Parte 2
-- Odeio caçar... –
Resmungou Gerd.
-- Eu sei, meu amor, já me
disse isso umas cinco vezes. – Alice não agüentava mais ouvir as reclamações do
noivo e ainda mais do conde falando com Sepp de como agradar Louise.
Na verdade, já notara que
a noiva do conde Franz não o satisfazia e para suprimir a falta de sentimento,
saia por outros lugares como o castelo abandonado onde as criaturas da noite se
reúnem para momentos de diversão e outros dias para se banhar no rio. Outro
incômodo para a vampira é o fato de saber que Gerd também sai para esses
lugares, seja com o conde ou sozinho e seguia às vezes para o lugar onde Louise
costuma se banhar.
Chegando ao castelo, Gerd
depositou o corpo da vítima na mesa de jantar.
-- Sepp,chame Louise para
jantar conosco. – Ordenou o conde.
Antes que o vassalo
subisse as escadas, a jovem abriu a porta e no hall olhou para a sala de jantar
onde o conde e seus amigos estavam ali ao redor da mesa com a “refeição”.
-- Minha querida – Franz
se aproximou de Louise e segurando a mão dela, levou-a para a sala. – Venha,
trouxe algo especial para você.
Em seguida o conde ordena
o vassalo a retirar o lençol que cobria o cadáver, revelando ser uma mulher
comum por volta de seus trinta anos. A vampira olhou cuidadosamente e encarou
os presentes na sala.
-- Muito obrigada pela
oferenda, mas já “jantei”. Vou descansar.
– Respondeu Louise, sorrindo e se retirando da sala. Ao sair, sentiu seu
braço sendo puxado. Era o conde, mais enlouquecido de ódio.
-- CRIANÇA MIMADA E
IMATURA! OUTRA VEZ ME REJEITANDO? ESTOU LUTANDO CONTRA TUDO, FAÇO DE TUDO PARA
VOCÊ E O QUE RECEBO EM TROCA? NADA!
-- Você nunca sabe do que
sinto e o que desejo! E muito menos respeita minhas vontades. Se não fosse sua
ameaça a vida do Rick, já teria ido embora deste lugar e agora tenha um bom
jantar.
-- Sua vampira mal
agradecida! – Agora é a vez de Alice, mais indignada. – O conde e todos nós
estamos fracos devido à luta que tivemos para trazer esse corpo para você se
alimentar e fica por assim mesmo?
Louise suspirou e olhou
breve para o teto e em seguida respondeu firme.
-- Simples assim. Podem se
banquetear, jantem por mim. – E desprendendo-se da mão poderosa do conde,
Louise se retirou e foi-se ao quarto, decidida a esquecer esses problemas.
Já o conde, não tinha
palavras para argumentar as atitudes fora de série de sua noiva e aos poucos
começava a se convencer que Louise não era uma boa escolha. Após o jantar,
subiu as escadas e cruzou no quarto da vampira. Abriu a porta devagar e entrou
rapidamente ali. Ela dormia na cama com a janela aberta e vestindo apenas a
camisola de seda. Por mais raiva que sentisse, Franz tentava mesmo fazer a
menina se entregar a ele. Se fosse com outra mulher, certamente não haveria
problemas. Mas com Louise, já passava dos limites.
Deitou-se ao lado dela na
cama e passou a observar suas feições delicadas e tocou o rosto frio dela,
deslizando até o pescoço. Viu ali a marca da maldição que aplicou nela meses
atrás. Aqueles dois furos no pescoço definiram o destino de Louise.
Aproximou o rosto e
depositou um beijo no rosto dela e depois na marca vampiresca no pescoço e
decidiu iniciar a troca de carinho ali mesmo, sem acorda - lá. A vampira virgem
gemia baixo com cada toque da mão dele e num momento de paixão, acabou sendo
beijada com ardor. Foi aí que o conde percebeu mais uma coisa em sua noiva.
Aparentemente, conseguiu
render a menina. Porém, quando os carinhos estavam se intensificando, a garota
gemeu e falou um nome que não era o dele.
-- Oh, Gerd...
