sábado, 15 de maio de 2021

She Will Be Loved (Oneshot - What if)

Olá pessoal!
Nada melhor do que nova oneshot pra ler no dia do rock. Hoje vou postar a continuação de I Call Your Name, da Maris Campos no blog Peripécias De Uma Garota Qualquer, pra ler também clica aqui. A oneshot se chama She Will Be Loved (título inspirado na música do Maroon 5), é a versão masculina do conto A Pequena Sereia, desta vez focando o casal McGüller. Boa leitura e se liguem nas duas cenas pós-créditos!


She Will Be Loved__ Maya Amamiya


Muitos dias se passaram desde que Dianna se foi e Louise, a princesa do País de Gales, chorava de saudade da sereiazinha. Eu queria tanto te salvar e continuar te amando, Dianna, mas você partiu e para sempre, disse Louise em pensamentos e secando os olhos com o lenço. Passou a caminhar na praia, segurando as sapatilhas e sentindo a fofa areia. Amava olhar para o mar e num dado momento, avistou um vulto estranho emergindo nas águas e depois mergulhando. Entretanto, a tal visão revelou que a criatura, parecendo humana, possui... uma cauda de peixe.

Ela esfregou os olhos e abriu com cuidado. Não viu mais a criatura.

-- Eu vi um... Homem-peixe...? – Se questionou. – Não, devo estar vendo coisas. Minha cabeça está ocupada demais com pensamentos sobre Dianna... Em tudo enxergo sereias e tritões.

Retornou para o castelo, esperando o navio...

No mar, ele jurava ter avistado a princesa. Sim. Tão bela, graciosa mesmo com roupas e... ela chorava. Contudo, notou algo: ela tem olhos azuis. Tão azuis como o oceano. Dianna não tem olhos azulados.

-- E agora? Como vou dizer ao rei que perdi a princesa? – Questionou Gerd Müller, o capitão da guarda do rei Lawrence e da rainha Susan.

-- Você perdeu a Dianna? – Alice Stone, sua namorada sereia, chorava e abraçava o tritão. – McDreamy, será que...

-- Mein Himmel, eu não sei. – Ele se preocupou. Sabia bem que Dianna e Alice são amigas. – Mas eu podia jurar ter visto a princesa. Se comportando como mortal.

-- Mesmo? – Alice se encheu de esperança.

-- Sim. Mas...

-- Mas o quê?

-- Ela tem olhos da cor do mar.

Alice estranhou.

-- Tem certeza que a viu?

-- Não era ela. – Afirmou o amante. – Mas parecia a Dianna.

Nadaram juntos até a costa, onde a princesa tinha sido encontrada por Davy e levada até o castelo. Esperaram por uma hora, até que avistaram a tal moça que se parece com Dianna. E ao que parece está acompanhada de outro rapaz, da mesma altura que a jovem.

De maneira esquisita, Gerd não havia gostado do que viu. Não era o fato da mortal não ser a filha do rei dos mares e sim que ela sorria para o outro.

-- Aquele rapaz é o Davy. – Apontou Alice.

-- É ele que a princesa... – Gerd não terminou de perguntar e Alice confirmou com a cabeça. – Oh, não...

Eles prestaram atenção no casal. Alice admite sobre o que seu namorado disse sobre a mortal. Era linda e tão bela que poderia ser confundida com uma sereia. Uma pequena sereia como Dianna. Já o tritão, por incrível que pareça, foi enfeitiçado pela mocinha. Seu coração acelerou e de repente sentiu uma vontade de ir até a superfície e ficar perto dela. Contudo, isso acarretaria em abandonar Alice. Tentou esquecer seus pensamentos anteriores e retornaram para o fundo do mar.

Alice conversou com Emma e Erin sobre o paradeiro de Dianna e elas choraram. Gerd por sua vez duvidava que a princesa tivesse se transformado em espuma do mar e também não parava de pensar na moça bem vestida, que é parecida com ela. Se pudesse, ele a traria para o mar e arranjava uma forma de transformar as pernas dela em cauda de peixe. Depois disso ele pensou em Alice. Havia dias que a relação dos dois não era a mesma. Antes de Dianna partir para a superfície, Gerd teve um caso com Meg Johnson, uma bruxa do mar e Alice descobriu quando resolveu seguir seu namorado. Obviamente, brigaram, mas reataram poucos dias depois.

E ainda sim, as coisas não mudaram. Seus pensamentos foram interrompidos com a chegada de três tritões, Franz Beckenbauer, Sepp Maier e Johan Cruyff.

-- Acabei de ver um navio ancorando no mar do norte. – Disse Johan, o tritão holandês. – Eu vi uma mortal. Ela é linda. Cabelo longo e da cor da noite, olhos de obsidiana e uma boca vermelha. Oh meu Deus, que mulher!

-- Você só fala de mulher! – Reclamou Sepp, um dos guardas.

-- Conseguiu encontrar a princesa? – Indagou Franz.

-- Nein! Estou começando acreditar sobre o que disseram. – Respondeu Gerd, decepcionado.

-- Sobre ter virado espuma? – Inquiriu Sepp, curioso.

-- Isso.

Se calaram um pouco e Gerd continuou a dizer.

-- Eu também vi uma moça.

-- Opa! – Johan sacou seu punhal, se enervando. – Quem é ela? Espero que não seja a mesma que a minha!

-- Seu tolo! – Berrou o tritão, irritado. – Não é essa. É outra. Ela se parece com a princesa, mas tem os olhos da cor do mar.

-- Não é uma que vive no castelo, da costa do Atlântico? – Perguntou Sepp.

-- Acho que sim.

-- O navio que avistamos, traziam umas pessoas. Eram cinco mulheres e um homem. Ele é o noivo desta moça. – Justificou Franz.

-- O QUE DISSE? – Gerd quase se assustou. – Ela... era menor? Cabelo da cor do sol e olhos azuis.

-- Essa mesma. Ela tem um noivo. Este homem é o capitão do exército.

Gerd procurou investigar e a noite emergiu no mar, avistando o tal castelo e todo iluminado, com música e pessoas falando em voz alta. Encontrou a mocinha parecida com Dianna e o tal capitão. Era alto, cabelo preto e olhos igualmente azuis e brilhantes.

-- Mal posso esperar para nosso casamento, Louise. – dizia o capitão, muito apaixonado e beijando leve a boca da princesa.

-- Lawrence, aqui não. – Louise se desviava e ria, provocando Larry. – Meus pais podem dar por falta. Vamos voltar.

-- Só mais um beijo, princesa. – pediu.

Se beijaram com paixão, mas Louise teve a sensação de ser observada, tanto que interrompeu o beijo.

Olhou para o mar e não encontrou nada.

-- Viu alguém? – questionou o noivo.

-- Devo estar louca. – comentou consigo mesma. – Eu sei que há alguém. E não vejo.

-- Calma. Mandarei dobrar a vigilância.

Gerd se escondeu num dos rochedos e continuou observar a bela garota. Não sabia o que sentia. Era um pouco de raiva por não ser o tal capitão bem apessoado. E tristeza por estar longe dela e não ter pernas para caminhar na superfície.

