sábado, 9 de maio de 2020

Angel Eyes (Oneshot - Universo O Casamento)

Olá pessoal!

Terminei uma oneshot que segundo o Word, deu 10.815 palavras. E realmente acho longo. Espero que gostem pois é a minha versão (porém, diferente) do filme O Feitiço de Áquila. Em 2016, Maris Campos escreveu a versão dela com o OTP D&D. Essa oneshot demorou pq deveria ser McGüller e Maris Grey sugeriu que fosse McCruyff. Espero que gostem!


Narrated by: Robert McGold & Alice Stone


-- Vovô, conta uma história pra gente. – Pedia Joey, o neto agitado de Robert.

-- Também quero. – Mandy abraçava seu gato de pelúcia e deitava no sofá com o cobertor, dividindo com Joey e mais duas crianças, James e Lily.

-- Vocês não vão assistir televisão? Eu liguei pra vocês verem.

-- Não tem nada passando de bom na tv. – replicou James.

-- Conta uma história. – pedia Lily. – O vovô Jacques sempre conta uma antes do chá das cinco.

-- Deixa os gêmeos virem pra cá que eu conto uma antiga história que se passa na Europa Central.

-- Tem luta? – perguntou Joey, fascinado.

-- Tem.

-- Tem romance? – perguntaram as meninas.

-- Tem.

-- Tem monstros? – era a vez de James perguntar.

-- Não mas tem lobos, corujas e bruxas. E um cardeal muito do mal.

-- Nossa! – exclamou Alice, rindo e deixando os gêmeos Christopher e Nikolai, que recentemente tomaram banho e vestiram seus pijamas, se juntarem aos seus amigos.

-- Muito bem, crianças. -- Robb sentava na cadeira e segurava um livro, no entanto não o abria. – Esta história se passa na era medieval de nosso continente. Naquele tempo, os homens eram guerreiros nobres, honrados heróis e destemidos. As mulheres, embora delicadas, eram determinadas, sonhadoras e sexies.

-- Robert! – retrucou Alice, olhando para Robb de forma reprovadora.

-- Desculpe. – Pigarreou e voltou a falar. – Eram boas damas.

-- Eram princesas? – os olhos de Lily brilhavam.

-- Lindas princesas. 

-- Por favor, conta logo. – Pedia Chris, ansioso.

-- Ok, eu conto.



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Tudo começa com uma missa na igreja de St. Romulus Northanger... e a saída de um ladrão. Este batedor de carteiras, de origem germânica, foi um simples escudeiro, cujo cavaleiro morreu num duelo de justa e o coitado jogado na miséria. E após alguns dias roubando, foi preso. Dizem que a prisão de Áquilla era impossível de se escapar. Não para Berti Vogts. Ele era um batedor muito esperto. Se utilizando de um pedaço de osso quebrado, ele abre as grades da prisão que dão acesso aos esgotos e através dele, sua liberdade.

Ele não sabia o que fazer com sua liberdade recém recuperada. Primeiramente, decidiu pegar roupas de camponeses. Depois seguiu para cidade, sem ser visto. No entanto, os guardas capturaram Berti.

-- Me soltem! – gritou e se debatei na rede.

Um dos guardas ia cravar a espada no ladrão quando uma flecha atingiu seu braço.

Todos olharam para a direção de quem atirou. Um cavaleiro de trajes negros, cabelo castanho e olhos em tons azuis e traços holandeses.

-- VOCÊ! – um dos cavaleiros reconheceu o outro.

-- Isso mesmo! – o guerreiro de trajes pretos caminhava até o ladrão e o libertou das redes. – Podem dizer ao cardeal Burdon que eu voltei e desta vez, vou mata-lo.

Nenhum deles se atreveu atacar. Um tentou, mas falhou. O cavaleiro cravou a espada nele, o derrubando.

-- Mais alguém?

Os guardas recuaram. Berti estava paralisado diante de seu salvador.

-- Obrigado, senhor...

-- Johan. – respondeu o cavaleiro negro.

-- Herr Johan. Se me permite, quero seguir com você. Como forma de gratidão.

Johan estava acostumado com viagens sozinho. E prometeu a si mesmo não envolver ninguém na sua trilha de vingança.

-- Quer mesmo me ajudar, rapaz?