Ele parou as caricias e se
retirou do quarto, bufando de pura raiva. No corredor, Franz tentava conter-se
em não gritar para o castelo todo ouvir seu ódio. O sentimento de frustração,
misturado com amor, dúvida e temperado com ojeriza pela menina. Não. Louise não
tinha culpa. Ainda mais por ser escolhida em ser sua vítima. O problema era que
ela enamorou-se por Gerd, logo seu amigo e primeira vítima da vampira. Mil
pensamentos e um pouco de angustia...
Respirou fundo e se
acalmou. Por fim o conde entrou em seu quarto, tirou sua roupa e vestiu algo
para dormir. Observou mais uma vez à noite e viu que as estrelas desapareciam.
Sinal do nascimento do sol. Decidiu dormir cedo e fechou-se em seu caixão,
decidido a esquecer tudo aquilo.
Durma, minha pequena...
Durma, meu pecado...
Durma, meu anjinho...
Em seus sonhos estarei aqui...
Aproveitando-se de sua fragilidade...
Abusando de sua delicadeza...
Sugando sua alma tão limpa...
Venha comigo
Entregue-se, anjo...
Felicity se levantou
assustada e suando frio. Ofegante, saiu da cama e correu até a cozinha, pegou
uma garrafa de água e serviu-se no copo, bebendo todo o líquido. Mesmo
conversando com sua prima e terminando em alegria, a noite de sono foi bastante
perturbadora para Felicity. Desde a morte do irmão mais novo, sonhava diversas
vezes com espíritos e monstros a aterrorizando. E principalmente aquele ser
maligno, cuja voz soava como uma canção amável, derretendo corações.
O íncubo (vampiro que
invade os sonhos das mulheres) vem buscado seduzir e perverter a alma da jovem
profetisa todas as noites, causando por vezes insônia.
-- Ele não vai me
corromper...—Dizia a menina. – Não vai me levar...
Ela mal podia esperar para
ir a Hamburgo e resolver essa questão dos espíritos, causadores de tanto
sofrimento e desgraça. A começar com o conde Franz Beckenbauer. Ao beijá-lo,
foi mostrado o futuro mais sombrio dele. Morte, sangue, corpos boiando nos rios
e encontrados em diversos lugares e até mesmo a visão dele, com os dentes
pontiagudos, prontos para morder a próxima vítima. Se não fosse essa maldita
profecia, poderia aceitar aquele jovem conde. Porém, repensou mais uma vez e
talvez ele não tenha se agradado a companhia dela. Deste fracasso em arranjar
um marido, o pai tratou de arranjar outro e é um inglês. Peter Townshend, filho
do Sr. e Sra. Townshend, donos da metalúrgica mais rica de Londres, foi
escolhido para ser seu novo parceiro. Mas Fefe sabia que isso não daria certo.
Até por que Pete é um hedonista e pervertido tanto quanto Dorian Grey. Sabia
dos hábitos noturnos dele visitar prostíbulos, se deitar com as meretrizes,
desperdício de dinheiro com elas e práticas um tanto estranhas. Com isso, Fefe se afastou bastante de Pete e
decidiu viver com Nora naquela casa modesta onde vive a jovem médica de origem
russa chamada Anastacia. No entanto
recebia constantemente a visita de um rapaz alemão chamado Manuel. A principio
aquela região onde Ana reside quase não se tem pessoas morando perto dali
devido às lendas sobre os lobisomens, vampiros e nosferatus.
Certa vez à noite, Manuel
Neuer, um jovem fazendeiro, fazia mais uma de suas caminhadas noturnas quando
seguiu uma moça de cabelos dourados e de vestido azul indo até a casa da
doutora e lá foi recebida por outra mulher, a mais bela que seus olhos azuis conseguiram
avistar. Pelo semblante dela, tinha um
pouco de tristeza e mudou rapidamente ao receber a visitante. Deduziu ser um
parente dela, talvez uma irmã ou prima. No outro dia, decidiu conhecer melhor
aquela bela fraulein. No inicio foi uma surpresa para ela, que nunca foi
cortejada daquela maneira. E após mais algumas visitas a casa da médica,
resultando em levar flores e chocolate a Felicity, os dois começaram a se
entender. Agora cabia a profetisa que seus fantasmas não a perturbassem e muito
menos o demônio dos sonhos volte a atormenta-lá.
Um dia quando os dois
estavam envolvidos aos beijos e caricias, Manu a levou para a cama.
-- Ma... Manuel... agora
não... – Disse Felicity, vendo o amado erguendo a barra da saia dela.
