aconteceu? – Indagou Odile, preocupada.
-- Eu... Eu... – Mickey cambaleava como se
fosse um bêbado, embora Odile não sentisse nenhum cheiro suspeito. – Tentei...
tomar remédios...
-- Que remédios?
-- Esses! – Mostrou um pequeno pote contendo
apenas cinco comprimidos brancos. – Acho que não exagerei o suficiente.
-- Michael, por acaso tentou se suicidar?
Não houve respostas e mesmo assim Odile estava
entendendo, com o silêncio dele.
-- MICHAEL! – Gritou Odile.
-- SIM! – Ele se irritou com a insistência
dela. – EU TENTEI ME MATAR E TIVE MEUS MOTIVOS.
-- Você... não... – Ela o abraçou fortemente e
chorou.
-- Acabou! Nosso sonho de verão, nosso filme...
Mickey dormiu um pouco na cama e Odile passou a
cuidar dele. Afastou os remédios de perto dele e ainda o socorreu quando este
acordou de sobressalto e correu para o banheiro e vomitou tudo.
-- Não faz mais isso, mon amour. – Odile dava
banho nele enquanto Mickey estava submerso na banheira. – Estou aqui e ficarei
com você até hora de ir embora.
-- E o Bastian?
-- Ele viajou para Munique. – Respondeu e
depois foi até a cama, pegou a bolsa e dali tirou de dentro uma venda preta. –
Vamos fazer umas experiências?
Mickey se secou devagar, escovou os dentes e
saiu dali de roupão e viu Odile apenas de calcinha de renda vermelha e nas mãos
tinha a tal venda.
-- Uau... – Surpreendeu-se. – O que pretende?
Ela colocou a venda nos olhos do inglês e
sussurrou no ouvido dele.
-- Uma pequena experiência. Seja meu, agora!
Odile tirou o roupão dele e o beijou. Mickey provocou Odile
passando a língua nos lábios macios da francesa e depois descendo com mais
beijos e lambidas no pescoço. Ela o deitou na cama e continuou o carinho
ardente. Mickey gemia demais e às vezes implorava mais aqueles carinhos. Ele se
deliciava apalpando os seios e o ventre da amada e depois as pernas dela.
-- Mickey... – Ela se sentava nele e esfregava seu corpo no
dele. – Quero você, mon amour.
Aos poucos iniciaram os movimentos, antes lentos e agora
ficavam mais rápidos e prazerosos pro casal, sobretudo para Odile, que dominava
o amante e o arranhava demais.
Depois a posição foi invertida e Mickey retirou a venda e
continuou as estocadas, mirando os olhos de Odile com extrema paixão e gemendo
no ouvido dela.
-- Eu te amo, Odile...—Disse enquanto a penetrava fortemente.
– Eu... aaahh... Odile...
-- Michael... oohhh... mon amour... ahhh!
Atingiram o clímax, gritaram juntos e Mickey deitou-se por
cima dela, respirando fundo pra recuperar o fôlego e ela também, ao mesmo tempo
sorria.
-- Fica até segunda? – Odile tentava convencer
seu amado a ficar.
Mickey pensou por uns minutos e por fim disse.
-- Segunda-feira volto para a Inglaterra e você
fica comigo o fim de semana inteiro! E ainda faremos aquela cena do meu filme
favorito!
-- Por acaso é... ai meu deus....—Odile ficou
com medo.
-- Se me disser que é o da manteiga, sim. Mas
vai ser de outro jeito e menos brutal. – Garantiu o inglês bocejando. – Agora
vamos dormir. Boa noite, Didi.
-- Boa noite, mon amour! – Adormeceu abraçada
nele.
Os dois acordaram juntos, tomaram banho e
Mickey aproveitou para pedir o café da manhã e fez algumas ligações. Odile
ligava para Bastian, mas não conseguia. Resolveu enviar uma mensagem a ele.
Vou ficar aqui com minha mãe em Lyon.
Segunda-feira vamos conversar seriamente. É
sobre o noivado.
