domingo, 13 de outubro de 2019

Athena (Oneshot - Grindhouse)

Olá, pessoal!

De novo vou postar algo. Vamos ler a oneshot "Athena", que é uma prequel da fanfic Love Sell Out. O encontro de uma noite só e um pouco da rivalidade Mods vs Rockers. Boa leitura!


Athena__ Maya Amamiya


1966

Aquela sexta-feira estava chuvosa em Londres. O que não impediu de um grupo de jovens freqüentarem seu lugar favorito: o Marquee Club. Uma banda formada por quatro rapazes, usando ternos pretos e cinzas com três botões e calça slim justa no corpo. E sapatos bico fino de couro sempre lustrados, tocavam alegremente seus hits e os “mods”, como eram chamados os jovens que se vestiam daquela maneira, dançavam ao som deles. Meio furioso, meio rítmico.

Um táxi parou em frente ao Marquee e dali saltaram quatro garotas abrindo um enorme guarda chuva. Uma delas, a maior, pagou o taxista e entraram juntas, sendo bem recebidas pelos seguranças e a recepcionista. Pagaram e deixaram seus casacos e o guarda chuva nos armários disponíveis.

-- Da próxima vez eu mesma vou chamar um táxi antecipado. – reclamava uma delas de sotaque francês.

De repente o público começou a dançar loucamente com som do grupo.

People try to put us down
(Talkin' 'bout my generation)
Just because we get around
(Talkin' 'bout my generation)
Things they do look awful cold
(Talkin' 'bout my generation)
Hope I die before I get old
(Talkin' 'bout my generation)

It's my generation
It's my generation, baby

Why don't you all fade away
(Talkin' 'bout my generation)
And don't try to dig what we all say
(Talkin' 'bout my generation)
I'm not trying to cause a big sensation
(Talkin' 'bout my generation)
Just talkin' 'bout my generation
(Talkin' 'bout my generation)

It's my generation
It's my generation, baby

Why don't you all fade away
(Talkin' 'bout my generation)
And don't try to dig what we all say
(Talkin' 'bout my generation)
I'm not trying to cause a big sensation
(Talkin' 'bout my generation)
Just talkin' 'bout my generation
(Talkin' 'bout my generation)

It's my generation
It's my generation, baby

My, my, my, my generation

People try to put us down
(Talkin' 'bout my generation)
Just because we get around
(Talkin' 'bout my generation)
Things they do look awful cold
(Talkin' 'bout my generation)
Hope I die before I get old
(Talkin' 'bout my generation)

It's my generation
It's my generation, baby

Talking 'bout my generation (my generation)
Talking 'bout my generation (my generation)
Talking 'bout my generation (my generation)
Talking 'bout my generation (my generation)


Com dificuldade foram para o balcão e pediram as bebidas ao barman.  Observaram o público. Só mods, pensou a garota alta de cabelo preto e botas. Embora vestida como um deles, ela se considera tanto “rocker” quanto mod.

-- Até que eles têm um som bom. – Concordou a menina de traços russos.

-- O baterista é tão lindo. – Disse a escocesa de olhos grandes e azulados.

As outras riram. O último namorado da jovem foi um guitarrista, chamado George Harrison, do grupo The Beatles.

-- Pela primeira vez Nora não se apaixona pelo guitarrista ou vocalista. – Ria sua amiga, a francesa e em seguida lançou um olhar para o cantor. – Mas esse vocalista tem uma pinta de deus grego.

As quatro beberam um pouco seus drinques e conversavam alegremente durante a música.

-- Ele tem. – Apoiou a mais alta e galesa. – Contudo, parece um anão de jardim.

-- E o nariz daquele guitarrista. – Apontou a jovem russa. – É imenso e ele parece maior que você, Felicity.

Felicity sorriu. Ela não se importava com o nariz dele e sim com os olhos azuis. Como o mar do Norte.

-- Não me importo com o narigão dele e sim com os olhos. – Disse a galesa chamada Felicity, conhecida como Fefe. – Agora só queria saber o que o baixista tem.

-- O mocinho que toca baixo?

-- Isso. Meu Deus, ele parece uma máquina. Não reage. Está vendo, Ana?

Anastacia, ou somente Ana, olhava encantada para o baixista.

-- Ele é bem bonito.

-- Estamos aqui há um bom tempo falando sobre esses moços bonitos, mas alguém sabe o nome da banda? – questionou a escocesa de nome Nora.