Aproveitando desse momento, Meg usou o mesmo feitiço que Amber, no entanto ao invés de negociar com Gerd... Ela optou pelo feitiço direto.

-- Pobre Gerhard... – dizia Meg, maléfica e executando o feitiço. – Esse é o preço que pagará por me rejeitar.

No mesmo instante um grande vento norte apavorou t0dos do castelo e a festa foi cancelada. O mar se agitava demais e um grande redemoinho se formou no mar. Gerd nadou bastante para se afastar e alcançar seus amigos. Vencido pela exaustão, foi levado na correnteza forte e também uma aura mágica o envolveu.

Franz viu tudo e tentou resgatar o amigo.

-- GERD! – nadando até o redemoinho.

-- Não vá! – Sepp e Johan o impediram. – Se for até lá, vai morrer.

-- E o Gerd?

Gerd gritava e sem saber sentia que sua voz diminuía a cada grito emitido. Meg gargalhava maldosamente e recebeu o pequeno feixe de luz em formato esférico. Era a voz trovejante dele.

-- Finalmente! – guardando numa garrafa. – Só o beijo de uma princesa o libertará. Caso contrário, o fim que a princesa Dianna teve, ele terá! Hahahahahaha!

A tempestade aos poucos parou e uma grande onda se arrebentou, jogando Gerd na praia, completamente desacordado.

-- Precisamos trazê-lo de volta! – berrava Sepp nadando de um lado para outro.

-- Aquilo não foi uma tempestade qualquer. – dizia Johan. – Foi magia e não foi do rei.

Imediatamente se lembraram de Amber e Meg, as duas bruxas do mar, no entanto, a única com poder suficiente pra tal desastre era a segunda bruxa. Sepp se armou com a lança.

-- Não vai enfrentar a bruxa! – Johan se intromete na frente do tritão ruivo. – Ela vai te amaldiçoar, como fez com Gerd.

-- Mas se for pra trazer meu amigo de volta, mereço os riscos.

-- Espere! – pediu Franz. – Vamos pensar com calma numa forma de trazer o Gerd pro mar e sem levantar suspeitas. O rei e a rainha não têm noticias dele desde aquele dia da busca.

Por mais que a vontade fosse grande, Sepp e Johan se acalmaram e seguiram a idéia de Franz.

O dia começou lindamente, com a brisa mais refrescante. Gerd se acordou sentindo algo lhe roçar os braços. Assustou-se e viu que eram samambaias lhe cobrindo o corpo. E espantou-se quando olhou para si mesmo. Sem a cauda de peixe e sem suas vestes da guarda real ou sua lança. Apenas o elmo dourado estava ali, diante de si, quase enterrado na areia. Ouviu um casal de gaivotas conversando entre si.

-- Não tinha nada de ajudá-lo, Geoff. – dizia a gaivota zangada.

-- Elena, eu gosto de ajudar sempre esses pobres infelizes náufragos. Não questione meu ato de bondade. – respondeu a gaivota com nome Geoff.

Gerd se ergueu e caiu na areia. Não estava acostumado a tudo isso. E ganhar um par de pernas fortes não estava em seus desejos. Elena e Geoff olhavam com minúcia para aquele que julgam como náufrago.

-- Estranho. – comentou a gaivota. – Eu já vi esse homem em algum lugar.

Geoff concordou.

-- Ele me parece conhecido também.

O casal de gaivotas voou até os pés dele para uma possível aproximação.

-- Qual é o seu nome? – questionou Elena.

Gerd respondeu e nenhum som saiu de sua boca. Fez gestos se perguntando sobre o ocorrido.

-- Geoff! Esse homem é mudo! – berrou Elena.

Geoff sobrevoa sobre a cabeça de Gerd e o encara.

-- Você não sabe falar ou o quê?

Gerd deu de ombros, muito aborrecido e Geoff juntou-se a esposa para comentar.

-- Ele não sabe. Acho que perdeu a voz.

As gaivotas compadeceram do rapaz desesperado, tentando falar ou usar os sinais para entender.

-- Queridinho, por que você não escreve seu nome na areia? – sugeriu a gaivota e apontando para areia.

Gerd concordou e escreveu em letras maiores.

MEU NOME É GERHARD.

-- Ah sim! – falaram em uníssono.

Gerd apertou a asa de Geoff e depois de Elena, encerrando as apresentações.

-- E de onde você veio, Gerhard?

-- Acho melhor te chamarmos de Gerd. Pode ser?

Ele concordou e depois caminhou até a beira da praia, indicando seu lar.

-- Você veio do mar? – estranhou Elena.

Gerd acenou e depois mostrou o capacete dourado.

-- Você era um soldado? – perguntou Geoff.

Gerd escreveu de novo na areia.


SOU GUARDA REAL DO REI E DA RAINHA DO MAR.


As gaivotas deram um grito de espanto.

-- Geoff,  sei quem é ele! – disse Elena, se lembrando. – Ele é aquele homem-peixe que nadava por estas águas olhando os humanos e principalmente para a garota loira.

Geoff abria as asas com o susto tomado.

-- Aquele que observava todas as noites enquanto ela escovava os cabelos.... Sei quem você é. Mas, o que faz aqui, meu caro?

-- Está apaixonado por ela?

-- Acho que ele está apaixonado.

O próximo gesto era de raiva. Gerd fez sinais negando estar amando aquela desconhecida. Sentou u pouco nas samambaias e olhou para as gaivotas. Desenhou um coração, confirmando. Geoff e Elena suspiraram.

--Você quer conquistar ela, meu jovem? – indagou Elena.

Outra confirmação por parte dele e antes da próxima ação, ouviram um latido de longe. As gaivotas levantam vôo, porém aconselharam o tritão humano:

-- Meu querido, não pode andar assim sem roupas. – Elena voa e traz no bico um tecido encontrado nos outros rochedos da praia. – Precisa se vestir como pessoa.

Gerd se cobria como pode e amarrou o tecido com a corda que Geoff encontrou. O cachorro collie border latiu e correu em direção ao jovem. Gerd tentou fugir e ouviu vozes femininas.

-- Snowball! – gritava a jovem alta de cabelo negro e vestido bege.  – Snowball, volte aqui!

Logo atrás vinha Louise, segurando seus sapatos.

-- Precisa controlar seu cachorro, Felicity. – reclamou a prima.

Elas seguiram na direção dos latidos e encontraram um desconhecido, seminu e cobrindo a cintura com o tecido. Fefe chamou o cachorrinho e o mesmo obedeceu sua dona. Lulu aproximou dele.

-- Lulu!

-- Calma! – pediu para a prima não gritar e tentou falar com estranho. – Está tudo bem. De onde você veio?

Do mesmo modo como fez com as gaivotas, Gerd se utilizou de gestos para mostrar que não tinha mesmo sua voz e escreveu seu nome na areia. Louise imediatamente entendeu.

-- Ah não, de novo não... – comentou a princesa.

