Parte 4
No retorno ao castelo, Sepp
arrumava a mesa para o jantar quando Gerd e Louise, de mãos dadas entraram.
-- Vocês... se acertaram?
– Questionou o vassalo, temendo mais abusos em Lulu.
-- Sim. – Respondeu Louise
sorrindo e beijando o marido. – E onde está o conde?
-- No quarto como sempre.
Ele está melancólico.
Ao ouvir isso, Louise
conversa um pouco com Gerd sobre a situação do conde e decide conversar com ele
no quarto. Ao entrar, o vê sentado na beira da janela segurando uma taça vazia.
-- Tem certeza de que não
me quer mais, conde? – Perguntou Louise, servindo ao conde uma dose de sangue.
-- A questão nem é você
mais. – Respondeu e em seguida bebericando um pouco. – É uma humana.
-- É alguém que conheço?
-- Ela é noiva do Barão
Lauda.
Louise certa vez se
lembrou quando o conde dormiu ao seu lado na cama, ele murmurava um nome que
não era o dela. E achando se tratar de um sonho dele, ignorou por completo esse
fato. E agora suas suspeitas se confirmaram.
-- Assim como eu era noiva
do Rick e o senhor me seqüestrou, faça o mesmo com ela. E de preferência, faça
rápido. – Terminada a resposta, Louise se retira e o conde pensa mais uma vez
sobre a possibilidade.
Amanhã...
A palavra povoava a mente
de Felicity. Tudo isso por causa da viagem a Hamburgo, para resolver sobre seus
poderes. Na noite anterior ela contara isso a Manuel, que por sua vez não
mostrou nenhuma ação, mas para a profetisa era decepção. As sutis expressões
faciais do vampiro denunciaram a tristeza. Ela não o culpava por nada, afinal
era necessário a ser feito. E agora faltando apenas um dia para a partida, ela
se encontra sozinha no quarto, ouvindo a conversa de Nora e Sepp no quarto ao
lado. Há essa hora, Anastacia se empenhava nos moldes de suas criações.
Recentemente, deu vida a dois seres, Alice, uma moça vampira, morta por Chris e
Michael Palin, um lenhador.
Enquanto mil pensamentos
invadiam sua mente, ela não percebeu a presença do amado no quarto, que se
encontra perto da janela sob o luar. Tentou dormir um pouco até ouvir sua voz
grave.
-- Fraulein...
Acordou-se e viu a imagem
dele. Ela fechou e abriu os olhos devagar para confirmar mesmo a presença dele
ou se não era uma miragem criada pelo íncubo.
Caminhou até sua fraulein
e colocando as mãos na cintura dela, mirando seus olhos.
-- Me desculpa por ontem. Eu...
Felicity tocou os lábios
gelados de Manuel com os dedos, encostando de forma delicada e aproximando seu
rosto com o dele.
-- Não diga mais nada, meu
amor... Me... Possua...
Ele não se fez de rogado e
aos poucos tirou as roupas da amada e ele também se junta em sua nudez. Na cama
já estavam entregues aos carinhos e beijos. Manuel sabia que Felicity nunca se
envolveu antes e tomou todo cuidado em não machuca - lá e tornar aquela
primeira noite algo maravilhoso e inesquecível. Ao atingirem o clímax, ficaram
aninhados por um bom tempo e recomeçaram a conversa.
-- É realmente importante
sua ida a Hamburgo? – Questionou Manuel, muito preocupado.
-- Sabe bem que preciso me
livrar desta maldição.
-- Tenho medo, fraulein. É
perigoso fazer exorcismo. E se não der certo?
Outra vez o medo pairou no
casal. Realmente práticas de exorcismo envolvendo magia negra pode não resultar
em algo bom. Contudo, ela confia plenamente em Nora e sua capacidade mágica.
-- Confio em minha amiga.
Apenas quero estar ao seu lado para sempre, meu amor.
-- E eu vou te esperar,
minha fraulein. – Disse o vampiro beijando a mão da profetisa e em seguida
beijando-a, de forma ardente até serem interrompidos com a entrada do lenhador
Palin.
-- Olá a todos! Como é bom
voltar a viver! – Palin abria os braços, indicando sua suprema felicidade.
-- Meu bem – Alice surgiu
logo atrás, puxando seu noivo para fora. – Não atrapalhe os casais.