A francesa chamada Marie encontrou um cartaz na parede do bar com a estampa de um alvo com as cores azul, vermelho e branco e o nome em letras grandes.

-- Segundo o cartaz, eles são The Who.

-- The Who? – Fefe nunca ouvira falar. – Que raio de nome é esse pra uma banda?

-- Será que eles têm uma música chamada “quem é você”? – Ana zombou um pouco.

Elas riram e beberam mais um pouco.

-- O guitarrista canta bem... – Fefe não poupava elogios ao guitarrista. – Ou essa bebida tem efeito afrodisíaco?

Percebendo isso, Marie afastou o copo de sua amiga.

-- Vamos com calma.

-- Mas de repente deu um calor também. – Ana tirava a manta de flores estampadas e deixava no balcão junto com a bolsa de Nora.

A banda começa cantando I Can’t Explain.
Got a feeling inside (Can't explain)
It's a certain kind (Can't explain)
I feel hot and cold (Can't explain)
Yeah, down in my soul, yeah (Can't explain)

I said ... (Can't explain)
I'm feeling good now, yeah, but (Can't explain)

Dizzy in the head and I'm feeling blue
The things you've said, well, maybe they're true
I'm gettin' funny dreams again and again
I know what it means, but

Can't explain
I think it's love
Try to say it to you
When I feel blue

But I can't explain (Can't explain)
Yeah, hear what I'm saying, girl (Can't explain)

Dizzy in the head and I'm feeling bad
The things you've said have got me real mad
I'm gettin' funny dreams again and again
I know what it means but

Can't explain
I think it's love
Try to say it to you
When I feel blue

But I can't explain (Can't explain)
Forgive me one more time, now (Can't explain)

I said I can't explain, yeah
You drive me out of my mind
Yeah, I'm the worrying kind, babe
I said I can't explain


No meio da música Fefe e Marie se juntaram aos mods na dança. Apesar de ser uma rocker que se veste como mod, Felicity tem uma incrível habilidade pra dançar. Sua amiga concordava plenamente e se movimentava conforme a música e o ritmo corporal da colega. Ana e Nora se animavam demais vendo as duas e foram com elas para dançar com todos.

Quando a banda parou, uma música de fundo embalou a turma mod e as garotas voltaram para o balcão. Já os integrantes trocavam idéias, contudo Pete, o guitarrista não tirava os olhos da morena alta e bela. Desde sua entrada se fascinou de imediato por ela. Óbvio que ela não lembrava em nada Karen Astley, no entanto possuía algo, fazendo-o recordar de Annie e Evanna. Talvez o jeito mais atrevido e um pouco doce. Aquela mulher era totalmente incomum.

Ele planejou se aproximar dela até que alguém puxou seu braço. Era Roger.

-- Você não vai até lá.

-- Por que não? – desafiou Pete. – Não vejo uma garota dessas desde... Você sabe.

-- Ah, minha nossa...

Pete se aproximou da moça alta. Tentou afastar a timidez e pagou duas bebidas.

-- Para você. – disse o guitarrista e usando óculos escuros.

Fefe estava meio distante das garotas para flertar com ele e aceitou.

-- Obrigada. – Fefe sorria e se mostrava confiante, apesar da ansiedade. – Você toca muito bem a guitarra.

-- Muito obrigado pelo elogio. – Pete resistiu à vontade de tirar os óculos. Preferia manter o charme.  – Então, está gostando do Marquee?

Fefe bebericava e sem querer deu um risinho.

-- Estou. – respondeu. – O público é legal, a música não é nada ruim. E é uma das raras vezes que vejo mods.

-- Vê mods? – estranhou o guitarrista.

-- Eu não sou daqui.

-- Logo vi com esse sotaque. Veio de Liverpool?

-- Sou galesa. Mas fui criada lá. Atualmente moro com uma amiga escocesa enquanto junto dinheiro pra comprar meu próprio apartamento.

-- Isso é tão legal. Venha morar em Londres. Só não te recomendo em Sheperd’s Bush. Sabe, pela arruaça.

-- Os mods...

-- Ok, agora quero saber. – Pete denotou um pouco de irritação na voz. Não gostava como a moça falava dos mods. – Você não é mod?

Fefe largava a bebida. Prevendo o pior.

-- E se eu não for?