-- Sim. Independentemente do que for, desejo lhe ajudar.

Diante da insistência e nobreza do rapaz, o cavaleiro por fim aceitou.



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Robert se espreguiçou. Já estava anoitecendo e as crianças estavam mais atentas.

-- Por hora, vou encerrar por enquanto.

-- Ah não! – exclamaram todos.

-- Amanhã continuo, eu prometo. E boa noite.

Todos já iam se retirar quando Alice, munida de sua xícara de chá quente e roupão, sentou no sofá junto com eles.

-- Eu vou continuar a história no lugar dele. – garantiu a jornalista, sorrindo. – Somente quando o vovô Robb estiver cansado.

-- Tudo bem. – Concordou Mandy

-- Então anoiteceu. – Alice continuou a narrativa. – E estava na hora da águia se retirar.

-- Águia? – questiona Joey, que sempre estava atento.

-- Ela estava pronta para dormir, como o avô de vocês.

Todos riram e mais uma parte da narração era dita...




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Após um acordo, Berti e Johan seguiram para uma pousada. Em princípio o dono não queria os aceitar, mas bastou o cavaleiro mostrar as moedas de ouro e fez o estalajadeiro mudar de ideia. Ficaram num dos celeiros. Berti percebeu que Johan olhava muito para o céu.

-- Está orando?

-- Não. – respondeu o holandês. – Estou chamando por ela.

-- Ela?

-- Minha águia.

E assobiou forte. Em poucos segundos um magnífico pássaro pousou no braço do cavaleiro. E ele retribuiu o carinho.

-- Como você está? – perguntou para a águia e dando um pouco de carinho no bico. – Está linda como sempre.

Ela piou bem forte.

-- Eu sei, querida. – Em seguida olhou para o ladrão. – Calma. Ele é de confiança. Eu o salvei.

Berti não acreditava no que via. O cavaleiro conversando com o pássaro? Se questionou se fez bem se juntar a ele na jornada, embora não fazia ideia para onde deviam ir e qual era o objetivo. A noite dormiram e Berti se acordou e foi até uma parte da floresta, fazer suas necessidades fisiológicas. Quando terminou de mijar, ouviu um uivo de lobo.

-- Quem está aí? – perguntou.

Se afastou e tentou voltar para estalagem. O uivo continuou e com uma das mãos segurava uma faca e a outra a calça, insistiu:

-- Eu disse quem está aí?

Não teve respostas e caminhou até uma parte da estalagem. Atrás de si, uma figura silenciosa surgia com um machado. Berti percebeu e quando se virou, se desviou rápido do golpe. O estalajadeiro era traiçoeiro. Mesmo pago, queria se livrar dos hóspedes. Berti fugiu e antes que fosse alcançado, um gigante lobo correu em sua direção e atacou o dono, com mordidas fortes. O estalajadeiro não conseguiu se defender e gritava de dor. E o ladrão espantado, correu para dentro do celeiro e tentou chamar Johan.

-- Herr Johan! – batendo na porta. – Herr Johan!

A porta se abriu e só mostrou as roupas, a armadura e as armas do cavaleiro. Pegou uma besta e armando com a flecha, mirou tremulamente para o alvo. Só não conseguiu o intento pois uma mão delicada o tocou junto da arma. Berti olhou e paralisou. Diante de si estava uma linda jovem, pele branca, olhos castanhos e cabelo negro e longo como cascata e pequenas mechas cacheadas.

-- Shh!

-- Moça...

Ela saiu do celeiro e ouviu o som. Era dele.

-- Já acabou. – Avisou a moça misteriosa.

-- Moça, tem um lobo grande lá fora.

-- Eu sei.

O mais espantoso para ele é que a moça soube como domar o lobo, acariciando a pelagem negra do animal e falava com ele como se fosse uma pessoa.

-- Eu entendo, amor.

O lobo lambeu a mão dela.

-- Vai ficar tudo bem.

Berti se sentou no feno, ainda chocado com a visão lá fora.

-- Meu Deus, devo estar louco. Talvez esteja sonhando.

-- Você está sonhando.




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-- Bem meus amiguinhos, está na hora de dormir.

-- Ah...

-- Amanhã o avô de vocês vai continuar.