-- Eu quero você, fraulein
Felicity. – Respondeu o fazendeiro enchendo a moça de beijos ardentes e quando
olhou para a janela, presenciou algo perturbador.
Era Christopher, o irmão
de Ana, se transformando em lobisomem e uivando diante da lua cheia.
-- MAS O QUE É ISSO? –
Gritou assustado.
Felicity também viu aquela
transformação e saindo da cama, pegou a mão de Manuel e correram até o quarto
de Nora, onde a jovem bruxa fazia mais uma de suas poções.
-- O que houve, amiga? –
Nora se assustou com a presença do casal.
-- O lobo.... ele se
transformou!
Ouviram ruídos da madeira
sendo estraçalhada e arranhões contínuos. Quando o monstro foi embora, os três
saíram do quarto mas Fefe pode sentir a presença de outra pessoa e não é
humana. Ao se virarem, deram de cara com vassalo Sepp Maier, olhando cima a
baixo para o terceiro humano.
-- Trouxe mais um humano
para eu jantar, katzchen? – Perguntou o servo com os olhos brilhando com tal
possibilidade.
-- Como assim? – Manuel
não havia entendido aquilo... até ver que o ser se transformar em algo. Seus olhos, antes
castanhos, ganharam a coloração vermelha e os caninos mais pontiagudos,
aterrorizando mais o fazendeiro que fugiu da casa sem mais nem menos.
-- Ele é não é seu
“jantar”, katze! – Falou Nora um pouco frustrada.
-- Desculpa... – Em
seguida o vampiro desapareceu.
Embora aquele
acontecimento tenha servido de sustos e surpresas, havia terminado bem... por
enquanto. Poucos dias da transformação sem aviso de Chris, Manuel retornou as
suas visitas a sua bela fraulein. Naquela noite, ele não voltaria vivo. Sepp
aguardou o momento que o fazendeiro iria se aproximar da casa da médica e
capturou-o e terminando com a vida dele. A vida de Manuel Neuer terminava
ali...e nasceu Manuel, o vampiro rastreador do conde Beckenbauer, a serviço do
conde para encontrar facilmente outras vítimas.
Não foi preciso Felicity
saber disso através dos outros. Sua clarividência mostrou o destino do rapaz
nas mãos do vampiro amado por Nora.
-- O seu noivo vampiro
matou meu pretendente! ELE O MATOU, NORA! – Gritou a profetisa, furiosa.
-- Me desculpa, Felicity.
Me desculpa... – Nora não tinha palavras certas para aplacar a ira de sua
amiga. Ela está com razão. Perdeu oportunidade em ter o conde, recusou o dote
de um inglês gigolô e quando finalmente encontrou alguém que a ame do seu
jeito, ele é morto.
Uma noite quando Sepp
resolveu ver sua amada feiticeira no quarto e foi surpreendido. Felicity estava
no quarto e com cara de poucos amigos. Obviamente não aceitava a morte do amado
fazendeiro.
-- Errr... fraulein... eu
posso explicar... – Sepp se afastava da garota, que caminhava em sua direção,
desarmada e com olhar perigoso.
-- CALADO! Monstro!
Sanguessuga! – Os olhos de Fefe transmitiam uma espécie de ira fora do comum.
-- Estava com fome...
-- VOCÊ NUNCA TERÁ SUA
AMADA COMO UMA DAS SUAS!! QUE ISSO FIQUE BEM CLARO, VAMPIRO!!
Aquelas palavras atingiram
Sepp de forma incrível. Causando um mal estar físico e psicológico, ele corre
até o castelo e chegando até seu quarto, se tranca no caixão, na esperança da
maldição terminar.
Mais dias se passavam e
poucas coisas mudaram. A começar com a entrada de Manuel no castelo do conde,
onde se tornou seu melhor rastreador. E depois as mesmas crises de casais.
Louise e o conde se rejeitando e Alice procurando mais formas de agradar seu
noivo.
Certa vez, Louise retornou
para o quarto, cansada de suas andanças noturnas e encontrou uma pequena caixa
preta na cama. Pensando ser um presente do conde, ignorou o objeto, contudo,
ela adorava receber algum agrado e independendo de quem fosse, acabou por pegar
e abrir, revelando um lindo colar dourado com um pingente em forma de coração
azul turquesa. Ainda na caixa havia uma foto dobrada ao meio. Desdobrando
assim, revelou um rosto conhecido. Imediatamente se lembrou dele. Na época, ele
não tinha a barba que ostenta hoje. E foi ali que ela teve os primeiros
contatos do seu sentimento.