Neste momento Felicity correu para o castelo e pediu ajuda para o noivo e o irmão de Louise. E enquanto isso Gerd escreveu praticamente tudo. Sua missão de resgatar Dianna, sua vida no fundo do mar, seus amigos e a tempestade. Até mesmo disse de seu relacionamento malfadado com Alice.

-- Então precisa voltar pro seu lar. – disse a princesa. – Beije sua namorada pra se libertar da maldição e não acabe como Dianna.


Os olhos de Gerd se abriram de espanto. Louise explicou.

-- Ela me contou tudo. Dianna só queria amar o Davy e ser amada. Ela pediu ajudar para uma bruxa do mar e ela concedeu uma poção e em troca perderia a voz. Porém, havia conseqüências. Se o Davy não a beijasse em um mês, viraria espuma do mar. E foi isso que aconteceu...

Louise desatou a chorar e Gerd internamente tremeu.

“Vou ter o mesmo fim que a Dianna. Não, não!”

E depois abraçou a princesa, acalmando-a.

“Por favor, não chore.”

Escreveu na areia outra vez.

VOCÊ É MUITO BONITA PRA CHORAR


-- Obrigada. Eu realmente sinto muito pela Dianna. Ainda... Não me conformo... Com a morte dela. – lamentou a princesa.

Gerd escreve na areia um apelo para a princesa


VOCÊ PODERIA ME AJUDAR?



-- Eu não posso! – recusou Louise. -- Não consegui quebrar a maldição.


POR FAVOR! VOCÊ É MINHA ÚLTIMA ESPERANÇA.


-- Mas não consigo. E tenho um noivo. Você precisa voltar pro mar, reencontre Alice. – Louise persuadia Gerd e o mesmo continuava insistindo nela.


ELA NÃO PODE AJUDAR EM NADA. EU TE IMPLORO!


-- Não quero carregar outra morte, mas não me julgo capaz.


EU ACREDITO EM VOCÊ


-- E quanto meu noivo, Larry?


ELE VAI COMPREENDER

Neste momento Lawrence Rain, acompanhado de um pequeno grupo de cinco soldados encontram Louise e o desconhecido.

-- AFASTE-SE DELA, FORASTEIRO! – Larry sacou a espada e partia diretamente contra Gerd, mas Louise não deixou.

-- NÃO FAZ ISSO, LAWRENCE! – Louise se pôs na frente dele. – Ele é só um náufrago.

-- Louise!

-- Larry! – insistia Lulu. – Ele é um soldado cuja navegação afundou na tempestade e ele não fala. Vamos ajudá-lo.

Lawrence receou e cedeu o pedido da noiva... em parte.

-- Guardas! Levem o forasteiro pra cadeia!

Os guardas agarraram Gerd com socos e pontapés e mesmo na agressão, o levaram acorrentado.

-- O que está fazendo, Larry? – Louise se embraveceu. – Ele não é um malfeitor!

-- É para sua segurança e ele poderia lhe fazer mal.

Louise se lamentou outra vez por ter falhado porém não iria desistir de salvar Gerd.


Enquanto isso no mar...

Os três guardas tritões invadiram a caverna onde vive Meg e não a encontraram. Revistaram todos os cantos, olhavam os frascos de poções e não encontraram solução para salvar o amigo. No instante que iam sair, a bruxa do mar surgiu em forma de tornado diante deles.

-- BRUXA! – exclamaram os três, atacando Meg com suas lanças.

Num estalo de dedos, Meg transformou cada um deles em criaturas diferentes. Franz num peixe-espada, Sepp num caranguejo e Johan num linguado alaranjado.


-- Desgraçada! – Franz era o mais furioso e outra vez ataca Meg usando o nariz imensamente grande.

Acertou Meg no braço e quase leva outra maldição quando Alice gritou.

-- NÃO! – encerrando a luta. – Eu imploro, não os machuque. Só me diz como devo salvar o Gerd.

-- Ele está condenado. – respondeu secamente e agarrando o nariz espada do guarda.

-- Deve haver uma forma! – berrou Johan.

Meg pensou uns instantes. Antes da invasão, observou Gerd na caldeira. Não haveria chance de ele ganhar o beijo da princesa, contudo ele seria capaz de outra coisa pra recuperar sua voz e sua cauda? Então se virou para Alice e os guardas. Entregou uma adaga, a mesma que Amber cedeu a Giles para ajudar Dianna.

-- Ele deve matar a princesa com essa adaga. Assim ele recupera a voz e a cauda ou em quinze dias ele vira espuma!

Alice pegou o objeto sem pestanejar e os outros foram embora, decepcionados. Ao que parecia outra vez Meg triunfou sob a desgraça de Gerd...


Alguns dias passaram desde a transformação deles e só Franz se adaptava sua nova vida. Sepp reclamava, pois muitas vezes era caçado junto com Johan e quase feito de comida tanto para humanos quanto para peixes grandes como tubarões. Alice chorava por Gerd e sentia-se incapaz de pedir tal atrocidade contra uma humana, só para recuperar a voz e a cauda. Entretanto, quis arriscar.

Emergiu para praia onde Dianna vivia e a tal princesa parecida com ela foi vista. Um esguicho de água foi acertado em seu rosto. Era Johan, o linguado laranja.

-- A princesa não foi vista. – disse o peixe, desanimado.

-- Tudo bem. Mas quero falar com McDreamy.

Sepp pulou para o rochedo e ficou ao lado de Johan.

-- Nada do Gerd.

Franz também emergiu e não disse nada e avistou o casal Geoff e Elena, as gaivotas. Nadou para o outro lado da praia e os abordou.

-- Hallo! Boa noite! – cumprimentou o peixe espada.


-- Boa noite! – respondeu os dois juntos.

-- Meu nome é Franz e estou procurando meu amigo. Ele... Era tritão. Virou humano e perdeu a voz. Vocês o viram?

-- Espera um pouco! – Geoff voou para perto de Franz. – Você é amigo daquele rapaz mudo e sem roupa? Ele dizia que seu nome era Gerhard.

-- Ele mesmo!

-- Pobrezinho! – lamentou Elena. -- Os guardas o acorrentaram.

-- Acho que o levaram para a cadeia. – deduziu Geoff.

-- Vocês sabem em que parte do castelo fica? – Franz entrou em desespero.

-- Se não me engano fica na parte leste, de frente para as pedras. – Geoff apontou a direção.

-- E conseguem entrar lá?

-- Não. É muito apertado para passarmos por aquelas grades.

-- Só um caranguejo entraria ali. – completou a esposa.

Num lampejo, Franz teve uma idéia e nadou até seus amigos. As gaivotas o seguiram e ele contou tudo para eles e inclusive sobre a idéia de entrar. Sepp resmungou. Era óbvio que Franz havia pensado nele para o plano.

-- Ah não! Eu não vou entrar!

-- Ou você entra e fale com ele ou te sirvo de alimento para as gaivotas! – enfureceu Franz e mostrando o casal de aves.

Sepp engoliu em seco e olhou para todos.