-- Está bem, tia Alice. – Joey se levantava do sofá e levou o cobertor. – Boa noite, tia Alice.

-- Boa noite, tia Alice. – disseram as crianças.

-- Boa noite, pequeninos!



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 No outro dia, Alice e Robb tomavam café tranquilamente. Os dois iniciaram um relacionamento gostoso, porém diferente das convenções tradicionais. Isso se deve ao fato que Robb está na meia idade e Alice na casa dos trinta e namorando o pai de uma de suas amigas. Seu casamento com o comediante Michael Palin terminou de maneira simples e sem ninguém se machucar, pois ambos chegaram num acordo. E já fazia alguns meses desde que Alice e Robb se encontravam nesta relação.

-- Vai continuar contando, vovô? – Questiona Joey, tomando o leite.

-- Vou e soube que a Alice prosseguiu. Onde paramos com ela?

-- Na parte que o ladrão Berti viu o lobo e a moça e acha que está sonhando. – Respondeu James.

-- Certo. – Robb saiu da mesa e foi com as crianças na sala, segurando uma bengala de madeira esculpida por ele mesmo. – Vamos continuar.



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Berti ainda não acreditava no que estava olhando. Ele mesmo viu a bela garota e o lobo juntos. Nos seus pensamentos, julgava ser obra das bruxas ou até mesmo Satanás lhe perturbando. Ele rezou, pedindo toda proteção divina para que nada lhe aconteça.

Quando amanheceu, a dupla de viajantes seguiu andando. Berti reconheceu o caminho.

-- Senhor, por que estamos indo para Shangri-la?

-- Há um rei, que é meu amigo. E sabe sobre... minha história. Minha situação. Preciso da ajuda dele em seguir para Áquilla.

-- Pretende cortar caminho por Shangri-la?

-- Exato. Só assim para não ser visto. E quando chegarmos, você pode ir embora. Está livre. Acredito que depois de ontem à noite não queira mais me seguir.

Berti tremeu. Como o cavaleiro sabe disso, sendo que não foi visto na hora do ataque do lobo contra o estalajadeiro? Pensou em questionar, contudo temeu por sua vida.

-- Senhor Johan, o estalajadeiro era um traidor. Tentou me matar. E um lobo o atacou. Achei que o senhor estava morto. Fui usar a flecha e não consegui.

-- Por que? – Johan se sentava no chão, recostado no tronco da árvore e cobrindo a cabeça com o capuz.

-- Uma mulher... Me impediu.

Johan abriu os olhos e se atentou aos detalhes.

-- De olhos obsidianas brilhantes, semelhantes de um pássaro e a pele que é uma porcelana. A voz dela... Eu não sei como descrever. Era como um anjo com timbre sedutor e ao mesmo tempo calmo.

-- Ela falou? O que disse?

-- Perguntei se estava sonhando e ela respondeu que sim. – Berti observou o cavaleiro e notou que o mesmo sorria. – Não estou louco. É verdade.

-- Eu acredito, Berti. – Johan sorria e olhava para o céu nublado. Suspirou. – Essa garota ou donzela, tem nome?

-- Não. Por que?

-- Talvez ela apareça nos meus sonhos. – Disse o cavaleiro olhando para águia. – Não seria interessante se eu a chamasse pelo nome e fingir que já nos conhecíamos? Há tempos que espero por uma donzela assim. Vamos descansar.

-- Tudo bem.

Berti achou a conversa estranha e ao mesmo tempo um tanto poética e romântica. Certamente o cavaleiro amou uma moça e a procura. E se ela estiver em Shangri-la? Ou ela fosse enfeitiçada? Muitas teorias e nenhuma resposta.


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Em Áquila, um dos cavaleiros da guarda retorna à igreja de St. Romulus Northanger e reportar ao cardeal Burdon. Ele se encontrava no quarto, esbravejando com alguém...

-- MALDIÇÃO! – Eric jogava as peças de prata contra a parede. – EU PEDI QUE OS AMALDIÇOASSE COM A MORTE E NÃO OS DEIXASSE JUNTOS!

-- Eu tentei, cardeal. – A voz suave e maligna de Jenna soava calma. Ela é uma bruxa que foi chamada às pressas pelo cardeal. – Felicity tem algo que a protege e não falo do cavaleiro desnutrido vindo do Norte. Alguém fez um sortilégio divino, impedindo a maldição da morte afeta-la.

