domingo, 3 de setembro de 2023

Ensaio sobre a visão do mundo (4º Capítulo)

 Boa noite pessoal!

Após sete anos de hiato dessa fic, retomei hoje e está maior para o deleite da leitura. Um aviso: o capítulo de hoje aborda sobre a doação de õrgãos e antes que me julguem sobre o que aconteceu recentemente com Faustão, o capítulo estava em andamente bem antes deste acontecimento. Ou seja dei uma de novo de Matt Groening. E nas cenas finais me inspirei no filme Motoqueiro Fantasma. E o nome do capítulo é exatamente a música dos Yardbirds. Boa leitura!


Capítulo 4: Coração cheio de alma

Angie chorava de desespero no corredor, esperando o médico sair do bloco cirúrgico para falar da operação no qual seu marido foi submetido. Já fazia dias que John se queixava de dores na cabeça e mesmo com os remédios e os cuidados dos neurologistas, ele desobedecia em prol da banda e da família. Angie o ajudava em tudo e admirava a força de vontade do marido em manter as coisas em seu curso. E nem sempre tudo dá certo. Se fosse em outras ocasiões, John seria socorrido pelos médicos, tomaria soro e ficaria algumas horas de repouso para assim ganhar alta hospitalar. Não foi bem o que aconteceu desta vez...

 No outro lado da cidade, o trânsito fervilhava na Shaftesbury, gerando impaciência para os motoristas e pedestres. Ao que parece, os policiais sinalizavam o lugar por conta de um acidente. Um carro ultrapassou o sinal vermelho e colidiu com uma camionete de supermercado de maneira violenta. O motorista e seu passageiro não sofreram quase nada, exceto por umas escoriações. Mas o outro motorista foi o mais prejudicado. Neste instante a ambulância chegou acompanhada dos bombeiros para apagar o fogo vindo dos veículos. Uma outra equipe serrava as vigas do carro que atravessaram as pernas da vítima. O ferido bateu a cabeça no airbag do carro, evitando uma pancada forte, mas as pernas ficaram presas nas vigas e havia grande risco do fogo se alastrar e morrer incendiado. Aos poucos ele foi retirado e o colocaram na maca. As técnicas de enfermagem imediatamente reconheceram a vítima do acidente.

 -- O que foi? – Perguntou o comandante.

 -- Senhor... – Disse a moça loira, chocada. – É o Bran McGold.

 -- Quem?

 -- O atacante do Liverpool FC. – Completou o outro bombeiro, grande fã do futebol. – Ele está bem... bem... machucado.

 -- Ok, pessoal. Não percamos tempo. Levem esse cara para o hospital.

 Os socorristas reanimaram Bran com oxigênio e soro e aos poucos o jogador recobrava consciência...

 Os pais de Angie e mais os irmãos apareceram no mesmo instante que os plantonistas levaram Bran para o outro bloco. Mas não tinham ideia do que aconteceu com ele. A preocupação da vez era com marido de Angela.

 -- Liguei para Nora. – Comentou Kimberly. – Logo estará aqui.

 

Sick at heart and lonely
Deep in dark despair
Thinking one thought only
Where is she, tell me where
And if she says to you
She don't love me
Just give her my message
Tell her of my plea


Dr. Smith cortava o peito do paciente e imediatamente restaurava as artérias que dificultavam a circulação do sangue para o órgão e os batimentos cardíacos voltaram ao normal.

 -- Ah meu Deus! – Uma das enfermeiras vê que o osciloscópio de novo mostra os sinais vitais em confusão. – Batimentos estão diminuindo.

 Moses corria contra o tempo. O problema do coração foi curado, mas o que estava acontecendo?

 

And I know
If she had me back again
I would never make her sad
I got a heart, full of soul


Três horas naquela espera e um pouco mais calma Angie olhou para o berçário. O sonho deles de terem seu primeiro filho e até pensou num nome. Rupert. Mas Bonzo queria que fosse Jason. Sorriu aliviada. Tinha certeza que algo muito bom vai lhe acontecer e era justamente a recuperação de seu marido. Ou não.

 Exausto, os outros médicos e enfermeiras, ambos resignados, largaram seus instrumentos e Moses decretou:

 -- Hora da morte: 22:45.

John Bonham sofreu morte encefálica, tendo uma parada completa de todas as funções do cérebro. E mesmo com os esforços de Moses Smith, nada foi possível em trazer o paciente de volta.

 -- Eu mesmo vou contar. – Pediu Moses.