Beijos, Odile
Ao final da mensagem, guardou o celular e
recebeu o café da manhã do hotel e arrumou a mesa. Mickey ainda conversava no
celular. Ficou pensando na noite passada sobre reproduzir a cena do filme
favorito dele. É sem dúvida o momento mais tenso, porém tinha um toque de
erotismo. Por mais que o inglês garantisse que seria menos traumatizante, ela
ainda tinha receios maiores. Enquanto isso ela via o rosto de Mickey mais
sorridente.
-- Não precisa fazer isso, Fefe. Só reserve meu
quarto e eu mesmo reformo!
-- É melhor assim! Então, amanhã irei ao aeroporto e te
busco. Até mais, meu primo!
-- Até amanhã!
Com o fim da conversa, Mickey e Odile ficaram
assistindo o filme favorito dele, ao mesmo tempo Odile apertava a mão do amado
ao ver a famosa cena que para muitos cinéfilos como ela, se tornou marcante e
tensa. Mickey percebeu isso e ao fim do filme, desligou a televisão e o
aparelho DVD. Verificou se na mini mesa de comida que o hotel deixa havia ali
uma manteiga e estava ali um restinho. Levou até o quarto do casal e deixou na
cômoda ao seu alcance.
-- Mickey! – Odile respirava fundo por conta do
medo. – Eu não sei se estou preparada... Ali no filme...
-- Amor, aquilo visto no filme foi realmente
tenso. O que vamos fazer... vai ser igual e ao mesmo tempo diferente.
Mickey pegou o celular e tocou a música Je T'aime Moi
Non Plus. Odile sorriu
e olhou bem nos olhos do amado, aproximou-se dele e deixou o roupão cair no
chão, revelando sua nudez. Ele fez o mesmo.
Ela deitou-se de bruços, esperando pelo amado.
Ele ficou na cama e pegou um pouco de manteiga do pote e em seguida besuntou a
área abaixo do quadril de Odile. Se
deitou por cima da amada e ainda massageou as costas, deixando tranqüilizada e
deu uns beijos no pescoço dela.
-- Sinta tudo... – Ele dizia enquanto a
penetrava por trás com cuidado. – Meu amor!
Enquanto a música de Serge Gainsbourg embalava
o casal, o clima começou a esquentar para ambos. Mickey segurava as mãos de
Odile e ela gemia mais de prazer.
-- Ma chérie je t'aime. Il est seulement le
mien et personne d'autre! (Minha querida, eu te amo. Seja só minha e de mais
ninguém!) – Ele se declarava em francês, para o deleite de Odile.
-- Michael... – Ela gemia e ao mesmo tempo
reunia as palavras necessárias. -- Je serai votre femme, votre ami, votre
bien-aimé. Reste avec moi, mon amour! (Serei sua mulher, sua amiga, sua amada.
Fica comigo, meu amor!)
E quanto mais Michael avançava, mais perto do
prazer máximo eles sentiam. Odile implorava mais por palavras dele e o amante
não negava e também virava o rosto dela para mais beijos quentes e provocantes.
Acabaram atingindo o topo do prazer juntos e Mickey saiu de cima dela e Odile
se virou, beijando direito o inglês suado.
À noite Michael
praticamente recitou os poemas escritos e Odile enfim conseguiu finalizar mais
uma parte do roteiro e tomaram banho juntos para depois irem dormir.
E segunda-feira amanheceu.
No hall de entrada, Michael assinava o protocolo de hospedagem e acertava o
pagamento. Esperou ali o táxi.
-- Vou voltar a minha
realidade. – Disse, cabisbaixo. – E você para o seu noivo.
Odile chorava. Não queria
de modo algum que Mickey fosse embora.
-- Se eu te reencontrar,
promete que vamos ficar juntos? – A indagou.
-- Prometo, mas até lá, não
cometa meus erros e nem erre com seu futuro marido. – Ele a beijou e depois
embarcou no táxi recém chegado. – Obrigado por me receber na França, Odile
Greyhound. Eu te amo!