-- TENTOU? -- O cardeal chutava as coisas e olhava para o crucifixo e em seguida para bruxa. – Não pedi uma tentativa. E sim algo certeiro: matá-la ou o cavaleiro. Quebre esse sortilégio ou liquide com a raiz, ou seja, de quem o criou. Se Felicity não pode ser minha, ninguém a terá!

-- Está bem. – Jenna voltou a vestir a capa preta. – Farei isso em breve!

-- AGORA! – Gritou o cardeal, cuja voz quase deu eco na igreja.



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-- Calma! – Robb deu risada. As crianças se assustaram com o modo que ele interpretava o cardeal maquiavélico.  – Calma, gente.

-- O que é um sortilégio? – Perguntou Lily, um pouco assustada.

-- É um feitiço. Neste caso de proteção. Na linguagem moderna, se confunde com simpatias para atrair coisas boas ou maldições.

-- O vodu é um sortilégio? – Chris levantou a mão.

-- Aí seria bruxaria.

-- Precisamos avisar o tio Jon sobre isso. – Comentou Nikolai, impressionado.

-- Por que? – Perguntou Robb, curioso.

-- Ele tem um boneco desses que parece o papai novo da Lily e do James.

-- E-eu também vi. – Confirmou o filho mais velho de Marie e Roger Daltrey. – É pequeno, loiro e tem roupinha vermelha.

Robb estava chocado. Seria possível que Jon chegou a esse nível? Alice ouviu tudo e se chocou também.

-- Ele vai matar o Uli, vovô? – Lily abraçava sua boneca.

-- Não. Jon é incapaz de fazer isso.

Com a pausa feita, as crianças foram ao banheiro e Robb e Alice aproveitaram em conversar sobre Jon.

-- Ele vai me pagar. – Disse o galês quarentão, quase furioso.

-- Calma. Vamos conversar com ele. – Alice o acalmava.

-- Quando ele chegar de viagem, o chinelo vai cantar! Vai que ele invoque um golem?

-- Ou um dragão?

O casal se encarou, espantados.

-- Minha nossa! – Disseram juntos.

Tomaram chá e as crianças voltaram para sala.

-- Eu vou continuar no seu lugar, querido.

-- Faça isso e eu farei o almoço.

-- Amanhã quero um banquete.

-- Com prazer, milady!

Alice se juntou aos pequenos e segurou a bengala.

-- Vamos prosseguir?

-- SIM! – Exclamaram as crianças.




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Já mais calmo e a bruxa desaparecendo, o cardeal se reuniu com o capitão Valentine no jardim.

-- Senhor Burdon...

-- Encontrou Vogts, o criminoso?

-- Neste momento ele não está sob minha custódia. – Respondeu Hilton, cansado.

-- Invadiu meu jardim, sujo e com barba? Pretendia encontrá-lo aqui?

Valentine se calou. O cardeal já se enfureceu só de saber que o Rato Vogts escapou da prisão.

-- Mas, Senhor... Cruyff voltou.

Os olhos do religioso se abriram mais e os punhos mais cerrados.

-- Venha comigo!

Os dois caminharam em círculos pelo jardim e Valentine narrava tudo o que aconteceu.

-- Vogts está viajando com ele. Meus homens vasculham os bosques. Um deles disse que os dois seguem para Shangri-la, embora eu não acredite e...

-- Um falcão não acompanha os dois? – Questiona Eric.

-- Perdão, senhor?

-- Um falcão atrevido e com alma.

-- Bem, eu vi e voa perto dele.

-- Ótimo. Eu mesmo matarei aquele pássaro. Tragam aquela ave para mim e se matarem, um novo capitão te executará, Valentine. Estamos entendidos?

-- Sim, senhor...

-- Na noite passada, recebi em sonhos uma mensagem do Todo Poderoso me dizendo algo.

-- O que seria?

-- Que o Diabo mandou um dos seus acólitos na terra. E seu nome é Johan Cruyff.

Hilton tremeu.

-- E todos aqueles que são próximos de Belzebu devem ser exterminados. Esta é a nossa missão.

-- Eu entendo, senhor.

-- Agora vá! Desobedecendo a mim é a mesma desobediência a Ele.

