Episódio 3:
Tentação
-- Faz dias que Gerd anda muito estranho. – Comentou Sepp,
enquanto se secava no vestiário após o banho.
-- É verdade. E isso desde a festa do Jackie Stewart. Posso não
ter ficado muito tempo lá, porém, eu notei mesmo que ele está estranho. – Franz
respondera ainda no banho e depois desligou o chuveiro
-- Poderíamos falar com ele esses dias, não é?
-- Talvez... – Disse Franz um tanto duvidoso quanto a isso. – Quem
sabe ele tenha algo a nos dizer.
Os dois alemães mesmo preocupados desconfiavam no fundo que essa
fase estranha de Gerd se deve a uma mulher que não é Alice. E também não
imaginariam que a tal, é na verdade a namorada do seu amigo piloto, James Hunt.
O inicio da tarde foi de clima agradável da primavera. E apesar do
pouco movimento na vizinhança, há uma casa que tinha sons característicos. E
era a casa de James Hunt. O piloto não estava em casa por conta de mais treinos
e reunião com a scuderia em acertar os preparativos para a próxima corrida. E
na sala ampla nenhum sinal. Nas escadas e corredor aparentemente nada. Já o
quarto de casal tem uma música. E na cama dois amantes se entregando aos
exercícios amorosos semi vestidos. Por
mais que os dois temessem serem pegos por Hunt ou Alice, não se importavam.
Apenas o prazer é o principal. Desde a festa de Jackie Stewart, não se viram
mais... até a semana seguinte. Não resistindo ao sentimento bandido e louco,
decidiram se entregar aquilo. E se repetiu todos os dias, mantendo uma rotina
deles.
Todos os dias após o treino, ele cruzava na casa do piloto e
agarrava Louise, às vezes era romântico, às vezes um pouco agressivo. E por
incrível que pareça, a namorada de James adorava mais o jeito bruto de Gerd do
que o lado doce dele. Porém, muitos desses excessos amorosos se tornaram um
perigo para ambos. Gerd chegava a casa com os braços e as costas arranhadas,
deixando Alice preocupada. James Hunt notava que sua namorada possuía umas
manchas arroxeadas no pescoço e um pouco abaixo dos seios. Ela sempre dizia ser
uma alergia e coceiras provocadas por mosquitos.
Minutos depois de se amarem, recuperaram o fôlego, abraçados e
deitados.
-- Isso... precisa acabar, Louise. – Dizia Gerd, um tanto receoso.
– Se Alice descobre...
Por um momento, a namorada de James Hunt pensou em contar a
verdade sobre a noiva dele envolvida amorosamente com o médico Jimmy Page,
contudo, lembrou-se da lealdade que possui com ele. Ainda não é o momento,
pensou consigo mesma, no fundo possuía uma ponta de ciúmes ao saber que Alice
ainda estava no caminho dele.
-- Está bem. – Concordou. – Mas quando aparecer aqui em casa, não
será como antes.
Se arrumaram e em poucos minutos, Gerd saiu da casa de Hunt,
desanimado por ouvir aquelas palavras da moça e em seguida ligou o carro,
dirigindo até o Hospital Central e buscar Alice.
No hospital, Alice estava indecisa sobre muitas situações. Estando
com Gerd, ainda amava ardentemente Jimmy e agora adquirira um carinho especial
por um paciente chamado Michael Palin, um comediante em ascensão que sofreu um
acidente de carro e quase o matou. Desde o dia que Louise viera ao hospital e
perdeu o bebê, a médica procurava se redimir em não ter conseguido socorrê-la.
Mesmo ter cuidado de Felicity naquele mesmo dia, ainda a culpa consumia sua
mente. E agora uma nova oportunidade. Com Palin, conseguiu não só sua
confiança, mas também sua gentileza e carinho. Algo não sentido antes, nem
mesmo com Gerd ou com Jimmy.
Page já desconfiava que Alice não lhe dá a devida atenção e os
encontros no quarto em reforma ou no almoxarifado se tornaram raros e por vezes
ela mal se concentrava nele. Achou ainda que o alemão estivesse a
reconquistando e o Demônio Branco não estivesse cumprindo com sua parte do
plano. Mandou uma mensagem a sua
cúmplice.
Preciso
falar com você urgente! Me encontre no Lander Grill daqui a 20 minutos.
Ao receber a resposta, Jimmy esperou Alice partir com seu noivo
para casa e depois seguiu ao restaurante de encontro com o Demônio Branco e
recolocar o plano, só que com mais urgência.
