Boa noite pessoal!
Após sete anos de hiato dessa fic, retomei hoje e está maior para o deleite da leitura. Um aviso: o capítulo de hoje aborda sobre a doação de õrgãos e antes que me julguem sobre o que aconteceu recentemente com Faustão, o capítulo estava em andamente bem antes deste acontecimento. Ou seja dei uma de novo de Matt Groening. E nas cenas finais me inspirei no filme Motoqueiro Fantasma. E o nome do capítulo é exatamente a música dos Yardbirds. Boa leitura!
Capítulo 4: Coração cheio de alma
Angie chorava de
desespero no corredor, esperando o médico sair do bloco cirúrgico para falar da
operação no qual seu marido foi submetido. Já fazia dias que John se queixava
de dores na cabeça e mesmo com os remédios e os cuidados dos neurologistas, ele
desobedecia em prol da banda e da família. Angie o ajudava em tudo e admirava a
força de vontade do marido em manter as coisas em seu curso. E nem sempre tudo
dá certo. Se fosse em outras ocasiões, John seria socorrido pelos médicos,
tomaria soro e ficaria algumas horas de repouso para assim ganhar alta
hospitalar. Não foi bem o que aconteceu desta vez...
No outro lado da
cidade, o trânsito fervilhava na Shaftesbury, gerando impaciência para os
motoristas e pedestres. Ao que parece, os policiais sinalizavam o lugar por
conta de um acidente. Um carro ultrapassou o sinal vermelho e colidiu com uma
camionete de supermercado de maneira violenta. O motorista e seu passageiro não
sofreram quase nada, exceto por umas escoriações. Mas o outro motorista foi o
mais prejudicado. Neste instante a ambulância chegou acompanhada dos bombeiros
para apagar o fogo vindo dos veículos. Uma outra equipe serrava as vigas do
carro que atravessaram as pernas da vítima. O ferido bateu a cabeça no airbag do carro, evitando uma pancada
forte, mas as pernas ficaram presas nas vigas e havia grande risco do fogo se
alastrar e morrer incendiado. Aos poucos ele foi retirado e o colocaram na
maca. As técnicas de enfermagem imediatamente reconheceram a vítima do
acidente.
-- O que foi? –
Perguntou o comandante.
-- Senhor... –
Disse a moça loira, chocada. – É o Bran McGold.
-- Quem?
-- O atacante do
Liverpool FC. – Completou o outro bombeiro, grande fã do futebol. – Ele está
bem... bem... machucado.
-- Ok, pessoal.
Não percamos tempo. Levem esse cara para o hospital.
Os socorristas
reanimaram Bran com oxigênio e soro e aos poucos o jogador recobrava
consciência...
Os pais de Angie
e mais os irmãos apareceram no mesmo instante que os plantonistas levaram Bran
para o outro bloco. Mas não tinham ideia do que aconteceu com ele. A
preocupação da vez era com marido de Angela.
-- Liguei para
Nora. – Comentou Kimberly. – Logo estará aqui.
Sick at heart and
lonely
Deep in dark despair
Thinking one thought only
Where is she, tell me where
And if she says to you
She don't love me
Just give her my message
Tell her of my plea
Dr.
Smith cortava o peito do paciente e imediatamente restaurava as artérias que
dificultavam a circulação do sangue para o órgão e os batimentos cardíacos
voltaram ao normal.
--
Ah meu Deus! – Uma das enfermeiras vê que o osciloscópio de novo mostra os
sinais vitais em confusão. – Batimentos estão diminuindo.
Moses
corria contra o tempo. O problema do coração foi curado, mas o que estava
acontecendo?
And I know
If she had me back again
I would never make her sad
I got a heart, full of soul
Três horas
naquela espera e um pouco mais calma Angie olhou para o berçário. O sonho deles
de terem seu primeiro filho e até pensou num nome. Rupert. Mas Bonzo queria que
fosse Jason. Sorriu aliviada. Tinha certeza que algo muito bom vai lhe
acontecer e era justamente a recuperação de seu marido. Ou não.
Exausto, os
outros médicos e enfermeiras, ambos resignados, largaram seus instrumentos e
Moses decretou:
-- Hora da
morte: 22:45.
John Bonham
sofreu morte encefálica, tendo uma parada completa de todas as funções do
cérebro. E mesmo com os esforços de Moses Smith, nada foi possível em trazer o
paciente de volta.
-- Eu mesmo vou
contar. – Pediu Moses.
Não foi difícil
de encontrar a família. Quase todos os Smiths se encontravam na sala de espera.