O cavaleiro se retirou.

-- Espere!

-- Sim, senhor Burdon?

-- Chame o caçador.

-- Breitner? O caçador? – Hilton outra vez estremeceu.

-- Exato.

Hilton conhecia Paul Breitner, o mais brutal caçador de animais. Apenas não entendeu o motivo do cardeal o chamar. Se for realmente o pássaro, não representava perigo. O guarda procurou o caçador e o encontrou na taverna, bebendo. Informou sobre o encontro com o cardeal.

-- Compareço amanhã. – Avisou Breitner. – Sem falta.

-- Contamos com sua presença, Paul.



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Após o breve descanso, Johan e Berti seguiram na estrada e chegaram a um campo quase devastado, com poucas casas e pessoas. Grande maioria foram incendiadas. Johan deduz que o cardeal tenha enviado seus seguidores e para punir os pagãos, colocava fogo em suas casas e por vezes os matavam dentro do recinto ou eram enforcados ou torturados pela Inquisição.

-- Herr Cruyff.

-- Diga.

Berti apontou para a tropa que estava perto de um monte de feno e uma fogueira.

-- Não olhe para eles! Siga em frente. Eu o protegerei. – Garantiu o cavaleiro.

E fez conforme a ordem dita. Entretanto, os soldados os avistaram. Johan liberou o falcão, permitindo que voe alto. Os cavaleiros partiram em direção a dupla. Berti se escondeu atrás do cavalo de Johan. O ex- capitão da guarda não se deteve e armado com a besta, acertou dois inimigos no peito. O adversário também se armou e mirou em Johan, atingindo a perna direita e o ombro. Berti pegou uma pedra e arremessou contra o cavaleiro inimigo. Conseguiu o intento. No entanto, ele se desequilibrou e levantando sem querer a besta, atingiu o falcão com uma flecha perto do peito.

-- NÃO! Fefe!

Johan tentava se equilibrar e desembainhando a espada, estava mais que pronto para derrotar os guerreiros. Parecia uma vantagem para ele, pois dos 5 cavaleiros, 3 estavam fora de combate e restaram dois. Berti resgatou o pássaro que caiu no campo e o encobriu com um pano. Nesta hora surgiram mais cavaleiros do cardeal.

-- Herr Johan, estão vindo mais...

-- Eu sei...

Agora era a completa desvantagem para o holandês... Até ouvir o galope de um cavalo e quando avistou, se surpreendeu. O animal era branco e seu cavaleiro portava uma armadura prateada, segurando uma espada. Ele atacou os soldados. Derrotou todos sistematicamente. Um deles, maior e portando uma maça, atacou o desconhecido. O salvador de Johan e Berti se defendia com escudo e num rápido movimento, cravou a espada no peito do indivíduo.

-- Impossível... – Berrava o cavaleiro. – Nenhum homem poderia me derrubar.

 O adversário vitorioso recolhia a espada e disse:

-- Não foi um homem que fez isso. – A voz abafada parecia de um homem. Mas quando retirou o elmo, foi surpresa de todos. – Eu sou uma mulher.

A mulher em questão era loira, de olhos azuis vivazes e uma determinação que surpreendia todos.

-- Obrigado, princesa Louise de Shangri-la.



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Louise e mais dois soldados escoltaram Berti e o falcão machucado para o castelo em Shangri-la, o reino governado pelo irmão dela, Michael. A pedido de Johan, deixaram o mesmo para trás por conta do pôr-do-sol e sua condição maldita. Os portões se abriram e três moças bem vestidas e delicadas receberam os visitantes.

-- Fefe! – Disse uma delas, de sotaque celta e olhos azuis. Ela segurou o falcão. – O que fizeram com você?

-- Os soldados do cardeal... – Disse Berti, um pouco nervoso. – Nos atacaram e atingiram a Lady Falcão.

-- “Lady Falcão”? – Perguntou Marie, uma jovem princesa do reino dos francos.

-- Temos que ajudá-la. – Uma delas, de cabelos e olhos castanhos observava o pássaro. – Vamos, meninas!

Elas foram para o quarto levando a ave ferida. Berti ficou sozinho no hall de entrada.

-- Entre! – Convidou Louise. – Johan nos contou sobre você.

-- Vocês não vão me julgar?