-- Eu que agradeço, Michael! Eu te amo e obrigada por me
inspirar! – Despediu-se dele e o táxi seguiu para o aeroporto.
Ela ficou um bom tempo observando até o táxi sumir e depois
seguiu caminhando pela Champs-Élysées, se lembrando dos momentos ao lado do
inglês, que antes era seu amigo, virou algo mais: um amante e um namorado.
Chegando ao apartamento da irmã, encontrou o gato Meia Noite tomando leite na
tigelinha branca. Sentou no sofá e chorou.
--
Mickey... je t’aime!
Por
mais que fosse seu desejo de ter novamente o inglês, agora as coisas eram
diferentes. Ela tinha Basti e o noivado. Mickey aparentemente era abandonado. O
que poderia acontecer com ele em seu retorno a Inglaterra?
Ao chegar a Londres, Michael foi bem recebido por Felicity
e Chris Romanov, seu amigo de infância e os três tomaram café juntos. Ao fim da
tarde ele se dirigiu para a casa dos pais. Ainda no carro, comentou com a
prima.
-- Eu juro que vai ser a última noite nesta casa. – Disse
em tom grave. – Amanhã vou morar com você, prima.
-- Tudo bem. – Os dois saíram do carro e ela abriu o
porta-malas, tirando de dentro as malas de Mickey. – Se não conseguir ficar aí,
me liga ou pro Chris.
-- Eu agüento!
Felicity foi embora e Mickey entrou na casa com
receio, olhando tudo ao redor. Aparentemente tudo normal e calmo. A televisão
ligada, um cheiro forte de comida. Deduziu rápido que se trata de uma lasanha.
Pensou em ir à cozinha, mas preferiu subir as escadas e entrar pro seu quarto.
Chegando lá, abriu a porta e encontrou sua mãe, Mary, lendo um dos cadernos de
Mickey guardado na escrivaninha.
-- Mamãe! – Ele disse.
-- Michael! – Ela largou o caderno e se
aproximou do filho. – Como você está?
O rapaz se surpreendeu com toda a atenção da
mãe. Quando avisou que ia viajar, ninguém havia dado bola, exceto seus amigos e
Felicity.
-- Errr... bem. Me sinto melhor, eu acho! –
Respondeu o filho, um tanto sem jeito e pegando as malas e as deixando na porta
do roupeiro.
-- Como foi de viagem? – Mary sorria,
transbordando de alegria por ver seu filho.
-- Bem emocionante. – Respondeu, demonstrando
empolgação. – Paris é uma cidade brilhante!
Mickey se sentou na cama, perto da mãe, que
segurava o caderno dele, cheio de poemas e outros textos. Um silêncio pairou
entre eles e Mary começou a chorar e abraçou o filho.
-- Estou feliz que tenha voltado para nós, meu
filho! – Ela se emocionava nas palavras.
Mickey também tinha vontade de chorar e
retribuiu o abraço, sorrindo.
-- Me perdoa por tudo, mãe!
-- Já está perdoado faz tempo, Michael! – Ela
parou de chorar e se acalmando, voltou a fitar o filho. – Houve mais coisas
nesta viagem? Tipo uma namorada?
-- Sim... – Ele se lembrou de sua amada
francesa. – O nome dela é Odile. Ela é a criatura mais maravilhosa que conheci.
Ela é bondosa, compreensiva e tão inteligente. Ela adora muitas coisas e de
alguma forma nos completamos.
-- E o que aconteceu com ela? – Mary estava
curiosa.
-- Eu a deixei. Poderia trazê-la aqui,
contudo, o destino não quis. E ela tem um noivo alemão.
-- Ah meu filho, que pena. – Ela o abraçou mais
uma vez. – Este tipo de coisa acontece. Tudo passa, Michael.
-- Eu sei... – Comentou, olhando para a janela
e depois para a mãe. – Onde está papai?
