Capítulo 5: Rupturas
Louise
praticamente pulou da cama. Para a sorte dela, não tinha aula e resolveu
aproveitar para trabalhar com vontade na delegacia. Chegando no escritório do
doutor, ela ligou seu aparelho MP4 e começou a dançar e cantarolar enquanto
procurava nas pastas físicas o resultado solicitado da balística.
Neste momento
Gerd surgiu na porta e acabou vendo à assistente pulando e dançando. Era óbvio
que o motivo de toda alegria era sua partida. Se é que ela iria partir.
-- Hey,
Sininho! Vamos para o hospital!
-- Eu posso
ficar? – Solicitou sorridente. – Tenho um caso de roubo de banco por travestis.
-- Não! Vamos
agora!
Ela ficou num
dos quartos vazios esperando o médico. O motivo era que a sala de espera tinha
muita gente e ela não queria ter de dar satisfação sobre o trabalho dos
médicos. Ela deitou na cama, colocando o fone de ouvido e fechou os olhos. Ela
se lembrou do beijo do doutor... e da Alice. Os dois médicos beijavam bem, a
ponto de provocar desejo na menina.
E adormeceu...
----C----S----I----
Manuel Neuer
fumava seu cigarro tranquilamente, ao mesmo tempo que olhava para os cadáveres
na cama. Na verdade um casal. Ele sabia que a garota trabalhava para Schön
Industries e certamente o velho encarregou à moça de guardar o relatório. Ledo
engano. A moça realmente trabalhava na fábrica, mas não era ela.
-- Vou ter que
me livrar desses dois... – Resmungou o médico, olhando para a janela.
Tudo aconteceu
com um mero encontro orquestrado pela internet. Peter e Erin adoravam novas
experiências sexuais e sem que os amigos saibam, eram hedonistas. Peter é
bissexual e Erin acompanhava as vontades do namorado, mas também amava se
deitar com garotas. Então para tornar as coisas mais divertidas, eles se
inscreveram num site de relacionamento, procurando um parceiro ou parceira que
pudesse satisfazer suas vontades. Aí entrou Manuel.
O médico
freqüentava muito esses sites e acabou encontrando Peter e Erin. Após dias de
conversar no chat, eles marcaram um encontro para se conhecerem pessoalmente.
Tudo ocorreu bem. Manuel conquistou fácil o casal e eles também adoravam a
companhia do nutricionista. Ainda nos encontros, Manuel passou a freqüentar o
apartamento deles, ao mesmo tempo se deliciava com o sexo a três. Ele não nega
que foi realmente bom ficar com o casal, Peter era um verdadeiro amante e Erin
uma fogosa. Foram cinco encontros.
No quinto
encontro, o médico já tinha um plano. Ele ficaria esperando os dois que estavam
tomando banho juntos e possivelmente, trepando. Manuel ficou na cama, com o
robe aberto, aguardando o casal. Quando eles saíram do banheiro, o médico
agarrou Peter e o beijou longamente e Erin ficou fazendo sexo oral em Manuel.
-- Peter... –
Manuel suspirava no beijo e colocou a mão no bolso do robe, sacando uma seringa
com coloração verde.
-- Oh
Manuel...
-- Eu sinto
muito!
Manuel aplicou
rapidamente a injeção no pescoço de Peter, matando o rapaz em segundos. Erin
parou a sucção e gritou.
-- PETER! NÃO!
O médico socou
Erin, derrubando-a no chão e no outro bolso do robe, mostrou outra seringa da
mesma cor e injetou o liquido esverdeado na moça, dando o mesmo fim que o de
Peter.
---C---S---I---
-- Modus
operandi: injeção de veneno de cobra. – Disse George Best, para o legista Sepp
Maier.
-- Gostaria de
saber quem teria contato com veneno de cobra e ficar injetando assim nas
pessoas? – Se questionou o legista. – Foi assim também meses atrás com a morte
do Bastian...
Os dois
ficaram em silêncio na sala dos cadáveres, olhando mais uma vez para o casal.
Sentiam que cada vez mais as investigações poderiam levá-los para outras
situações. No entanto, Sepp estava mais pesaroso de outro motivo e não era
profissional. E sim pessoal...
---C—S---I---
E por falar em
cada dia, Ana era outra pessoa que estava bem tensa. Com as investigações, ela
acabou por ceder a presença de Paul Breitner como seu guarda costas. No início
nenhum dos dois parecia colaborar, até certo ponto. Porém quando soube que
teria de administrar a fábrica, entrou em desespero e passou a brigar mais com
o policial.
-- Eu não
posso assumir. – Resmungou Ana, largando os papeis na mesa. – Eu não sei como
fazer. Acho que deviam fechar essa fábrica e vender.
-- Enlouqueceu
por acaso? – Paul não acreditava que Ana tenha dito aquilo. -- Você vai assumir
sim,sabe por que? Essas pessoas precisam desse serviço, são pessoas boas e
honestas e pode mostrar que elas podem continuar firmes nesses tempos difíceis.
-- Eu não sei
administrar uma fábrica! Eu sou só uma escritora não sei como posso fazer isso.
--Entendo um
pouco de negócios. – Paul compreendeu tudo. -- Um tio meu tinha uma loja de
materiais esportivos.
-- Você me ajudaria
nessa empreitada maluca? – Ela perguntou, desta vez educada.
O policial
segurou a mão dela, carinhosamente.
-- Vamos fazer
isso, juntos.
O que não
sabiam, era que na casa de Ana, havia uma escuta e uma câmera escondida,
colocada pelo namorado dela, John Entwistle. Neste momento ele e sua amante, a
enfermeira Brigitte Beckenbauer, esposa do delegado, ouviram e assistiram toda
cena. John era um aproveitador. Mas com Ana, ele não tinha coragem de tirar um
centavo dela... Contudo, ao vê-la com o policial, mudou de idéia.
-- Então,
querido, vai participar desse golpe? – Brigitte massageava as costas de Enty.
-- Sim! Mas
com uma condição!
-- Qual?
-- Se separe
daquele seu marido idiota e tire o dinheiro dele! Tudo!
-- Divórcio é
algo que talvez Franz concorde, agora o dinheiro...
-- Tudo bem,
deixa comigo!
Era questão de
tempo...
---C---S---I----
Louise
praticamente dormiu a manhã inteira num dos quartos de hospital e se acordou
ouvindo uns ruídos estranhos na estrutura. Ainda sonolenta, caminhou até o
banheiro e deu um flagrante. Era o doutor Müller e Alice fazendo amor.
-- Opa! – Se
assustando. – Desculpem!
Se retirou
dali o quanto antes e sem querer esbarrou em outro médico, derrubando alguns
papeis.
-- De novo, me
desculpe! – Louise pegou no chão e entregou os papeis para o médico.
-- Tudo bem...
Acidentes acontecem.
Ao se olharem,
parecia que o mundo havia parado. Louise admirou os brilhantes olhos
esverdeados do homem. Este por sua vez se encantou demais pela moça. Uma
bonequinha. Pequena, loura, olhos azuis como o mar do Norte e um rosto
angelical.
-- Já nos
vimos antes? – Indagou o médico.
-- Talvez...
-- Tenho a
impressão que te procurei a minha vida inteira. – respondeu o rapaz, sorrindo
para ela.
Louise
retribuiu e pela primeira vez seu coração se alegrou nas batidas. Até que ela
se lembrou da foto no celular, quando conversava no chat...
-- Você é...
Like Rolling Stone? – perguntou a jovem.
Imediatamente
ele entendeu.
-- Meu Deus, é
você mesma! Pequena Atena!
Se
surpreenderam. Louise finalmente está conhecendo o homem gentil que ganhou não
só sua amizade, mas seu coração de forma virtual.
-- Caramba!
Eu... – ela mal conseguia falar devido a alegria.
-- Eu sei! –
ele também se encontrava na mesma situação.
-- Acho que
devemos nos apresentar.
-- Claro! Meu
nome é...
Antes que o
ruivo dissesse algo, o casal de médicos apareceu.
-- Ah, vejo
que conheceu meu irmão, Louise. – alegrou-se Alice.
-- Como é? – a
loira não compreendeu a situação. -- Mentira que você é o irmão da Alice.
-- Ninguém
acredita. – ria Alice.
-- Mas alguém
tem que cuidar dessa baixinha aqui. – disse o médico. – Eu sou James Stone.
O rosto de
Louise desmanchou-se. Se antes era sorriso, agora transparece claramente decepção.
Gerd percebeu isso mas achava que Louise não acreditasse que Jim é irmão de
Alice.
-- Eu vou indo. – disse Lulu, com a voz denotando
vontade de chorar. -- Doutor, o capitão Moore te espera no escritório dele sem
falta.
-- Ei, pequena
Atena. – Jim agarrou o braço de Louise. -- Você me deve um encontro. Quando
posso te levar ao cinema?
-- Nunca! –
respondeu secamente. -- Eu não te devo nada! Tchau, Like Rolling Stone!
E ela saiu do
hospital, bufando de raiva e em seguida pegou o celular, excluindo rapidamente
o aplicativo.
-- O que deu
nela? – perguntou, confuso. – Eu estava falando com ela, tão animadamente. E
ela de repente mudou.
-- Acho que
ela deve estar naqueles dias. – justificou Alice, não querendo incomodar mais o
irmão. -- Vem, vamos tomar café e me conta onde você a conheceu.
Foram os três
na lancheria do hospital e Jim contou.
-- Foi num
aplicativo. Eu segui o conselho do Edmund e resolvi tentar. Ela foi a primeira
a puxar papo comigo. Conversamos por horas e de repente trocamos fotos e outras
mensagens.
-- Então... Era
você que conversava com ela? – perguntou Gerd.
-- Sim.
-- O tempo
todo? – desta vez a voz do médico não mostrava alegria e sim um ligeiro
incomodo.
Jim percebeu
isso e Alice falou:
-- James, a
Louise é assistente pessoal do Gerd.
-- Ah entendi.
– se desculpou o ruivo. – Olha, ela me contou que trabalhava pra um médico que
não tava nem aí pra ela e ainda fazia a trabalhar sem parar e que quer se
demitir. Mas eu juro que não sabia que era você!
Gerd não sabia
por que aquilo o perturbava e se retirou, irritado.
Alice o seguiu
e o encontrou na sala de reunião, batendo a cabeça na parede demonstrando
decepção. Ela o fez parar.
-- Está tudo
bem?
-- Agora eu
sei porque Louise quer se demitir. – respirou fundo e continuou. – Ela acha que
eu sou um péssimo chefe e a faço trabalhar como uma escrava.
-- Você ainda
pode redimir com ela. – abraçando o amado. -- E ser um bom chefe. Você só é
perfeccionista.
Se abraçaram
forte. O que a médica não sabe era que o namorado havia mentido o real motivo. Ele
não gostara de saber que Louise conversava com Jim por mensagens de texto
trocadas num aplicativo de relacionamentos amorosos.
-----C-----S-----I-----
Na sala de
necrotério Louise olhava para o nada, enquanto Bobby Charlton e Sepp Maier
juntavam os ossos de um casal que foi morto.
-- Será que
existe mesmo canibalismo? – indagou o médico legista, colega de Sepp. – Não acredito
que tenha pessoas que comam carne humana.
-- Quando se
trata da sobrevivência, se alimentam do que for. – disse o alemão ruivo, enfático.
Depois disso
um silêncio pairou no ar e em seguida olharam para Louise. Ela segurava a
vontade de chorar.
-- Pode
chorar, Louise. – permitiu Sepp.
-- Eu só quero
saber uma coisa. – olhando pros lados pra certificar se há alguém além dos três
ouvindo a conversa. – Porque todo mundo gosta da Alice Stone? O que aquela
peituda tem que todo mundo gosta dela? Até a Odile?!
Os dois
legistas morderam a língua evitando rir mas viram que Louise estava mesmo
zangada.
-- Se serve de
consolo, eu não gosto dela. – disse Charlton, pegando um luminol.
-- Diz isso
porque é meu colega, Bobby.
-- É sério. –
confirmou o legista. – Não gosto dela. Mas sou obrigado a suportar por causa da
Belle.
Lulu derramou
um pouco as lágrimas mas parou de chorar.
-- Quem é
Belle? – perguntou Louise.
-- É a
namorada francesinha dele. – respondeu Sepp, ligando seu luminol e focando nos
ossos.
-- Belle é a
melhor amiga da Alice. – finalizou Charlton, escrevendo na prancheta. –
Ultimamente não estou recebendo carinho dela e sabem por quê? Graças a Alice!
-- Até que
enfim um semelhante. – disse Lulu, louvando com as mãos ao alto.
-- Alice
sempre liga as oito da noite pra minha casa e fala com Belle. Na verdade sexo
por telefone e quando quero dar e receber, Belle diz: “estou cansada.” E dorme!
-- Um
conselho, Bobby: larga essa tal de Belle. – aconselhou Louise. – Antes só do
que mal acompanhado.
Ele olha pros
ossos e depois para Louise.