 Não foi difícil de encontrar a família. Quase todos os Smiths se encontravam na sala de espera. Thomas e Samantha foram os primeiros avisarem da chegada do sobrinho médico. Angie o encarava ainda nervosa.

 -- Prima, é melhor se sentar. – Pediu gentilmente o médico.

 Angie obedeceu e em seu íntimo já deduziu pelo tom de voz que Moses mostrava.

 -- Não me diga que ele... – Ela não completou pois chorava mais.

 -- Salvamos o coração dele. Mas o cérebro parou por completo. Não tinha mais jeito. – Respondeu ainda calmamente. – Lamento prima.

 Angie gritou e soluçava com o choro e depois desmaiou. Os pais e a irmã tentaram reanimá-la. Moses a colocou no sofá da sala de espera e viu a pulsação dela. Estável por ora. Logo Angie acordará.

 No outro bloco cirúrgico os médicos se esforçavam para salvar Bran. A médica cirurgiã estancava o sangramento ocasionado das veias rompidas do peito do jogador. Ela lacrou muito bem, mas ainda sangrava pelos outros vasos. O órgão estava bem mais fraco e não aguentará muito tempo, podendo matar o paciente em questão de horas. E o coma induzido foi a única manobra para mantê-lo ainda vivo... até que se consiga um novo coração.

 -- Onde está o Dr. Smith? – Questionou a dra. Claire Randall.

 -- Na sala de espera conversando com a viúva do John. – Respondeu a enfermeira.

 -- Chamem-no! Agora!

 

She's been gone such a long time
Longer than I can bear
But if she says she wants me
Tell her that I'll be there
And if she says to you
She don't love me
Just give her my message
Tell her of my plea

 

-- Dr. Smith! – Chamou a enfermeira plantonista, ofegante por correr da sala até o imenso corredor. – Dr. Smith! Rápido, precisamos do senhor no bloco cinco!

-- Acabei de sair de uma cirurgia e não consegui salvar o paciente. – Respondeu quase com raiva. – Chamem o Dr. Tenma no meu lugar!

 -- Mas senhor... A Dra. Randall exige que esteja lá...o paciente em questão... é seu meio irmão.

 Aquilo despertou atenção em Moses. A família de Angie se espantou. O que teria acontecido com um dos filhos de Robert McGold? Tantas perguntas que Thomas mal se despediu do sobrinho e o seguiu até a sala. Enquanto isso Claire atualizava tudo o que aconteceu com paciente.

 --  Brandon McGold, 25 anos, homem adulto. Acidente de carro, as ferragens atingiram a caixa torácica e houve perfurações em órgãos. Ele perdeu muito sangue.

 -- Bom... – Moses não estava confiante, não depois do que aconteceu com Bonzo. – Claire...Não sei se estou pronto. Estou cansado e acabei de ver minha prima tão pior do que eu fiquei na cirurgia do John...

 -- Filho! – O pai de Moses veio logo atrás dele, chorando. – Por favor, salve seu irmão.

 -- Faremos o possível, sr. McGold. – Tranquilizou Claire, sempre generosa e compreensiva.

 -- Dra. Randall e Dr. Smith, temos más notícias. Conseguimos estancar o sangue. Mas Brandon está por um fio.

 -- O que quer dizer com isso, Dra. Crawford?

 -- O coração dele está fraco e fizemos alguns exames e foi constatado superdoses de remédios. Eu acho que ele tentou suicídio e no momento que dirigia, houve o mal súbito e isso desencadeou no acidente de trânsito.

 -- A dor o fez não enxergar o sinal vermelho e ocorreu a colisão.  Então o coração dele não está aguentando.

 -- Ele precisará de um transplante imediatamente. Podemos colocar nos aparelhos e tudo mais até nos dar tempo de conseguir um...

 Naquele momento, Angie ouviu tudo e era segurada pela mãe.

 -- Bonzo é doador universal de órgãos. – Declarou a prima. – Podem usar o coração dele.

 -- Mas temos que ver se não há outro paciente que precise. – Declarou Izabell Crawford.

-- Não há tempo para isso. O paciente está em está crítico e temos uma chance.

 As famílias se encontram na sala de espera, horas que passavam lentamente e a ansiedade. Thomas Smith não gostou da decisão de Angie em liberar o órgão do marido para o filho caçula dos McGold. Não tinha nada contra a doação, o genro era uma pessoa muito boa e certamente haveria outros pacientes que precisassem. Entretanto a vida de Bran estava em grande risco de morte e outra perda era demais para o dia de hoje. Olhou atentamente os galeses. O pai choroso, a ex-esposa fria como esquife de gelo, a filha que segurava as lágrimas e tossia mais que qualquer idoso com pé na cova e sua sobrinha Nora consolando a amiga. Quem faltou naquela reunião era o outro filho, Jonathan. Onde estava o rapaz?