-- Tudo bem. Conseguem me levar até lá?

-- Podemos fazer isso. – garantiu Elena, pronta pra voar.

-- Mas se você morrer, vamos te comer. – avisou o marido, quase louco para devorar o pequeno crustáceo.

Elena carregou Sepp e ele segurou-se no pescoço dela, evitando arrancar alguma pena. Chegando a pequena grade onde é a prisão, Sepp entrou na fresta e encontrou seu amigo, chorando e preso.

-- Gerd! – caminhou até ele. – Sou eu.

Gerd sorriu e pegou Sepp com uma mão.

-- Ouça, tenho pouco tempo para te falar. A bruxa Meg me transformou nisso e o Franz e Johan foram afetados também. Existe uma maneira de voltar a ser o que era antes. Ela deu uma faca para Alice e você deve matar a princesa antes de quinze dias. Só assim você recupera a voz e sua cauda.

Obviamente a idéia não era agradável a Gerd. Matar a princesa. Ele era um guarda, um tritão valente e não um assassino.

-- Gerd...

“Não posso, Sepp. Sou incapaz de fazer mal, ainda mais para uma princesa. Jamais!”

-- Meu Deus, você...

Sepp entendeu algo. Arrependeu-se de falar. Gerd nunca faria algo assim.

-- Independendo do que acontecer, vou te ajudar, meu amigo. – retornando para a grade e embarcando com Elena.

Sobrevoaram para o mar e Sepp voltou para perto dos amigos.

-- Ele não quer matar a princesa.

Alice bateu na água, de raiva.

-- Quando ele vai entender que só assim pode se salvar? O que ele espera? Ser beijado por ela? Aquela moça nem o ama!

Elena pensou em defender Gerd, mas Geoff a manteve de bico calado para não piorar a situação.

-- Deve ter algo que possamos fazer pra evitar que alguém saia ferido. – comentou Franz.

-- Podemos consultar na biblioteca. – Johan sugeriu por ter mais acesso. – Pra encontrarmos algum feitiço.

Uma semana se passou e Gerd estava pior. Passando fome, o cabelo empoeirado e barbudo, usando apenas uma túnica. A porta da prisão se abre, revelando ser Louise, o irmão dela, Michael e Lawrence.

Larry liberta Gerd das algemas enferrujadas e o encara muito bravo.

-- Ficará aqui mais uma semana e depois partirá com os soldados para Groelândia! – disse muito zangado e voltando o olhar para Louise. – Espero que esteja satisfeita. Isto vai ser sua ruína se este homem cometer algum crime.

-- Gerd não fará isso. – garantiu Lulu.

Louise e Mickey levaram Gerd para o quarto, onde já estava preparada a bacia para um banho quente, roupas limpas na cama e toalhas.

-- Este é meu irmão, Michael. – Louise fez as apresentações. – Ele vai te ajudar em tudo e junto com os criados.

-- Olá! – Mickey estendeu a mão e viu que Gerd não sabia como agir. – Sei que não está acostumado com as coisas aqui. Vou lhe ajudar no que posso, certo?

Gerd balançou a cabeça e se banhou na bacia. Mickey e Louise perceberam que ele se sentia... travado.

-- Vou me retirar. – disse a princesa, constrangida.

-- Eu também. – em seguida se juntou o irmão dela.

O banho foi relativamente gostoso e o tritão outra vez teve dificuldades em se adaptar sua vida humana e as pernas. Enquanto se secava e vestia as roupas, pensou na princesa. De fato, Louise lembrava demais Dianna em sua estonteante beleza. Houve um tempo que ele cobiçou secretamente a filha do rei e da rainha do mar, contudo sufocou a paixonite dando chance para amiga dela, Alice. E agora com Louise, era mais real. Dianna era doce e Louise era muito mais. Nos dias que a viu, achando se tratar da princesa do mar, Gerd não se importou. Estava fascinado demais por ela. O modo como Louise age, o sorriso, a pele de pêssego, as maçãs do rosto quando coradas lembrando uma fruta madura e deliciosa e a boca rosada. Apenas ouvindo a melodiosa voz da jovem deixava o guarda excitado.

Antes de levantar a calça, ele nota algo. Ergue a camisa e se espanta com que há no meio das pernas. Os tritões não possuíam aquilo.

“Como se usa isso?”

Intrigado, tocou ali. Era duro e levantado. Num misto de surpresa e um pouco de prazer, ele continuou tocando, descobrindo mais sensações. O que ele não sabe era que Louise entrou no quarto, trazendo outra bacia, de tamanho menor e contendo uma navalha e creme para barbeação.

-- Gerd, você está... – ela não terminou de perguntar tamanho era o susto por vê-lo daquele jeito e fazendo aquilo. – AI MEU DEUS!

Ela tampou os olhos e o rosto pegava fogo pela vergonha.

-- Eu não posso olhar... Notei que não sabe o que fazer com... “Sua coisa”, não é?

Olhando diretamente para o rosto dele, Louise evitava ver aquilo novamente. Gerd ergueu os ombros, indicando não saber como lidar com sua parte ou como ele cresceu.

Ela chamou o irmão, abrindo a porta.

-- Mickey, me ajuda. Venha cá!

Não demorou em o príncipe de Gales aparecer.

-- O que foi?

-- Gerd não sabe o que é... – apontando para ele. – Aquilo.

-- Sério? – indignou-se. – De verdade? Mas o que esse homem é?

-- Ele era um tritão. – respondeu Lulu. – Por favor, Mickey, me ajuda.

Mickey sabia de toda história, se recusava acreditar que o novo hóspede era como Dianna, uma criatura mágica do mar. Não era fácil. Mickey ajudou Gerd se vestir e o ensinou a lidar com “a coisa” no meio das pernas.

-- Você andou pensando em algo... indecente? -- indagou Mickey.

Olhou para a porta no exato momento que Louise saiu e depois para o chão. Mickey entendeu tudo.

-- Seu danadinho! – exclamou em tom divertido. – Está pensando na Louise!

Gerd faz um gesto, pedindo silêncio. Mickey segurava o riso.

-- Certo. Não contarei a ela, mas precisa evitar que isso fique grande perto dela.

Gerd concordou e depois de vestido, Mickey o ajudou a se barbear e lavou o cabelo dele. Em questão de minutos, Gerd se transformou num nobre. A próxima parte era mais constrangedora: ensinar as necessidades básicas fisiológicas. Gerd aprendeu mais sobre seu lado humano e ainda com “a coisa”, como era chamado por Mickey e Louise. Depois os dois irmãos lhe cederam papéis, uma pena e tinteiro para facilitar na conversa. Até mesmo Davy Jones, o príncipe da Inglaterra auxiliava em tudo. Quando anoiteceu, o tritão fez uma pergunta a Mickey, escrevendo no papel.

COMO FAZ PARA A COISA NÃO... SE AGITAR TANTO?


O príncipe galês de novo se envergonha e respondeu:

-- Toque-o. Como fez antes da Louise entrar. Mas faça isso de noite ou no seu quarto e sozinho. Agora boa noite!

