Não sei como dizer, hoje vou postar Rush 2: amor a toda prova, a continuação direta de Rush 1 (que ainda nem está na reta final e não saiu da primeira fase). A fic fala da rivalidade e relação amorosa de Freddie Hunt e Mia Lauda e conheceremos mais esses personagens e mais alguns da Grind. Haverá momentos que ligarão Rush 1. Boa leitura!
Prólogo
Freddie
POV
2019
Olhei
para meu dedo cheio de cicatrizes. Estava calado algum tempo e meu psiquiatra
não era chato. Contudo, exigia que falasse mais. Eu travei. Travei exatamente
onde justificava o meu ser. Um nó na garganta se formou. Lágrimas teimavam em
cair e fungava o nariz. Me ofereceu a caixa com lenços descartáveis e aceitei.
Ele disse que não tinha pressa e era seu único paciente do dia.
--
No fim das contas... – Comecei a dizer. – Eu não sei o que fiz naqueles anos
todos que fui piloto. Eu não sei.
--
Talvez você saiba e sua mente esteja confusa. Cheia de lembranças e confundindo
tudo. Te fazendo acreditar em algo que não é verdade. Isso acontece, Alfred.
--
Mas por que agora, doutor? Por que me
atacou isso?
--
Você discutiu com alguém?
--
Minha esposa. Foi por bobagem.
--
Mesmo?
--
Sim.
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O que discutiram?
--
Algo faltando em mim. Desde que me aposentei em 2014, o tempo parou pra mim.
Quando eu corria, o tempo se movimentava. Eu devia estar feliz por ficar com
minha esposa e meus filhos. Contente com meu trabalho na scuderia, mas tem algo
que me cutuca. Me incomodando. Antes que desconfie, não traí Meredith.
--
Não cometeu infidelidade?
--
Jamais. E nem com Noel falei sobre isso.
--
Existem causas que podem ocasionar isso. Ou como chamamos de gatilhos, que nos
levam a esta situação. Essa discussão com sua mulher deve ser a razão. No
entanto, pra saber o motivo desta angústia, me conte como você era na época de
piloto.
--
Posso contar como eu era antes de ser piloto?
--
Pode. – Ele se ajeitou na cadeira, tomou água e me encarou enquanto eu
continuava deitado no divã. – Quem é você, Alfred Hunt?
Anos
antes...
Eu
queria ter uma máquina do tempo. Pra poder ver meu pai pela última vez. Eu não
sei o que sou. No dia que minha mãe contou do falecimento dele, Oskar chorou
pra caramba. Eu... Não chorei naquela hora. Não chorei no velório, não chorei
na despedida. Me limitei apenas num adeus. Uma semana depois a ficha caiu. E me
tranquei no quarto. Tinha 16 ou 17 anos. Adolescente. E depois... Transformei a
minha vida num parque de diversões. Eu
sou Alfred Hunt. Meu pai, James Hunt, era piloto de Fórmula 1 e foi campeão.
Minha mãe, Louise McGold, premiada atriz mundialmente. Meus pais não eram casados,
mas chegaram perto se não fosse o pai de um dos meus irmãos. Depois de tudo,
Gerd me acolheu como um de seus filhos. Coitado...
Na
escola não me queixava. Tirava boas notas, estudava, curtia com meus colegas.
Na faculdade também. Após a formatura, resolvi mudar. Se vocês acham que ia me
tornar um contador ou advogado, lamento dizer que decepcionei todos. E tudo
começou quando encontrei o capacete de corrida do meu pai e seu macacão
vermelho e um emblema no braço dizendo “Sexo. Café da manhã dos campeões”.
Quando criança meu pai me levava pra correr kart e vencia todas as corridas.
Ele dizia que era o único que realmente tem talento e seria um campeão. Diante
da reminiscência, encontrei meu meio de vida. E foi em 2003 quando ingressei na
Fórmula 3, a categoria mais baixa. Apesar de ser o início, queria mais. Admito
que sou um pouco ambicioso. Mas também como meu pai, arrumava confusão com os
outros pilotos, como a vez que um deles me bateu com chave inglesa e um
canivete, arranhando meu braço, machucando minha testa e hematomas no abdômen.
As
enfermeiras me olharam chocadas quando apareci no hospital bem de boa, com
lenços na testa e um torniquete no braço. E claro minha roupa de piloto
manchada de sangue e óleo.
--
Com licença! – Disse eu, aparentemente calmo. – Acho que o autódromo ligou
avisando que eu ia chegar. Sou Freddie Hunt.
Até
os pacientes que ali esperavam me olhavam espantados. A enfermeira, novinha por
sinal, perguntou:
--
Está tudo bem com senhor?
--
Sim!
A
enfermeira novinha me levou para a sala de enfermagem e me deixou sentado na
maca. Retirou com força os curativos e cuidou deles.
--
Achei que fosse um acidente. – Ela comentou.
--
Se você chama uma discussão amistosa com seu colega piloto de acidente.
Enquanto
ela dava os pontos no corte da testa e finalizava no abdômen e no braço, ela
foi mais curiosa.
--
E sobre o que discutiam?
--
A mulher dele.
--
E o que fez? – Ela examinava minha pressão e os olhos.
--
Nada demais. Só o que me pediu.
--
Que foi...?
Tirei
o estetoscópio das mãos dela.
--
Eu te mostro se quiser.