 Moses saiu do bloco cirúrgico, respirando fundo e tirando a máscara.

 -- Deu certo. O transplante foi um sucesso.

 Todos comemoraram, exceto o pai de Angie.

 -- Bran ficará na UTI pelas próximas setenta e duas horas pois precisamos ver se o corpo se habituará com novo órgão e não ter complicações.  – Explicou a Dra. Crawford.

 Robb abraçou o filho e a médica descendente de indianos. Angie sorria. Mais uma vez seu marido, embora morto, fez um último ato de bondade ao ser doador de órgãos e um dos paciente salvos foi Bran.

 E na UTI, o paciente abria aos poucos os olhos...


And I know
If she had me back again
I would never make her sad
I got a heart, full of soul

 

 Las Vegas

 O Circo San Marino se encontrava em sua terceira semana na turnê de férias de verão e uma das atrações é um motoqueiro que ama de certa forma o perigo. Esse motorista é ninguém menos que Jonathan McGold.


(All aboard, hahaha)
(Ayy)

 O globo da morte. Começa com um, dois, três motoqueiros correndo dentro da esfera bifurcada. Poucos minutos era inserido mais ciclistas e Jon era um deles. Mas o globo não dava mais graça para ele. E então inventou seu próprio show perigoso.

Crazy, but that's how it goes
Millions of people living as foes
Maybe it's not too late
To learn how to love and forget how to hate

 

E esse show levou milhões de pessoas ao delírio. Consistia em uma pista de linha reta e saltar com a moto sob os arcos de fogo, dirigir até a próxima pista e saltar novamente, atravessando sob os caminhões estacionados. Um dos espectadores, um alemão alto, loiro e portando seu crachá VIP filmava o astro sem ele saber.

 

Mental wounds not healing, life's a bitter shame
I'm going off the rails on a crazy train
I'm going off the rails on a crazy train

 

O salto foi gigantesco. Por um segundo, Jon queria se soltar da moto e abrir os braços e voar como Ícaro. Fechou os olhos e apertou com força o guidão, pousando veículo com dificuldade. O dono circense se tremia de medo se caso acontecesse algo sério com sua principal fonte de renda do circo. Não que os outros funcionários não fossem valiosos, mas Jon era o mais destemido e nunca sofreu acidentes com a moto, nem no globo da morte. Por isso rendeu ao apelido de Motoqueiro Fantasma, como o anti-herói da Marvel.

 A plateia vibrou com ele mais uma vez que ele sobreviveu aos saltos. Jon mandava beijos e autografava cadernos, scrapbooks e presentes. Ele foi ovacionado pelos colegas do circo. Antes que pudesse fazer mais, a domadora de leões lhe entrega o celular.

 -- É a sua irmã.

 Jon atende.

 -- Fala, Fefe!

 -- Onde você está? – Ela tossia e respirava com dificuldade. – Estou te ligando mais de vinte vezes.

 -- Porra, eu tô trabalhando. Estou em Vegas.

 -- Volta pra casa. Precisamos de você.

 -- E meu trabalho como fica?

 -- Por favor Jon... Precisamos ficar unidos. Talvez eu não dure muito tempo. E hoje quase perdemos o Bran...

 -- Como é? – Jon se levantou, chocado com a revelação. – O que aconteceu com ele?

 -- Ele quase morreu e precisava de um novo órgão. E conseguimos por sorte.

 A narrativa fez o semblante dele mudar drasticamente e todos imediatamente entenderam. Com fim da ligação, ele ficou sozinho no camarim, pensando no que fazer. Poderia explicar para o dono sobre a situação e voltar até o fim do ano. Ele conversou com ele.

 -- Não precisa Jonathan. – O dono o abraçou. – Até porquê nossa turnê terminou.

 -- Mas terminaríamos na sexta semana.

 -- Vamos antecipar. Cansei de Vegas. Próxima parada: Londres!

 Do lado de fora, Uli Hoeness estava acompanhado da namorada, Marie Greuyhound. Ele se revelou fã de Jon e quando ela conseguiu as entradas VIP, era sua oportunidade em conhecê-lo.

 -- Tudo bem. – Ela estava confiante. – Agora que ele vai voltar à Londres, será mais fácil.

-- Espero que sim... – Suspirou o alemão.

  

Continua...

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