Aquela tarde não estava sendo favorável a Felicity. Na verdade,
ela passara a manhã inteira sofrendo de ciúmes e dúvidas. Dias após a festa de
Jackie, ela e Franz Beckenbauer passaram o resto da noite assistindo filmes e
conversando sobre diversos assuntos, até adormecerem juntos no sofá e sendo
pegos por Sepp Maier e Nora. Mesmo odiando admitir, percebeu que não havia como
escapar. Se apaixonou pelo líbero. Contudo, algo mudou. Certa vez a fotógrafa
acompanhou sua amiga num jogo da Bundesliga e ao tirar fotos dos jogadores para
o jornal e revista, avistou ao longe ele e uma moça bonita conversando
animadamente. Reconheceu a jovem ali. Era Odile, irmã de Marie, tinha vindo
para visitar a irmã e agora parecia se entender com o jogador.
Por dias ela se encontrava entristecida com esse fato e procurou
esquecê-lo, mais se focando ao trabalho e o desejo de trabalhar em Barcelona.
Numa tentativa de apagar Franz de sua mente, resolveu tratar da
tarefa de entregar uma matéria sobre uma das partidas da Bundesliga. O texto,
escrito e editado por Nora estava pronto, só faltava enviar as fotos. Ao
selecionar, verificou grande maioria só aparecia Franz. Riu um pouco disso. Devo estar louca. Estou tirando fotos demais
desse Kaiser, pensou consigo mesma.
Ao dar inicio a seleção de fotos, a campainha toca e ao abrir a
porta, era Marie e Uli Hoeness, segurando um enorme saco preto.
-- Oi, minha amiga escocesa. Preciso de uma ajudinha. – Dizia a
francesa, sorrindo.
--Já sei. Quer usar minha máquina de lavar roupas por que ainda o
apartamento de vocês está em reforma?
-- Como adivinhou?
-- Porquê já é a enésima vez que vocês dois me aparecem aqui. Mas
podem entrar e fiquem a vontade. – Dando entrada aos dois.
-- Merci, Felicity. –
Agradeceu a menina e o namorado, indo até a área de limpeza e organizando as
roupas a serem lavadas.
Minutos depois ouviu a máquina trabalhando em seu procedimento de
lavagem e o casal resolveu ficar no quarto de hóspedes. Não demorou para a fotógrafa ouvir alguns
ruídos vindos dali. Já sabia que eram eles já fazendo amor.
-- Que saco! – Resmungou Fefe, enquanto escolhia as fotos. – Vai
ser a última vez que abrigo Marie e o asgardiano!
Nem deu cinco minutos de trabalho jornalístico e novamente o
sininho irritante do apartamento soa em alto e bom som. Já perdendo a
paciência, Felicity abre a porta e leva um susto ao saber que seu novo
visitante é o homem que vem povoando sua mente, seu notebook e sua máquina
fotográfica.
-- Hallo, fraulein Felicity! – Cumprimentou Franz, carregando um
buquê de flores.
-- O... oi. Olá! – Gaguejou por breves momentos e imediatamente
sentiu seu coração bater rápido demais. – Entre, por favor!
Franz adentra o apartamento, ainda sorrindo por visitar mais uma
vez a jovem e por causar mais surpresas a ela.
-- Desculpe minha curiosidade, mas o que faz aqui?
-- Eu vim ver como estava e... – Parou ao ouvir os gemidos e gritos
vindos do quarto. – Meu deus, é a Marie fazendo amor? Ela já foi menos... Escandalosa.
Envergonhada, Felicity correu até o corredor e fechou a porta,
servindo para abaixar os gritos deles.
-- Peço perdão por eles serem assim. – Dizia a moça, tentando se
recompor diante dele.
-- Quando namorava a Odile, tínhamos que mandá-la calar a boca
algumas vezes. – Comentou.
-- Eu sei como é isso e... Perai! Você... Namorou a Odile?
-- Sim.
-- Ah sim... – O rosto de
Felicity mudou ao saber daquela revelação. Em seguida milhares de
possibilidades. A mais óbvia era de Franz e Odile voltarem ou ainda estiverem
juntos. – Entendo... Quer uma bebida?
-- Aceito.
Ao vê-la indo à cozinha e verificar na geladeira as opções, Franz
se sentou no sofá e viu no notebook dela uma foto. Acabou indo para a mesa e
começou a ver as fotos que ela tirou. Algumas eram do estádio, outras eram dos
jogos, poucas são dos jogadores sejam em grupo ou individuais. E a grande
maioria eram só dele. Sorriu, pensando
que há uma chance com a amiga de Nora Smith.
-- AI MEU DEUS! – Espantou-se Fefe, deixando as garrafas de
cerveja na mesa e impedindo Franz de continuar olhando as fotos no notebook. –
Isso é meu trabalho. Não era pra ver.
-- Não tem problema. Pra falar a verdade, gostei das fotos. Você é
mesmo uma profissional.
-- Obrigada... – Felicity pensou em dizer mais, contudo, a
taquicardia prejudicava na saída das palavras.