Mickey saiu e o jovem tirou as roupas e se deitou, cobrindo seu corpo com os lençóis e cobertores. Seguindo o conselho do príncipe, tocou a si mesmo e pensando em Louise, imaginando o contato dos lábios dela, o corpo delicado e feminino, a pele macia... Devia ser uma delicia...

“É tão bom... Oh minha nossa... é bom....”

Por estar sem voz, o único ruído que conseguia emitir era um pequeno grunhido depois que conseguiu atingir o clímax do prazer. E depois adormeceu, mais feliz.

E os dias se tornaram melhores. Gerd aprendia andar ereto, se vestir sozinho, se barbear e se banhar. Também conseguia se comunicar com todos por meio de sinais e a escrita. E a amizade com Louise se transformava mais no sentimento puro. Temeu que a princesa tivesse se esquecido do pedido. E numa tarde do terceiro dia da segunda semana, caminharam na praia.

-- Parece que foi ontem que Dianna foi encontrada por Davy. – comentou a jovem.

“Sinceramente, não entendo como a princesa foi capaz de um ato desses, unicamente para ver aquele humano.”

-- Você não sente falta do mar?

Ele balançou a cabeça e levantando a bainha da calça, já que estava sem as botas, caminhou um pouco nas águas e encontrou uma ostra. Com sua força, abriu e dali tirou uma pérola bem bonita. Presenteou para Louise.

-- Oh, Gerd! É lindo!

Ele escreveu na areia mais palavras.


O QUE ESTÁ FAZENDO POR MIM É GRANDIOSO. E SEU SORRISO É MINHA RECOMPENSA.


Lulu corou com o agradecimento devolvido. Ela mesma sofria com seus sentimentos. Antes amava Lawrence com todo seu coração. No entanto com a chegada de Gerd tudo mudou. Tal como aconteceu com Davy. Lembrou-se do destino de Dianna e a promessa feita.

-- Gerd, sobre o pedido aquele...

“Louise, não me desaponte.”

-- Sabe que Lawrence não concorda que eu deixe você livre. Então...

“O que pretende?”

-- Vou lhe arranjar uma mulher nobre para quebrar essa maldição.

Os olhos do tritão se abrem de outro espanto. Gerd tentava entender o que Louise pretendia com aquilo, sabendo que somente ela deve quebrar a maldição.

-- Entenda. Não posso lhe dar o luxo de fazer isso. Beijar outro homem que não é meu noivo. Então outra fará no meu lugar.
Ele escreveu com a mão tremendo.

E QUEM SERÁ?

-- Amanhã lhe digo. – se levantando e ajeitando o vestido com areia. – Vamos para o castelo. Está ficando tarde.

Quando anoiteceu, Gerd não dormiu de tão preocupado com a resposta da princesa. Era claro que Louise nunca o ajudaria mas tentava de alguma forma ajudá-lo. Por falta de respostas, vestiu a calça e a camisa. Com cuidado, desceu as escadas e abriu a porta principal com cuidado. Olhou o mar, a praia em si. E ouviu a voz de Alice.

-- McDreamy! – ela emergiu. – Ainda bem que te encontrei. Ouça, você precisa voltar pra casa.

Ele escreveu para ela.

LOUISE PRECISA ME BEIJAR. ELA NÃO PRECISA ME AMAR.

Alice jogou o punhal para ele.

-- Beijo? Que beijo? – indignou-se. – Eu não quero você outra vez sofrendo o que Dianna passou. Mate aquela garota e sua voz e cauda de peixe voltam ao normal.

Gerd nega  e afasta a arma de seus pés.

“Jamais!”

-- Pense nos seus amigos, coitados! – mostrando Franz, Sepp e Johan na rocha. – Eles foram transformados em peixes porque confrontaram a bruxa. Gerd, eu imploro, acabe com essa garota!

O tritão se afastou, chorando e não olhando para trás. Alice mergulha, decepcionada e os três observavam tudo. Permaneceram nas rochas por algum tempo, pensando.

-- E agora? – Sepp acreditava numa alternativa.

-- Acho que ficaremos assim para sempre.

Johan pulava de raiva e resmungava.

-- Cara egoísta!

-- Talvez todo esse egoísmo seja amor. – defendeu Franz.

-- Amor nada! – resmungava Johan. – Ela nem o corresponde. Sou jovem demais para viver assim como uma sardinha desgraçada!

-- Johan, conseguiu pesquisar sobre o amor verdadeiro? – perguntou Franz. – Ele pode quebrar esse feitiço?

-- Sim. – confirmou o linguado. – E do jeito como está, Gerd nunca vai conseguir. A princesa só tem olhos pro capitão. Gerd vai se transformar em espuma do mar e o plano já era.

-- Podemos investigar para ver se ele está amando a jovem de verdade.

-- Só temos dois dias. – Johan fez sinal com a barbatana. – Melhor agirmos logo.

No outro dia todos estavam no desjejum quando Louise pediu ao tritão lhe acompanhar na biblioteca. Gerd se animava. Gostava quando a princesa o chamava e precisava dele.

-- Quero lhe apresentar uma pessoa muito especial. – ela disse com os olhos cintilando.

“O que pode ser?”

Numa escrivaninha com livros está uma jovem lendo poemas em voz alta. Gerd a observou. Era a mesma garota alta vista na praia com Louise no dia que ele foi encontrado.

-- Felicity. – chamou Louise. – Eis o teu pretendente.

Os três trocam olhares surpresos e duvidosos entre si.

-- Eu... -- Fefe procurava respostas mas não conseguia. – Não entendi.

-- Você pode quebrar o feitiço! É também uma princesa...

-- COMO É QUE É? – berrou Felicity, largando o livro no chão. – CASAR COM ELE? ESSE MUDINHO? PELO AMOR DE DEUS!

Gerd fazia gestos negativos, indicando não concordar com aquela decisão.

-- Gerd infelizmente não tenho mais idéias para te ajudar.

Ele pegou um papel disponível na escrivaninha, banhou a ponta da pena e escreveu, muito nervoso.

NÃO ME CASO SEM AMOR. LOUISE, EU IMPLORO ME BEIJE E NÃO TE PEÇO NADA.

Louise pensa um pouco e fala com Felicity, sem que Gerd ouça.

-- Ele só precisa ser beijado. – dizendo para prima mais alta. – Faça isso por mim.

-- Não consigo, Louise. – Fefe se negava. A verdade é que ela não achava Gerd tão atraente. – Se é só um beijo, vai lá e beije o cara. Não conto pro Larry.

-- Está bem.

Lulu encarou Gerd. Ela não o conseguia olhar diretamente.

-- Prometo não olhar. – Fefe ficando de costas, segurando um espelho.

Ela teve a iniciativa, começando um selinho. Aos poucos o beijo ganhou uma forma e por fim mais movimento dos lábios de ambos e o contato com a língua. Fefe notou que uma pequena forma de luz se formava no pescoço do tritão. O feitiço estava se quebrando e de repente a porta da biblioteca se abre e Fefe correu até o casal e os separou, beijando Gerd com força. Lawrence vê o rosto de Louise um tanto vermelho e o novo “casal” se formando.

