domingo, 6 de outubro de 2019

Laços do Blues (Epílogo)

Boa tarde, pessoal.
Hoje o dia não está muito bom. Como devem saber (pra quem acompanha as novidades do mundo classic rock), o baterista Ginger Baker morreu. E em homenagem a ele, hoje será postado o epílogo de minha fanfic. Minha primeira fanfic do Cream. Parece que foi ontem que escrevi de modo despretensioso pra expressar minha crush na época por Eric Clapton. Depois com a quantidade de outras fics, ela ficou em hiatus várias vezes e hoje é sua conclusão. Desejo-lhes boa leitura!



Rosie POV

Chegou o dia que Marianne deu à luz. Aconteceu num dia comum da primavera e eu ouvia Yardbirds no apartamento. Quando o disco terminou de tocar, eu a vi no sofá, se contorcendo. A bolsa estourou, ela chorava e procurava discar o número da emergência. Eu também estou grávida, mas meu filho está previsto pra nascer no próximo mês.

-- Me ajuda, Rosie... – ela pedia.

O que se passava na minha cabeça? Se não fosse o barrigão estaria sentada na cadeira, assistindo de camarote o sofrimento dela e não prestar ajuda alguma, alegando incapacidade física e ainda beberia um pouco de Martini. Não. Esse tipo de pensamento deveria ter com a russa maldita. Então fiz o que tinha de ser feito. Levei para o hospital e liguei para Edmund.

Um médico muito gentil veio falar comigo.

-- Srta. Donovan?

-- Sou eu.

-- Olá, me chamo Moses Smith. – ele apertou minha mão e nossa! Ele é um gato! Traços escoceses com galeses. Certamente o pai deve ser escocês e a mãe galesa, ou o contrário. – Marianne está sofrendo muito. As contrações estão fortes e pra piorar, o bebê está virado.

Engoli em seco ouvindo isso. Pela primeira vez senti medo de perder Marianne e se acontecer, não vou me recuperar tão cedo.

Uma hora depois apareceu Edmund, Ana (por que ela?), Chelsea e os pais (sim! O pai e a mãe) de Marianne. E mais uns momentos de parto. Ana foi obrigada entrar no quarto dela. Eu poderia, mas Ana se prontificou. Para não me estressar concordei. Não fiquei pro nascimento do bebê e na saída trombei com Ginger, chapado e meio louco.

-- Rosie... – ele me abraçou e o cheiro forte da maconha exalou total. – Onde está minha pequena?

-- No quarto.

-- Obrigado...

Deveria avisá-lo que não era mais bem-vindo para os Jones, mesmo sendo o pai do bebê. Voltei pra casa e chorei bastante. Talvez fosse melhor ter esse bebê e deixar unicamente com Edmund e largar Marianne. Passei o resto das horas até anoitecer e finalmente Ed retornou pra casa.

-- É uma linda menina. – ele disse e se deitando comigo na cama.

-- Que bom... – disse, soluçando. – Meus parabéns.

-- Rosie, calma. Não precisa chorar.

-- Só quero ficar sozinha. – respondi e me virando.

-- Posso ficar aqui em silêncio?

-- VAI EMBORA! – gritei e joguei um livro na cabeça dele.

-- Tudo bem...

E fechou a porta do quarto e a da sala. Certamente foi embora mesmo. Naqueles dias todos eu vivi no inferno. Passava o dia trancada, chorando e me recusando quem fosse ver. Marianne não voltou para o nosso apartamento e ficou na casa dos pais. Melhor assim. Mas num domingo de novembro, quando resolvi colocar o disco do Cream no aparelho, sinto algo úmido no meio das pernas.
Praguejei. Era hora. No momento que fui pedir ajuda para Edmund, me dei conta que não havia ninguém em casa. Era eu. Gritei de dor e um pouco de raiva até alguém tocar a campainha. Abri a porta e era... Eric Clapton.

-- Rosie...

-- Me ajuda...

Eric me levou até o carro e fomos juntos para o hospital. A dor era imensa. Chegando na porta de emergência, ele chamou os médicos e me colocaram na maca e em direção a sala do parto.

-- Eric, não me deixa...

-- Não vou te deixar...

Na sala eu chorava, suava e urrava de dor. Pensava o que teria feito de errado para merecer essa dor. Isso tudo é castigo por negar Marianne? Por ofender Ana e Chelsea a ponto de declarar guerra?

-- Não sentirá nada e quando acordar, será mãe. – avisou o médico, sorridente.

Vi claramente a enfermeira preparando uma seringa contendo algo. Anestesia.

-- Por favor... Não quero anestesia... – disse, ofegante.

-- Enfermeira Randall, faria a gentileza? – disse para enfermeira e em seguida me olhando. – Tenha calma, srta. Donovan. Não há o que se preocupar.