-- Trabalhando no restaurante. Ele volta à meia
noite. -- Depois Mary fechou a janela. –
Quer jantar, Mickey? Preparei uma lasanha.
-- Eu quero!
Jantaram e seguiram a conversa sobre a viagem e
Odile. Mary cada vez mais adorava a narrativa do filho e perto da meia noite,
ele foi tomar banho, escovar os dentes e por fim dormir. Sonhou com Odile, se
reencontrando e recuperando todo o amor que foi deixado em Paris.
Enquanto isso em Paris, Odile passou o dia
inteiro passando mal, a ponto de não sair de casa e Bastian cuidou dela. Não
suportando tudo aquilo, levou para o hospital. Uma hora depois o doutor que
cuidou de Odile, anuncia para os dois.
-- Meus parabéns! – Lendo o exame de sangue de
Odile. – Está grávida, fraülein Odile!
-- Ouviu isso, meine liebe? – Basti alegrou com
a noticia. – Seremos pais! Eu vou ser pai!
Odile procurou sorrir e foi abraçada pelo
noivo. No fundo ela se sentiu culpada. Prosseguir com o noivado e ainda Basti
assumindo um filho que não é dele. Ela precisava acabar logo.
Mickey acordou cedo para arrumar suas roupas e
por fim o quarto. Não quis tomar café e apenas consumiu uma fruta que pegou na
cozinha. Ao sair do local, deu de cara com o pai na sala, lendo o jornal.
-- Michael! – Chamou o pai.
-- Sim?
Tony se levantou do sofá e deixou o jornal na
mesinha da sala e caminhou em direção ao filho.
-- Está tudo bem? – Questionou o pai, com o
rosto sério.
Desde pequeno Mickey teve medo do pai, embora
soubesse do lado bondoso dele, sempre amando a esposa e os filhos e toda a
família.
-- Sim. – Respondeu e depois desviou o olhar
para as escadas. – Só irei ao meu quarto e arrumar minhas coisas.
-- Mal voltou de viagem e já vai para outro lugar?
-- Não exatamente. Só quero resolver uns
assuntos referentes ao meu trabalho. – Disfarçou.
Ele subiu as escadas, mas parou na metade ao
ver o pai olhando para a janela, cabisbaixo. Mickey se aproximou dele e se
juntou para apreciar a vista.
-- Você tinha razão. – Comentou o pai. – Por
mais que as perdas nos machucam, não podemos deixar isso nos atrapalhar.
O filho não disse nada e só ouvia. Se encararam
por algum tempo e Tony o abraçou, não contendo as lágrimas.
-- Já perdemos uma filha... Não queremos perder
você!
-- Pai... – Mickey também chorava. – Eu sou
mesmo culpado.
-- Não, meu filho. Ninguém tem culpa. Mas eu
sou. Por renegar você! Sou eu que devo pedir perdão!
Não foi preciso Mickey aceitar. Ele abraçou o
pai e Mary viu essa cena, se junto aos dois num enlace familiar. Naquela tarde,
o jovem telefonou para a prima, avisando sobre a mudança.
-- Eu vou ficar aqui com eles, Fefe. – Disse
Mickey, enquanto guardava as roupas no armário. – Sinto que precisam de mim.
-- Isso é lindo, Mickey. Entenderei perfeitamente. Neste
caso, a parte vazia do apartamento, vou transformar num estúdio artístico e uma
mini biblioteca. Contudo se mudar de idéia, estou aqui!
-- Obrigado, prima! Até mais!
-- Até mais!
Ali mesmo uma nova vida para Michael surgia.
Três dias depois da descoberta da gravidez
Odile tomou uma decisão: falar a verdade para Bastian. Sabendo que poderá
causar decepção, a roteirista preferiu contar antes que as coisas saiam do
controle. Quando o noivo apareceu na sua casa, ela o puxou para a sala e se
sentaram, encarando nos olhos. Odile retira o anel e entrega para ele.
-- O que significa isso?
-- Acabou, Basti.