Thomas e Samantha foram os primeiros avisarem da chegada do sobrinho médico.
Angie o encarava ainda nervosa.
-- Prima, é
melhor se sentar. – Pediu gentilmente o médico.
Angie obedeceu e
em seu íntimo já deduziu pelo tom de voz que Moses mostrava.
-- Não me diga
que ele... – Ela não completou pois chorava mais.
-- Salvamos o
coração dele. Mas o cérebro parou por completo. Não tinha mais jeito. –
Respondeu ainda calmamente. – Lamento prima.
Angie gritou e
soluçava com o choro e depois desmaiou. Os pais e a irmã tentaram reanimá-la.
Moses a colocou no sofá da sala de espera e viu a pulsação dela. Estável por ora.
Logo Angie acordará.
No outro bloco
cirúrgico os médicos se esforçavam para salvar Bran. A médica cirurgiã estancava
o sangramento ocasionado das veias rompidas do peito do jogador. Ela lacrou
muito bem, mas ainda sangrava pelos outros vasos. O órgão estava bem mais fraco
e não aguentará muito tempo, podendo matar o paciente em questão de horas. E o
coma induzido foi a única manobra para mantê-lo ainda vivo... até que se
consiga um novo coração.
-- Onde está o
Dr. Smith? – Questionou a dra. Claire Randall.
-- Na sala de
espera conversando com a viúva do John. – Respondeu a enfermeira.
-- Chamem-no!
Agora!
She's been gone such a
long time
Longer than I can bear
But if she says she wants me
Tell her that I'll be there
And if she says to you
She don't love me
Just give her my message
Tell her of my plea
-- Dr. Smith! –
Chamou a enfermeira plantonista, ofegante por correr da sala até o imenso
corredor. – Dr. Smith! Rápido, precisamos do senhor no bloco cinco!
-- Acabei de
sair de uma cirurgia e não consegui salvar o paciente. – Respondeu quase com
raiva. – Chamem o Dr. Tenma no meu lugar!
-- Mas senhor...
A Dra. Randall exige que esteja lá...o paciente em questão... é seu meio irmão.
Aquilo despertou
atenção em Moses. A família de Angie se espantou. O que teria acontecido com um
dos filhos de Robert McGold? Tantas perguntas que Thomas mal se despediu do
sobrinho e o seguiu até a sala. Enquanto isso Claire atualizava tudo o que
aconteceu com paciente.
-- Brandon
McGold, 25 anos, homem adulto. Acidente de carro, as ferragens atingiram
a caixa torácica e houve perfurações em órgãos. Ele perdeu muito sangue.
-- Bom... – Moses não estava confiante, não
depois do que aconteceu com Bonzo. – Claire...Não sei se estou pronto. Estou
cansado e acabei de ver minha prima tão pior do que eu fiquei na cirurgia do
John...
-- Filho! – O pai de Moses veio logo atrás
dele, chorando. – Por favor, salve seu irmão.
-- Faremos o possível, sr. McGold. –
Tranquilizou Claire, sempre generosa e compreensiva.
-- Dra. Randall e Dr. Smith, temos más
notícias. Conseguimos estancar o sangue. Mas Brandon está por um fio.
-- O que quer dizer com isso, Dra. Crawford?
-- O coração dele está fraco e fizemos alguns
exames e foi constatado superdoses de remédios. Eu acho que ele tentou suicídio
e no momento que dirigia, houve o mal súbito e isso desencadeou no acidente de
trânsito.
-- A dor o fez não enxergar o sinal vermelho
e ocorreu a colisão. Então o coração
dele não está aguentando.
-- Ele precisará de um transplante
imediatamente. Podemos colocar nos aparelhos e tudo mais até nos dar tempo de
conseguir um...
Naquele momento, Angie ouviu tudo e era
segurada pela mãe.
-- Bonzo é doador universal de órgãos. –
Declarou a prima. – Podem usar o coração dele.
-- Mas temos que ver se não há outro paciente
que precise. – Declarou Izabell Crawford.
-- Não há tempo para isso. O paciente está em
está crítico e temos uma chance.
As famílias se encontram na sala de espera,
horas que passavam lentamente e a ansiedade. Thomas Smith não gostou da decisão
de Angie em liberar o órgão do marido para o filho caçula dos McGold. Não tinha
nada contra a doação, o genro era uma pessoa muito boa e certamente haveria
outros pacientes que precisassem. Entretanto a vida de Bran estava em grande
risco de morte e outra perda era demais para o dia de hoje. Olhou atentamente
os galeses. O pai choroso, a ex-esposa fria como esquife de gelo, a filha que
segurava as lágrimas e tossia mais que qualquer idoso com pé na cova e sua sobrinha
Nora consolando a amiga. Quem faltou naquela reunião era o outro filho,
Jonathan. Onde estava o rapaz?