-- Não me diz o que preciso. Sou perfeitamente capaz... de decidir como dar à luz meu bebê.

Não deu outra. A enfermeira injetou meu braço.

-- Mas...

-- Boa noite, Srta. Donovan. Deixe tudo conosco.

-- Você...

Foi como adormecer de um dia cansativo. Neste caso, meu sonho continha minhas lembranças de meu ano em Oxford, os amigos feitos, o primeiro emprego, o namoro com Eric, os shows... O que para mim foi um instante, foram 5 horas de sono. Acordei na cama de hospital. Olhei para janela. Estava chovendo.

-- Rosie.

Olhei em direção a porta. Eric carregava um bebê e a enfermeira chegou. Me entregou o bebê. Não reagi em nenhum momento.

-- Meus parabéns. – disse a profissional e em seguida se retirando.

Eric achou graça.

-- Ela acha que somos os pais.

Não disse nada. Apenas olhava aquela criança. E não demonstrava nada. Era meu filho, sim. Carreguei por nove meses, mas não o queria.

-- Como ele vai se chamar?

-- Dorian.

-- Como o livro... – ele disse, em seguida sentando na beira da cama. – Lindo nome. Sei que não sou o pai mas... sinto como se ele fosse meu.

-- Poderia ser a gente. – respondi.

-- E não podemos?

-- E a japonesa? A garota que você me trocou por ela?

-- Ah... Ela conheceu um estudante de astronomia em Cambrigde. Brian, acho que era esse nome dele.

-- Sinto muito.

-- Eu mereci. O que eu fiz pra você não merecia perdão.

-- Eu também errei.

Eric tocou minha mão e trocamos um olhar. O mesmo que trocamos na primeira vez que nos vimos.

-- Pode me visitar sempre. – disse.

-- Obrigado.

Nos beijamos e quando terminou, tive a impressão que alguém observava o quarto. Dias após o nascimento do Dorian, decidi algo: larguei a faculdade em Oxford e me mudei para Londres. Consegui vaga para estudar na universidade pública da capital e minha mãe cuidava do meu bebê. Eric e eu não voltamos a namorar, contudo, continuamos amigos e de vez em quando... rolava algo entre nós.


2005

Não sei o que deu em mim para assistir o show de reunião do Cream. O tempo passa e ainda continuam os mesmos. As lembranças daquele ano de 1966 e 1967 foram os mais marcantes de minha vida. Eu vivi minha vida, aprendi ser independente, amar, tive meu filho, conquistei tudo com meu esforço e não sofri mais.

-- Rosie?

Me virei e era Marianne e sua filha, Sofia e o outro rapaz eu sei quem é mas esqueci o nome.

-- Marianne... – disse sem muita animação.

-- Madrinha! – Sofia me abraçou. – Você veio...

-- Sim...

-- Lembra do Joey? Meu marido.

-- É claro. – fingi um sorriso. Joseph Townshend, transpirando boniteza com cafajestice. Igual o Best. Ela casou com ele, se separaram em 2000 quando ele teve uma filha fora do casamento e voltaram. – Como você está, Joseph?

-- Muito bem, senhora.

Nos bastidores, Eric cumprimentou todos e veio até mim.

-- Rosie...

-- Eric...

Não estamos juntos. Mas ainda temos aquele apelo. A química. Eu perdoei Eric em 67 e ele me perdoou. No fim não somos perfeitos. E é melhor assim.


FIM



--- Cenas pós créditos da Marvel ----



1967

Duas semanas após o nascimento do Dorian, fui no hospital onde Marianne ganhou a Sofia e consultar com Dr. Smith. Chegando na sala dele, encontrei uma das amigas de Ana, a escocesa Nora Smith e acompanhada de um senhor de uns quarenta anos e ruivo.

-- Meus parabéns pelo bebê. – disse o doutor.

-- Ai que felicidade! – ela vibrava de alegria e na hora que saiu da sala me viu. – Rosie! Awn! Que bebê fofinho!

-- É o Dorian. – respondi. – Meu filho.

-- Meus parabéns para ele. Ah, este é meu pai. Eddard.
O homem mais velho me cumprimentou. Aquele homem grande tinha cheiro de patchouli com animais no campo. Deve ser fazendeiro, eu pensei. No entanto, não podia negar que ele era bonito. Demais para alguém quarentão. E ruivo.

Depois da despedida, o doutor me chama.

-- Pode entrar, Srta. Donovan.

E vamos para a consulta...




Rosie Donovan vai voltar

Marianne Jones vai voltar






Homenagem a Ginger Baker





Publicado em 2 de agosto de 2011

Finalizado em 6 de outubro de 2019


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