-- É uma
possibilidade.
Depois da
conversa, o trabalho dos três foi terminado e Louise voltou para o escritório
do doutor. Sem querer encontrou uma pasta vermelha e ali continham folhas. Eram
os emails dos departamentos policiais de outras localidades referente a
transferência de Lulu. Pelo visto nenhum tinha vaga para ela. Outra vez se
decepcionou.
-- Eu não acredito
que terei de ficar aqui! – batendo com a mão na mesa.
Depois Gerd
apareceu, trazendo uma sacola cheia de comida. O forte cheiro dos alimentos
atiçou a fome em Louise mas a mesma se virou para seu desktop e ligou o
computador.
-- James
perguntou sobre você.
Ela não disse
algo, apenas grunhiu.
-- Eu disse
que você trabalha pra mim.
Louise
permaneceu ignorando.
-- Ele quer te
ver.
As mãos de
Louise tremiam, por conta da ansiedade.
-- Meu turno já
acabou, doutor?
-- Temos plantão.
Louise não
concordou e inventou uma desculpa:
-- Eu tenho
prova amanhã!
-- Se quiser
pode ir embora. – disse sem muita importância e digitando no notebook. – Amanhã
enviarei o email para os departamentos.
-- Há! Até
parece! – ironizou Louise. – Eu vi na sua pasta. Não há vaga para mim.
-- O lado
ocidente não tem. Mas o oriente sim.
Lulu se calou.
No fundo não desejava ir para os lados da Alemanha Oriental mas manteve-se
firme.
-- Ótimo pra
mim. Qualquer lugar é melhor só pra não olhar pra sua cara e da “Meredith Grey”
que é sua namorada. Se é meu destino ficar atrás da cortina de ferro, perfeito!
-- Boa noite,
Louise!
-- Boa noite,
doutor!
Ela pegou a
mochila e se retirou da sala, feliz por irritar o médico. E Gerd pegou um dos
copos de café que havia comprado para Louise... e jogou no lixo.
Na saída ela
encontrou Odile esperando seu táxi. Ao encará-la, viu o olho direito roxo.
-- O que
aconteceu? – espantou com aquele hematoma. – Foi aquela cadela peituda, né? Eu
vou acabar com ela!
-- Não foi
Alice... – chorava Odile. – Foi... meu namorado. Niki.
Odile desabou
a chorar no ombro de Louise e ambas embarcaram no táxi seguindo para a casa de
Louise.
------C-----S-----I-----
Felicity e
Franz caminharam juntos até pararem em frente ao prédio dela.
-- Quer
entrar? – convidou a galesa.
-- Deixa pra
próxima. – respondeu Franz, parecendo cansado.
Ela se
aproximou dele e depositou um beijo rápido e seguiu para o apartamento e ele
para sua casa. Sem saberem foram fotografados por um homem desconhecido que
usava jaleco.
O carro entrou
numa área florestal com algumas casas abandonadas fora de Munique. Desceu do
carro e abriu o porta malas, retirando ali um saco preto pesado. Carregou até
uma das casas cuja porta é verde.
Bateu umas
duas vezes e atendeu um rapaz de cabelo curto e traços britânicos.
-- Manuel!
-- Trouxe sua
refeição, Hicks. – entregando para ele o saco.
Tony Hicks
pegou rapidamente, abrindo-o e se maravilhou com que viu.
-- Com certeza
você é o melhor sócio e melhor assassino, Dr. Neuer.
Em seguida ele
despejou o conteúdo na bacia. Havia ali sangue e poucos pedaços humanos, como
uma mão, dedos dos pés, um braço, pedaço de um seio feminino e ali também um pênis
cortado, testículos e um cérebro humano.
Manuel o
ajudou, ligando uma das bocas do fogão e colocando uma frigideira. Hicks pingou
óleo de oliva na frigideira e depois cortou o cérebro em três pedaços médios e
os colocou para fritar. Pra finalizar, serviram um pouco de vinho.
-- Quer provar
um pouco desse cérebro, doutor? – ofereceu o guitarrista canibal, servindo seu
prato. – Está uma delícia.
-- Agradeço
mas estou de dieta. – recusou gentilmente o nutricionista.
Eles brindaram
e Hicks devorou ali a massa cefálica e o pedaço de um seio feminino. Aquilo é o
que restou do casal Peter Tork e Erin Hudson...
Continua...

Nenhum comentário:
Postar um comentário