-- Vai se casar com o mudinho, Lady Felicity? – perguntou Larry, desconfiado com os boatos.

-- Sim. – Fefe força um sorriso e abraça Gerd e o mesmo não exibindo reação positiva. – Louise me deu um pretendente maravilhoso.

Larry os encarava, principalmente Gerd.  Desde que o viu com Louise, desconfiava do mudinho, como ele o chama. Sua noiva passando mais tempo com ele do que com homem que ama e vai se casar, ajudando Gerd e tudo mais. Larry estava se cansando disso.

-- Curioso... --- disse o capitão, tocando seu queixo. – Estive passando por aqui e tive a impressão de ter ouvido você não acreditar que vai casar com ele.

-- Claro. – confirmou Fefe. – Porque era esse meu desejo e finalmente se realizou.

-- Então, dou-lhe os parabéns desde já. – em seguida se retirou.

Lulu não dizia nada. Estava chocada com si mesma e mais ainda com Larry, Fefe e Gerd. Ela também saiu da biblioteca e se trancou no quarto, chorando. Não tinha certeza do que sentia. Se seu coração respondia ao capitão ou o tritão mudo. Uma difícil decisão...

Enquanto isso no fundo do mar...

A bruxa Amber procurava uma solução para atrair mais vítimas, como aconteceu com Dianna. No entanto, Meg parecia triunfar no quesito. E quando tentou lançar um feitiço direto para transformar outras sereias e tritões  em minhocas, algo deu errado. Nada, aparentemente, surtiu efeito como esperado.

-- O que foi? – procurando o erro. – Fiz tudo certo. Por quê?

Neste momento ouviu um canto melodioso conhecido. E uma pequena sombra com cauda de peixe, emergindo nas águas.

-- NÃO! – gritou Amber, destruindo sua caverna e a soterrando.

Amanheceu finalmente e naquele momento Davy Jones sentiu uma grande vontade de caminhar na praia. Chorou, lembrando-se de Dianna. Arrependia-se do que fez em não corresponder o amor dela e salvá-la. Ao mesmo tempo ficava bravo com Louise. Amava sua amiga, não tinha a menor dúvida. Mas ver a situação de Dianna se repetir com Gerd o deixava com o sangue fervendo. Ele conversou com a melhor amiga, numa tentativa vã de convencer Lulu em beijar o tritão, mesmo que sem compromisso ou corresponder o amor dele, contando que seja para salvar sua vida. Seus pensamentos foram interrompidos com o barulho do mar mais agitado que o normal e olhou para o horizonte e notou um brilho maravilhoso, como se o sol lhe indicasse um caminho. Uma cabeça loira saiu do mar e ganhava forma de uma mulher. Uma linda mulher de vestido azul do mar, emergindo dali.

Não havia dúvida alguma. Davy reconheceu Dianna, renascida.

-- Dianna? – se aproximando dela. – É você?

-- Davy! – Dianna emitiu sua voz, já recuperada.

Se abraçaram forte e trocaram seu primeiro beijo. O primeiro de muitos e com sabor de paixão acumulada e guardada desde o primeiro dia que se viram.

-- Minha sereiazinha...

-- Meu príncipe!

Ele a levou para o castelo do rei de Gales, onde no quarto experimentaram seus primeiros momentos íntimos, coisa que não tinha como ser feita na época da estadia dela...

O resto do dia foi unicamente para a notícia do reaparecimento de Dianna. Louise a recebeu mais abertamente. As duas conversaram no quarto sobre tudo que aconteceu e a aparição de Gerd.

-- Minha nossa! – Dianna lamentou. – Não queria provocar essa preocupação pros meus pais. E agora... Gerd... Ele sofreu a conseqüência.

-- Ele me falou que uma bruxa do mar o amaldiçoou. – disse Louise. – Você tem idéia quem seja?

-- Gerd não conhece Amber mas... Ah sim. Megan.

-- Quem?

-- A bruxa da pior espécie. Muito pior que Amber. Gerd teve a infelicidade de trair Alice com ela. E arrependido foi pedir perdão. O resto não soube de nada pois Alice não tocou mais no assunto.

-- Dianna... – a princesa tocou a mão da sereia, outra vez sentindo vontade de chorar. – Ontem, eu beijei aquele tritão. Podia jurar que o feitiço estava se quebrando.

-- E conseguiu?

-- Não. Lawrence apareceu, não viu tudo, se não seria minha perdição. Não sei o que estou sentindo. Estou arrependida do que fiz, tenho culpa por trair meu noivo, mas senti prazer naquele beijo. E o Gerd beija tão bem...

-- Por que não o beija amanhã? – sugeriu Dianna, com ares de sapeca. – É o último dia dele. Mesmo que não seja amor, ao menos o salve e aproveite o beijo único.

-- Parece tão fácil... – lamentou. – O problema é que amanhã vai ser meu casamento.

-- Oh nossa... – Dianna desviou o olhar para janela, pensou um pouco e disse: -- Então faça isso antes do casamento, antes de subir ao altar.

-- Dianna...

-- Amadinha, durma por hoje. Deixe isso comigo.

Dianna se retirou do quarto e Louise deitou na cama, sem dormir e pensando no dia de amanhã. Seja lá o que ela planeja tinha medo...

No outro quarto Gerd estava sentado na beira da janela, uma vez ou outra esforçava-se para falar. O feitiço foi anulado pela metade, permitindo que o rapaz apenas solte grunhidos mais audíveis e a única palavra que conseguia dizer era “Louise”. Neste momento o casal de gaivotas, Geoff e Elena sobrevoam a torre e encontram seu amigo tritão ali.

-- Gerhard. – cumprimentou Geoff. – Então, conseguiu beijar a garota?

Através da expressão triste, tiveram sua resposta.

-- Coitadinho. – entristeceu Elena. – E quanto tempo lhe resta?

ATÉ AMANHÃ, APÓS O PÔR-DO-SOL.


As gaivotas se juntaram em sua tristeza, procurando consolar o homem-peixe e ao mesmo tempo uma solução imediata. Na outra torre do castelo, o capitão Lawrence pensava melhor sobre o casamento com Louise. Amava muito a princesa e percebeu que seu ciúme consumia demais. Como sua amada não merece algo assim, tomou uma decisão: cancelar o casamento.

Meg se enfurecia no mar. Amber está morta, seu terrível plano de matar Gerd não estava correndo bem. No começo parecia tudo perdido para ele, até sua aproximação com a princesa ficar muito mais visível e sua paixão por ela. E ainda ele a beijou e metade da maldição foi quebrada, não totalmente.

-- Chegou bem, Gerd. – socou a bruxa na caverna. – Perto demais. O desgraçado... Ele é melhor do que eu pensava. É preciso agir logo. Amanhã é o prazo final.

A bruxa mais uma vez refletiu na caldeira a imagem de Lawrence, conversando consigo mesmo.