O jogador arregalou os olhos e pensou por
breves momentos que poderia ser alguma piada ou até mesmo um lapso emocional de
Odile.
-- Eu fiz alguma coisa de errado?
-- Não. – Ela respondeu. – Eu fiz. Não deveria
mas...
-- Seja lá o que tenha acontecido, te perdôo,
meine liebe.
-- Até mesmo minha traição?
Novamente o silencio tomou conta deles.
-- Traí você com outro... Esse filho é dele,
não seu. – Ela chorava e limpava os olhos, evitando mais lágrimas.
-- Mesmo assim vou assumir! – Bastian estava
determinado em ficar ao lado de Odile, mesmo que ela rompa o noivado.
Naquele instante ela chorou muito e foi consolada.
-- Bastian, me perdoa por traí-lo. – Encarando
os olhos azuis dele, continuou a falar.
-- Está perdoada. – Dizia, calmamente. – Apenas
me deixe assumir seu filho.
-- Se você assumir, será um erro. Um erro
visível. – Odile tentava persuadir o ex-noivo de fazer isso. – Todas as vezes
que olhar pro bebê, você verá que ele não é seu.
-- E quem garante que o verdadeiro pai vai
aceitar?
-- Porque eu sei. Mickey e eu demonstramos esse
sentimento e gerou nosso filho. Ele vai aceitar.
Ali mesmo Odile contou para Basti sobre
Michael, como se conheceram por acaso no cemitério de Montmatre e os encontros.
Apesar do ciúme, ele aceitou o fim do noivado, mas garantiu que a criança ele
mesmo vai assumir, independendo se o pai biológico aceitará ou não.
1 ano depois...
Mickey conseguiu recuperar sua auto-estima e
após concluir sua tese para a universidade, recebeu o diploma, mas não quis
exercer a função. Abandonou Psiquiatria e resolveu tentar algo mais. Por cerca
de um ano dedicou-se em escrever um livro, baseado em sua vida, com todos os
acontecimentos desde o acidente que vitimou sua irmã até a viagem a Paris, no
qual ele considera ter sido uma cura geográfica.
No quarto ele guardava as folhas datilografadas
e as organizava quando sua mãe apareceu, trazendo café.
-- Esqueceu da refeição matinal? – Mary sorria
para o filho e deixou a bandeja com café da manhã na mesa.
-- Obrigado, mãe. – Agradeceu. – Estou tão
empolgado com meu primeiro livro que nem sei o que é café.
-- Está bem. E procure guardar suas folhas
aqui. – Mostrando uma pasta amarela que
Tony havia comprado na semana passada.
Mickey guardou os manuscritos e quando se
preparava para tomar café, eis que o celular toca.
-- Alô?
-- Como vai, primo? – Era Felicity, sua prima.
-- Ansioso. – Ele respondeu e depois tomando um
gole de café. – Já terminei meu livro e só falta enviar para a editora.
-- Maravilha! Assim que for lançado, serei uma
das primeiras a ganhar seu autógrafo!
-- Não tenha dúvida disso.
-- Mickey, tenho um convite para você. Quer vir
comigo numa viagem a Paris?
Ele não respondeu. Só de falar na capital
francesa, lhe remetia Odile e os encontros amorosos.
-- Alô, Mickey? – Fefe havia ficado preocupada.
-- Me desculpe.... – Voltando à realidade. – O
que fará em Paris?
-- Preciso comprar umas obras de arte e como
você conhece a cidade um pouco melhor, precisarei da sua ajuda. Você vem?
Mickey outra vez silenciou-se e olhando para a
mãe, respondeu.
-- Aceito. Quando partiremos?
-- Não me chame de apressada. Vamos amanhã. Te
pego às 10h.
-- Vou esperar.
Desligando o celular, questionou a mãe.
-- Fefe me convidou para ir a Paris com ela. –
Respirou fundo e continuou. – Acha que poderei encontrar Odile?
-- Não vejo por que não tentar. – Disse a
mãe, arrumando a cama. – Vale a pena,
meu filho. Se ama mesmo essa garota francesa, traga de volta em sua vida!
