sexta-feira, 10 de abril de 2020

Rush 2: Amor a toda prova (Prólogo)

Boa noite, pessoas!

Não sei como dizer, hoje vou postar Rush 2: amor a toda prova, a continuação direta de Rush 1 (que ainda nem está na reta final e não saiu da primeira fase). A fic fala da rivalidade e relação amorosa de Freddie Hunt e Mia Lauda e conheceremos mais esses personagens e mais alguns da Grind. Haverá momentos que ligarão Rush 1. Boa leitura!




Prólogo

Freddie POV

2019

Olhei para meu dedo cheio de cicatrizes. Estava calado algum tempo e meu psiquiatra não era chato. Contudo, exigia que falasse mais. Eu travei. Travei exatamente onde justificava o meu ser. Um nó na garganta se formou. Lágrimas teimavam em cair e fungava o nariz. Me ofereceu a caixa com lenços descartáveis e aceitei. Ele disse que não tinha pressa e era seu único paciente do dia.

-- No fim das contas... – Comecei a dizer. – Eu não sei o que fiz naqueles anos todos que fui piloto. Eu não sei.

-- Talvez você saiba e sua mente esteja confusa. Cheia de lembranças e confundindo tudo. Te fazendo acreditar em algo que não é verdade. Isso acontece, Alfred.

-- Mas por que agora, doutor?  Por que me atacou isso?

-- Você discutiu com alguém?

-- Minha esposa. Foi por bobagem.

-- Mesmo?

-- Sim.

-- O que discutiram?

-- Algo faltando em mim. Desde que me aposentei em 2014, o tempo parou pra mim. Quando eu corria, o tempo se movimentava. Eu devia estar feliz por ficar com minha esposa e meus filhos. Contente com meu trabalho na scuderia, mas tem algo que me cutuca. Me incomodando. Antes que desconfie, não traí Meredith.

-- Não cometeu infidelidade?

-- Jamais. E nem com Noel falei sobre isso.

-- Existem causas que podem ocasionar isso. Ou como chamamos de gatilhos, que nos levam a esta situação. Essa discussão com sua mulher deve ser a razão. No entanto, pra saber o motivo desta angústia, me conte como você era na época de piloto.

-- Posso contar como eu era antes de ser piloto?

-- Pode. – Ele se ajeitou na cadeira, tomou água e me encarou enquanto eu continuava deitado no divã. – Quem é você, Alfred Hunt?



Anos antes...

Eu queria ter uma máquina do tempo. Pra poder ver meu pai pela última vez. Eu não sei o que sou. No dia que minha mãe contou do falecimento dele, Oskar chorou pra caramba. Eu... Não chorei naquela hora. Não chorei no velório, não chorei na despedida. Me limitei apenas num adeus. Uma semana depois a ficha caiu. E me tranquei no quarto. Tinha 16 ou 17 anos. Adolescente. E depois... Transformei a minha vida num parque de diversões.  Eu sou Alfred Hunt. Meu pai, James Hunt, era piloto de Fórmula 1 e foi campeão. Minha mãe, Louise McGold, premiada atriz mundialmente. Meus pais não eram casados, mas chegaram perto se não fosse o pai de um dos meus irmãos. Depois de tudo, Gerd me acolheu como um de seus filhos. Coitado...

Na escola não me queixava. Tirava boas notas, estudava, curtia com meus colegas. Na faculdade também. Após a formatura, resolvi mudar. Se vocês acham que ia me tornar um contador ou advogado, lamento dizer que decepcionei todos. E tudo começou quando encontrei o capacete de corrida do meu pai e seu macacão vermelho e um emblema no braço dizendo “Sexo. Café da manhã dos campeões”. Quando criança meu pai me levava pra correr kart e vencia todas as corridas. Ele dizia que era o único que realmente tem talento e seria um campeão. Diante da reminiscência, encontrei meu meio de vida. E foi em 2003 quando ingressei na Fórmula 3, a categoria mais baixa. Apesar de ser o início, queria mais. Admito que sou um pouco ambicioso. Mas também como meu pai, arrumava confusão com os outros pilotos, como a vez que um deles me bateu com chave inglesa e um canivete, arranhando meu braço, machucando minha testa e hematomas no abdômen.

As enfermeiras me olharam chocadas quando apareci no hospital bem de boa, com lenços na testa e um torniquete no braço. E claro minha roupa de piloto manchada de sangue e óleo.

-- Com licença! – Disse eu, aparentemente calmo. – Acho que o autódromo ligou avisando que eu ia chegar. Sou Freddie Hunt.

Até os pacientes que ali esperavam me olhavam espantados. A enfermeira, novinha por sinal, perguntou:

-- Está tudo bem com senhor?

-- Sim!

A enfermeira novinha me levou para a sala de enfermagem e me deixou sentado na maca. Retirou com força os curativos e cuidou deles.

-- Achei que fosse um acidente. – Ela comentou.

-- Se você chama uma discussão amistosa com seu colega piloto de acidente.

Enquanto ela dava os pontos no corte da testa e finalizava no abdômen e no braço, ela foi mais curiosa.

-- E sobre o que discutiam?

-- A mulher dele.

-- E o que fez? – Ela examinava minha pressão e os olhos.

-- Nada demais. Só o que me pediu.

-- Que foi...?

Tirei o estetoscópio das mãos dela.