-- Mas quero expressar de
todas as formas. – Respondeu Palin, sem se importar em estar no quarto de
Felicity.
Antes que Manuel
manifestasse algo, aparece também Primus, o servo leal de Ana – na verdade o
primeiro cadáver que seu pai conseguiu reconstituir a vida nele – avisa sobre
algo.
-- A senhora Ana disse que
o Sr. Chris encontrou alguns corpos ingleses.
-- Seriam... meus amigos?
Quero vê-los. – E em seguida os dois se retiraram do quarto.
-- Desculpe a intromissão
dele, Srta. Felicity e Sr. Manuel. Com sua licença.
-- Muito obrigada. –
Agradeceu Felicity mais calma.
-- Danke. – Manuel também
agradece e Primus caminha até a porta, fechando com cuidado.
No dia seguinte, Felicity
se acorda e viu que Manuel já havia ido embora.
Minutos depois, já pronta, esperou Nora mais um pouco e partiram juntas
rumo a estação de trem que as levará a Hamburgo. Antes de embarcar, Felicity
deixou sem querer seu lenço cair.
-- Meu lenço! – Exclamou a
menina e ao tentar pegar, um rapaz conseguiu agarrar o lenço e entregar para a
dama.
-- Aqui está, senhorita. –
Disse o gentil rapaz, com leve sotaque, denunciando sua procedência holandesa.
-- Obrigada... – Agradeceu
a profetisa, um pouco corada ao encarar os olhos azulados do rapaz.
Ao embarcar, ela passou a
pensar nele, contudo retirou da mente por conta de Manuel. Amava muito seu
vampiro alemão, mas a simples presença do holandês mexeu em seu intimo. Não irei vê-lo mais, pensou consigo
mesma.
Enquanto isso em Munique,
as pessoas se encontravam em círculos, horrorizadas com que viam ali perto.
Havia enormes poças de sangue e alguns corpos em decomposição. Uns
inclusive completamente mutilados, sem os braços ou pernas e poucos estavam sem
as cabeças. Paul observava cada um dos cadáveres ali. Seu amigo, o jovem padre
Uli sentiu-se enojado com aquele forte cheiro de sangue e coisa podre. Tentou
se conter mas correu até um lugar meio afastado e vomitou por alguns segundos e
logo se recompôs, se aproximando do caçador.
-- As cartas não mentiam,
padre. – Dizia Paul, ajoelhado diante do cadáver de uma mulher loira. –
Indícios de nosferatus rondando pela cidade.
-- Pode até ser. – Embora
Uli concorde, no fundo o padre desconfiava mais das criaturas lupinas que se
transformavam em feras sanguinárias sob a luz da lua cheia.
A verdade é que seria
apenas o inicio das investigações sobre casos sobrenaturais em Munique e Paul
Breitner, juntamente com seu amigo, Uli Hoeness, um jovem padre, iriam até o
fim disso para saber dos segredos da cidade alemã.
No fim da tarde os dois
partiram rumo à estalagem mais próxima a acabaram por saberem da hospedaria de
uma jovem médica chamada Anastacia.
Chegando ao vilarejo
abandonado, eles encontram a casa da médica e ao baterem a porta, dão de cara
com um homem elegante cuja face possuía algumas cicatrizes.
-- O que desejam?
-- Aqui mora a fraulein
Anastacia Romanov? – Questionou Paul de forma educada. – Procuramos um lugar
para ficar uns tempos e nos indicaram aqui.
-- Entrem, por favor,
sintam- se a vontade!
Primus deu a entrada aos
novos moradores e anunciou a chegada de Ana, que conversava com sua amiga,
Nora.
-- Vocês devem ser os
caçadores de monstros? Sou Anastacia. – Se apresentou a médica.
-- Meu nome é Paul
Breitner e este é meu amigo, Uli Hoeness.
-- Deus a abençoe este
lugar e a senhorita. – Dizia Uli, aliviado. – Estamos cansados e onde podemos
dormir?
-- Primus, leve nossos hóspedes
aos quartos. – Ordenou Ana.
-- Sim, senhora.