No outro dia, Mickey se despede dos pais e
embarca com Felicity no táxi que os leva para o aeroporto. Depois do check in,
esperaram a hora do embarque. Mickey viu que a prima assistia um seriado online
no tablet.
-- Ainda no Grey’s
Anatomy? – Mickey se lembrou de sua ex-namorada, Anastacia, que adorava ver
o seriado de médicos e o inglês era obrigado acompanhar.
-- Nem pensar. Nora e Marie sim, eu não! –
Resmungou a fotógrafa. – Nada contra, mas sinto falta é do E.R.
-- Sou a favor. Ultimamente assisti Outlander e Penny Dreadful. – Comentou. – Lembro de a Louise assistir esse
seriado com outro namorado.
-- Qual deles? James ou... o alemão? –
Perguntou com certo desprezo ao mencionar o último.
-- Gerd. – Respondeu. – O nome dele é Gerd e
não “alemão”. – Corrigiu Mickey.
-- Desculpe. Ele é seu amigo...
-- Me desculpe, mas Gerd nunca foi meu amigo.
Aturei como cunhado até ele trocar minha irmã pela Alice. Ele pode ter sido meu
amigo em alguns momentos, mas não com aquela amizade legal que tenho com
Christopher.
Felicity deu de ombros depois disso. No passado
ela foi apaixonada por Gerd e isso na época quando ele namorava Louise. O
relacionamento da prima era uma das mais complexas. Quando o namoro terminou,
ela se entregou de corpo e alma para James Stone, irmão de Alice e cunhado de
Gerd, já que ele namorava a irmã deste. Certo dia, Felicity e Mickey foram ao
estúdio musical para ajudar afinar os instrumentos quando ouviram alguns ruídos
vindos do banheiro. Os dois primos foram
investigar e quando abriram a porta se surpreenderam quem eram as pessoas e
justamente Louise e Gerd se amando, deixando todos boquiabertos e chocados.
No avião, Mickey puxou conversa com a prima.
-- Não está lembrando-se daquele dia, não é?
-- Do dia que vi Lulu traindo Jim... com o
ex-namorado? – Dando pause no seriado. – Eu esqueci aquilo. O que não consigo
esquecer...
Calou-se. A mais dolorosa das recordações de
Felicity não foi o flagra e esconder a infidelidade de Louise. E sim outro
fato. Antes de Gerd se unir a Lulu, Fefe teve breves momentos amorosos com o
alemão, no qual resultou na gravidez dela. Algo imperdoável...
FLASHBACK ON
Gerd se encontrava impassível com a revelação. Felicity
chorava.
-- Tem certeza que esse filho é meu? – Indagou.
-- IDIOTA! – Acertando um tapa na cara dele. – Você foi o
primeiro em minha vida!
Não disseram mais sobre o assunto. Por cerca de duas
semanas, Fefe escondeu de todos sua gravidez. Apenas Mickey e Nora sabiam
disso. Até que um dia, Gerd reaparece.
-- O QUE? – Ela se indignou. – NÃO FAREI ISSO NEM FERRANDO!
-- É o único jeito! Nem eu e nem você queremos esse bebê. –
Ele dizia, bravo. – É para seu bem, Felícia!
Na época Felicity não tinha noção das decisões e acabou
cedendo a isso. Depois do fatídico dia onde seu filho nunca viu o brilho do
sol, ela se decepcionou com tudo, com a vida. E passou a se dedicar no trabalho
e ajudar seus amigos. Quando Mickey se sentiu abandonado pela família por causa
da morte de Louise, ela foi a primeira lhe prestar apoio e solidariedade,
juntamente com os amigos dele.
FLASHBACK OFF
Mickey abraçou a prima, fazendo-a parar de
chorar.
-- Esquece tudo isso, minha prima. – Ele dizia.
– Já passou!