-- Amanhã vou dizer pro padre e para todos que esse casamento acabou e Louise pode estar livre.

A fúria era tanta que Meg destruiu com um só golpe todos os frascos. E erguendo os braços e as mãos começaram outra feitiçaria. Disse algumas palavras e imediatamente os olhos de Lawrence ganharam um brilho diferente. Dos seus olhos azuis, ficaram mais escuros. Quem o visse não perceberia esse detalhe. O mar ouvia outra risada maléfica de Meg ecoando nos corais.

E o último dia chegou. A celebração do casamento da princesa com o capitão da guarda estava magnífica. A mesa posta para os convidados, o esplêndido bolo com os noivos e a chegada dos convidados. No mar, os amigos do tritão, Alice e as gaivotas só assistiam e nada podiam fazer para salvar Gerd, exceto permanecer com ele nos seus últimos momentos. Nem mesmo os príncipes puderam ajudar Gerd. O tritão estava conformado com seu fim. E antes da cerimônia, vestiu-se com esmero e tornou a observar Louise. Uma lágrima escorreu e ele saiu do castelo.

Ele observou o mar e encontrou seus amigos. As gaivotas apontavam o bico para ele seguir numa direção. Caminhou até uma das torres e subindo as escadas encontrou Louise, devidamente vestida. Belíssima.

-- Lou... Loui... Louise. – disse o tritão com esforço.

A princesa voltou-se para ele.

-- Gerd... – se aproximando do rapaz, surpreendida. – Sua voz...

Embora não conseguindo falar totalmente e apenas o nome dela, já era o bastante para a princesa gostar. A voz dele grossa e bonita. Pensou consigo mesma se todos os tritões possuem essa beleza em suas cordas vocais.

-- Eu não sei...

-- Por favor... – disse e ofegando por conta do esforço e do efeito do feitiço final.

Antes de dizer algo, a criada da rainha Mary abriu a porta e os viu.

-- Vossa alteza, está na hora!

-- Já vou, Debby. – em seguida olhou para Gerd, muito triste. – Preciso ir...

Era bom demais para ser verdade. A criada levou Louise de braço dado rumo à porta da capela real. Gerd seguiu para praia sem ver a cerimônia começando.

Enquanto a marcha nupcial tocava e todos abaixavam a cabeça com a entrada dos noivos, Davy e Dianna, juntamente com Mickey, fugiram para a praia na procura de Gerd e o encontram na beira do mar, sem as botas e aos poucos tirando a roupa.

-- Não faz isso! – pediu Dianna. – Ainda faltam quatro horas para acabar seu tempo.

“Louise não me beijou, portanto, acabou minha vida aqui”

Ele não ouviu mais a princesa do mar e caminhou um pouco nas águas.

-- Gerhard, por favor. – pedia Davy.

-- Eu sei que ama minha irmã! – disse Mickey, desesperado e puxando o tritão para perto da areia. – Não pode desistir dela assim.

E na capela o padre ainda dava o sermão do casamento e por fim perguntou aos noivos.

-- Capitão Lawrence Stephen Rain, aceita a princesa Louise Christina McGold como sua legítima esposa? Prometendo amá-la e respeitá-la, até que a morte os separe?

De repente Larry tem uma crise de tosse e na hora de responder engasgou forte e seus olhos, antes negros pelo feitiço de Meg, voltaram a ser azuis. Olhou para Louise, para si mesmo e ao redor.

-- O que aconteceu? – perguntou o capitão, sem saber. – Oh Deus! Este casamento...

-- Larry, o que deu em você? – indagou Louise, sem entender a atitude estranha do noivo.

Os pais de Louise, o rei Anthony e a rainha Mary não entendiam.

-- Louise, espero que não seja outra de suas travessuras. – repreendeu o pai.

-- Papai, desta vez não tenho culpa...

-- Louise! – pegando a mão da jovem. – Ouça o que tenho a dizer. Eu fui um péssimo noivo pra você. Jamais devia te tratar daquela maneira como fiz nestas últimas semanas. E convenhamos... Você ama de verdade aquele rapaz.

-- Quem?

-- O mudinho. Eu vi, Louise. Ele não vai casar com a Felicity e o modo como te olhava era de amor e você merece isso.

Em seguida, Larry depositou um beijo na bochecha de Louise e se retirou da capela, pedindo desculpas aos convidados e para as majestades. Os convidados não sabiam o que dizer e o rei pediu desculpas e Mary pediu explicações.

-- Que história é essa do mudinho, Louise?

Antes de responder para a mãe, Louise viu o relógio. Uma hora para o pôr-do-sol e saiu correndo, ignorando todos e levantando o vestido. Correu até a praia, se livrando do véu e dos sapatos. Avistou Dianna e Davy, voltando com as caras abatidas.

-- Davy, Dianna! – abraçando os dois. – Cadê o Gerd?

Davy aponta para mais adiante e Louise se apressa, desta vez encontrando Mickey.

-- Mickey....—ofegante e se segurando nos braços do irmão. – Gerd... Onde...

Mickey mostrou o tritão numa das rochas, sentado. Ela chegou perto e o chamou.

-- Gerd?

Ele nega ouvir e vira-se para as águas.

-- Gerd, me escuta. Sinto muito por te rejeitar todos esses dias. Só queria te ajudar sem envolver-me emocionalmente mas não consegui. Porque me apaixonei por você. Não tirei aquele beijo de ontem da minha cabeça e sua voz... Tudo em você me fascina.

Ouvindo a afirmação da jovem, o ex-guarda real voltou-se para Louise e se levantando, tomou em seus braços e a beijou, mais intenso e forte da primeira vez. Mickey, Dianna, Davy e os amigos de Gerd viram, chocados e felizes depois. Até mesmo as gaivotas vibraram com a cena romântica. Entre uma onda e outra um feixe de luz se formou na garganta do tritão, devolvendo sua voz por completo.

-- Louise! – ele disse, terminando o beijo e sentindo tudo normal. – Estou falando!

-- Gerd! – abraçou o tritão. – Você pode falar! Está curado!

Todos comemoraram, no entanto tudo que é bom, dura pouco. Trovões foram ecoados junto com as nuvens negras que apareceram e taparam o sol. E uma risada. Olharam para a direção da voz e encontraram... Debby.

-- Debby?  -- estranhou Louise.

A criada lança raios contra todos. Davy e Dianna escapam. Mickey é atingido, morrendo em seguida.

-- NÃO! MEU IRMÃO! – segurou Louise o corpo do irmão, chorando. – SUA... SUA...

-- Não chore, princesinha! Seu castigo é dez vezes pior. – Meg mostrava uma lança e apontava na direção de Louise.

-- Não faz isso, Megan! – Gerd se pôs na frente. – Se matar Louise, terá de matar também.

-- Essa é a intenção! – mal terminando de falar e Meg lançou a arma contra o casal.

Ouviu-se um ruído de algo perfurando. Gerd abriu os olhos e não sentiu dor. Mas Alice, sua ex-amada, se colocou na frente dos dois e os protegeu, recebendo o impacto da lança no peito.