O silêncio de Pete foi até suspeito e a moça se preparava pra deixá-lo, mas a mão dele agarrou a sua.

-- Desculpa.

-- Sou eu que peço desculpas. Preciso te contar um segredo.

Pete e ela ficaram próximos.

-- Sou uma rocker. – respondeu sorrindo.

É a vez de Pete retribuir o sorriso. Mesmo diante da sinceridade e indo contra seu “código mod”, ele não se importou.

-- Isso é bem incomum. – admitiu. – Como nos encontrou?

-- Minha amiga francesa. – apontando para Marie, que neste momento debatia com o vocalista loiro sobre Edith Piaf e Johnny Lee Hooker. – Ela gosta de cena alternativa. E confesso que gostei mesmo. Sei que não tô vestida como vocês, mas gosto de motos e do que vejo por aqui.

-- Obrigado. – Pete sentia o coração batendo mais depressa.

Enquanto isso no bar, as amigas de Felicity ganharam total atenção dos outros integrantes da banda. John adorou conversar com Ana, Keith afastou um mod bêbado de perto de Nora e a protegeu e Roger e Marie em seu debate um tanto estranho. Já Pete e Felicity pareciam desta vez se entrosar e quase acontecendo um beijo. Até que um mod de rosto estranho, abriu a porta e deu um aviso:

-- ROCKERS!

Num curto espaço, motocicletas Harley Davidson invadiram o local e alguns rockers provocavam a mais barulhenta briga com seus rivais certinhos de ternos.

-- Puta merda! – exclamou Ana, pegando a bolsa.

-- Malditos rockers... – reclamou Moonie.

-- É a galera da Fefe. – disse Nora, em pânico.

-- Como assim? – o baterista não compreendeu.

-- Minha amiga, a que está com o guitarrista. Ela é um deles. Uma rocker.

Um dos motoqueiros, possivelmente o líder, espancava alguns mods quando avistou a galesa alta saindo com Pete.

-- TRAIDORA! – gritou o rocker líder. – ELA ESTÁ AQUI! COM O INIMIGO!

Fefe puxou Pete de volta. O guitarrista não ia permitir uma coisa dessas e não era um bando de rockers que o amedrontariam.

-- Precisamos ir. – disse.

-- Posso enfrentar eles. – berrou o guitarrista.

-- Não! Não pode. Estão em grande número. – implorou a moça. – Por favor, não faça isso. Por mim...

A briga continuava. O líder dos rockers queria alcançar Fefe, mas cada passo que dava, brotava mais dois ou três mods o impedindo. Obedecendo a súplica da garota, Pete correu junto com ela para fora e chamou seus amigos. As amigas de Fefe também foram acompanhadas com eles. Saíram do Marquee Club e ainda chovia.

-- Que droga! – gritou Keith, saindo pelos fundos com o pessoal. – Ainda chove.

-- Não vai ter briga? – perguntava Roger, cuja ansiedade em bater num dos invasores era enorme. – Eu tô sedento para bater num rocker!

-- Não vamos brigar. – anunciou Pete. – Estamos acompanhados.

-- Mas está chovendo, docinho! – John debochava de Pete e o mesmo não se irritou.

Cada um deles embarcaram nas lambretas e suas garotas na garupa e usando um casaco longo pra proteger da chuva.

-- Vamos para nosso apartamento.

-- Espera! – John manifestou um pouco de descontentamento e apontou para Felicity. – Ela vai junto?

-- Claro que vai! – Pete não tinha receios e John foi convencido por fim.

-- Qualquer lugar é melhor do que aqui. – afirmou Ana.

-- E você me deve uma bebida, garotão. – disse Marie, dando um beijinho em Roger.


-- Com prazer.

Dando a partida nas motos, o quarteto distanciou do Marquee Club sob a chuva noturna, ao mesmo tempo em que viaturas chegaram e prenderam os rockers e o líder deles. Alguns mods não escaparam da voz de prisão e entraram no camburão e minutos depois, levados para o Palácio da Polícia e registrando a queixa e multa.

Chegaram ao apartamento deles, sob uma rua aparentemente calma, se não fosse outro pub com música alta.  Ao abrir a porta, as garotas entraram e de cara o quarteto masculino arrumou a sala e guardou suas roupas espalhadas nos armários. Roger providenciou os copos e serviu para cada uma delas uísque com gelo. John ajeitava a vitrola e um tanto indeciso, colocou Cry to Me cantada por Solomon Burke.  Moonie lavava o rosto e escovava os dentes.  Pete se olhava no espelho e viu que estava bem vestido e voltou para sala.

