domingo, 24 de novembro de 2019

Retrocedendo (?)

Até o momento, a palavra "retroceder" não estava presente na cabeça em meu vocabulário pessoal. Hoje entendi perfeitamente. Mas só agora aos meus 30 anos ficou mais forte. Nos meus anos anteriores, praticamente quase a década inteira, tive essas sensações de retorno as lembranças boas, principalmente de minha infância. E ao chegar nesta idade que estou, me dou conta de muitas coisas e mudanças. Passei por situações que jamais pensaria que ia me acontecer, como a morte de meu pai e reagir a uma tentativa de assaltos. Sim. Eu reagi numa tentativa de assalto. Na hora eu não pensei em nada, nem na minha vida. Nada, nada. E realmente por um milagre, eu consegui. Talvez no fim das contas eu contei com a sorte e estava a meu favor. E só depois me dei conta do que fiz. Como se todo medo que não senti na hora, chegou atrasado pra mim. Fiquei um tempinho abalada mas isso me ajudou. Aprendi a ser mais ligada quando saio de casa. E sobre a morte...

Essa parte queria deixar para o final. Mas vou contar. Não foi fácil... melhor nem fazer drama escrito. Aconteceu como num dia qualquer, sem nada de especial. Meu pai estava bem de saúde. Ninguém se atreveria dizer que ele estava doente, triste ou coisa assim. Só aconteceu. Na época, eu fiquei brava com minha família por não me contarem, porque só fiquei sabendo a partir da hora que cheguei em casa. Tudo aquilo ocorreu enquanto estava lá, trabalhando, sem me preocupar. Só mais tarde pensei melhor e talvez fosse melhor não ter contado. Fiquei brava com Deus. Tantas pessoas aí e escolhe meu pai... E isso gerou-me um questionamento que talvez seja o que todos perguntam quando sofrem uma perda destas ou quando um ídolo muito querido morre. "Por que as pessoas boas se vão tão cedo? E as más, os que infringem regras, enganam, machucam pessoas e animais, agridem nas piores formas, continuam vivendo?" É injusto. Desproporcional. Quase perdi minha fé. Quase uma depressão. Ainda tenho pensamentos que beiram a isso como "quero parar de viver", "dormir e não acordar", "se eu morrer, quem sentirá minha falta?". E quando procurei ajuda na clínica onde tenho convênio médico, a psicóloga me despacha pra outra onde aceitam meu convênio, tudo isso para aliviar a lista de espera. Porra! Eu quis procurar ajuda ali e a profissional me faz isso? Por isso que os depressivos sofrem. Não é só pelo sofrimento interno que enfrentam diariamente, mas quando procuram ajuda, não encontram ou ajudam mas é pra afundar mais. Se for assim, eu desisto. E desisti. Por um tempo.

Durante um ano sem meu pai, tentava seguir a vida. O trabalho não mais me dava prazer, só fazia pelo dinheiro. E quando chegava em casa, minha mãe chorava ou já chorou. Ainda tenho medo de encontrar ela caída no chão da casa. Um passo que consegui fazer ela parar é de dizer que quer morrer para unicamente se encontrar com meu pai. Me representava que contava os dias e isso me causou uma crise pequena de ansiedade. E durante o luto, os meus colegas e amigos com quem converso nas redes sociais me falaram coisas de conforto, amizade e esperança e até me deram links para ler sobre as fases disso. E de acordo com que li, eu passei ou ainda passo por um dos processos. O primeiro é o básico: a negação. Dizia não estar conformada com essa perda. A segunda foi uma mistura de raiva e tristeza. E foi visível no trabalho. Não briguei com ninguém no trabalho mas no atendimento tive vontade de ralhar com o cliente (para minha sorte não soltei um palavrão mas vontade não me faltou). Segurei essa onda. E a terceira (que foi com o tempo) é a negociação. Esse talvez esteja porque volta e meia me dá uns ataquezinhos de fúria mas é sobre política.

O que achava que parte disso acabou, eis que outra perda acontece: um colega de trabalho, que conheci na época que dei treinamento e sempre conversávamos, faleceu. Só fiquei sabendo por uma colega que avisou sobre as postagens no grupo de WhatsApp. E quando fui olhar...
O falecimento do Luiz desencadeou aquela ameaça de depressão e inconformismo. E outra vez pedi ajuda. Desta vez consegui mas com minha prima. A psicóloga Denise foi maravilhosa. Na minha primeira consulta, senti que despachei  aquele peso que carregava por um ano, saiu. Na segunda consulta foi melhor. Talvez ainda volte ano que vem para consultar.

Agora voltando ao retrocesso, cheguei nesta idade e tudo que vivi me passou na cabeça. As coisas que fazia quando criança, os programas e desenhos que assistia me trazem de novo alegria. A época mais legal onde a programação aberta tinha tudo que prestava. Relembrei minha adolescência. Meu primeiro beijo aos 15 anos. O guri usava aparelho. E mesmo sabendo que ele era um galinha, fiquei com ele. Depois veio o Rafael. Os beijinhos gostosos. Aos 16 anos tive aquele pensamento dos adolescentes nos filmes: perder a virgindade antes de se formar no colégio. Não aconteceu. E também não tive formatura alguma. Foi uma completa desorganização. Se eu pudesse voltar nos meus 18 anos, queria ter minha formatura do ensino médio. Do fundamental foi bem legal. Mas também fui rejeitada pelo meu melhor amigo. Fiquei brava quando descobri que na festa ele beijou uma guria feia. E anos depois se eu o encontrasse... tá tudo bem. Falo sério. Passo batido. Aquela pressão do vestibular foi horrível. Tive uma tristeza horrível por não ter passado duas vezes. Dos 19 até os 21 me representa um intervalo vácuo da minha vida: eu não sabia o que estava fazendo dela, não tinha mais planos, vivi numa bolha.

Foi durante o curso técnico de eletrônica conheci meu namorado. Não namoramos de cara. Levou um tempo e até porque ele tinha outra. Tirei o meu da reta. O boom mesmo foi quando tomei coragem e mudei de curso. De eletrônica para publicidade e admito com todas as letras: foi uma de minhas melhores escolhas. Mesmo não ter trabalhado na profissão, foi realmente bom estudar publicidade. Me ajudou em minha auto confiança, me desenvolver mais, observar mais. E depois quando tive meu primeiro emprego. Não durei muito mas foi gratificante trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro.

Eu queria contar mais aqui contudo estaria fazendo uma autobiografia longuíssima. O que me levou a escrever esse texto foi durante o tempinho que estava assistindo no Youtube, os episódios de Confissões de Adolescente, as lembranças de mim ficaram presentes e reflexões do que fiz naquele tempo. Não sei se ajuda meu texto mas se for pra entender o que ando passando, está tudo bem. Tudo bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário