Tenham uma boa noite e agora fiquem com o capítulo final de Laços. Sim. Vai encerrar. Mas aguardem o epílogo!
Capítulo Final: I Wanna Be Free
Rosie POV
Não deveria ter ido à Escócia. Como me arrependo disso. O que deveria
ser os melhores dias possíveis, viraram um inferno. Mal fechou uma semana e
recebemos outra visita. Até achei que fosse alguém da família mas não. E sim o
tal James Stone, um jornalista ruivo, galês e colega de Edmund.
Não tenho nada contra os dois serem amantes e tal mas precisava Ed ter
me ignorado por completo? Durante o resto da semana? Meu único consolo foi ouvir Os Monkees na
vitrola do quarto. A próxima banda que ia trazer na faculdade eram justamente
eles. Porém, como fui demitida automaticamente, isso não poderá ser feito.
E a semana se passou arrastada. Ninguém acordou cedo. Arrumei
calmamente as malas e deixei uma carta na mesa. Abri com cuidado a porta e
caminhei um pouco até encontrar um táxi e embarcar. Cheguei à estação de trem e
paguei minha passagem para retornar a Oxford.
Embarquei no trem e esperei. Tive medo que Edmund viesse atrás de mim.
Ou Marianne. Ninguém veio. Por um lado, alívio. No outro doeu meu coração.
Outra vez a música dos Monkees tocou e justamente a mesma durante a semana na
Escócia.
I wanna be free
Like the bluebirds flying by me
Like the waves out on the blue sea
If your love has to tie me
Dont try me--say goodbye
I wanna be free
Don't say you love me, say you like me
But when I need you beside me
Stay close enough to guide me
Confide in me, whoa whoa
I wanna hold your hand
Walk along the sand
Laughing in the sun
Always having fun
Doing all those things
Without any strings to tie me down
I wanna be free
Like the warm September wind, babe
Say you'll always be my friend, babe
We can make it to the end, babe
Again, babe
I've gotta say
I wanna be free
I wanna be free
I wanna be free...
Como pode a voz do Davy Jones ser tão verdadeira e suave? E ainda me
fazer chorar? Precisava decidir o que fazer da minha vida. Não posso continuar
me remoendo com coisas do passado e continuar desprezando pessoas que me
fizeram mal e brigar comigo mesma sobre Ed e Marianne. Deixe-os viver sua vida!
A semana começou desta vez melhor. Minha mãe e minha tia me enviam uma
carta avisando sobre o retorno na sexta. Ok e como é segunda-feira, tenho muito
tempo para repor minha vida. Arrumei a casa e dei uma volta na vizinhança. E
várias semanas se passaram. Visitei a
universidade e me deparei com uma cena preocupante. Era Marianne, usando uma
blusa branca e com os dizeres “SOU UMA VADIA GRÁVIDA”.
O pessoal a maltratava e dizia coisas de baixo calão. Teve uns que
gritaram algo do tipo:
-- Hey, Marianne! Cadê sua comunista russa?
-- Avisa o papai pra ele te tirar da universidade! – berrou uma
menina, usando jaleco feito médico. – Ah, lembrei! Ele te expulsou de casa.
E mais risos e escárnios. Aquilo estava demais. Puxei Marianne e a
levei para longe. Rasguei a blusa e a levei para a república onde eu costumava
morar.
-- Foram eles que te colocaram isso? – perguntei.
Marianne negou mas apontou para o pessoal de Direito e Medicina. Aliás
todos olhavam com reprovação para Marianne. Chegamos na antiga moradia e um
aluno que nunca vi já nos recebeu com grosseria.
-- Não queremos uma puta barriguda na república!
Não deixei o fulano fechar a porta na minha cara.
-- Eu quero falar com Mike! – exigiu veemente. – Agora!
-- E quem é você?
-- Sou Rosie Donovan.
Quando falei meu nome, recuou um pouco e chamou Mike. O resto da turma
de amigos surgiu e me abraçaram.
-- Ah, Rosie! Estamos felizes em te ver! – disse Mary, mais animada.
-- Eu rezei tanto para você voltar para nós. – um certo Peter chorou e
me deu um abraço.
-- Pessoal! – falei e trouxe Marianne para perto. – Eu sei que não
estudo mais aqui, mas, se ainda se importam comigo, por favor, peço que cuidem
da Marianne e sejam compreensivos. Façam por mim.
-- Eu só trago problemas. – disse Marianne, triste. – Só isso que sei
fazer.
Um deles quase respondeu mas se calou.
-- Olha, Rosie. Nós podemos deixar a Marianne ficar aqui. De boa. Mas
sobre o que aconteceu... Não tivemos culpa. – se defendeu Mike.
-- Tudo bem. Mas ela fica aqui. Até se formar. Pode ser?
Todos concordaram. O resto do tempo passei com aquela turma e Marianne
foi-se pro quarto. Enquanto o lanche não era preparado, fui conversar com ela
no quarto.
-- O que aconteceu?
Mari guardava os livros e parava de chorar. Me encarou, sério.
-- Eu passei mal. Fui para o hospital da faculdade. Os exames foram
feitos e... estou de três semanas e na saída um aluno me reconheceu...
Entendi tudo. Já não bastava Marianne ser vista como um “Judas”, agora
com a gravidez, se complicou tudo. Me pergunto onde está o Ginger. Não acredito
que ele seja tão canalha assim.
-- Ginger sabe disso? – perguntei, brava. – Ele precisa saber.
-- Bem... eu...
Neste momento outra visita acontece. Reconheço ser do vice reitor
Cornelius Oak. Mike me chamou e fiquei diante dele.
-- Srta. Donovan, podemos conversar na minha sala?
Que maravilha! Decerto os mais extremistas me denunciaram por defender
Marianne e agora vão me punir por visitar meus amigos. Estranhei que durante o
caminho, a sala do vice era mesmo do reitor. Ele não estava lá, o que é bom.
Não terei de encarar aquele rosto inchado de bebida. O vice parecia um pouco
Churchill e se serviu de conhaque.
-- Já deve saber, Srta. Donovan, que o antigo reitor renunciou o
cargo.
-- Hã... Não. – estava surpresa.
-- Devido ao escândalo de corrupção, estou no cargo interinamente. E
pergunto para você se ainda deseja retomar seus estudos?
Meu sonho se tornou realidade. Como eu desejava voltar estudar e
concluir o curso.
-- Wow! Sim! Eu quero! – respondi com tamanha vontade que queria
abraçar alguém.
-- Então, pode ir à secretaria, refazer sua matricula e pegar seu novo
horário!
Por sorte eles ainda tinham meus documentos e foi mais tranqüilo. Os
funcionários praticamente sorriam pra mim. Peguei a lista de livros e horários
novos do curso de História. A primeira coisa que fiz foi comunicar para o
pessoal da república. Todo mundo vibrou como se fosse em 66 com os quatro gols
da Inglaterra na Copa. E na hora do jantar uma maravilha. Marianne não desceu.
Todo mundo seguiu para uma festa num dos prédios da universidade e outros para
um pub. Fiquei na república, cozinhando algo bom pra Marianne. Levei o jantar
para o quarto.
-- Oi! – entrando com a bandeja e deixando na mesa.
-- Olá. – Marianne chorava e saiu da cama, ela vestia uma camisola e
ouvia Rockin’ Ramrods.
-- Trouxe seu jantar. Eu mesma fiz conforme o que você gosta.
-- Oh, muito obrigada. – se ajeitando na mesma e depois me olhando. –
Sei que me odeia, mas preciso de ajuda.
Já entendi tudo. Marianne explicou que todos da sua família agora a
odeiam. Inclusive Edmund. Logo ele, o irmão protetor, agora se voltou contra a
irmã.
-- Ele me culpa por você ter ido embora. – justificou Marianne.
-- Marianne, me desculpe o que vou dizer. Mas fui embora por causa
dele! – respondi, indignada. – Ele parou de me dar atenção no exato momento que
aquele galês idiota apareceu. Eu fui ignorada. Então, ele foi o errado e não
você.
-- Eu sei mas Ed acredita que fui eu. Me acusou de falar algo pra você
que a fez ir embora. – me abraçando e chorando. – Me perdoa por tudo e por ser
tão horrível. Por ter provocado tantas coisas ruins na sua vida.
-- Seu único erro foi não ter me contado sobre aquela russa antes do
nosso envolvimento. Mas te perdôo mesmo assim.
-- Você e a Olívia são as únicas que sabem. – pausou um pouco e depois
seguiu. – Estou pensando em tirá-lo.
-- Tirar uma vida que você está gerando é arriscado demais. Olha,
quando ele nascer, você vem morar comigo em Liverpool. E depois compramos um
apartamento em Londres. Seremos uma família.
-- Tudo bem...
Enquanto Marianne jantava ouvi a campainha tocar. Fui atender e a
pessoa que vi... Era Edmund.
-- O que quer? – perguntei.
-- Pedir desculpas por você ir embora assim. – nem convidei o folgado
e já entrou no alojamento. – Seja lá o que Marianne tenha dito não é verdade.
-- Em primeiro lugar, Marianne não teve absolutamente nada a ver com
minha saída e sim aquele galês filho da puta desgraçado! – xinguei e continuei,
mesmo com a irmã dele ouvindo tudo na cozinha, escondida. – Se queria que ele viesse junto, era só ter
me avisado. Eu perdi a viagem de minha tia e minha mãe por sua causa! E chega,
Edmund! Já estou saturada de homens como você. O Lennon traiu a esposa e agora
está com uma japonesa horrível, Clapton é outro que é chegado numa japa. Tanto
que terminou comigo, não posso ficar com George Best porque ele é um canalha de
marca maior e você é mais complicado do que eu. Seu pai me ferrou!
De repente tudo balançou... Tudo escureceu. Acordei no hospital com um
gosto horrível na boca e deitada numa cama branquinha. Ao meu lado está
Marianne me observando.
-- Oh Rosie. – me abraçando. – Fiquei preocupada.
-- O que aconteceu comigo? – sinceramente não me lembrava.
-- Você brigava com meu irmão, chorou tanto que se desequilibrou,
vomitou e desmaiou. Nós te trazemos aqui com a ajuda da Ana.
-- Como é?
-- Ana estava bem na frente do alojamento porque veio me visitar e
aconteceu isso.
Queria questionar se ela voltou com a comunista, mas me poupei disso.
Independendo da resposta, perdoei Marianne contudo não prometi nada se voltaria
pra ela, exceto na amizade. Permaneci na cama até o doutor me dizer uma
novidade que jamais imaginei que pudesse me acontecer: estou grávida.
Estava tão envolvida nas idéias que nem critiquei quando Ana se
ofereceu para nos levar pro alojamento. E pior que ela entrou no apartamento.
Entrou na cozinha, nos outros cômodos e nos quartos. Subi as escadas e abri a
porta, ameaçadora:
-- Muito obrigada, abusada. – agradeci mesmo xingando e notando o
olhar dela ao redor. – O que foi desta vez?
-- É que... Eu estudei aqui alguns anos atrás e fiquei justamente
neste quarto.
O enjôo tomou conta de mim. O quarto que dormi desde julho de 65
pertenceu à russa safada. Durante todo esse tempo guardei coisas e segredos naquele
quarto e descobrir que era da Ana só aumentou o repugno no meu corpo.
Imediatamente precisava sair daquele lugar. Passei mal no banheiro e chorei.
Pedi expressamente pra ficar sozinha.
Ali pensei em mil coisas. Uma delas é como contarei pra minha mãe que
estou esperando um bebê e do “meu primo”? A outra idéia era abortar. Nunca quis
ser mãe e não vai ser agora. Lavei o rosto e sai do banheiro. Ana tinha ido
embora. Marianne apareceu.
-- Rosie...
-- Estou bem. – falei.
Trocamos o velho olhar da adivinhação. Na realidade nem é preciso adivinhar
já que conversou com o médico e ele contou tudo. Ela tocou minha barriga.
-- O que pretende?
-- Tirar esse bebê. – respondi com raiva.
-- Mas você mesma não disse que não vale a pena tirar? – disse, me pegando
na palavra. – Por que agora vai abortar?
-- Eu não quero carregar um bebê do seu irmão!
-- Você dá a luz o filho do Edmund e ele cuida. Você não precisa
participar disso.
Se o bebê é meu filho, como mãe eu devo participar. E foi o que fiz.
Disse para Edmund e ele se alegrou tanto que nem viu o meu descontentamento.
-- Vamos nos casar! – disse Edmund, em tom de grito. – E cuidar do
nosso filho.
-- Pare! – coloquei a mão na frente. – Eu recuso. Não quero casar com
você. Só quero que fique perto de mim, cuide de mim até que nosso filho nasça.
E você vai cuidar dele.
-- Por que fala assim, Rosie? – Edmund não acreditou que eu fosse
assim.
-- Bem, deve saber que não quero ser mãe. E esse bebê só veio
atrapalhar meus estudos. E também vou me mudar daqui.
-- Seus amigos não te aceitam?
-- Não. – respondi secamente. – É porque eu não quero mais ficar aqui.
Este lugar passou a me enojar depois que descobri que Ana morou aqui e dormiu
justamente onde dormi desde julho de 65. Não quero nada que me ligue àquela
russa!
-- Eu vou alugar um apartamento para nós vivermos juntos. – disse
Edmund, com bons planos. – Eu, você e minha irmã.
Está bom demais pra ser verdade, mas faltava uma coisa: o amante
galês.
-- O galês ruivo vem junto? – perguntei.
Edmund se calou e tentou responder enrolado e exigi.
-- Edmund! Te fiz uma pergunta. O galês vem junto ou não?
-- Não! Jim terá o canto dele. Ele está em Nova Iorque e ficará
bastante tempo.
Terminei de arrumar as malas e tomei água. Voltei a falar com calma no
entanto alterando à medida que mencionava o amante que estragou minha viagem.
-- Melhor assim. Enquanto eu estiver carregando seu filho, exijo no
mínimo aquele filho da puta de cabelo vermelho longe daqui! E agora quem sabe
ele arranje outro e te esqueça.
Não sei se isso é a gravidez ou a raiva que tinha por Edmund, mas
confesso: estou adorando humilhá-lo. Outra vez me despedi dos meus colegas e continuei
freqüentando as aulas até o quarto mês e tranquei. Toda aquela situação de
gravidez era complicada. Nem trabalhar podia mais e oficialmente me demiti com
decência.
No meio disso tudo me dei conta de uma coisa: não tinha mesmo amigos.
As únicas eram minhas amigas de infância, Suzan e Jane. E tem a Marianne. Ela
visitava Anastacia todos os dias e ela também retribuía as visitas. Ana trazia
pacotes de fraldas para Mari e outro para mim. Recusei.
-- Dê para Marianne. – pedi.
-- Mas comprei pra você. – confirmou Ana, gentil. – Chelsea e eu...
-- VÁ PRO INFERNO VOCÊ, CHELSEA E AS FRALDAS! – joguei os pacotes
contra Ana.
-- Tudo bem, eu dou para ela...
A vida naquele apartamento se tornou meu segundo inferno, o primeiro
foi na Escócia. Os meses foram avançando e foi aí que descobri que Ed estava
tendo um caso com Alice, a irmã do galês Jim. Ela só parou quando um dia, de
forma divertida, me apresentei pra ela, com meu barrigão e dizendo com muito
“orgulho” que é do Edmund. Depois era só choro. Chorava toda hora, não
procurava Marianne por teimosia, dormia sozinha, sofria pacas. Desejava que
alguma coisa acontecesse pra não ter aquele bebê.
Todo tempo relembrei como eu era. Uma garota vinda de Liverpool,
sozinha e pra estudar Direito. Conheci Marianne no primeiro dia e quando fui
procurar um lugar pra ficar, surgiu aquele alojamento. Ela também foi para lá e
ficamos mais amigas. Meses depois ganhei um emprego, aprendi a lidar com
publicidade e música e virou diversão. E veio numa xícara de chá o meu segundo
amor, Clapton.
Com o tempo achei que ia durar... Mas foi um lindo engano. Ele
terminou comigo. Marianne se tornou mais do que uma amiga. Foi alguém que amo
como pessoa e mulher. Por que ela tinha de beijar a russa se era despedida? E
por que não me contou antes?
Tantos questionamentos... Encontrei Mari no outro quarto, olhando e
chorando pra uma foto do Ginger. Saudade dele. Abracei-a e fui tomada pela
pena, remorso e tristeza.
-- Eu parei de te odiar. – falei. – Mas estou de coração bem partido.
Ela compreendeu e novamente nos abraçamos. Prometemos ficar juntas,
independendo do que fosse. Marianne nunca ia me deixar e eu não vou
abandoná-la.
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