-- Se você fosse mesmo um ladrão, recusaria ajudar um cavaleiro que lhe salvou a vida. – Disse Michael. – Vamos! Vou providenciar roupas limpas, um banho, comida e acomodação.

Berti aceitou, mas sofria ao pensar em Johan. Não entendeu ainda o motivo de ele ficar para trás e a devoção estranha pelo falcão chamado Felicity. E mais ainda com as moças do castelo de Shangri-la, demonstrando a mesma devoção. Eram muitas perguntas a serem feitas num dia só. Durante o jantar, ouviu o uivo do lobo.

-- Pobre Johan... – Comentou Michael depois de beber um copo de vinho. – É triste viver nestas condições. Três anos se passaram desde que foi amaldiçoado...

-- Como assim, majestade?

-- Johan e Felicity, minha prima, foram alvos da ira e bruxaria do cardeal Burdon.

Neste momento, Marie corre para o quarto e é avistada por Michael.

-- Como ela está, Marie?

-- Febril. Delirante. – Marie tremia muito. – Estamos com medo.

-- Retire a flecha nela e Nora sabe como agir.

Mais tarde, Berti terminou seu jantar e a conversa com o rei de Shangri-la. Caminhou pelo castelo e sua extensão. Ouviu mais uma vez os uivos tristes de Johan. Subiu as escadas e notou a porta entreaberta. Abriu um pouco e sob muitas velas acesas, estava a garota que na noite passada o impediu de atacar o lobo. E com uma flecha entre o ombro e o braço, no mesmo lugar onde o falcão se feriu. Berti se fascinou. A garota era realmente linda. Neste momento, ela, que estava desacordada, abriu os olhos e viu o batedor de carteiras.

-- Você... – Ela disse, um pouco sonolenta.

-- Boa noite, moça. – Saudou Berti, muito tímido.

-- Johan... – Ela disse e mais consciente. Tentou se levantar, mas a dor por causa da flecha lhe impediu. – Ai! Preciso... Ver o Johan... O lobo...

-- Moça, ele está bem. – Garantiu Berti. – Só quer sua sobrevivência.

-- Eh... É tão típico dele. – Sorriu a garota e se deitando.

-- A- afinal de contas... – Berti tomou coragem em perguntar. – Você é carne ou espírito?

-- Eu sou a tristeza. – Respondeu tristemente.

As garotas e o rei entraram no quarto e ficaram ao redor dela. Nora percebeu a presença do viajante.

-- O que está fazendo no quarto dela?

-- Eu... Só quis vê-la.

-- Por favor, saia! – Marie o guiou para fora do quarto e fechou a porta.

Ele se retirou e encontrou Louise, já trajada com suas vestes e a coroa de princesa. Chegava ser estranho, porém inusitado.

-- Você a viu? – Questionou Louise.

-- Fala da moça? Sim. Ela... Ela é a Lady Falcão?

-- Sim. O nome dela é Felicity McGold, minha prima. – Louise se sentou no trono e prosseguiu a conversa. – Ela veio morar comigo e com meu irmão em Shangri-la após a morte do meu tio na guerra. Ela causou um certo impacto na cidade e mais ainda em Áquila porque olhar para ela é como...

-- Ver o rosto do amor. – Completou Berti.

-- Exato. As pessoas de Shangri-la e de Áquila se apaixonaram por ela. Todos a adoravam. E essa sensação atingiu até alguém como o Cardeal Eric Burdon. Ele não pensava em outra coisa exceto nela.

-- O cardeal também?

-- Ah sim. O cardeal não vale absolutamente nada. Não era amor, era obsessão. E Fefe sabia, percebendo a maldade nele. Ela devolveu todas as cartas ainda lacradas. Poemas e presentes enviados pelo Cardeal. Rejeitou sem precedentes.

-- Minha nossa. E como ela e Johan se conheceram?

-- Na nossa décima visita à cidade, era para celebrar um noivado de nossa amiga, Anastacia. Na festa de noivado, Fefe conheceu o capitão da guarda, Johan Cruyff. Se apaixonou perdidamente por ele. E para surpresa dela, foi correspondida. Só que havia um problema.

-- O cardeal?