Durante a viagem, Mickey e Fefe adormeceram por
algumas horas até chegarem a Paris, quase anoitecendo. Ao pegarem as malas,
pegaram um táxi que os levou para o mesmo hotel onde o inglês ficou durante uma
semana.
Apenas restava o novo dia. E Mickey está
decidido a encontrar Odile novamente. No hotel os dois primos ficaram em
quartos separados no Chevalier. Mickey observou a paisagem parisiense e
lembrou-se de Odile. No outro quarto, Fefe se deitou, procurando esquecer seu
passado. De repente seu celular apita com duas mensagens ali. Uma era de Marie,
convidando a amiga para tomar chá na casa dela. A segunda mensagem era de um
número desconhecido.
Olá, “Ramona”. Lembra de mim?
Faz muito tempo que não conversamos. Estou com
saudades.
Com amor, F.
-- Depois de muito tempo, ainda sabe do meu
número... – Comentou Felicity, relendo a mensagem e voltando a dormir.
No outro dia, tomaram café e saíram do hotel
rumo a casa de Marie. Durante o trajeto no táxi arranjado por Felicity, os dois
primos não trocaram uma palavra. Mickey só observava as ruas e ao mesmo tempo
com a lembrança de Odile e um desejo de reencontra - lá. Felicity trocava mensagens com Marie e a
“outra pessoa”. Para a amiga francesa,
dizia assim:
Estou levando meu primo para a visita. A sua
irmã está aí com você?
Espero que sim, pois Mickey não pára de falar
nela.
Vamos ver o que vai acontecer nesse encontro
deles...
Já com a “outra pessoa”, Fefe não poupou palavras.
Olá F. Você ainda existe?
Achei que tinha ido para Marte porque você
nunca mais me deu notícia!
Ramona
Em seguida desligou o telefone e ao chegar na
casa de Marie, foram bem recebidos por ela e o namorado alemão, Uli Hoeness.
Entrando ali, viram ali outras pessoas, possivelmente amigos de Marie. Nora
Smith, amiga de longa data de Felicity estava entre os convidados, Belle Blue e
seu namorado, Bobby Charlton. Giles Mackenzie, um dos grandes amigos de Mickey
se encontrava ali e recebeu o amigo de braços abertos.
-- Michael! – Abraçaram-se. – Como você está?
-- Bem melhor do que antes, Giles. E desta vez
não com cara de esquizofrênico e estou bem apresentável. – Disse, bem
divertido.
De tão entretido com a conversa do amigo que
Mickey não havia notado que entre os convidados estava o amor de sua vida.
Odile conversava com Felicity e avistou Mickey. A falta de coragem impediu a
roteirista de se aproximar. Marie e Fefe resolveram tentar ajudar. Marie levou
a irmã para o quarto e deu o sinal para a galesa levar o primo no mesmo lugar.
-- Mickey. – Chamou Felicity. – Tem uma pessoa
que quer te conhecer.
A principio, o primo mais velho achou que era
mais uma das tentativas de Fefe de arranjar alguém para ele. Evitando mais
problemas, resolveu aceitar e pedindo licença a Giles, se retirou da sala junto
da prima e chegou ao corredor com os quartos e abriu a porta de um deles.
-- Devo entrar aí? Tem certeza? – Perguntou,
receoso.
-- Sim. – Respondeu, sorrindo. – Essa pessoa te
conhece muito bem.
Em seguida fechou a porta, deixando Mickey ali
dentro. Ele ligou a luz do quarto e revelou ser ela. Mickey se recusava
acreditar que sua visão revelasse o seu desejo, ali na sua frente. Fitou-a por
dez minutos, certificando-se que não é um engano ou alucinação causada pelas
doses dos remédios que tomava no passado. Contudo, apenas o olhar não bastava. Ele
caminhou até ela e tocou-lhe a mão dela.
-- O que foi? – Ela questionou. – Eu não sou
real?
Mickey se emocionou por saber que é realmente
ela. Sua amada francesa, a roteirista por quem se apaixonou, descobriu uma nova
visão da vida, uma razão para se viver.