-- Dança comigo. – convidando Fefe.

A galesa não recusou e concedeu sua mão ao jovem guitarrista. Roger e Marie continuaram de onde parou a conversa. Ana e Nora foram para a cozinha e encontraram os outros dois.

-- Não repara na bagunça, ok? – pediu John.

-- Nem reparei. – dizia Ana, entre risos.

Moonie continuava encantado por Nora.

-- Parece uma boneca, sabia?

-- Obrigada, lindinho. – agradeceu a escocesa.

Roger não perdeu tempo e tirou Marie para uma dança, junto com Pete e Fefe. Apesar de o som estar razoável por medo de despertar os vizinhos, o clima era bem romântico.

-- O que você viu nele? – indagou o guitarrista.

-- Quem?

-- Aquele cara. O rocker...

-- Ah. – Fefe riu um pouco e voltou encarar Pete. – Não sei.

-- Você é a garota mais bonita que já vi.

-- Diz isso para todas. – ria Fefe, com certa modéstia.
-- É verdade. Nunca vi algo tão belo e diferente como você. Sinto que.... – Pete pausou e em seguida tocou a mão dela. – De alguma forma... Estou ligado a você.

-- Ou estamos ligados. – ela disse, puxando de leve o guitarrista para perto.

Não demorou muito e aconteceu um beijo. Os 3 integrantes, mais as 3 garotas vibraram e voltaram a fazer companhia a eles. A noite prometia para ambos os quartetos...

No outro dia Pete acordou e ao tatear o seu lado da cama, notou que Felicity não se encontrava mais. Nem as roupas, botas e a bolsa dela estavam ali. Se levantou rápido e encontrou o restante da banda tomando café.

-- Elas já foram. – avisou John, pegando outra xícara para Pete.

-- A que horas?

-- Acho que umas seis da manhã. – respondeu Roger, com a boca cheia. – Eu vi a Marie se arrumando e se desculpou pra mim por não ficar mais tempo.

-- A minha boneca também foi. – lamentou Keith. – Foi a melhor transa que tive.

Pete se sentou na mesa, um pouco frustrado. Isso até John entregar um papel para ele.

-- Que merda é essa? – perguntou Pete.

-- É o telefone do trabalho da Ana. A galesa altona trabalha com ela. – respondeu Enty, enquanto bebia café.

Meses depois foi lançado o segundo álbum do The Who, intitulado A Quick One , trazendo uma música em questão chamada A Quick One While He Is Away, a primeira ópera rock que Pete tentou escrever.

E o ano novo entrou e tudo novo para ele. Mesmo com semanas de vendas do segundo álbum, Pete já arquitetava o próximo. E foi no meio desta concepção que o destino conspirou a seu favor naquela manhã no estúdio Grahamshire. Kit Lambert e Chris Stamp fizeram as apresentações.

-- Miss McGold, esse é Pete Townshend, o guitarrista do Who e o primeiro a ser fotografado. Pete, essa é Miss Felicity McGold, a fotógrafa da revista Rolling Stone.

Novamente os olhares se encontraram e junto as lembranças de um primeiro encontro e noite no Marquee Club no ano passado.



2019

-- Foi desse jeito? – Paul McGold, o filho caçula de Pete e Fefe, havia lido os diários do pai e comentou isso para os pais, que lhe contaram tudo em detalhes.

-- Achou o quê? Que fosse como contos de fadas? – Fefe ria enquanto tirava uma travessa de pudim do forno.

-- Bem... – Karin, a filha guitarrista e dois anos mais velha que Paul, também era outra que leu. – Era o ano de rivalidade dos mods e rockers.

-- Quero que prestem atenção, filhos. – Pete parou de tocar violão. – Independente se a mãe de vocês fosse mod, rocker, beatlemaníaca ou hippie, nada mudaria o amor que tenho por ela.

-- E por que “Athena”? – indagou Paul.

-- Quando a conheci, para mim mesmo, me referia a Felicity como “Athena”.

Os pais se beijaram. Paul sorria sem jeito enquanto Karin aplaudia junto com seus três filhos, Wallace, Nina e Bobby.



FIM







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