A
velha cantada de meu pai em levar garotas para cama realmente funcionava. No
entanto, nos diários de minha mãe ela não conta que foi desta maneira e sim
algo natural. Ou quem sabe ela foi orgulhosa demais para admitir. Lembro quando
tinha 10 anos que meu pai disse que as mulheres gostam de pilotos porque é
desta maneira que ficamos cara a cara com a morte. Se fosse por dar voltas e
voltas, seria ridículo. E concordo. Entretanto, ainda digo que não foi desta
maneira que minha mãe ficou atraída por ele. Ela estava ciente de tudo, da
profissão dele. E mesmo assim... Ela preteriu meu pai por Gerd Müller. Afinal
de contas, o que aquele cara tinha pra tê-la conquistado?
Enquanto
perguntava sobre isso lembrei que daqui 3 dias seria o Grande Prêmio no Crystal
Palace. Nos dois primeiros dias treinei arduamente. No último dia, passei no
estádio Stamford Bridge. Era lá que o Bayern de Munique treinava para o jogo da
Liga dos Campeões. Vão confrontar o Arsenal. Assisti o treino do time. Tommy,
meu irmão por parte de mãe e filho do Gerd, cumprimentou de longe. E meia hora
depois veio em minha direção.
--
Não pode vir aqui. – Ele disse, ofegante.
--
Tô de boa, cara. Mais tarde vou treinar. E seus amigos sentem minha falta.
--
Eles te odeiam, Freddie. Ou espera que o Florian te perdoe por transar com a
Freya? E o Ivan te acusar por bolinar a Audrey?
--
Seus amigos são neuróticos. Nunca na minha vida bolinei uma garota. Ivan está
inventando.
Foi
nesta hora que a turma do Bayern me avistou.
--
Ora se não é o inglês safado do Freddie!
--
Oi, Flo! Você tá uma beleza asgardiana. E os parentes?
Florian
se aproximou de mim e me acertou um soco. Me levantei com dificuldade.
--
Quer apanhar mais?
--
Posso fazer isso o dia todo, doçura! – Finalizei mandando um beijo e rindo.
Tommy
se atravessou na frente.
--
Para Florian!
--
Vou acabar com ele!
Florian,
Ivan e o Ned me olhavam torto. Mandei beijinhos pra eles.
--
Amo vocês, queridos! – Depois olhei pro Tommy e toquei o machucado. – Ai!
Florian é forte. O pai dele não é fortão assim. Eu acho que o Uli não é pai
dele.
--
Foi muita sorte em te defender.
--
Ah veja! Noel chegou!
Noel
Beckenbauer é meu melhor amigo. Honesto e nunca escondeu algo de mim.
--
Noel meu amigo! – Coloquei o braço envolta do pescoço dele e dei um beijinho no
rosto. – Diga pro Tommy o que aconteceu com a Audrey.
--
Freddie não bolinou a Audrey.
--
Viu só?
--
Ele cantou a Audrey e ela jogou cerveja e uma torta na cara dele.
Todos
riram. Florian, Ned e Ivan voltaram para nossa rodinha e deram risadas como
hienas.
--
É, mas no final eu a peguei.
--
Freddie, vai embora! – Pediu Tommy.
--
Que há com você? Costumava me receber tão bem e agora tá careta, Thomas?
--
Estamos sendo vigiados. – Respondeu Noel. – Pelo meu pai.
--
Ah não sabia que estamos em 1984 e o herr Beckenbauer é o “Grande Irmão”.
George Orwell vai mandar vocês pro inferno!
--
Vai embora, Freddie!
--
Tá, mas antes quero convidar vocês amanhã para o Grande Prêmio no Crystal
Palace.
O
pessoal deu um tipo de mugido bem desanimado. Ouvi Ned comentar, mesmo
baixinho, que vou fracassar de novo. Odeio admitir, mas a verdade é que nas
últimas corridas pela Fórmula 3 não tive a mesma sorte que nas primeiras.
-- Vai ser complicado
de irmos...
Foi
neste momento que tremi quando ouvi a voz do pai do Noel.
--
Ora ora, se não é Freddie Hunt?
--
E lá vem o satanás em pessoa! – Eu disse.
--
Não devia estar treinando em sua próxima corrida?
--
E não devia estar trabalhando, velhote?
Quando
era criança, eu tinha medo de Franz Beckenbauer. Ele não gostava de mim pelo
fato quem era meu pai. E tampouco gostava da minha amizade com Noel. Teve um
dia que bati em Stefan, o filho mais velho dele. Franz puxou minha orelha. Para
mim, ele é o Satã em pessoa.
--
Eu só não te dou uma resposta indecente porque estamos num treinamento. Agora
vai embora e deixe os rapazes em paz.
Novamente
insisti no convide.
--
Ok, monsieur, herr, sir.... Senhor Beckenbauer, deixa o pessoal comparecer na
corrida. Estou convidando todos vocês. Inclusive o senhor. Por favor!
Eu
odeio me rebaixar desta maneira.
--
Por favor, pai. – Pediu Noel. – Minha irmã também vai correr. Seria bom
prestigia-la.
--
Quando será a corrida? – Perguntou Franz, ainda sério.
--
Amanhã! A largada será às 10h.
--
Vou tentar comparecer.
--
Obrigado pessoal!
Talvez
Franz não vá, mas tenho certeza que meus amigos irão. Eu senti que desta vez
vou ganhar...
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