Aos poucos os dois se sentiram a vontade e por vários minutos
conversaram sobre outras coisas. Fefe praticamente esqueceu o detalhe sobre
Franz e Odile. Este por sua vez apreciava a companhia da garota. Godard, o gato de estimação de Nora, sobe no
sofá, ficando entre a amiga da dona e o jogador. Os dois riram da atitude do
bichano.
-- Godard é ciumento. – Comentou Felicity. – Não gosta dos acompanhantes da amiga da
dona.
-- Acho que ele quer proteger você também. – Disse Franz ao pegar
o gato e brincando com ele no colo e depois liberando no chão.
Antes mesmo de dizer mais alguma coisa a respeito, a porta do
corredor se abre, revelando Uli Hoeness, apenas com o cobertor escondendo seu
corpo nu e pegando uma garrafa de água.
Franz e Fefe viram o jogador e se espantaram.
-- Que foi? Parece que nunca viram um cara com o cobertor.
-- E o que foi feito do gordo feiticeiro?
-- ELE JÁ ERA! – Gritou Marie, no quarto. – ULI, ESTOU COM SEDE.
ME TRAZ ÁGUA!
-- Já vou, kleine blume!
– Em seguida, olhou para seu amigo e Felicity. – Se me derem licença, preciso
levar a água para ela.
Quando o jogador se retirou, Franz e Fefe trocaram um olhar por
alguns segundos. Algo neles estava sendo criado. Ambos se correspondiam
conforme as sensações. O problema era a insegurança por parte dela. O líbero
tocou a mão dela e em seguida puxou seu rosto para perto dele. Felicity tentava
recuar aquela aproximação direta.
-- Espera... Não podemos...
Não havia nada a ser dito. Poucos segundos começaram um pequeno e
inocente beijo, terminando com a chegada inesperada de Sepp Maier e Nora Smith.
-- Ai meu deus, desculpa! – Nora entrou no apartamento
surpreendida por ver aquela cena. – Não sabia de vocês aqui.
-- Tudo bem. – Dizia Fefe, um pouco constrangida. – Só pra avisar,
Marie e Uli vieram outra vez lavar as roupas deles na máquina e estão fazendo
amor neste momento.
-- Sem problemas. Me ajuda num negócio lá no quarto?
Quando as duas garotas saíram, Sepp guardou as compras na cozinha
e em seguida chamou seu amigo.
-- Precisamos mesmo conversar com Gerd. É muito sério. – Falou o
goleiro, com o semblante fechado.
-- A considerar pela sua cara, descobriu algo. É isso? –
Questionou Franz.
-- Sim. E isso envolve também a Alice.
Pela primeira vez, Franz ficou nervoso com essa revelação. O que
poderia ser tão grave a ponto de Alice estar no meio disso tudo? No fundo
preferia não cogitar em Gerd tendo uma amante.
-- Alice anda me rejeitando – Jimmy estava nervoso e fumava
compulsivamente naquele fim de tarde no restaurante. – E dando mais atenção a
um paciente do que a mim.
-- É o trabalho dela, seu idiota. O que queria? Disponibilidade 24
horas?
-- Só quero que ela não dê mais atenção ao noivo dela! E por acaso
está fazendo sua parte, Demônio Branco?
-- Ele já está na minha mão. – Dizia Louise, escondendo sua
tristeza. – E alias, acho que estou me apaixonando por ele.
-- Eu sei disso. – Respondeu um tanto sarcástico. – E depois vai
arrancar a grana dele, como fez com o Cevert não é?
Louise não respondeu desta vez.
-- Eu não acredito... Você está mesmo... apaixonada por ele?
-- Jimmy...
-- VADIA! TRAIDORA! – Gritou o médico, chamando a atenção dos
clientes, mas se recompôs. – Olha, vou fingir isso, ok? Sei que é uma fase
passageira e logo se esquecerá disso e o dinheiro falará mais alto.
-- Não quero o Gerd por dinheiro. Eu o amo!
-- Ele está com a Alice! Nunca será seu, Demônio Branco. – Em seguida
ele deixa uma nota de dinheiro e se prepara para ir embora. – Fique bem claro!
Depois disso mais dias se passaram e Louise não viu mais seu novo
amante. Aos poucos a possibilidade de Gerd nunca lhe pertencer tomava conta de
sua mente e Hunt aos poucos desconfiava da namorada.
Um mês depois Hunt anuncia sua partida a Mônaco e ficará lá por
quinze dias, deixando novamente a namorada sozinha e trancada em casa. Naquelas tardes
ela resistia à vontade de ligar para Gerd ir vê-la. Três dias depois, a campainha
toca e Lulu abre a porta.
-- Você!? – Surpreendeu-se.
-- Não consigo ficar longe de você, ursinha! – Abraçou Gerd, demonstrando
aquele carinho, sentimento terno que Louise não sabia desde o dia que viu o atacante
do Bayern.
Eles tiveram uma ótima tarde de amor, prova que não resistiram à tentação,
contudo, tinham um sentimento em comum.
Continua...

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