-- Alice! -- Gerd a segurou e retirou a lança. – Não morra.

-- Me perdoe, Gerd. Sei que não devia. O que sente pela humana... é puro. E lindo. – disse a sereia e em seguida olhando para Louise e segurando a mão dela. – Entendo o motivo de ele amar você. Cuide do McDreamy...

Alice fechou os olhos e parou de respirar. O casal e mais Dianna choraram diante do corpo da sereia. Meg vomitava sangue pois Alice jogou contra ela a mesma adaga que entregou para os amigos de Gerd, no intuito de entregar em mãos para ele e matar a princesa.

-- Maldita... – Megan perdia seus poderes e antes de cair, reuniu mais alguns raios e mirou contra o pessoal. – Ainda não acabou!

Neste momento Franz se preparava para um salto.

-- Está pronto? – Sepp o ajudava afiar a espada.

-- Nunca estive tão pronto!

-- Já!

E num impulso forte, com a ajuda das ondas do mar, Franz saltou e atingiu Meg bem no peito, justamente no lugar onde Alice enterrou a adaga. Meg ficava deformada e os raios, antes aterrorizando os habitantes e destruindo torres no castelo, atingiram em cheio a bruxa, transformando num ser totalmente horrendo e evaporando em cinzas. Quando a luta acabou, as nuvens se foram e o sol retornou com seu brilho.

E no mesmo momento, raios solares iluminaram Alice e a salvaram. A sereia está viva e abraçou todos, inclusive sua “rival”. Franz, Sepp e Johan voltaram em suas formas originais, como tritões. Quando foi a hora de ir embora e chamando Dianna e Gerd, a resposta foi essa.

-- Eu vou ficar. – a princesa se encontrava de mãos dadas com Davy.

-- Gerd, você vem? – perguntou Johan.

-- Não! – e abraçou Louise. – Também fico.

-- E quem vai assumir a chefia da guarda? – Sepp não encontrava nenhum outro tritão que fosse como Gerd.

-- Franz pode assumir muito bem.

De longe o rei Lawrence e a rainha Susan, embora chocados, respeitavam a decisão de sua filha e do seu capitão da guarda. Num movimento do tridente, o rei concedeu aos dois que permanecessem como humanos na superfície.

-- Majestade. Posso fazer um único pedido? – Gerd nunca foi de pedir algo aos soberanos.

-- Pode dizer.

-- Existe possibilidade de salvar ele? – Gerd carregava o corpo inerte de Mickey.

O rei o observou e pediu que deixassem deitado na areia. E com uma mão, usou os raios de sol e um pouco das águas do mar para fechar os ferimentos de Mickey e assim trazendo-o de volta a vida.

-- O que? – se levantou o humano e encarando os tritões. – Quem são vocês e o que aconteceu?

-- Michael, esses são Lawrence e Susan. O rei e a rainha do mar.

-- Ah minha nossa! – Mickey fez reverência aos dois. – Me perdoe os meus maus modos, majestades. E obrigado.

-- Nós que agradecemos por terem cuidado da nossa filha. – apontou o rei para Dianna. – Desejamos tudo de bom para vocês.

E eles voltaram para o fundo do mar, com coração leve de preocupação e cientes que Dianna está bem.

Não demorou em novamente um casamento fosse realizado... e em dobro. Como se não bastasse Gerd e Louise, o rei de Gales permitiu que Davy e Dianna também fossem unidos no enlace matrimonial. Uma grande festa foi realizada e no mar todos comemoravam essa união feliz. Franz e sua esposa Odile, Sepp e sua namorada, a sereia escocesa Nora se encontraram felizes. Alice está acompanhada de Michael Palin, o tritão bobo da corte e com ele só alegria, paixão e carinho sem limites.


Muitos meses depois...

Louise e Gerd levavam seu filho, o pequeno Thomas, para se divertir no litoral. Desde o nascimento dele, se viu que o menino possui uma fixação pelo mar. Ele brincava na areia e chutava e levantava as águas, com toda animação infantil e ainda convidava Cecília e Rebecca, as gêmeas filhas de Davy e Dianna para brincar.

-- Qual a probabilidade dele querer mergulhar no fundo do mar? – perguntou Louise?

-- Alta. – respondeu e pegando Tommy. – Ele é nosso peixinho.

Louise concordou e pegou Tommy, permitindo o contato do menino no mar. De longe avistou uma pequena sereia saltando e emergindo. Era Melanie, a filha de Franz e Odile, aprendendo a nadar. E Tommy deseja muito isso.



CENAS PÓS-CRÉDITOS DA MARVEL (1)

Geoff cantava e voava de volta para o ninho construído no velho navio enterrado na outra ilha. Encontrou Elena dormindo. Ela chocava os dois ovos.

-- Amor. – Geoff a chamou, trazendo a comida. Algumas minhocas e pedaços de caranguejo. – Quanto tempo falta?

Elena acordou e saiu do ninho quando os ovos se mexiam com freqüência e apresentar rachaduras. Quebrou-se sozinho e de dentro duas cabecinhas de passarinho, com os olhos fechados e bicos pequenos aparecem. Os dois recém nascidos abriram os olhos e sorriam.

-- Papai! Mamãe! – disseram os dois irmãozinhos para os pais.

O casal de gaivotas emocionados alimentaram os dois e sorriam.

-- É o dia mais feliz da minha vida! – comentou Elena.

-- Mais feliz quando juntamos aquele homem peixe e a princesa e quando ajudamos aquela ruiva com rosto de loba se unir com aquele belo jovem. – disse Geoff.

-- Boas lembranças...

Agora o tempo dirá quando Neville e Matthew, os dois filhotes de gaivotas, aprenderiam a voar como seus pais...



CENA PÓS-CRÉDITOS DA MARVEL (2)

Johan Cruyff, um tritão da guarda real e poeta de nascença, era o único que  não se ajuntou com alguém. Todas as sereias o amavam, mas nenhuma o desejava. Chegava a ser estranho isso. Certo dia após um trabalho exaustivo, emergiu na mesma praia onde Gerd vive.

-- Pelo menos aqui é melhor. – comentou enquanto se ajeitava na rocha pra pegar um pouco de sol.

E cinco minutos depois ouviu um belo som de alaúde, vindo da beira da praia. Olhou de quem vinha e surpreendeu-se. Era da moça de cabelos negros e olhos castanhos vista naquele dia no navio.

Eu duvido que haja moça mais bonita do que eu.
E mesmo assim todos os homens olham para outras e não eu.
E nada do que fiz para conquistar quem amo
Certo não deu!

Felicity, a prima de Louise, parou de cantar e seguiu caminhando. A decepção na música se deve do seu noivo, um italiano, rejeitá-la e desde então lutou para reconquistar. Nada feito.

-- Ah milady, se eu ao menos tivesse pernas, só eu posso ter você em meus braços...

Johan continuou observando Felicity de longe e jurou continuar assim até algum dia aquela lady lhe notar...

FIM