-- Meu deus... – Ele chorava. – É você mesmo,
Didi. Minha Didi!
Se abraçaram forte e Mickey tomou os lábios
dela num beijo desesperado e se deitaram na cama, ainda aos beijos e abraços,
sem se importarem com os convidados ou se iriam dar por falta.
Enquanto isso nas visitas, Nora contava para
Marie sobre o rapaz alemão que conheceu em Berlim e o quanto seu sorriso era
apaixonante. Fefe se sentiu um pouco deslocada e foi até o jardim, onde ficou
um pouco sozinha e ainda verificou no celular as mensagens. Pelo visto, “F” não
desistia.
Eu sei que errei com você.
Em alguns momentos nós dois fomos felizes. E eu
nunca deixei de te fazer feliz.
Principalmente naquela fase que você passava...
Sinto falta de sua companhia, das conversas de
madrugada...
Com amor, F.
Antes de responder a mensagem, ela é
surpreendida por Nora.
-- Ai que susto! – Desligando novamente o
celular. – Ao menos me avise.
-- É ele de novo?
-- Não sei de quem está falando. – Disfarçando.
-- Ora, falo do rapaz chamado F...
-- Não fala o nome dele, Nora! Preciso falar
com Mickey.
Antes de entrar novamente na casa, Marie se
despedia dos convidados e do namorado, restando apenas as 3 amigas.
-- Onde está meu primo?
-- Vem comigo! – Marie levou Fefe e Nora para o
corredor e ouviram algo vindo de um dos quartos.
-- ... Oh meu deus... como senti falta disso...
-- Parece ser a Odile... – Comentou Nora.
-- OH
Odile... Ah... Eu te amo, te amo... ahhh...
-- Agora é o Mickey... gritando?! –
Disse Fefe, olhando para as duas, que riam da situação.
-- Ah não, vou tirar o bebê do quarto antes que
esses dois... – Ouviram então o choro de criança. – Minha nossa eles o
acordaram!
No quarto, Odile se desvencilhou de Mickey e
correu para cuidar do bebê.
-- Oh Niki... – Balançando o bebê de um lado
pra outro. – Não chora, a mamãe está aqui.
Mickey achou tudo lindo e perguntou.
-- Seu filho?
-- Sim. – Respondeu. – E seu também.
O inglês ficou um pouco chocado.
-- Como assim? Ele não é filho do Bastian?
-- Michael, tive só uma noite com ele e com
você foram várias vezes. Veja! – Mostrando o bebê.
Mickey segurou o bebezinho e viu mesmo que é
seu filho. Os olhos castanhos negros como duas pedrinhas obsidianas, o cabelo
preto e o sorriso.
-- É mesmo... – Se emocionou. – Qual o nome
dele?
-- Nikolaus. Vem do nome Niki Lauda, piloto da
Ferrari que admiro muito.
-- Bem, então vou me apresentar para ele. –
Depois olhando pro menino. – Como vai, Niki? Eu sou Michael, sou seu pai!
Odile chorou ali e abraçou o amado. Mickey
mostrou seu filho para a prima e as amigas desta. Mickey também conheceu dias
depois o ex-namorado de Odile, o tal Bastian e logo se deram bem e poucos meses
após isso ele e a cineasta se casaram numa cerimônia simples. No mesmo mês, ela
lançou seu filme no Festival de Cannes.
Meses depois...
Os dois já em casa, cuidavam do pequeno Niki e
em seguida foram para o quarto.
-- Quero escrever outro roteiro, mon amour! –
Disse Odile, aninhada aos braços do marido.
-- Eu sei de um remédio pra isso. – Disse ele,
malicioso. – Sabe qual é?
-- Não.
-- Se chama “Michael”. – Em seguida beijando a
amada, amando-se de forma intensa e mais apaixonada.
Desta paixão, eles conseguiram inspirar um ao
outro ao mesmo tempo à paixão nunca se acabava. E para eles, era muito bom.
FIM