-- Também, embora Burdon ainda não tinha nenhum conhecimento do fato. Era Ana. Johan era o noivo dela e estavam prometidos desde o início. Fefe inclusive cogitou ir para o convento Saint Fraseliere em Lyon. O amor dela e do Johan a impediram desse destino. Johan terminou o noivado com Anastacia e planejou com Felicity fugirem juntos. Infelizmente... Não aconteceu.

Berti pegou uma garrafa de vinho e serviu a princesa e a si mesmo.

-- O que houve?

-- Eles foram traídos. Apenas sei que o Cardeal Burdon soube da informação e foi mais esperto. Impediu a fuga do casal apaixonado e com ajuda da bruxa Jenna Davies, jogou um feitiço mortal. Ele os queria mortos. No entanto, algo salvou os amantes. O sortilégio que Nora fez deu a proteção, pelo menos nesta maneira. De dia, Fefe é um falcão e Johan é humano. Quando anoitece, Johan é o lobo e Fefe na forma carnal como pode ver. Não podem se tocar, exceto por um segundo do amanhecer e o anoitecer. Sempre juntos, eternamente afastados. Foi assim por 3 anos.

Berti entendeu perfeitamente a situação. Era por isso que Johan desejava ir a Áquila: se vingar do Cardeal. O problema? Como ficaria Felicity?

Neste momento ouviu-se um grito de mulher. Era Fefe. As três garotas retiraram juntas a flecha do peito de sua amiga e não houve jeito de evitar o som emitido.


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Faltando vinte minutos para meia noite, Nora terminou o preparo de um unguento para cicatrizar rapidamente o ferimento de Felicity. Marie secava a testa da amiga com um lenço. Ana olhava para janela, triste e com culpa. E ela sabia bem do que era...


FLASHBACK ON

-- Eu amo outra mulher. – Disse Johan.

Os olhos de Ana encheram de lágrimas rapidamente. Apesar do seu noivado com o capitão da guarda ter sido arranjado por seus pais, ela o amava. Ou acreditava estar amando.

-- Quem é ela? – Perguntou com a voz falhando devido o choro.

Johan não respondeu e seguiu em direção a saída da casa dela.

-- QUEM É ELA? A MALDITA?

-- Felicity.

Foi um golpe no peito. Depois disso Ana entrou em catatonia emocional e um pouco de depressão. Suas amigas, Nora e Marie a ajudavam e Louise pedia desculpas. Ela se recusou a receber Felicity ou até mesmo ouvir a versão dela. Por enquanto. Uma semana depois a prima do rei Michael visitou Anastacia e explicou a situação.

-- Não era minha intenção. Quando eu o vi, senti coisas inacreditáveis e maravilhosas. E quando ele me contou sobre o noivado e você... – Fefe chorava. – Tinha desistido imediatamente e decidida em virar freira. Queria esquecer de tudo. E... Johan me visitou no convento... E percebemos nosso amor mais forte. Voltei para Shangri-la e agora vamos fugir.

-- Fugir? Para onde?

-- Qualquer lugar longe daqui. Quero recomeçar. Hoje de madrugada estaremos partindo de Áquila.

Ana viu a sinceridade de Felicity e se apiedou dela. As duas são românticas e sempre defendiam o amor acima de tudo. Abraçou-a com força e sorriram. Elas se perdoaram.

-- Adeus, Ana...

-- Adeus, Fefe.

Depois que a jovem foi embora, Ana passou o resto da tarde pensando e novamente a depressão tomou conta e a raiva por ter sido abandonada. Ela visitou a igreja de St. Romulus Northanger e sem saber, confessou tudo para o Cardeal Burdon. Não é preciso dizer que graças a informação recebida em forma de confissão, o religioso mandou soldados no encalço do casal e os capturou. Ana assistiu escondida a tortura dos dois. Nenhum deles se rendeu e a ira do cardeal aumentou mais. Eis que a bruxa foi apresentada e aplicou a maldição da morte sob trovões incessantes. Poderia tê-los matado se o sortilégio de Nora não impedisse.

Após isso, Johan e Fefe não foram vistos nas duas cidades e o cardeal espalhou aos quatro ventos que o capitão holandês morreu em missão da igreja e Fefe se suicidou no convento. Uma mentira deslavada.