-- Eu te mostro se quiser.

A velha cantada de meu pai em levar garotas para cama realmente funcionava. No entanto, nos diários de minha mãe ela não conta que foi desta maneira e sim algo natural. Ou quem sabe ela foi orgulhosa demais para admitir. Lembro quando tinha 10 anos que meu pai disse que as mulheres gostam de pilotos porque é desta maneira que ficamos cara a cara com a morte. Se fosse por dar voltas e voltas, seria ridículo. E concordo. Entretanto, ainda digo que não foi desta maneira que minha mãe ficou atraída por ele. Ela estava ciente de tudo, da profissão dele. E mesmo assim... Ela preteriu meu pai por Gerd Müller. Afinal de contas, o que aquele cara tinha pra tê-la conquistado?

Enquanto perguntava sobre isso lembrei que daqui 3 dias seria o Grande Prêmio no Crystal Palace. Nos dois primeiros dias treinei arduamente. No último dia, passei no estádio Stamford Bridge. Era lá que o Bayern de Munique treinava para o jogo da Liga dos Campeões. Vão confrontar o Arsenal. Assisti o treino do time. Tommy, meu irmão por parte de mãe e filho do Gerd, cumprimentou de longe. E meia hora depois veio em minha direção.

-- Não pode vir aqui. – Ele disse, ofegante.

-- Tô de boa, cara. Mais tarde vou treinar. E seus amigos sentem minha falta.

-- Eles te odeiam, Freddie. Ou espera que o Florian te perdoe por transar com a Freya? E o Ivan te acusar por bolinar a Audrey?

-- Seus amigos são neuróticos. Nunca na minha vida bolinei uma garota. Ivan está inventando.

Foi nesta hora que a turma do Bayern me avistou.

-- Ora se não é o inglês safado do Freddie!

-- Oi, Flo! Você tá uma beleza asgardiana. E os parentes?

Florian se aproximou de mim e me acertou um soco. Me levantei com dificuldade.

-- Quer apanhar mais?

-- Posso fazer isso o dia todo, doçura! – Finalizei mandando um beijo e rindo.

Tommy se atravessou na frente.

-- Para Florian!

-- Vou acabar com ele!

Florian, Ivan e o Ned me olhavam torto. Mandei beijinhos pra eles.

-- Amo vocês, queridos! – Depois olhei pro Tommy e toquei o machucado. – Ai! Florian é forte. O pai dele não é fortão assim. Eu acho que o Uli não é pai dele.

-- Foi muita sorte em te defender.

-- Ah veja! Noel chegou!

Noel Beckenbauer é meu melhor amigo. Honesto e nunca escondeu algo de mim.

-- Noel meu amigo! – Coloquei o braço envolta do pescoço dele e dei um beijinho no rosto. – Diga pro Tommy o que aconteceu com a Audrey.

-- Freddie não bolinou a Audrey.

-- Viu só?

-- Ele cantou a Audrey e ela jogou cerveja e uma torta na cara dele.

Todos riram. Florian, Ned e Ivan voltaram para nossa rodinha e deram risadas como hienas.

-- É, mas no final eu a peguei.

-- Freddie, vai embora! – Pediu Tommy.

-- Que há com você? Costumava me receber tão bem e agora tá careta, Thomas?

-- Estamos sendo vigiados. – Respondeu Noel. – Pelo meu pai.

-- Ah não sabia que estamos em 1984 e o herr Beckenbauer é o “Grande Irmão”. George Orwell vai mandar vocês pro inferno!

-- Vai embora, Freddie!

-- Tá, mas antes quero convidar vocês amanhã para o Grande Prêmio no Crystal Palace.

O pessoal deu um tipo de mugido bem desanimado. Ouvi Ned comentar, mesmo baixinho, que vou fracassar de novo. Odeio admitir, mas a verdade é que nas últimas corridas pela Fórmula 3 não tive a mesma sorte que nas primeiras.

-- Vai ser complicado de irmos...

Foi neste momento que tremi quando ouvi a voz do pai do Noel.

-- Ora ora, se não é Freddie Hunt?

-- E lá vem o satanás em pessoa! – Eu disse.

-- Não devia estar treinando em sua próxima corrida?

-- E não devia estar trabalhando, velhote?

Quando era criança, eu tinha medo de Franz Beckenbauer. Ele não gostava de mim pelo fato quem era meu pai. E tampouco gostava da minha amizade com Noel. Teve um dia que bati em Stefan, o filho mais velho dele. Franz puxou minha orelha. Para mim, ele é o Satã em pessoa.

-- Eu só não te dou uma resposta indecente porque estamos num treinamento. Agora vai embora e deixe os rapazes em paz.

Novamente insisti no convide.

-- Ok, monsieur, herr, sir.... Senhor Beckenbauer, deixa o pessoal comparecer na corrida. Estou convidando todos vocês. Inclusive o senhor. Por favor!

Eu odeio me rebaixar desta maneira.

-- Por favor, pai. – Pediu Noel. – Minha irmã também vai correr. Seria bom prestigia-la.

-- Quando será a corrida? – Perguntou Franz, ainda sério.

-- Amanhã! A largada será às 10h.

-- Vou tentar comparecer.

-- Obrigado pessoal!

Talvez Franz não vá, mas tenho certeza que meus amigos irão. Eu senti que desta vez vou ganhar...


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