Moses saiu do bloco cirúrgico, respirando
fundo e tirando a máscara.
-- Deu certo. O transplante foi um sucesso.
Todos comemoraram, exceto o pai de Angie.
-- Bran ficará na UTI pelas próximas setenta
e duas horas pois precisamos ver se o corpo se habituará com novo órgão e não
ter complicações. – Explicou a Dra.
Crawford.
Robb abraçou o filho e a médica descendente
de indianos. Angie sorria. Mais uma vez seu marido, embora morto, fez um último
ato de bondade ao ser doador de órgãos e um dos paciente salvos foi Bran.
E na UTI, o paciente abria aos poucos os
olhos...
And
I know
If she had me back again
I would never make her sad
I got a heart, full of soul
Las Vegas
O Circo San Marino se encontrava em sua terceira semana na
turnê de férias de verão e uma das atrações é um motoqueiro que ama de certa
forma o perigo. Esse motorista é ninguém menos que Jonathan McGold.
(All aboard, hahaha)
(Ayy)
O globo da morte. Começa com um, dois, três motoqueiros
correndo dentro da esfera bifurcada. Poucos minutos era inserido mais ciclistas
e Jon era um deles. Mas o globo não dava mais graça para ele. E então inventou
seu próprio show perigoso.
Crazy, but that's
how it goes
Millions of people living as foes
Maybe it's not too late
To learn how to love and forget how to hate
E esse show
levou milhões de pessoas ao delírio. Consistia em uma pista de linha reta e
saltar com a moto sob os arcos de fogo, dirigir até a próxima pista e saltar novamente,
atravessando sob os caminhões estacionados. Um dos espectadores, um alemão
alto, loiro e portando seu crachá VIP filmava o astro sem ele saber.
Mental wounds not
healing, life's a bitter shame
I'm going off the rails on a crazy train
I'm going off the rails on a crazy train
O salto foi gigantesco. Por um segundo, Jon queria se soltar da moto e
abrir os braços e voar como Ícaro. Fechou os olhos e apertou com força o
guidão, pousando veículo com dificuldade. O dono circense se tremia de medo se
caso acontecesse algo sério com sua principal fonte de renda do circo. Não que
os outros funcionários não fossem valiosos, mas Jon era o mais destemido e
nunca sofreu acidentes com a moto, nem no globo da morte. Por isso rendeu ao
apelido de Motoqueiro Fantasma, como o anti-herói da Marvel.
A plateia vibrou com ele mais uma vez que ele sobreviveu aos saltos. Jon
mandava beijos e autografava cadernos, scrapbooks e presentes. Ele foi
ovacionado pelos colegas do circo. Antes que pudesse fazer mais, a domadora de
leões lhe entrega o celular.
-- É a sua irmã.
Jon atende.
-- Fala, Fefe!
-- Onde você está? – Ela tossia e respirava com dificuldade. – Estou te
ligando mais de vinte vezes.
-- Porra, eu tô trabalhando. Estou em Vegas.
-- Volta pra casa. Precisamos de você.
-- E meu trabalho como fica?
-- Por favor Jon... Precisamos ficar unidos. Talvez eu não dure muito
tempo. E hoje quase perdemos o Bran...
-- Como é? – Jon se levantou, chocado com a revelação. – O que aconteceu
com ele?
-- Ele quase morreu e precisava de um novo órgão. E conseguimos por
sorte.
A narrativa fez o semblante dele mudar drasticamente e todos
imediatamente entenderam. Com fim da ligação, ele ficou sozinho no camarim,
pensando no que fazer. Poderia explicar para o dono sobre a situação e voltar
até o fim do ano. Ele conversou com ele.
-- Não precisa Jonathan. – O dono o abraçou. – Até porquê nossa turnê terminou.
-- Mas terminaríamos na sexta semana.
-- Vamos antecipar. Cansei de Vegas. Próxima parada: Londres!
Do lado de fora, Uli Hoeness estava acompanhado da namorada, Marie
Greuyhound. Ele se revelou fã de Jon e quando ela conseguiu as entradas VIP,
era sua oportunidade em conhecê-lo.
-- Tudo bem. – Ela estava confiante. – Agora que ele vai voltar à
Londres, será mais fácil.
-- Espero que sim... – Suspirou o alemão.
Continua...
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