O servo levou os dois ao
quarto restante e deixou as malas perto da cama e em seguida se retirou. Paul
tratou de se ajeitar e Uli foi logo dormir. Era compreensível. Durante a viagem
toda ele ficou acordado altas horas. De madrugada, Paul se acordou com o uivo
distante. Ao abrir a janela avistou uma pessoa sofrendo no jardim. Ao tentar
fazer algo para ajudar, percebeu que o humano se transformava em algo. O corpo todo ganhava
pêlos, muitos pêlos. Os pés se assemelhavam a patas de lobo e as mãos eram
garras. O rosto era horrendo. Uma mistura humana e animalesca. Em seguida o ser
emitiu seu mais alto uivo de lobo.
-- Uli! – Acordou seu
amigo padre. – Uli, eu o vi!
-- Viu... Quem? –
Questionou o padre, ainda sonolento.
-- O lobisomem! Pena que
ele se foi. Amanhã falarei com Ana sobre isso.
-- Certo e agora... Volte
a dormir. Deus o abençoe, Sr. Breitner!
-- Amem e boa noite.
Por mais que se
esforçasse, Paul não conseguiu dormir. E para contribuir, viu um homem
caminhando até o jardim e atirando pedras na janela do andar de cima. Ao abrir,
revelou o rosto de Felicity, amiga de Ana. O rapaz loiro, deu alguns passos
para trás, correu e num dado impulso, pulou para dentro da janela da garota.
Aquele ato não era normal, nem para os caçadores de monstros como ele.
Devo estar vendo coisas. Vejo até um homem voando, pensou Paul e tentando voltar a dormir. E outra
vez o sono não apareceu. Quando ia se levantar, ouviu passos de alguém. Tentou
entreabrir a porta para lhe dar uma visão e tudo que conseguiu enxergar foi
Nora abrindo a porta e abraçando um rapaz alto, de cabelos vermelhos e o rosto
um pouco pálido, igual ao do jovem loiro. Eles subiram as escadas e Paul viu
claramente que ele tinha olhos vermelhos, bem avermelhados como o sangue.
Fechou a porta e voltou
para cama se questionando quem são esses homens e o lobo transformado. De
repente um enorme estrondo igual de um raio soou em toda casa, acordando também
Uli, deixando-o um pouco assustado.
-- Ono zhivoye! (Está vivo!)
-- O que ela disse, Paul?
-- Eu não sei... – Paul não sabia ao certo o que aquela casa apresentava. Primeiro um lobo, depois um misterioso ser sobe a parede como um gato e entra pela janela e outro possui olhos vermelhos e agora vem o estrondo.
Era hoje que não iria dormir pensando nisso.
Ao amanhecer Paul e Uli se levantaram e viram que os outros moradores ainda não se acordaram.
-- Esse pessoal só se mexe a noite?
-- Eles têm tarefas e visitas a noite, Sr. Breitner. – Respondeu Primus, servindo o café da manhã aos visitantes.
-- De quem? – Ainda
questionou o caçador, tomando um pouco de café.
-- Srta. Nora recebe a
visita de seu noivo, que mora no castelo mais adiante, Srta. Felicity do seu
amado fazendeiro. Apenas a Srta. Ana não recebe ninguém.
-- Perdoe a curiosidade,
mas o que ela faz?
-- Ela estuda a anatomia
humana e consegue trazer de volta a vida.
Uli se engasga com um pedaço
de pão ao ouvir aquilo.
-- Como assim? Isso é
impossível. É contra a lei da vida. Um pecado irreparável!
-- É possível sim, padre.
– Disse o criado. – O Sr. Romanov também fez assim comigo.
-- Por falar em Sr. Romanov , onde está
Christopher? Gostaria de conversar com ele. – Paul queria muito saber se o lobo
visto na noite passada era o irmão de Ana.
-- Sinto muito, Sr.
Breitner. O Sr. Chris está muito cansado. Apenas no final da tarde poderá
conversar com ele. Com sua licença,
tenham um bom dia. – E se retirou o servo, deixando o caçador e o padre um
tanto incrédulos com as revelações, ao mesmo tempo desconfiados do que se passa
ali.
Após o café, eles saíram
da casa e resolveram conhecer melhor os arredores da casa e o vilarejo em si. Caminharam por
vários minutos até chegarem ao suntuoso castelo alemão, pertencente à família
Beckenbauer.
-- Acha que devemos
entrar?
-- É necessário. –
Respondeu o caçador. Antes mesmo de bater a porta, pensou mais um pouco. – Pensando bem, vamos observar e coletar mais
fatos sobre isso.
-- Também acho.
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