Corroída pelo remorso, Ana se isolou na floresta, mas suas amigas a trouxeram de volta para Shangri-la, impedindo algo muito pior. E hoje ela quer se redimir...


FLASHBACK OFF

Todos foram dormir e uma hora antes do amanhecer, Fefe se acordou. Se levantou com cuidado sem acordar suas amigas. A anágua de tecido grosso aquecia seu corpo. O único defeito era a dor.

-- Moça...

Ela viu Berti Vogts, ainda acordado e perambulando o castelo.

-- Você não dorme? – Ela perguntou, incrédula.

-- Dormi pouco. O uivo do lobo não deixou. – Riu um pouco.

-- Entendo... Ai!

Neste momento Ana se acordou e acudiu sua amiga.

-- Obrigada, Anastacia... – Fefe voltou para cama. – Sei que não mereço sua confiança...

-- Não diz isso, amiga. – Ana estava com os olhos vermelhos. Sinal que ela chorou a noite toda. – Sou eu que devo perdão. Você é uma das minhas preciosas amigas. Amava o Johan e seus belos olhos angelicais.

-- Eu vi muito além daqueles olhos. – Sorriu a galesa. – Era uma segurança, força e uma compreensão fora do comum.

-- Bem... Que tal irmos tomar chá? – Sugeriu Berti.

Os três olharam para janela. A escuridão dava lugar ao alvorecer.

-- Logo voltarei minha forma. – Comentou Fefe.

Ana abraçou sua amiga. Era óbvio que Fefe a perdoou.

-- Moças, olhem!

Os guardas do cardeal estavam chegando.

-- Fefe, se esconda! – Ana levou a jovem para o quarto.

Berti chamou o rei, a princesa e as garotas.

-- Não podem ficar aqui dentro. – Alertou Mickey. – Se os guardas saberem de vocês, vão leva-las para Áquila, principalmente você, Nora.

Nora é uma bruxa celta. Diferente de Jenna Davies, Nora usa a magia da luz e mesmo assim é mal vista pela população cristã. Louise não conseguiu vestir a armadura e tudo que conseguiu foi pegar uma bolsa com roupas e sua espada. Ela, as três moças e Fefe saíram pela porta da cozinha e os guardas de Shangri-la as conduziram até uma parte e voltaram para o castelo. Berti as seguia. No entanto, três soldados do cardeal conseguiram encurralar o grupo.

-- Paradas!

Era tarde. Fefe já tinha se transformado no pássaro e voou longe.

-- Atirem naquele falcão! – Ordenou um deles.

Louise lutou com dois e os venceu. O terceiro era mais forte e aplicou dois golpes na princesa. As garotas tentam ajudar, mas os dois soldados se levantam e cercam o trio e seguram o ladrão.

-- Agora vão morrer!

Seria o fim deles, até que flechas atingiram os soldados, matando em seguida.

Louise avistou Johan e ao lado dele um amigo. Os dois comparecem junto ao grupo e o falcão pousa no braço do amado holandês.

-- Ah, minha querida.... – Johan fazia carinho em Fefe. – Fiquei tão preocupado. Muito obrigado a todos vocês e ... Anastacia?

Ana tremeu. Fefe a perdoou. Agora Johan era outra história.

-- Eu posso explicar... – Ana tentava falar com ele.

-- Se afaste de mim! Já nos traiu uma vez e não vou permitir isso! – Disse Johan, bravo.

-- Johan, Ana está arrependida. – Dizia Louise. – Posso provar.

-- Ela disse a mesma ladainha?

-- Fefe perdoou nossa amiga. – Confirmou Marie.

-- Johan. --- Seu amigo, Neeskens, colocou a mão no ombro dele. – Lembra do que disse antes? Permita que ela diga a verdade.

-- Ah! – Berrou o holandês e por fim aceitou. – Diga.

Ana contou toda verdade. Cruyff se segurou para não acertar um golpe na ex-noiva. Por culpa dela, ele e Fefe sofreram as consequências nas mãos do cardeal e da bruxa maligna aliada a ele. Por outro lado, Johan entendeu os motivos de Anastacia e se culpou também. Ele estava comprometido com a jovem e seu coração escolheu Felicity. Os dias sem ela foram um verdadeiro tormento. E os 3 anos nesta condição... Só o amor e devoção deles que os salvava.



Termina parte 1




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