FLASHBACK ON
Naquele dia Louise não dera importância na visita
ao castelo Beckenbauer e torcia que tudo desse errado, ainda mais para
Felicity. Nora conseguira escapar disso. No fundo queria voltar para a casa na
Inglaterra e esquecer aquela terra germânica. Tirada de seus pensamentos, ele
perguntou.
-- Então, fraulein está comprometida?
--Estou sim. – Respondeu a menina, mais irritada
com tudo aquilo. – E meu noivado não é da sua conta!
Ficaram em silêncio, vendo tudo o que se passava ao
redor. Sepp e Nora mais próximos e Franz e Felicity aparentemente se acertando.
Gerd mais uma vez conversa com a jovem.
-- Sabe, eu também estou noivo. – Falou calmamente.
-- Meus parabéns a noiva... – Disse Louise, com
leve toque sarcástico.
-- No entanto – Ele continuou a falar, mesmo
percebendo o deboche dela. – Achei você uma bela fraulein. Um anjo.
Embora com elogio, Louise sentiu uma onda de
constrangimento, repulsa e agradecimento. Antes mesmo de disparar uma contra
resposta, seu pai, seu tio e o Sr. Smith vieram buscar as moças. Despediu-se
dos rapazes, ainda com o elogio singelo de Gerd povoando sua mente. Era claro.
Internamente, Louise gostara do que ouviu, mas culpou-se. Jamais se permitiu
trair Rick, mesmo em pensamentos.
FLASHBACK OFF
Sorriu com as lembranças.
Quando humana, Louise era cruel, arrogante e mimada pelos pais e tios. Tudo
para ela deve ser feito com urgência. Depois da transformação, veio a mudança
de personalidade. Mais bondosa, gentil e romântica. E depois o gosto pela morte
e sangue. E um pouco de luxúria. Mais
uma vez viu a lua, agora não mais cheia e ouviu a porta se abrir ali. Viu o
estranho se aproximar dela.
-- Gostou do presente? –
Questionou Gerd, um pouco acanhado.
-- É lindo. – Ela tocava a
foto e o colar dourado.
Gerd pegou a jóia e
resolveu colocar no pescoço alvo de Louise.
-- Este colar... pertence
a Uschi. Era meu presente a ela. – Disse o caçador, um tanto soturno. – Agora
ele é seu.
-- Mas por quê?
-- Por que... A amo... Muito.
Uma revelação daquela
seria o fim dos dois. Louise não sabia se ficava feliz ou lamentaria em dobro. Primeiro
pelo conde e segundo por Rick. Com tantos questionamentos, ela sentiu as mãos
frias dele puxarem-na para perto dele. Os lábios de ambos se encostaram um
pouco. No fundo eles se reprimiam do sentimento recíproco por conta de seus
entes amados. Gerd sabe que Uschi foi morta por Louise e Rick ainda estava
vivo, porém noivo de outra mulher.
-- Pare! Eu... – Não
adiantou impedir o avanço da boca da jovem. Tentava se afastar dela, ao mesmo
tempo seu corpo implorava por mais carinhos.
-- Sei que no fundo...
existe um homem apaixonado, excitante e atrevido... querendo se libertar... –
Ela sussurrava no ouvido dele, transmitindo a sensualidade. – Liberte-se...
Gerd se afastou dela e
retirou-se do quarto, deixando a vampira um pouco desolada, mas sem aquelas
dúvidas. Sem saber, Alice estivera observando os dois do lado de fora do
quarto. Sabia bem que Gerd não conseguia se livrar da imagem de Louise e agora
isso...
Resolveu falar disso ao
conde. Descendo as escadas, ela seguiu para um corredor escuro onde tem uma
porta de bronze no final. Tocou a maçaneta e empurrando a porta, estava o
conde, bebendo um pouco de sangue no copo enquanto lia um livro na poltrona do
escritório.
-- Conde Beckenbauer,
desejo falar com senhor.
Ele não respondeu nada,
deixando Alice um pouco preocupada e seguiu dizendo.
-- Aquele seu estimado
amigo, Gerhard... ele prefere Louise do que a mim! O que faço?
-- E só agora percebeu? –
Franz ainda fixado no livro, conseguiu responder e dizer mais coisas sobre
isso.
-- Como assim? Você...
sabia disso? E mesmo assim não fez nada
pra impedir? CANALHA!!
Num estado de histeria
descontrolada, Alice atacou o conde de todas as formas e inclusive atirou os
livros nele até ser contida por Sepp.
-- Ah! Maldito! Me solta,
servo incompetente! Eu vou sair!
A vampira se retirou do
escritório do conde e do castelo, caminhando sem rumo até a floresta sombria e
chorando copiosamente pelos acontecimentos. Fizera de tudo para salvar o
casamento, agradar Gerd em todos os sentidos e sem um retorno, retribuição.
Minutos depois ouviu um baixo uivo de um animal. Se afastou um pouco e foi
aumentando mais o uivo. Ao se virar, dá de cara com uma enorme criatura,
revelando seus dentes...
Ao longe, duas garotas de
cabelos vermelhos e olhos verdes, usando vestidos quase em trapos, estavam em
cima de uma árvore, observando o ataque do lobo numa vampira.
-- É uma pena que essa
moça tenha morrido. – Lamentou Vivian, a mais jovem. – Poderia ser uma de nós.
-- Não mesmo.. – Replicou
Rosie, sua irmã mais velha e sem dúvida, a loba mais forte. – Ela não agüenta e
sem falar que Bobby a levaria de volta pro conde.
-- Droga! Esse conde
alemão só nos causa problemas. Demarcando território, a vampirinha dele se
banhando toda noite no rio e não podemos caminhar naqueles arredores... –
Vivian desceu da árvore com astúcia e em seguida ergueu a cabeça em direção a
irmã e continuou a falar. – Hora de chamar o Chris... Ué, para onde ele foi?
As irmãs perderam o rastro
do lobisomem chamado Chris e logo deduziram o seguinte.
-- Esquece. Temos muitas
coisas a serem decididas. – Respondeu Rosie e também descendo da árvore.
Ana trabalhava em mais um
projeto de reconstrução do corpo humano quando ouviu a porta se abrindo de
forma agressiva. Saindo do porão, ela viu o irmão, com as roupas rasgadas e um
pouco ensangüentadas carregando uma moça de pele pálida, cabelos negros e os
olhos bem abertos.
-- Onde a encontrou? –
Questionou a cientista, observando atentamente a criatura.
-- Matei ela, irmãzinha. É
uma nosferatu! – Respondeu Chris, rindo um pouco.
-- Seu inconseqüente!
Podemos ser alvos deles também! – Ana sempre dizia para o irmão tomar cuidado
ao atacar os vampiros para não despertar atenção e ao ver aquele corpo,
resolver dar mais uma chance a sua construção. – Leva este corpo ao porão.
Ana ajeitava a mesa de
operação e pediu ao irmão que depositasse o cadáver ali. Primeiramente retirou
as roupas dela e com o bisturi em mãos, iniciou o primeiro corte, na área
vertical no peito. Abrindo aos poucos verificou o coração, um pouco escuro e
sem sangue. Praticamente desinchado. E
os pulmões com aparência cinzenta, mas ainda com a coloração rósea. Constatou
que a vampira tenha se transformado por volta de um mês ou três semanas. Já
havia visto a anatomia destes seres antes, porém, nunca conseguiu obter algo. E
agora esta é a oportunidade.
-- Minha vez de construir
um ser humano, papai. – Disse Ana, olhando mais para a morta e continuando a
dissecação.
Dias após o sumiço de
Alice, o conde iniciou a procura por ela, com a ajuda de seus servos, exceto
Louise que se encontrava alheia a tudo. Manuel, que possui um ótimo senso de
rastreio, não conseguiu ainda localizar a vampira.
-- Não encontrei, senhor.
– Disse o vampiro fazendeiro.
-- Continue! – Limitou-se
o conde.
Os quatro vasculharam por
toda floresta e inclusive questionaram os lobisomens, que negaram algo
referente a isso. O que não sabem, eram que as liverpoolianas irmãs Donovan
sabiam do ocorrido.
Cansado daquela caminhada,
Gerd resolveu parar numa árvore para recuperar o fôlego. Mesmo sendo bem
treinado, ainda não se acostumou com aquela condição.
Contemplou toda a floresta
densa e o céu com as nuvens cinza tentando encobrir a lua. Ao longe pode ouvir
barulho de madeira se quebrando e gritos. Correu até onde vinha aquele
burburinho e avistou uma cabana. Uma mulher seminua estava histérica e corria
para dentro da floresta e depois viu alguém sendo arremessado contra as rochas.
Era Louise. Ao que parece a vampira estava em desvantagem diante do adversário,
um lenhador grande e robusto, segurava um machado.
-- Vou acabar com você,
sua nosferatu! – Vociferou o lenhador, se lançando a vampira que se desviou por
pouco.
Louise tentou arranhar o
humano de forma rápida pra causar hemorragia, mas era impossível. Quando a
jovem ia aplicar o golpe fatal no pescoço, o lenhador agarrou o pescoço dela e
jogou-a contra o chão. Em seguida desferiu chutes e pisou contra o braço dela,
quebrando-o.
-- AHHHH! – Gritou a
vampira tamanha era a dor.
E ainda não acabou. Erguendo
Louise pelos cabelos, acertou um soco no ventre, derrubando a vampira já sem
forças.
-- Agora vou te matar,
monstro!
Naquele curto espaço
tempo, Louise achou que seria seu fim... até ouvir o grunhido do lenhador
maligno. Olhou para trás com dificuldade e viu o grandalhão sendo erguido por
alguém. A considerar pelas roupas elegantes parecendo um lorde, constatou ser
ele. Gerd estrangulava o humano, deixando-o sem ar e com o rosto completamente
vermelho e em seguida correu até a cabana, chocando a cabeça dele na madeira
resistente. Quase desmaiando, o vampiro viu que ainda estava vivo e segurando a
cabeça do humano, continuou a pancada de colisão por diversas vezes até
finalmente o crânio se partir em pedaços e o corpo tombar ao chão.
Após a luta, Gerd abandona
o cadáver e correu até Louise, que cuspia sangue e gemia de dor, mal
conseguindo se levantar.
-- Me... ajude... – Pediu
a menina, desmaiando novamente e sendo segurada pelo vampiro.
Ele a carregou em seus
braços até o castelo. Para a sorte dele, o conde não voltou ainda do resgate a
Alice. Abriu a porta do quarto de Lulu e colocou-a na cama com cuidado. Depois ele limpou os ferimentos dela com um
pano úmido e tentou massagear levemente o braço quebrado. Em poucas horas logo
curaria sozinho. Contudo, aproveitou mais ainda para deixar Louise mais a
vontade. Ajudou-a se livrar do vestido e colocou a famosa camisola de seda.
-- Obrigada... Gerd –
Agradeceu a vampira logo caindo no sono na cama.
Ele não disse mais nada.
Apenas deitou ao lado dela, cobrindo seu corpo com cobertor. A chegada do
outono marcaria um inicio para os vampiros. Uma semana depois, os vampiros
descobriram o paradeiro de Alice e após muitas discussões, acabaram por
encerrada, porém, ninguém sabia o que pode ter levado a vampira a fazer tal
coisa e a culpa recaiu em Louise.
-- Isso é impossível! –
Respondia Louise, enquanto jantava. – Posso não ter gostado nem um pouco dela,
mas manda - lá pro inferno jamais, embora a idéia não fosse má.
-- Então está afirmando
que foi você? – Perguntou o conde.
-- NÃO! – Gritou Louise,
em prantos. – E QUER SABER? ACABOU! NÃO VOU BEBER SANGUE MAIS!! NUNCA MAIS!!!
Por vários dias Louise
ficou no quarto, trancada e isolada de tudo e todos. E com isso apareceu a
fraqueza, o emagrecimento, palidez e fome. Por mais que quisesse sair do
castelo e ir à taberna abandonada conversar com Ronnie, a acusação de morte foi
o suficiente para reconsiderar sua decisão.
-- Sangue... – Sussurrava
Louise, deitada na cama e delirando. – Sangue... sangue...
Às vezes a vampira
arranhava os móveis e algumas estátuas de mármore do quarto como um gato
agitado. No caso dela, a vontade sanguínea era imensa.
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